12
de dezembro de 2013 | N° 17642
EDITORIAIS
EXPERIÊNCIA
DESAFIADORA
Ao
se tornar o primeiro país do mundo a legalizar a comercialização da maconha, o
Uruguai se prepara para pôr em prática a polêmica tese defendida por alguns
líderes mundiais: a de que essa é uma fórmula capaz de enfraquecer o
narcotráfico, já que parece impossível eliminar o consumo. Políticas
repressivas por parte do poder público, como as adotadas na imensa maioria dos
países, de fato, têm se mostrado ineficazes.
A
dúvida, porém, é se o mesmo Estado que se mostra ineficaz para coibir um
comércio diretamente associado ao crime organizado será capaz de fazer uma
regulação com um mínimo de eficiência. E há ainda o risco de, na tentativa de
combater o crime, a ousadia uruguaia acabar estimulando o consumo da droga, que
pode até proporcionar prazer para os usuários, mas impõe danos comprovados à
saúde.
Defensor
da iniciativa, que, depois de aprovada pela Câmara, passou agora pelo Congresso
e só depende de sua sanção para entrar em vigor, o presidente uruguaio, José
“Pepe” Mujica, deixou claro que não se trata de “um viva ao baseado”. É apenas
uma tentativa de enfraquecer o narcotraficante.
A
ideia é garantir que cidadãos uruguaios ou residentes no país com mais de 18
anos possam comprar até 40 gramas de erva por mês, cultivá-la em casa ou em
clubes específicos. Ainda na véspera da votação, porém, o próprio presidente
lembrou que persistem muitas dúvidas, mas que elas não devem impedir a busca de
“novos caminhos” para o enfrentamento do desafio.
Algumas
tentativas semelhantes, vale lembrar, resultaram em incentivo ao consumo, levando
países que adotaram legislações mais liberais a voltarem atrás, como ocorreu na
Inglaterra.
Mesmo
em Estados norte-americanos como Colorado e Washington, nos quais foram postas
em prática medidas similares às previstas para o Uruguai, com punições rigorosas
para infratores, sobram relatos de burlas como a de adultos adquirindo a droga
para o consumo de adolescentes. Prova de que não basta o rigor da lei se o
poder público não tiver condições de fiscalizar adequadamente sua aplicação.
Diante
do quadro atual de disseminação de drogas e de domínio do tráfico em algumas
áreas do continente, a iniciativa uruguaia merece atenção e acompanhamento dos
países, especialmente do Brasil. Mas não pode servir para mascarar verdades
comprovadas pela ciência, entre as quais a de que a maconha é uma substância
nociva à saúde e causadora de degradação física e moral, já que muitas vezes
gera dependência e abre caminho para drogas mais pesadas.
Ainda
assim, a experiência precisa ser vista sem preconceito, porque seu principal
propósito é combater um mal maior, que é a criminalidade resultante do comércio
clandestino. Porém, se não alcançar os resultados pretendidos, deve ser
revogada com a mesma coragem e a mesma ousadia que demonstraram agora os
dirigentes políticos do país.
A
legalização da maconha no Uruguai precisa ser vista sem preconceito, pois seu
principal propósito é combater a criminalidade.
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