Jaime Cimenti
LIVROS Edição impressa de 03/05/2019. Alterada em 02/05 às 21h32min
Clássico norte-americano
O grande escritor e jornalista Ernest Hemingway, Nobel de Literatura e autor da imortal novela O velho e o mar, disse: "Toda a moderna literatura norte-americana foi iniciada com um livro chamado Huckleberry Finn, escrito por Mark Twain. Não existiu nada antes. E desde aí nunca mais voltou a existir nada de tanta qualidade".
Há quem diga que Hemingway exagerou, mas ninguém nega a importância enorme de Aventuras de Huckleberry Finn, que acaba de ser lançado pela Editora Zahar, na Coleção Clássicos, em bela edição encadernada, comentada e ilustrada com mais de cem ilustrações originais de E.W. Kemble. A tradução, a apresentação e as notas são do professor José Roberto O'Shea, da Universidade Federal de Santa Catarina e autor de mais de cinquenta traduções, entre as quais livros de James Joyce e Shakespeare.
A tradução traz o texto integral e respeita a famosa inovação linguística do original, recriando suas nuances e variações. Aventuras de Huckeleberry Finn, romance fundador, é considerada a obra-prima do genial escritor e jornalista Mark Twain, autor de Aventuras de Tom Sawyer, entre outros livros essenciais. Huckeleberry escapa de casa para fugir do pai bêbado e violento e embarca numa jangada para subir o Mississippi, numa série de aventuras.
O companheiro de viagem é o escravo negro fugitivo Jim. Os dois viverão muitos episódios envolvendo racismo e escravidão e o encontro com Rei e Duque, uma das maiores duplas de vigaristas da história da literatura.
O puritanismo religioso e cultural, a brutalidade das relações humanas do "mundo adulto", os valores corruptos e hipócritas da sociedade e o dilema que Huck enfrenta sobre entregar ou não o amigo às autoridades, estão na criativa obra, assim descrita pelo grande escritor argentino Jorge Luis Borges: "O livro não é burlesco nem trágico: é, simplesmente, um livro feliz". Realmente, a narrativa em primeira pessoa pelo próprio Huck, mostrando a viagem de formação de um menino rebelde que se une ao perseguido escravo negro, é uma das melhores da ficção mundial de todos os tempos.
Dia do Trabalho Quarta-feira, 1/5, do Dia do Trabalho.
Sempre uma boa oportunidade para pensar sobre o trabalho. Trabalho é, quase sempre, a relação mais longa e duradoura que temos na vida, especialmente uma relação conosco mesmo, onde podemos ter prazer e dor. Nos envolvemos com trabalho durante 20, 30 ou até 60, 70 ou mais anos na vida. Com a média de vida aumentando e a reforma da Previdência, os brasileiros vão trabalhar mais tempo. Já acontece em alguns países do exterior, mas é complicado comparar o Brasil com a Dinamarca, por exemplo. A palavra trabalho tem uma origem terrível.
Vem do latim tripalium ou trepalium, antigo instrumento com três paus aguçados utilizado na lavoura e que a partir do século VI passou a ser também um instrumento romano de tortura. Daí a associação de trabalho com suplício, escravidão, perda de liberdade e condição inferior. Desde muitos milênios atrás, quem pôde se livrou do trabalho ou arrumou alguém para fazer o serviço.
Com a Revolução Francesa e com a Revolução Industrial, o trabalho passou a ser respeitado e valorizado e aí passaram a dizer que o trabalho enobrece. Depois que a pessoa fica nobre, bom aí só quer tarefas políticas e intelectuais. Algumas pessoas e alguns regimes políticos botam os vizinhos e os demais cidadãos a pegar no pesado, enquanto defendem, ardorosamente, os operosos trabalhadores. Nem tanto ao céu, nem tanto à terra. Nem tanto ócio, nem tantas horas de trampo.
Ócio digno e criativo é bom, especialmente se os outros pagarem a conta. Liberdade é não ter que trabalhar, mas geralmente a preguiça e o ociosidade são as mães dos outros vícios. Na França, por exemplo, muitos querem uma jornada de umas 20 horas semanais, com salários dignos, boas condições de trabalho e direitos assegurados. Uma relação de trabalho melhor existe, mas é cara e a grana anda escassa.
Oito horas de descanso, oito horas de trabalho, oito horas de lazer e oito schillings por dia foi a receita que nos deixaram os trabalhadores da época da revolução industrial. Antes trabalhavam doze, treze, catorze horas por dia. Em alguns lugares a receita até melhorou, mas em nosso mundo globalizado, onde tem muito mais trabalho do que emprego, em muitas situações, até em empresas grandes e mesmo no estrangeiro a coisa não está fácil.
De mais a mais, no plano global, muitas vezes cidadãos, empresas e governos de países ricos aproveitam a mão de obra farta e barata de países pobres ou em desenvolvimento para se dar bem. Na China até pouco tempo atrás as pessoas trabalhavam por um dólar por dia, produzindo muitas coisas que compramos aqui e vivendo em duras condições.
No mundo e em especial em grandes capitais, boa parte do trabalho braçal e mais duro é executado por imigrantes estrangeiros, para que os nacionais e turistas tenham transporte, quarto limpo, comida boa, segurança e outras necessidades básicas atendidas. -
Jornal do Comércio (https://www.jornaldocomercio.com/_conteudo/colunas/livros/2019/04/681961-classico-norte-americano.html)
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