
INFORME ESPECIAL - informe especial - Vitor Netto
As enchentes e a saúde mental
As enchentes que assolaram o RS foram um dos principais assuntos abordados em uma publicação recente feita pelo Médicos Sem Fronteiras (MSF) e pela revista britânica The Lancet, um dos mais importantes periódicos científicos da área médica no mundo. O material tratou dos impactos das mudanças climáticas na saúde.
Em seu artigo, o MSF abordou a pauta da saúde mental, principal foco da organização nos atendimentos no Estado. Segundo Anderson Beltrame, psicólogo do MSF, a entidade compartilhou as experiências vividas no Estado, tanto durante as enchentes no Vale do Taquari em 2023 quanto nas de 2024, destacando a relação entre a exposição repetida a eventos climáticos extremos e a necessidade de atenção às populações mais vulnerabilizadas.
- Os impactos da mudança climática atingem de forma desigual diferentes regiões e recaem repetidamente sobre as mesmas áreas. A mesma população acaba ficando exposta continuamente a essas incidências e não tem tempo para se recuperar. Essa dimensão do tempo para lidar com o que aconteceu e reencontrar a resiliência necessária para reconstruir tem sido algo muito difícil. Consequentemente, o impacto em termos de saúde mental é muito grande - disse.
O psicólogo também relatou que, embora as autoridades já tivessem adquirido um pouco de experiência após o primeiro evento, a população se viu mais afetada devido à falta de tempo para recuperação, o que pode trazer reflexos significativos à saúde mental:
- Algumas reações são esperadas e normais, mas não podemos diagnosticá-las como transtornos, pois são respostas naturais. O que é importante, e sempre frisávamos, é a intervenção no tempo oportuno, garantindo que as pessoas afetadas encontrem o apoio necessário no período pós-resposta. Caso esse apoio não ocorra, essas reações podem se cronificar e se transformar em um problema de saúde mental - afirmou à coluna.
Beltrame, que atuou como gerente de saúde mental do projeto do MSF, reforça a importância de pautar o tema:
Qualquer resposta em saúde, especialmente em contextos de emergências climáticas, precisa levar em consideração o cuidado em saúde mental, principalmente com foco comunitário. _
Declaração de Trump esvazia espaço aéreo na Venezuela
A declaração de Donald Trump de que companhias deveriam considerar o espaço aéreo da Venezuela "fechado" ocasionou um esvaziamento do tráfego de aviões sobre o território venezuelano. Imagens de ontem do FlightRadar24 mostravam poucos aviões sobrevoando o país.
No sábado, Trump disse: "A todas as companhias aéreas, pilotos, traficantes de drogas e traficantes de pessoas: considerem o espaço aéreo acima e ao redor da Venezuela totalmente fechado". O governo venezuelano classificou como uma "ameaça colonialista".
Na prática, os EUA não têm autoridade legal para fechar o espaço aéreo de outro país. Contudo, a declaração aumenta a tensão entre os EUA e a Venezuela. _
Entrevista - Nathalie Gil - Presidente da Sea Shepherd Brasil
"O oceano, nosso aliado no combate às mudanças climáticas, está sofrendo desafios cada vez maiores"
Um dos assuntos tratados na COP30 foi a atenção aos oceanos. Contudo, na avaliação da presidente da Sea Shepherd Brasil, Nathalie Gil, o tema ainda está aquém do esperado. Ela conversou, durante a conferência de Belém, com a coluna.
Por que colocar os oceanos no centro da pauta climática?
É algo que, sem dúvida, teve uma evolução. Ainda é insatisfatório, pelo nível que o oceano deve ter na mesa da COP. Estamos aprendendo cada vez mais o quanto são essenciais todos os serviços ecossistêmicos do oceano para enfrentarmos a mudança climática. O oceano é responsável por mais de um quarto da absorção de dióxido de carbono da atmosfera. Isso ele faz por causa de toda a sua biodiversidade, que, de maneira interdependente, sequestra carbono. O oceano também é vital para todo o controle térmico, hídrico e até da própria biodiversidade da Terra.
Tem essa função de regular correntes, o clima em várias partes do mundo. A própria Amazônia é do jeito que é e os nossos biomas e padrões térmicos são do jeito que são, porque o oceano tem essa função vital de controle climático. Enquanto estamos falando sobre encontrar soluções de sequestro ou de menor emissão de carbono, fala-se pouco sobre manter equilíbrio climático. E é isso que pedimos: como podemos tomar medidas ambiciosas para o oceano continuar operando com essas grandes funções ecossistêmicas para o equilíbrio climático?
Por que ainda é insatisfatório?
Vou começar pelas NDCs: ainda não há menções a soluções de adaptação ou de mitigação focada no oceano. E isso é o que pedimos, não só os países costeiros, mas os não costeiros também. Por exemplo, soluções de como estamos resolvendo os nossos resíduos, a nossa cadeia de produção de uma maneira que também não tenhamos o uso excessivo de animais marinhos na nossa cadeia alimentar ou para produção de cosméticos. Isso diretamente afeta o oceano, porque é como se estivéssemos tirando partes de uma grande máquina da qual dependemos para sobreviver. Estamos em um momento em que o oceano está enfrentando outros desafios enormes, como o aquecimento das suas águas.
Temos o problema da desaceleração de correntes, e isso afeta o controle climático da região. Também temos o fator da acidificação do oceano, que está afetando os corais. Estamos num cenário em que o oceano, nosso maior aliado no combate às mudanças climáticas, está sofrendo desafios cada vez maiores, mais intensos e despejamos no oceano quantidades cada vez mais avassaladoras de químicos, tóxicos e também plásticos. Estamos, na verdade, com o oceano começando a ser debatido na COP, quando ele deveria ser o assunto principal, se não um dos mais importantes, para realmente reverter o desastre climático.
Foi lançado um plano para acelerar soluções baseadas no oceano que pode ajudar a reduzir emissões de gases de efeito estufa. Como avalia esse plano?
Vamos ver na prática, porque o Brasil tende a ter muitas ambições no papel, mas na aplicação, falhamos. Temos de nos inspirar em países como a Costa Rica, como o Reino Unido, que fecharam suas águas para a exploração de petróleo, que é algo que mostra que estão realmente comprometidos com o carbono zero, comprometidos em criar uma jornada para um mundo sem combustíveis fósseis.
Não deveríamos estar discutindo explorar novas áreas para combustíveis, nem que seja para pesquisa. Não temos mais tempo de ficar discutindo exploração de combustíveis fósseis offshore, não só pelo perigo do vazamento, o que tem impacto direto no oceano, mas também um impacto indireto, já que sabemos que mais emissões de carbono significam mais estresse para o oceano, que já está a caminho do colapso.
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