sexta-feira, 1 de novembro de 2024


01 de Novembro de 2024
CARPINEJAR

Dinheiro vivíssimo

Ninguém mais anda com dinheiro vivo. Táxis são pagos com Pix. Motoristas de aplicativo são pagos automaticamente, a partir das informações do cadastro. Restaurantes são pagos com cartão. Até lavador de carro fornece seu telefone ou CPF para transferência.

Eu já fui abordado na rua por mendigo que rebateu dizendo que aceitava Pix quando mostrei as mãos vazias e falei que não tinha nada. Faz muito tempo que a minha carteira está vazia de cédulas. Adotei uma caderneta menor, o bolsão grande carece de utilidade. Nenhuma empresa dá salário em maços de notas - cai na conta do funcionário.

É um risco, uma temeridade, sair do banco com os bolsos forrados. Somos cada vez mais discretos e contidos nos caixas 24 horas. Por isso, a filmagem da entrega de um maço de dinheiro por parte de Airton Souza (PL), prefeito eleito de Canoas, a uma pessoa ainda não identificada, exige explicações. É uma cena absolutamente incomum e fora do padrão cotidiano.

No vídeo, que circula desde domingo em aplicativos de mensagens e redes sociais, Airton Souza, num carro, tira um bolo de notas de R$ 100 de dentro da calça e repassa a outro ocupante do veículo. É estranho carregar uma soma assim na cueca. Além de ser um tanto desconfortável, a cueca nunca corresponderá a um bolso. Parece, desde o princípio, algo escondido, escuso, de motivação vergonhosa.

É estranho oferecer dinheiro, sem nenhum rastro de transação bancária. Parece sem sentido, já que Airton Souza alegou que se tratava de compromissos particulares. Segundo seu depoimento para a Rádio Gaúcha, o dinheiro era proveniente de reservas econômicas e tinha como destino o pagamento de uma dívida pessoal.

Quando eu pago alguma pendência, faço questão de optar pela transferência para ter o registro da operação. Com o comprovante, a dívida não pode ser contestada. É estranho não saber a data, não indicar a quantia, para quem foi, não especificar a natureza da quitação. Não se esquece uma cobrança. Cobranças doem. É estranho que o fato tenha ocorrido no meio de uma eleição acirrada.

É estranho alguém querer filmar isso: qual a utilidade de documentar o incidente se era algo normal e lícito? Serviria como garantia de quê? Se o prefeito eleito estava sofrendo alguma chantagem - não dá para desconsiderar nada -, é melhor expor a privacidade do que correr risco de sua chapa ser cassada.

Precisamos aguardar o parecer das autoridades, para ver se a realidade foi mesmo inverossímil, se houve sensacionalismo num gesto inofensivo de boa-fé, sem macular a reputação dos envolvidos, ou se existe uma história misteriosa que não foi contada por trás da negociação.

Quem irá responder às perguntas não sou eu, será o Ministério Público Eleitoral. A pedido deste, ontem, a Polícia Federal anunciou que abrirá uma investigação para apurar o caso. 

CARPINEJAR

01 de Novembro de 2024
MARCO MATOS

POA + verão = nada a ver

Dias de sol, temperatura subindo. É o verão chegando em Porto Alegre.

Essa semana já mostrou que esse verão será daqueeeeeeles!!!!!! Haja ar-condicionado, água gelada, ventilador pra refrescar. Os últimos dias de outubro tiveram termômetros acima dos 30 graus - tá certo que tinha um ventinho e na sombra até que estava agradável -, mas a partir de agora a tendência do clima é de dias cada vez mais escaldantes.

Climatologicamente falando teremos um verão bem configurado (é o que dizem os meteorologistas que prestam assessoria pra gente aqui na TV). Mas estou aqui pra falar sobre a nossa capital durante o verão. Eu acho que Porto Alegre tem cara de inverno.

Explico: como é bacana sentir aquele vento frio no rosto, procurando um café num domingo à tarde! No meio do ano os parques ficam cheios em dias de sol. Os porto-alegrenses amam lagartear. Mas pegar sol no inverno é bem diferente de ficar atirado no sol forte do verão.

A nossa cidade tem muitas árvores, mas pouca sombra. A Orla (que eu amo) é quase desértica. Sol a pino é uma tristeza. A pressão vai no pé, fica aquela sensação de moleza. Que preguiça de sair na rua! Nos ônibus, poucos com ar-condicionado que efetivamente funciona. É um sufoco.

Mesmo assim, todo mundo sabe que sou apaixonado pelo verão. Eu gosto da estação. É nesses meses mais quentes que eu faço aniversário (9 de janeiro), que a gente vai pra praia quando dá (embora eu não tenha nenhum parente com casa no Litoral), que as crianças estão em casa e os almoços de domingo ficam mais divertidos. Sair à noite também é mais agradável. Eu amo o verão. O que, definitivamente, não quer dizer que eu ame Porto Alegre no verão.

Lembro que, quando vim morar na Capital, em 2018, era bem nessa época do ano. Logo que cheguei percebi que ser repórter de rua aqui na cidade seria complicado. Eu aparecia na TV todos os dias extremamente suado, acabado, destruído. Todos os dias quentes eu agradeço por ter me tornado apresentador.

Eu acho que Porto Alegre fica mais triste no verão. Por aqui, nos finais de semana a partir de agora até março, muita gente viaja e é difícil reunir uma turma de amigos. Também vejo as pessoas mais irritadas na rua. Talvez seja só uma percepção minha. E tomara que eu mude de ideia.

Queria muito continuar amando o verão. E desejo, de verdade, amar o verão em Porto Alegre também. Dicas? Me escreva um email. Vou amar. _

MARCO MATOS

01/11/2024
Editorial

Para manter o crescimento

A semana chega ao fim com mais dados a atestar o bom momento da economia real no país. O IBGE mostrou ontem que a taxa de desemprego no terceiro trimestre recuou para 6,4%, a menor para o período desde o início da série histórica, em 2012. Também é o segundo patamar mais baixo levando-se em consideração todos os trimestres. 

Na quinta-feira, o Ministério do Trabalho informou que, em setembro, o país surpreendeu novamente na criação de vagas com carteira assinada. O saldo positivo foi de 247,8 mil postos formais. É o reflexo da atividade aquecida, em um ritmo muito acima do que se projetava no início do ano. O PIB do país deve avançar mais de 3% em 2024, conforme o consenso do mercado extraído do Boletim Focus do Banco Central (BC).

A ampla maioria dos brasileiros, com a exceção dos movidos por picuinhas políticas, deseja a continuidade de um crescimento duradouro e da manutenção de um mercado de trabalho dinâmico. Mas para torcer por este cenário virtuoso não existe a obrigação de fechar os olhos para os alertas no horizonte. Pelo contrário. Chamar atenção para esses avisos reflete a aspiração de o Brasil avançar de forma consistente e sustentável. Ou seja, que o país não experimente outro voo de galinha. Mas, para isso, são necessários ajustes de rota.

Há, neste momento, uma justificada preocupação com a trajetória de alta da dívida pública brasileira nos próximos anos. É o resultado da percepção de que o governo federal hesita em mostrar determinação na busca do equilíbrio fiscal por meio do corte estrutural de gastos, mesmo após o ajuste pelo lado da ampliação das receitas se esgotar. Os sinais são inúmeros no mercado financeiro, mas com reflexos no dia a dia das famílias e das empresas.

O dólar, que no final de 2023 estava na casa dos R$ 4,85, se aproxima dos R$ 5,80. O mais recente Boletim Focus mostrou a expectativa de que o IPCA, a inflação oficial, encerre o ano a 4,55%, ultrapassando o teto de tolerância da meta. O Comitê de Política Monetária (Copom) do BC tornou a subir a Selic e os juros futuros estão em tendência de alta. É uma conjuntura que pressiona os preços e tende a frear a economia. Há outras razões para o pessimismo, como o impacto do clima na inflação e a incerteza gerada pela eleição norte-americana. Ainda assim, o maior foco da tensão é a falta, até agora, de medidas consistentes para racionalizar despesas e estabilizar a dívida pública do país.

Os ministérios da Fazenda e do Planejamento do governo Luiz Inácio Lula da Silva prometeram apresentar depois da eleição um pacote de corte de gastos de até R$ 50 bilhões. Parte deve passar pelo Congresso. A demora na divulgação das medidas amplia a desconfiança. Aguarda-se que, quando forem conhecidas, possa existir a certeza de que se trata de um plano consistente e imune a fogo amigo.

As iniciativas em gestação incluem a contenção de despesas obrigatórias e o redesenho de políticas como o seguro-desemprego, o abono salarial e o Benefício de Prestação Continuada (BPC). São consideradas impopulares. Mas o verdadeiro golpe na popularidade do governo seria um cenário de redução drástica do crescimento e de inflação, dólar e juros ainda mais altos. 



01 de Novembro de 2024
MERCADO DE TRABALHO

MERCADO DE TRABALHO

Desemprego no país recua para menor taxa trimestral desde 2012

Mercado de trabalho

Desocupação entre julho e setembro fica em 6,4%. IBGE aponta contínua expansão dos contingentes de trabalhadores em diversas atividades

A população desocupada (número de pessoas que não estavam trabalhando e procuravam por uma ocupação) diminuiu para 7 milhões. Conforme o IBGE, desde o trimestre encerrado em janeiro de 2015, este é o menor contingente. Na visão da coordenadora de Pesquisas Domiciliares do IBGE, Adriana Beringuy, a trajetória de queda da desocupação resulta da contínua expansão dos contingentes de trabalhadores que estão sendo demandados por diversas atividades econômicas.

O número de trabalhadores do país registrou novo recorde da Pnad Contínua ao subir para 103 milhões. O crescimento da população ocupada avançou 1,2% no trimestre, ou mais 1,2 milhão de trabalhadores. Na comparação anual, subiu 3,2% - o percentual é equivalente a mais 3,2 milhões de pessoas ocupadas.

Indústria e comércio

Outro recorde foi na população ocupada no comércio, que atingiu 19,6 milhões de pessoas. Segundo Beringuy, o terceiro trimestre aponta para retenção ou aumento de ocupados na maioria dos grupamentos de atividades.

- Em particular, a indústria registrou aumento do emprego com carteira assinada. Já no comércio, embora a carteira assinada também tenha sido incrementada, o crescimento predominante foi por meio do emprego sem carteira - informou.

No trimestre terminado em agosto, o rendimento médio real das pessoas ocupadas ficou em R$ 3.227. O valor, conforme o IBGE, não mostrou "variação estatisticamente significativa frente ao trimestre móvel anterior".

Setores privado e público

Ao atingir 53,3 milhões, o número de empregados do setor privado registrou novo recorde da série. O número de empregados com carteira de trabalho assinada chegou a 39 milhões, e o sem carteira de trabalho alcançou 14,3 milhões. E com o total de 12,8 milhões, a quantidade de empregados do setor público também bateu recorde. 


01 de Novembro de 2024
POLÍTICA E PODER - Rosane de Oliveira

Invest RS será esteio do plano de desenvolvimento

É com a experiência de quem negociou a vinda para o Tecnopuc de empresas que ignoravam a existência de centros tecnológicos no sul do Brasil que o presidente da Agência de Desenvolvimento do Rio Grande do Sul, a Invest RS, Rafael Prikladnicki, coordenará a busca por investimentos nos próximos anos.

Entusiasmado com a oportunidade de ajudar a economia do Rio Grande do Sul a mudar de patamar com o Plano de Desenvolvimento Econômico lançado na quarta-feira, Prikladnicki já vinha trabalhando antes mesmo de ter sido anunciado oficialmente como presidente, em sintonia total com o secretário de Desenvolvimento Econômico, Ernani Polo. Os dois farão parte da missão internacional ao Japão e à China, que o governador Eduardo Leite lidera a partir do dia 17.

Por experiência, Prikladnicki sabe o quanto é importante mostrar aos investidores internacionais que o Brasil é muito mais do que São Paulo e Rio de Janeiro: Estados como o nosso precisam mostrar seus diferenciais competitivos e estar de olho para identificar oportunidades em qualquer ponto do planeta.

Informação será chave para o sucesso

A primeira tarefa da Invest RS será montar uma base de inteligência de dados, para não sair dando tiro no escuro. Isso significa mapear os projetos em andamento, a etapa em que estão e os eventuais gargalos que precisam superar. Essa base de dados vai organizar informações sobre projetos em fase embrionária ou empresas que manifestaram intenção de ampliar suas plantas ou diversificar produtos.

Bem relacionado no mundo acadêmico e também no empresarial, Prikladnicki vem recebendo mensagens de apoio do Brasil e do Exterior desde que a coluna noticiou que era ele o escolhido para presidir a agência. Disciplinado, vem estudando os casos de sucesso de agências do gênero em vários países. E comparou o caso do Rio Grande do Sul ao de Ohio, nos Estados Unidos, que precisa competir com a mundialmente famosa Nova York e com a rica e conhecida Califórnia na atração de investimentos. _

No Brasil, o exemplo mais antigo de agência de desenvolvimento e promoção de investimentos é Minas Gerais, que criou a sua em 1968. São Paulo, que criou no governo João Doria, já atraiu mais de R$ 100 bilhões em investimentos.

Orçamento de 2025 prevê déficit de R$ 2,8 bilhões

Passado o período eleitoral, a Assembleia Legislativa retomou suas agendas após dois meses de raras sessões plenárias e reuniões esvaziadas das comissões. Ontem, a Comissão de Finanças recebeu secretários do governo estadual para audiência de discussão do projeto que estabelece o orçamento do Estado para 2025.

Os detalhes das finanças gaúchas para o próximo ano foram apresentados pelos secretários da Casa Civil, Artur Lemos, do Planejamento, Governança e Gestão, Danielle Calazans, da Fazenda, Pricilla Santana, do Meio Ambiente, Marjorie Kauffmann, e da Reconstrução, Pedro Capeluppi.

Mesmo com a previsão de déficit calculado em R$ 2,8 bilhões, a secretária do Planejamento garante que "será possível cumprir as metas, em especial os projetos relacionados com a reconstrução".

O governo destacou os R$ 4,2 bilhões para a reconstrução do Estado por meio do Fundo Rio Grande (Funrigs) - alimentado com as parcelas suspensas da dívida com a União -, os R$ 375 milhões aportados para a Defesa Civil e a previsão de investimentos que somam R$ 4,3 bilhões.

A apresentação foi feita em meio a um clima belicoso. Após as apresentações iniciais, o líder da bancada do PT, deputado Miguel Rossetto, fez críticas ao orçamento previsto para as pastas da Educação, da Saúde e do Meio Ambiente.

Rossetto criticou o volume de recursos para a saúde, considerado insuficiente, e o acordo com o Ministério Público para deixar de contabilizar o pagamento de aposentados como gastos em educação, de forma gradual, nos próximos 15 anos. O deputado lamentou que o Legislativo não tenha sido consultado. 

Quem vai coordenar a transição de Melo para Melo

Consultor em relações institucionais e governamentais e com formação na área de Comunicação Social, Marcello Beltrand será o coordenador técnico do escritório de transição do governo Sebastião Melo, na prefeitura de Porto Alegre.

A confirmação de Beltrand foi feita pelo próprio Melo, ontem, em reuniões com o atual secretariado, presidentes de partidos aliados e vereadores.

Embora seja um governo de continuidade, o prefeito deseja que o escritório analise acertos, erros e gargalos dos primeiros quatro anos de gestão.

O escritório de transição também terá uma coordenação política. Para essa tarefa estão entre os cotados o experiente secretário Cezar Schirmer e o coordenador-geral de campanha André Coronel. O PL, partido da vice-prefeita eleita Betina Worm, também deve ter destaque no processo. _

Para os vários Ronnies e vários Élcios que existem por aí, soltos: A Justiça por vezes é lenta, é cega, é burra, é injusta, é errada, é torta, mas ela chega.

Lúcia Glioche - Juíza do caso Marielle, ao ler a sentença que condenou os assassinos da vereadora e do motorista Anderson Gomes

Não é de bom tom

Fotógrafos que trabalham em órgãos públicos têm tido cada vez mais dificuldade para captar imagens abertas em que boa parte da plateia não apareça mexendo no celular enquanto alguém fala.

Pode? Pode, mas não é de bom tom. _

POLÍTICA E PODER


01 de Novembro de 2024
INFORME ESPECIAL - Rodrigo Lopes

A conta chegou para todos

Rio Grande do Sul, Texas, Munique e, agora, Valência. A tragédia espanhola desta semana soma-se ao conjunto de províncias, Estados ou regiões que experimentaram, nesse duro 2024, desastres provocados por eventos extremos.

Não esqueçamos da República Tcheca, onde rios transbordaram, e casas e ruas ficaram submersas. Na Polônia, uma barragem rompeu, provocando uma onda gigante na cidade de Stronie Slaski. E houve, ainda, inundações na Moldávia e na Romênia.

A maioria dos desastres citados aqui não está contabilizada nos cálculos dos prejuízos feitos por seguradoras, porque muitos ocorreram no segundo semestre. A Munich Re, por exemplo, estimou em US$ 120 bilhões de prejuízos causadas por desastres naturais no mundo nos seis primeiros meses de 2024 - sem contar as incomensuráveis perdas humanas. Destaco as perdas financeiras, porque, se não for por conscientização, sobre a necessidade de mudarmos o nosso modo de vida e consumo, que seja, ao menos, pelas perdas econômicas.

As mudanças climáticas não são mais apenas assunto de ambientalistas ou pesquisadores. Discutir só o derretimento dos polos é algo do passado. É no dia a dia - e no bolso - que estamos sentindo os efeitos de um planeta mais quente. A conta chegou para todos. _

Programa do BRDE na COP16

O programa Fundo Verde e Equidade, lançado pelo Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) há dois anos, foi uma das iniciativas mundiais destacadas na Conferências das Nações Unidas sobre a Biodiversidade, a COP16.

A iniciativa foi selecionada entre projetos de 14 países como projeto colaborativo de incentivos positivos para a conservação da biodiversidade. _

Escolhidos projetos de fomento social

A 4a edição do Fundo Valor Local, programa de fomento social da CMPC, definiu os projetos a serem apoiados.

Ao todo, serão 18 iniciativas gaúchas que receberão um investimento recorde na história da ação, com mais de R$ 500 mil e que beneficiarão aproximadamente 7,5 mil pessoas de 20 cidades gaúchas. Algumas são projetos de regiões ou comunidades impactadas pelas enchentes. _

Entrevista - Maurício Moura

Doutor em economia e gestão política e professor da Universidade George Washington, nos Estados Unidos

"Quem ganhar na Pensilvânia, vai ganhar a eleição americana"

A quatro dias das eleições presidenciais dos EUA, a coluna conversou com o doutor em economia e gestão política e professor da Universidade George Washington, nos EUA, Maurício Moura.

É possível prever quem vai ganhar as eleições?

Não. Impossível, principalmente a presidencial. Lembrando que temos três eleições relevantes: a presidencial, que é um fato inédito, onde nos sete Estados decisivos existe um empate nas pesquisas. Do outro lado, no Senado, os republicanos são favoritos a retomarem a maioria. Na eleição da Câmara, os democratas são favoritos.

Kamala Harris tem rejeição em relação a homens negros e latinos. Por que isso ocorre?

A campanha dela tem feito um esforço forte para trazer esses homens para votar, e tem um grupo que não é que vai votar no Donald Trump, tem um grupo que é indiferente, está arriscando ficar em casa. E tem uns poucos que mudaram de lado para o Trump, principalmente por causa da economia. Em relação ao eleitorado latino, é mais complexo, porque é mais heterogêneo.

E as fragilidades de Trump?

São os brancos com alta escolaridade e principalmente as mulheres. Trump vai muito mal no eleitorado feminino, pior do que nos anos anteriores. E tem um problema com os independentes também, porque tem uma base muito ativa de eleitores, que provavelmente vai comparecer massivamente, só que tem dificuldade de avançar essa base. Kamala tem uma oportunidade que ele não tem, porque tem uma rejeição menor, então o objetivo é fazer com que quem rejeita Trump, vote nela.

Qual o principal swing state?

A grande disputa é na Pensilvânia. Conversando com as duas campanhas, elas concordam em uma coisa: republicanos estão melhor posicionados em Arizona, Carolina do Norte e Georgia, e que democratas estão bem para ganhar em Wisconsin e Michigan, então temos dois lugares onde há muita incerteza até agora, que é Pensilvânia e Nevada, só que Pensilvânia tem muito mais votos. Então, minha leitura, bastante em linha com as duas campanhas, é que quem ganhar a Pensilvânia provavelmente vai ganhar a eleição.

Kamala empolgou no começo e depois ficou "morna"?

Com certeza. Ela foi lançada, não participou das primárias, e em seguida houve a Convenção Democrata, então um período bastante positivo. Lembrando que é muito difícil concorrer com Trump, isso sempre foi, porque ele tem uma grande capacidade de pautar a dinâmica e as conversas das eleições. E esse período em que ela foi lançada, ele não exerceu esse protagonismo, depois voltou uma disputa como sempre foi: Trump pautando e os democratas tendo que se adaptar. Agora, por outro lado também, ela conseguiu angariar de cara aqueles eleitores que não gostavam do Trump, mas estavam desconfortáveis com Biden.

Quais as diferenças dessa para as eleições anteriores?

Acho que 2016 era mais favorável para o Trump porque ele era um outsider, não tinha nenhuma referência dele como governante e isso foi fundamental para a vitória. Em 2020, perdeu porque o governo era mal avaliado, assim como o de Biden é hoje. Agora é uma eleição complexa, porque é ao mesmo tempo sobre a gestão Biden-Harris, com a continuidade ou não, e também se você quer o Trump de volta ou não.

Trump pode rejeitar o resultado das urnas?

Tem duas escolas de pensamento em Washington. A mais otimista, de que se ele perder vai ficar quieto, porque em novembro tem a sentença dele em Nova York, então muita confusão às vésperas seria contraprodutivo. A corrente mais pessimista pensa que estão se preparando para contestar todos os resultados, com uma estrutura grande para não aceitar o resultado.

Qual o foco na reta final?

As campanhas não estão gastando tempo para convencer pessoas a mudar de lado, o que vemos é uma operação que chamam de get out to vote, que é fazer as pessoas saírem de casa para votar. _

INFORME ESPECIAL