quarta-feira, 26 de setembro de 2018


26 DE SETEMBRO DE 2018
DAVID COIMBRA

O melhor e o pior do Brasil

São Paulo. O que há de melhor no Brasil é São Paulo. E, por motivos outros, Santa Catarina. Será coincidência que os melhores Estados do Brasil levam nomes de santos?

São Paulo é santo forte mesmo. Jesus disse que Pedro seria a pedra sobre a qual se levantaria sua igreja, mas quem tornou o cristianismo internacional foi Paulo.

Havia certa disputa entre os dois, Pedro e Paulo. Pedro queria que o cristianismo respeitasse as tradições judaicas, como a circuncisão. Paulo defendia um cristianismo mais aberto, mais simples, com menos exigências. Não havia necessidade de circuncisão, de sacrifícios de animais ou de jejuns prolongados. Fosse por Pedro, o cristianismo seria apenas mais uma seita do judaísmo. Graças a Paulo, o cristianismo se popularizou e conquistou o Ocidente. Paulo sabia o que o povo queria.

Havia outros 72 apóstolos, além dos 12 conhecidos. Paulo não era um deles, Paulo nem sequer conheceu Jesus, mas foi o homem mais importante do cristianismo. Natural, portanto, que a cidade com seu nome seja pujante como é São Paulo - o protetor é poderoso.

Já Catarina, a santa, foi menos atuante. Dizem apenas que era uma moça linda e inteligente que vivia em Alexandria no século 4, e que o imperador mandou decapitar por ela se negar a renunciar ao cristianismo. Mil anos depois, Joana d?Arc ouvia a voz de Catarina dando-lhe dicas sobre como vencer batalhas e tudo mais.

Talvez por isso Santa Catarina, o Estado, seja mais modesta do que São Paulo. A geopolítica de Santa Catarina é europeia: é o único Estado do Brasil que não tem uma cidade-polo. São seis regiões lideradas por cidades de tamanho médio, o ideal para quem anseia por qualidade de vida.

Mas, para quem pensa em crescer, a escolha haverá de ser São Paulo. É lá que o capitalismo acontece. O resto do Brasil vive atolado em um pântano em que se mesclam o paternalismo e o patrimonialismo. São Paulo, não. São Paulo é o mais próximo que existe, no Brasil, da livre concorrência. Uma empresa tenta superar a outra e para tanto precisa fornecer os melhores produtos, que só poderão ser feitos pelos melhores funcionários, que só poderão se contratados pelos melhores salários.

Grande parte dos meus amigos socialistas mudou-se para São Paulo, para usufruir as benesses do capitalismo. Espertinhos.

Mas São Paulo é um só, e esse é o problema. Ontem, comparava o Brasil com os Estados Unidos. Bem. Os Estados Unidos são o que são, como já disse, por causa das pequenas coisas: por causa de suas comunidades. Cada Estado é como se fosse um país, com suas próprias leis. E, dentro do Estado, cada pequena cidade goza também de grande autonomia. A comunidade pode, inclusive, decidir a maneira como quer ser administrada. Por exemplo: a "town" onde vivo, Brookline, não tem prefeito; tem cinco conselheiros. A cidadezinha comanda sua própria polícia, seu próprio sistema de educação e sua própria tributação.

No Brasil, isso não existe, porque o Brasil é uma falsa federação. Politicamente, o Brasil é Brasília, onde vive o rei. Economicamente, é São Paulo, onde está o dinheiro. Li que 65% das multinacionais que operam no país se estabeleceram na cidade de São Paulo. Não poderia ser diferente. Qualquer empresa, se tiver ambições nacionais, tem de estar em São Paulo, porque é lá que estarão os parceiros com quem essa empresa irá negociar.

Nos Estados Unidos, há Nova York, Los Angeles, São Francisco, Miami, Boston, Chicago, Atlanta, Seattle, Washington, Dallas, Denver, New Orleans e muitas, muitas outras cidades que são pequenos sóis de suas regiões.

Os Estados Unidos são Santa Catarina!

No Brasil, o capitalismo se homiziou em São Paulo e de lá não sai. São Paulo atrai recursos e talentos irresistivelmente. Fatalmente. São Paulo incha a cada dia, enquanto o resto do país murcha. Nós, o resto, temos medo da concorrência, temos medo do risco, temos medo do mundo lá fora. Sobra-nos pedir ajuda a São Paulo. Ou nos refugiar no colo de Santa Catarina.

DAVID COIMBRA

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