sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019


07 DE FEVEREIRO DE 2019
+ ECONOMIA

PREVIDÊNCIA JÁ INQUIETA


As declarações contraditórias de integrantes do governo Bolsonaro ajudaram a levar o dólar comercial de volta ao nível de R$ 3,70. A cotação havia caído com os sinais de que a reforma seria robusta, como havia afirmado o ministro da Economia, Paulo Guedes, mas voltou a subir com declarações do titular da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, e do presidente em exercício, Hamilton Mourão. Ontem, a moeda americana subiu 1,1% em um só dia, para fechar a R$ 3,706. Em janeiro, o dólar havia caído para R$ 3,658.

A bolsa brasileira sofreu um grande tombo, com queda de 3,74%. Fechou abaixo da faixa de 95 mil pontos, a 94.635 pontos. Um novo revés para a Vale, assombrada pelas tragédias de Mariana e Brumadinho, contribuiu para o mau resultado. A empresa perdeu a licença para operar uma barragem, a de Laranjeiras, considerada fundamental para a mina de Brucutu. As ações ordinárias caíram 4,63%, agravando o cenário do dia. A erosão na credibilidade da empresa está longe de ser estancada.

Ao contrário do que o próprio Guedes havia sinalizado, prevalecem as diferenças de opinião entre ele e o presidente Jair Bolsonaro, que costumava falar em reforma mais suave. A falta de consenso do governo sobre qual reforma propor - Onyx chegou a dizer que o projeto será "muito diferente" do que o esboçado e aprovado pelo mercado - inquieta investidores e especuladores.

Além disso, aumentou a probabilidade de que o governo encaminhe uma nova proposta de emenda constitucional (PEC), em vez de aproveitar a enviada pelo ex-presidente Michel Temer. Caso houvesse o reaproveitamento, o projeto saltaria etapas, porque já passou por algumas das comissões de análise. Apresentar um novo texto significa ampliar o tempo até a votação.

O estresse ocorreu em dia que o humor global também foi marcado por aversão ao risco, com novos sinais preocupantes da queda de braço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o Congresso americano em torno do muro na fronteira com o México.

A decisão do Banco Central (BC) de manter o juro básico em 6,5% pela sétima vez seguida era mais do que esperada. O presidente Ilan Goldfajn, que recuperou a capacidade de coordenar expectativas, será substituído por Roberto Campos Neto. Embora analistas tenham trocado a discussão de eventual elevação da taxa Selic por redução, caso a reforma da Previdência seja bem-sucedida, o BC ainda tem pela frente uma difícil missão: fazer com que o menor patamar do juro básico da história chegue ao crédito em proporção mais aceitável. A Selic sofreu poda de 54,4% entre agosto de 2016, quando estava em 14,25% ao ano. Conforme a Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), a maior redução na ponta foi a do cartão de crédito. E só porque houve mudança na regra, que impede ficar no crédito rotativo por mais de um mês. Outro campeão de órbita, o cheque especial, caiu ridículos 5,61%. O maior efeito, claro, foi para quem aplica recursos na renda fixa. Na média, os fundos de investimento da modalidade reduziram o rendimento em 56% - variação superior até à da Selic. A DIFÍCIL MISSÃO

MARTA SFREDO

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