18
de setembro de 2014 | N° 17926
EDITORIAL
FOCO DE
CONFLITOS
O
poder público tem o dever de ampliar as alternativas de moradia para a
população de menor renda, mas sem se submeter a pressões indevidas, que só
contribuem para agravar o problema.
Merece
atenção dos governantes e das autoridades de todo o país o episódio da última
terça-feira em São Paulo, quando forças policiais e ocupantes de um antigo
hotel entraram em confronto, gerando grande confusão e depredação no coração da
maior capital do país. Há inegável motivação política nas ocupações, até mesmo
porque estamos em período eleitoral, mas existe também, em São Paulo e em
outras grandes cidades do país, um contingente de pessoas sem moradia com
potencial para a manipulação e para a perturbação da ordem pública.
A
situação exige urgente atenção das autoridades para a elaboração de políticas
públicas que proporcionem atendimento a quem realmente necessita. É importante
que possam, ao mesmo tempo, desarmar a bomba-relógio das ocupações urbanas, que
tendem a se estender por todo o país como as manifestações de junho do ano
passado.
O
drama da falta de moradia, que a infiltração de oportunistas entre os
defensores de ações eficazes nessa área só contribui para piorar, desafia
gestores públicos de todas as instâncias da federação. A estimativa, com base
no Censo de 2010, é de uma carência de 6,9 milhões de unidades em todo o país.
O total, que inclui desde moradias precárias até casos como mais de três
pessoas convivendo num cômodo, equivale a 12,1% do total de domicílios
existentes no país.
A
questão é que os programas oficiais em vigor no país preveem a construção de
moradias pelo setor privado, que tem pouco interesse por moradias de baixo
custo. O poder público tem o dever de ampliar as alternativas de moradia para a
população de menor renda, mas sem pressões indevidas, que só contribuem para
agravar o problema.
Quando
os sem-teto passam a ser usados por militantes de outras causas, muitos dos
quais habituados a táticas agressivas, como ocorreu agora em São Paulo, todos
perdem. É inadmissível que o mesmo poder público sem condições de investir o
necessário em moradia digna para brasileiros incapazes de adquiri-las a não ser
em condições especiais seja forçado a arcar com os danos de vandalismos,
valendo-se de recursos que são dos contribuintes.
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