sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Jaime Cimenti

Feliz dia de finados!

Em matéria de Dia de Finados, o México é craque. A celebração do Dia dos Mortos por lá mereceu da Unesco a declaração de Obra Mestra do Patrimônio Oral e Intangível da Humanidade, em 2003. No México, acreditam que os mortos vêm visitar os vivos e comemoram com comida, bolos, festas, música, doces preferidos dos falecidos, flores, altares etc. Os mexicanos praticamente zombam da morte, com caveirinhas de açúcar, pan de muerto (uma espécie de pão doce) e outras iguarias. Consta que a tradição corre perigo de extinção. Tomara que continue.

Por aqui fico pensando que, no Dia dos Finados, é melhor não ficar lembrando demais da morte e dos mortos. Melhor pensar que a morte morreu e que é assunto mais para profissionais da saúde, filósofos, poetas e agentes da área funerária. Esse negócio que morrer e pagar imposto são as únicas certezas do futuro é dose. Isola! Penso nos meus mortos com frequência, não preciso ir ao cemitério, à igreja e outros locais para lembrar deles e rezar.

Lembro deles para não morrerem de vez, que a gente sabe que só morre mesmo quando ninguém mais nos lembrar. Só procuro não pensar demais neles, pois, senão, de repente, eles me chamam antes da hora para o andar de cima. Dia dos Finados também é ocasião para dar uma ressuscitada, tanto quanto possível, nas criaturas que a gente enterrou - ou pensa que enterrou - e que seguem por aí, vivas, caminhando pelas calçadas. De repente, não vale a pena pensar que o fulano e o sicrano morreram para a gente e enterrar os caras em vida. Pois é, Dia dos Finados serve para dar uma perdoada básica naqueles filhos da mãe.

Esquecer já é mais difícil, sabe como é. Dia dos Finados é bom para pensar um pouquinho em reencarnação. Quem sabe do outro lado tem outra vida, a gente vira planta, pessoa ou cachorro e segue o baile. Em época de Feira do Livro, é bom lembrar que os livros são uma espécie de reencarnação dos escritores. Até hoje, que eu saiba, ninguém voltou do outro lado para contar a história e confirmar se tem mesmo a outra vida.

 Fico pensando que energias, sentimentos, emoções, palavras, exemplos, atos e lembranças dos que estão em outra dimensão devem ser guardados com carinho e respeito. Minha vó me ensinou a não temer os mortos. Disse para me cuidar com os vivos. Me cuido com os mais vivos. Tem montes por aí. Lembra do Barão de Itararé?

“Os vivos são cada vez mais governados pelos mais vivos.” Ah, se alguém quiser fazer algo bom para mim, que faça agora, tá? Feliz Dia de Finados, com caveiras e pensamentos coloridos!


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