
Há mais de três décadas à espera de reformas, Cais Mauá segue à deriva
Boa parte desse patrimônio histórico segue se deteriorando em ritmo acelerado sob as intempéries e a inércia privada e estatal
Alvo de diferentes projetos de revitalização há nada menos do que três décadas e meia, uma das áreas públicas mais promissoras de Porto Alegre, em vez de se converter em ponto de lazer, convívio e geração de renda, exibe um cenário preocupante. Desde 1991, quando o então prefeito Olívio Dutra lançou o projeto Caminho do Porto, destinado a transformar cinco armazéns em restaurantes, museu e outras atrações no centro da Capital, o Cais Mauá aguarda pela prometida reforma. Uma reportagem de Jonas Campos exibida pela RBS TV na semana passada revela o oposto: boa parte desse patrimônio histórico segue se deteriorando em ritmo acelerado sob as intempéries e a inércia privada e estatal.
Pedaços dos telhados foram arrancados pela ação do vento e da chuva, vigas e pilares de metal se encontram corroídos
Quem circula no entorno dos armazéns e pelo seu interior depara com um ambiente de abandono. Pedaços dos telhados foram arrancados pela ação do vento e da chuva, vigas e pilares de metal se encontram corroídos. É um ambiente muito diferente do que se esperava desde que o mais recente projeto de recuperação ganhou forma, em fevereiro do ano passado. O consórcio Pulsa RS, integrado por empresas do Rio Grande do Sul e de São Paulo, arrematou a concessão do cais por um período de 30 anos mediante compromisso firmado com o governo estadual, responsável pela área, de investir R$ 353 milhões. O plano prevê a revitalização de um trecho de três quilômetros de extensão, com permissão para construção de edificações comerciais e residenciais na área das docas próximo à Rodoviária. Parte do Muro da Mauá seria derrubada e substituída por um sistema mais moderno de contenção — parte fixo, parte móvel.
Até agora, a assinatura do contrato e o início das obras estão pendentes. É mais uma frustração depois de tantas esperanças naufragadas no Guaíba. A tentativa anterior de concessão, iniciada ainda durante a gestão de Yeda Crusius no Piratini (2007-2010), resultou no rompimento do acordo no governo de Eduardo Leite sob alegação de descumprimento contratual da antiga concessionária. Com razão: os gaúchos esperaram durante nove anos por obras que jamais se tornaram realidade.
Devido a esse histórico conturbado e à longa lista de insucessos, é inquietante que o projeto do cais aparente estar mais uma vez à deriva. A Secretaria da Reconstrução Gaúcha sustenta que os danos provocados pela enchente de 2024 levaram à suspensão da assinatura do contrato com o consórcio vencedor, sem prazo para ocorrer. Já a concessionária informa que segue trabalhando no projeto e à espera de definições por parte do governo estadual. Diante do cenário de deterioração progressiva de um valioso patrimônio público, tombado em nível municipal e federal, é imperioso que o Estado e o parceiro privado se mobilizem para conter os danos em curso e, finalmente, destravar o início das melhorias na região.
A realização anual do South Summit em parte dos armazéns confirma, a cada ano, o potencial turístico e econômico do cais. Embora seja forçoso reconhecer os transtornos causados pela cheia do ano passado no andamento do processo de revitalização, a tragédia que afetou os gaúchos não pode servir como desculpa para o continuado descaso com um dos principais cartões-postais do Rio Grande do Sul.
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