terça-feira, 22 de novembro de 2016



22 de novembro de 2016 | N° 18694 
DAVID COIMBRA

O pacote de Sartori

Há duas formas de analisar o que está acontecendo no Rio Grande do Sul. Refiro-me às medidas de ajuste que Sartori anunciou ontem. São medidas duras, de aspereza inédita para o Estado, e encontrarão oposição igualmente dura e áspera, disso tenho certeza.

Então, como dizia, há duas formas de analisá-las. Uma é considerar que são inevitáveis. A outra é que são evitáveis.

Óbvio que o melhor para governo e governados seria poder evitá-las. Nenhum governante atrasa salários, demite pessoas ou fecha empresas porque é malvado. Se fizesse isso apenas por ser malvado, não seria apenas malvado: seria burro, porque medidas que tais são impopulares.

Há quem acredite que governos tomam atitudes como essas para “atender interesses”. Tipo assim: existem empresários sequiosos para abocanhar a preço baixo as lucrativas companhias do Estado, e o governo estaria a serviço desses tubarões. No caso do Rio Grande do Sul, basta dar uma olhada nas companhias estatais para concluir que muitas delas, de fato, não deveriam ser vendidas: deveriam ser dadas de graça. A dificuldade é encontrar quem quereria levar.

Com o que, concluo que Sartori está tomando essas medidas por julgá-las inevitáveis.

A questão seguinte é: conseguirá ele convencer os gaúchos disso?

Sartori levou quase dois anos para preparar esse pacote. Nesse período, desgastou-se e perdeu grande parte da credibilidade que havia ganho com a eleição. Talvez ele simplesmente não tivesse condições técnicas de apresentar as medidas antes, seja, mas o fato é que, agora, os espíritos usualmente acirrados dos gaúchos tornaram-se mais acirrados, as pessoas estão amargas e sem esperança.

Junte a tudo isso um fato: se você tomar cada queixa individualmente, chegará à conclusão de que todos têm razão. Absolutamente todos. Porque todos têm importância. Cada funcionário que perderá seu emprego faz um trabalho relevante, cada órgão que será fechado tem sua razão de ser para a comunidade. E mais: é possível provar que a despesa de cada um dos serviços prestados é mínima, em relação ao que se ganha com o serviço prestado.

Logo, a argumentação será lógica e o protesto será legítimo. Para tornar a situação de Sartori ainda mais delicada, ressalte-se que, para projetos dessa natureza, a crítica é fácil. Quando você se posiciona contra uma demissão, qualquer demissão, você, aparentemente, está se posicionando a favor do trabalhador, do mais fraco, do explorado, da vítima. Você é o bom e o justo, defendendo o fraco e insurgindo-se contra o poderoso cruel. É um discurso superficial, mas persuasivo.

Teremos nós maturidade suficiente para debater a proposta do governo sem paixões e sem birra e, sobretudo, sem demagogia?

Teremos nós bom senso para responder tão somente se a solução apresentada é ou não inevitável?

Não sei. Não temos sido maduros, não temos tido bom senso, não sei o que será de nós.

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