terça-feira, 31 de outubro de 2023


31 DE OUTUBRO DE 2023
CARPINEJAR

Uniforme alienígena

Ninguém inventa moda no desespero. Tira o foco. Chama atenção para o fútil num momento que exige um maior aguerrimento. O que foi aquele uniforme alienígena do Inter no final da rodada do Brasileirão?

De repente, a torcida colorada viu dois Coritiba em campo. Dois times de verde. Parecia treino no Couto Pereira. A multidão que vinha no embalo de duas vitórias, oferecendo apoio incondicional para subir na tabela, enchendo o Beira-Rio com mais de 30 mil pessoas novamente, querendo ver sua representação tradicional em campo, não entendeu a combinação de verde e preto. Ela se viu desrespeitada.

O desejo é por títulos, não para ostentar estilistas ou difundir coleções. O que nos interessa é a grife da vitória.Tem hora para tudo. Não tem sentido descaracterizar o manto por marketing, promovendo uma linha de produto no meio de uma corrida frenética para se recuperar na disputa.

A passarela não pode estar acima das cores do clube. E logo depois de uma desclassificação incompreensível na semifinal da Libertadores, de um baque profundo, de uma tristeza irreversível.

É uma imensa trivialidade, uma postura um tanto sem noção, é subir no ringue de fraque. Dentro de casa, o time tem que jogar com fardamento principal. Que o adversário surja com seu segundo uniforme.

São as regras da fidalguia. Foi-se o tempo da TV em preto e branco, que nos obrigava a diferenciar estampas monocromáticas. Inter é vermelho e branco. Grêmio é azul, preto e branco. Qualquer variação deve seguir o básico, não fugir da matriz da bandeira.

Quando visitante, admite-se a segunda opção. Camisas de exceção só em partidas festivas ou em protestos (como a campanha encampada por Taison contra o racismo ou o Outubro Rosa para prevenção de câncer de mama).

A simplicidade é um aviso de que a competição está sendo levada a sério. Excesso de balacas demonstra salto alto. O lançamento fora de época e de contexto não serviu para nada, apenas para confundir e dispersar a mobilização.

Quem agora vai comprar uma camiseta zicada? Uma camiseta do fiasco, que encarnou a derrota em casa para o penúltimo colocado? Uma camiseta que talvez seja o fim da arrancada para uma vaga na Libertadores? Uma camiseta que mais se assemelhou a uma urucubaca? Uma camiseta que é a aceitação amarga da Sul-Americana como único destino no ano?

Inter jogou de modo tão esquisito que lembrava mesmo um outro time, encontrava-se absolutamente desfigurado. A aparência espúria entregou a dispersão, a falta de comprometimento.

Nem vermelho tinha. Nem um detalhe em vermelho. Nem uma gola rubra. Assumirá o posto de símbolo de aversão nas lojinhas. Mais do que a brega dourada do centenário, que só deu azar. Inter não perdeu pela camisa, mas tampouco honrou sua camisa.

Minha família é dividida entre gremistas e colorados. Eu e Carla colorados, Rodrigo, Miguel e pai gremistas. Mãe ficou em cima do muro, mas ela se mostra mais inclinada para a Arena do que para a Padre Cacique. Rodrigo, gremista devoto, está lançando seu primeiro livro hoje, Insana Lucidez, na Livraria Santos, às 19h, no Barra Shopping. Apareça por lá para ver nosso amor ecumênico.

CARPINEJAR

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