quarta-feira, 1 de maio de 2019


01 DE MAIO DE 2019
DAVID COIMBRA

Por que os professores de História são de esquerda - II

O homem tenta organizar o mundo. É esse o esforço de cientistas, filósofos, pensadores em geral. O homem cataloga, classifica, inventa categorias, tenta dar lógica a tudo.

Por que isso? Porque ele quer entender as leis que regem a natureza. Quer entender que tipo de JUSTIÇA move a natureza.

Essa palavra, "justiça", está no centro das angústias humanas. Porque o mundo parece injusto, o mundo parece torto, mas não pode, não deve ser. Então, o homem, para dar razoabilidade ao irracional, criou, em primeiro lugar, Deus.

A função das religiões é tentar explicar como as coisas do mundo surgiram e estabelecer normas de convivência para os seres humanos. É um alívio pensar que uma criatura superior está encarregada dessa tarefa.

Mas, por mais que Deus se esforce para fazer com que os homens se comportem, eles não se comportam. Homens mais fortes oprimem os mais fracos. Roubam seus bens, tomam suas terras, violam, agridem, matam e escravizam. Assim, o homem teve de inventar outra entidade para dar justiça ao mundo: o Estado.

O objetivo maior do Estado é esse: é fazer justiça, é tornar as pessoas iguais em direitos e deveres.

Ciente disso, qualquer pessoa que tenha um pouco de compaixão sonhará com um Estado perfeito, que regule as relações e torne os homens iguais. A compaixão, segundo Schopenhauer, é a qualidade que nos humaniza, é o contraponto do egoísmo. Ou seja: se você sente compaixão, você aceita ter menos para que outros tenham um pouco mais, você se escandaliza com a opressão, você quer que a justiça impeça a dominação do mais fraco pelo mais forte.

O professor de História que é compassivo, ao estudar as sociedades humanas, vê o que via Hobbes: que o homem é o lobo do homem. Por isso, ele desejaria que o Estado tivesse poder e força para domar esse lobo. Ao ansiar por um Estado mais forte e mais poderoso, o professor de História torna-se de esquerda.

Se você fizer uma desidratação máxima dos conceitos que definem esquerda e direita, chegará ao seguinte: a esquerda é o Estado, a direita é o Mercado. Se preferir, pode trocar esquerda e direita por comunismo e capitalismo. E pode, também, trocar Mercado e Estado por liberdade e igualdade. Porque, para a esquerda, a razão de ser do Estado é não apenas estabelecer, mas impor a igualdade entre os cidadãos. É nesse ponto que o professor de História pode se atrapalhar. Pois as pessoas não são iguais. Não sendo iguais, as pessoas têm vontades diferentes, condições diferentes e possibilidades diferentes. Marx, sabedor disso, dizia que um dos lemas do Estado deveria ser "de cada qual, segundo sua capacidade; a cada qual, segundo sua necessidade".

Seria perfeito. A pessoa trabalha no que gosta e faz o melhor que puder. E consome o que quiser, sem precisar pagar por isso. O problema é que, como escrevi lá em cima, o mundo é torto e nós somos tortos. Nós estragamos tudo. Se por acaso detivermos o poder em um Estado gigante, não seremos altruístas; usaremos esse poder para nos manter no poder, e submeteremos os mais fracos. Se por acaso formos humildes proletários, pegaremos mais do que precisamos e trabalharemos menos do que podemos.

O comunismo seria perfeito se fôssemos perfeitos. Mas, se é certo que o comunismo não é funcional, é certo também que o capitalismo é desumano, exatamente porque, no capitalismo, não é levada em consideração a mais humana das qualidades: a compaixão. Qual é a saída? Direi qual é. Amanhã.

DAVID COIMBRA

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