quinta-feira, 19 de novembro de 2009



19 de novembro de 2009 | N° 16160
RICARDO SILVESTRIN


Uma valsa para Carlos Urbim

Um paulista, um mineiro e um curitibano. Estive conversando, em momentos e eventos diferentes, com os três, sobre a cultura e a leitura no Rio Grande do Sul. Nossa imagem, para quem é de fora, está em alta. Para o curitibano, o jornalista e escritor Márcio Renato dos Santos, com quem falei na Jornada Nacional de Literatura, em Passo Fundo, os gaúchos valorizam seus artistas. Os paranaenses admiram essa qualidade nossa e pensam que faz falta para eles.

Disse-lhe que sim, que há um consumo local da arte produzida por aqui. Mas ainda há uma pontinha final de esperar a confirmação do centro do país para que o artista emplaque definitivamente. Isso já foi maior, mas ainda existe. Também falei que vi no Rio de Janeiro uma integração da cidade pela arte, apesar de todos os outros problemas que têm por lá.

Os gênios do samba nasceram no morro. São respeitados. Participei de um evento no Circo Voador em que havia o pessoal do samba, o do funk, a Banda de Ipanema, uma banda de rock tocando Jimmy Hendrix, artistas de MPB, e todo mundo junto, seja de que classe for. Não vejo isso por aqui.

Porto Alegre, por exemplo, empurrou o desfile das escolas de samba para bem longe do centro da cidade. Não basta fazer projetos para a periferia ficar na periferia. Há cada vez menos troca entre as classes. A arte pode aproximar e juntar. Por que não um festival coletivo, com rock, samba, funk, gauderiada, na quadra da Imperadores? Gosto muito de uma frase dos cariocas: todo mundo junto e misturado.

Quanto ao gosto pela leitura em nosso Estado, o poeta paulista Frederico Barbosa, em evento no Cultural, lembrou da universalização da escola pública promovida pelo Brizola quando era governador do Rio Grande do Sul como um fator importante.

Também Márcio Renato falou das presenças de Erico Verissimo e Mario Quintana com a Revista do Globo a partir do anos 1930. Desde lá, há esse casamento dos gaúchos com seus escritores.

Já o dramaturgo mineiro Alcione Araújo, com quem conversei tanto em Passo Fundo quanto na Feira do Livro de Porto Alegre, mostrou como a fila dos autores gaúchos estava bem maior do que a dele na sessão de autógrafos. Apontou isso como um fator positivo do nosso comportamento.

Com tanto elogio, mesmo com o senso crítico de gaúcho ligado em 220, acabei participando da festa de encerramento da Feira. O cortejo com todos os que trabalharam no evento, seguidos pelo pessoal que estava lá no domingo, cantando “ai, ai, tá chegando a hora...”.

Eu, com um rosa nas mãos e um bonezinho da Feira, vi o patrono Carlos Urbim dançar seus passos de valsa com toda a alegria de ser daqui.

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