Jaime
Cimenti
Feliz dia de finados!
Em
matéria de Dia de Finados, o México é craque. A celebração do Dia dos Mortos
por lá mereceu da Unesco a declaração de Obra Mestra do Patrimônio Oral e
Intangível da Humanidade, em 2003. No México, acreditam que os mortos vêm
visitar os vivos e comemoram com comida, bolos, festas, música, doces
preferidos dos falecidos, flores, altares etc. Os mexicanos praticamente zombam
da morte, com caveirinhas de açúcar, pan de muerto (uma espécie de pão doce) e
outras iguarias. Consta que a tradição corre perigo de extinção. Tomara que
continue.
Por
aqui fico pensando que, no Dia dos Finados, é melhor não ficar lembrando demais
da morte e dos mortos. Melhor pensar que a morte morreu e que é assunto mais
para profissionais da saúde, filósofos, poetas e agentes da área funerária. Esse
negócio que morrer e pagar imposto são as únicas certezas do futuro é dose. Isola!
Penso nos meus mortos com frequência, não preciso ir ao cemitério, à igreja e
outros locais para lembrar deles e rezar.
Lembro
deles para não morrerem de vez, que a gente sabe que só morre mesmo quando
ninguém mais nos lembrar. Só procuro não pensar demais neles, pois, senão, de
repente, eles me chamam antes da hora para o andar de cima. Dia dos Finados
também é ocasião para dar uma ressuscitada, tanto quanto possível, nas
criaturas que a gente enterrou - ou pensa que enterrou - e que seguem por aí,
vivas, caminhando pelas calçadas. De repente, não vale a pena pensar que o
fulano e o sicrano morreram para a gente e enterrar os caras em vida. Pois é,
Dia dos Finados serve para dar uma perdoada básica naqueles filhos da mãe.
Esquecer
já é mais difícil, sabe como é. Dia dos Finados é bom para pensar um pouquinho
em reencarnação. Quem sabe do outro lado tem outra vida, a gente vira planta,
pessoa ou cachorro e segue o baile. Em época de Feira do Livro, é bom lembrar
que os livros são uma espécie de reencarnação dos escritores. Até hoje, que eu
saiba, ninguém voltou do outro lado para contar a história e confirmar se tem
mesmo a outra vida.
Fico pensando que energias, sentimentos, emoções,
palavras, exemplos, atos e lembranças dos que estão em outra dimensão devem ser
guardados com carinho e respeito. Minha vó me ensinou a não temer os mortos. Disse
para me cuidar com os vivos. Me cuido com os mais vivos. Tem montes por aí. Lembra
do Barão de Itararé?
“Os
vivos são cada vez mais governados pelos mais vivos.” Ah, se alguém quiser
fazer algo bom para mim, que faça agora, tá? Feliz Dia de Finados, com caveiras
e pensamentos coloridos!
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