sábado, 28 de novembro de 2009



29 de novembro de 2009 | N° 16170
MOACYR SCLIAR


Homens, mulheres & banheiros

Esses dias entrei no banheiro do aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Estava ali, no mictório, quando reparei no rapaz a meu lado, que não perdia tempo: enquanto urinava, estava mandando um torpedo pelo celular. E o fazia com absoluta desenvoltura, compatibilizando com a maior facilidade as duas tarefas.

Tenho certeza de que, se os machistas deste mundo (felizmente em número cada vez menor) resolvessem desafiar as mulheres para uma batalha final, destinada a decidir quem, afinal, manda em quem, certamente escolheriam o banheiro como território de confronto. Porque é um lugar em que o homem certamente leva vantagem, uma vantagem que lhe é garantida pela disposição anatômica e pelos hábitos culturais.

Duvidam? Vão a um cinema como o GNC Moinhos, frequentado por pessoas de classe média e de idade madura. Sobretudo por causa da idade madura, ao término da sessão muita gente vai ao banheiro. No setor masculino, o pessoal entra e sai com a maior facilidade. No banheiro feminino (e isso acontece em vários lugares) frequentemente formam-se filas. As mulheres pagam o preço da complicação que nelas envolve o ato de urinar.

O que aliás é coisa bem conhecida. Nos aviões da Gol há uma toalete exclusiva para mulheres. À porta da qual presenciei uma interessante discussão entre um passageiro e a aeromoça. A toalete estava vazia, e ele queria entrar, mas ela ponderava que tal não era permitido.

“Mas eu tenho um lado feminino muito forte”, argumentava o homem, já em desespero (homem também fica apertado). Não adiantou: ele e seu lado feminino tiveram de esperar que a outra toalete ficasse livre.

Em compensação, homens têm uma enorme facilidade para fazer xixi. Se necessário, qualquer muro, qualquer árvore, quebram o galho. A operação é rápida, e foi muito facilitada com a introdução do fecho com zíper. Na época em que a braguilha era operada com botões, demorava um pouco. Agora não. Agora é o legítimo vapt-vupt. Coisa que para as mulheres é uma impossibilidade.

Mas, a partir de uma certa idade, os homens também começam a ter problemas. E a causa destes é aquela glândula que a natureza colocou bem no trajeto do aparelho urinário: a próstata. A próstata cresce.

E o crescimento da próstata, ao contrário do que acontece com os rendimentos de ações ou de fundos, não é bem recebido pelo homem. A partir de certa idade, a próstata impõe sua presença. E aí, pobre do jato urinário. A próstata grande, comprimindo a uretra, transforma-o num melancólico gotejar.

Mas isso não é por acaso, garantirá o nosso machista imaginário (e paranoico). Ele imediatamente nos fará notar que pênis é substantivo masculino, que testículo é substantivo masculino, mas que próstata é substantivo feminino. E concluirá: a próstata é uma espiã do sexo oposto.

Conclusão: os machistas certamente perderão a batalha final. Ou qualquer outra batalha.

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