segunda-feira, 15 de dezembro de 2025


15 de Dezembro de 2025
CARPINEJAR

Meu querido Adenor

Eu sei que você pode escolher. Você é o melhor técnico brasileiro, campeão do mundo pelo Corinthians - aliás, campeão de tudo (Copa do Brasil, Brasileirão, Libertadores e Sul-Americana), que alcançou incomparáveis 80% de aproveitamento com a seleção brasileira.

De longe, o Inter não é a sua opção financeira mais vantajosa. Não dispomos de vitrine internacional em 2026. Não temos Libertadores, sequer Sul-Americana para atraí-lo.

Escapamos do rebaixamento com o milagre de resultados paralelos, na última rodada. Não devemos nos arriscar novamente. Não suportaríamos repetir a sina.

A realidade que oferecemos não corresponde ao que você merece. Mas o tamanho dos sonhos, sim. Nossos sonhos possuem a sua estatura.

Garanto que você contará aqui com a torcida mais apaixonada, a mais compreensiva, a mais leal e a mais grata. Estamos carentes por sorrisos.

É natural a figura do Tite optar por qualquer equipe de maior aporte nacional ou estrangeiro, com investimentos milionários, mas procuro falar com o caxiense como eu, Adenor, o homem ligado à família e aos valores de nossa terra, que cuidou dos seus pais até o adeus, que superou os imprevistos do destino - como o encerramento precoce da carreira de jogador aos 28 anos, por problemas no joelho - e que se reinventou na casamata, partindo de baixo, sem pistolão, na base do suor, conduzindo o Caxias ao título gaúcho.

Aquilo que você construiu é seu, ninguém facilitou a sua vida. Só Adenor é capaz de aceitar a proposta colorada, de enxergar a estrela no meio do caos, de lapidar o viço da coragem num ambiente opaco de descrédito e desânimo. Você nos levantaria das cinzas, do mesmo modo que você se reergueu do período obscuro da crise de ansiedade e arejou a mente.

Assim como você zelou bravamente pela sua saúde emocional em abril, o clube também precisa de socorro. Também depende de alguém com a sua sensibilidade e método, com a sua experiência e exemplo, que reequilibre o psicológico e devolva a confiança.

Somos você quando percebeu que não dava para continuar daquele jeito. Somos você ontem. Queremos ser você hoje, queremos ser você amanhã. Podemos nos tornar um só agora.

Até porque eu acredito que foi o Adenor que salvou o Tite, o humano dentro do extraordinário, aprendendo os limites e dizendo "basta". Que o Inter volte a ser gigante pelas suas mãos, pela sua regência. Você nos fez jogar bonito em 2008, com a conquista da Sul-Americana. Lembro que bailávamos: transições rápidas, contra-ataques sorrateiros, infiltrações inusitadas.

Havia a muralha defensiva com Bolívar, Álvaro, Índio e Marcão. Edinho ficava à frente do pelotão, Guiñazú e Magrão marcavam de maneira incansável, criando brechas para as triangulações letais entre D?Alessandro, Alex e Nilmar. Transbordavam organização tática e garra. Foram 58 vitórias em 109 partidas, numa das mais vistosas fases do Inter do século.

Desejamos seu retorno por saudade e esperança entrelaçadas. Não pense, sinta. Se raciocinar em excesso, se analisar os prós e contras, se pesar os argumentos racionais e pragmáticos, é provável que decline do convite.

Mas, se apenas sentir, deixar-se levar pelos desígnios insondáveis do coração, observar a expectativa da massa vermelha enlouquecida, de um povo sofrido que busca um recomeço, não existirá maior desafio para a sua criatividade e reconhecimento pela sua presença.

Acolha o nosso imenso respeito e amor por você. Nós o esperamos. Abel já veio, só falta você, meu Adenor.  Desejamos seu retorno por saudade e esperança entrelaçadas. Não pense, sinta.

CARPINEJAR

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