01
de novembro de 2013 | N° 17601
EDITORIAIS
ZH
A QUEDA DA PIRÂMIDE
Mais
do que a retumbante queda pessoal do empresário brasileiro apontado pela
revista Forbes como o sétimo mais rico do mundo, há apenas um ano, o pedido de
recuperação judicial da petroleira OGX, de Eike Batista, representa uma lição
para a economia do país. Batista exerceu poder hipnótico sobre um contingente
importante de pessoas com poder de decisão, conseguiu convencer investidores
brasileiros e estrangeiros de que tinha megaprojetos mágicos e acabou
submergindo num pesadelo compartilhado com todos os que, direta ou
indiretamente, também saem perdendo com a sua derrocada.
Agora,
fica fácil apontar os erros dos projetos, em especial o da OGX, mas há alguns
meses o ousado empresário era adulado por governantes e lideranças empresariais
que sequer levantavam dúvidas sobre a solidez do seu negócio.
O
interesse pelo desfecho de seus investimentos, portanto, é também do governo e,
por consequência, da sociedade. Há recursos públicos em investimentos do empresário,
mesmo que não diretamente na empresa que depende agora de recuperação judicial.
O BNDES tem participação diminuta na petroleira e assegura não ter concedido
financiamentos à OGX, mas vinha chancelando as operações de Eike Batista, assim
como o governo federal, em outras atividades. Não faz muito, a presidente Dilma
Rousseff disse em discurso que Eike era um modelo para o empresariado
brasileiro.
Por
isso, Eike Batista não fracassa sozinho. As lições da quebradeira devem ser
assimiladas por quem de alguma forma contribuiu para a sua ascensão e para o
seu fracasso. Suas empresas de minério, energia e hotelaria, além de um porto e
um estaleiro, sucumbem, basicamente, porque a mais vistosa de todas, a OGX, não
atendeu às expectativas criadas por seu controlador. Credores e investidores
ficam agora na incerteza de que poderão recuperar pelo menos parte dos recursos
apostados no grupo.
Os
contribuintes, por sua vez, devem ser informados, com toda a transparência,
pelas instituições públicas que ofereceram aporte financeiro às empresas. Todos
têm o direito de saber qual é a participação estatal, via empréstimos ou participações
acionárias, nos negócios que naufragaram com a petroleira.
A
solução para as atividades do senhor Eike Batista, se existir, não pode ficar
na dependência de socorro oficial. Espera-se também que a crise de
credibilidade provocada pelo episódio não contamine a imagem do Brasil junto a
investidores e organismos internacionais. E que o fracasso de projetos tão
grandiosos não desestimule as ideias e os sonhos dos que movem o
empreendedorismo sério e responsável.
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