segunda-feira, 28 de novembro de 2016



28 de novembro de 2016 | N° 18700 
EDITORIAIS

OS PODERES E A VOZ DAS RUAS

A pressão popular funcionou, e o ajustamento institucional anunciado ontem pelo presidente Michel Temer com o Congresso, para barrar articulações pela aprovação de uma anistia a políticos envolvidos em caixa 2, contribui para recolocar o país diante de sua real prioridade: o enfrentamento de uma perversa combinação de crise política com econômica. A crise política, inesperada por ressuscitar velhas práticas, como a mistura de interesses públicos com privados, não pode crescer a ponto de prejudicar a retomada do crescimento. Por isso, o compromisso público de presidentes de dois poderes com a moralidade não pode ficar apenas no discurso.

Na manifestação de ontem, o próprio presidente da República se disse convencido de que é preciso ouvir “a voz das ruas”. A sociedade, majoritariamente, tem consciência da gravidade da crise. Sabe também que não há saídas fáceis. No momento, as iniciativas que estão colocadas como prioridade são a aprovação da PEC fixando um teto de gastos para o poder público e a reforma da Previdência. Quem se desviar desse curso, como ocorreu no caso que levou à troca de comando na Secretaria de Governo e nas tentativas do Congresso de aprovar a anistia ao caixa 2, estará causando males irreparáveis ao país.

As medidas de austeridade propostas pelo Planalto apontam no sentido da recuperação econômica, mas este esforço pode ser prejudicado se o governo se descuidar de seus compromissos éticos. O governo não pode transigir com condutas pouco republicanas, nem contemporizar com os que veem o Estado como propriedade de quem está temporariamente no comando. Foi essa promiscuidade que tirou o PT do poder e, agora, pode inclusive obstaculizar reformas que são inadiáveis.

O FIM DE UM MITO

Com a morte de Fidel Castro, extingue-se também um modelo político que já vinha sendo substituído gradativamente em Cuba pelo pragmatismo da abertura comandada por seu irmão Raúl. Ainda assim, muitas das mudanças implantadas há mais de cinco décadas persistiam romanticamente associadas à figura mitológica do comandante da revolução socialista que derrubou o ditador Fulgêncio Batista, em 1959.

Desde então, o líder cubano impôs um regime de opressão ao povo da ilha caribenha e desafiou o capitalismo, representado principalmente pela superpotência vizinha, os Estados Unidos. Ao mesmo tempo, tornou real uma experiência de sociedade baseada no igualitarismo, com conquistas inegáveis nas áreas da educação e da saúde. Hoje, esses avanços se mostram cada vez mais prejudicados pela deterioração acelerada de uma economia que não tem como se manter isolada indefinidamente.

Em boa parte de seus 90 anos de vida, o personagem visto por uns como ditador e por outros como líder revolucionário atuou como protagonista não apenas da história cubana, mas da América Latina e até mesmo de países africanos. Nessa trajetória polêmica, marcada por desrespeito aos direitos humanos e à atuação da imprensa independente, acabou comprovando uma verdade insofismável: a de que não pode haver igualdade sem liberdade.

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