quinta-feira, 17 de outubro de 2024


17 de Outubro de 2024
CARPINEJAR

Feto roubado do ventre

Obsessão nunca será amor.

Testemunhamos um dos casos mais cruéis e inverossímeis na história policial gaúcha. A fixação de uma mulher em querer um filho resultou num dos homicídios mais assustadores de Porto Alegre. Nenhum enredo de Stephen King admitiria tal quebra nas regras de humanidade.

Trata-se de uma mulher de 42 anos que está sendo investigada por matar uma grávida para roubar o bebê. Foi presa em flagrante na noite de terça-feira, em um hospital da Capital. Segurava um feto ensanguentado nas mãos, e médicos constataram que não havia indícios de gravidez recente.

O pequeno menino, de 46cm e 2,1 quilos, não resistiu e morreu. A suspeita sonhava em engravidar e, nas últimas semanas, simulou uma gravidez para familiares e conhecidos, com o intuito de justificar o surgimento de um bebê em sua vida.

Na segunda-feira, no bairro Mario Quintana, viria a acontecer a armadilha insidiosa. Convidou uma amiga grávida de oito meses e 25 dias, de 25 anos, para ir a sua casa sob a promessa de que desejava entregar brinquedos e itens de enxoval. No local, de acordo com apuração inicial da polícia, a mulher teria matado a amiga grávida e roubado o feto de nove meses. Ou seja, usou como isca a generosidade, um encontro com aparentes boas intenções, para consumar a emboscada.

A investigada estava de aniversário e gostaria, numa abominável ilusão, de realizar um parto no mesmo dia. Não mediria esforços para atingir seu objetivo.

Em vez de celebrar seu nascimento, com torta e velas, dentro do que se espera da normalidade, investiu com inveja assassina contra a amiga. Não dá para compreender os detalhes. Não dá para imaginar o ritual macabro.

Não consistiu num furto de uma criança, mas na morte de uma gestante com a extração violenta do seu filho. O feto foi roubado do ventre, após o óbito da mãe. Existe um alto grau de alucinação, pois a suspeita acreditava piamente que o hospital aceitaria a sua versão, sem pé nem cabeça, de que havia dado à luz sozinha, e que jamais seria examinada.

O diretor do Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa, delegado Mario Souza, destaca a exceção da tragédia:

- Trabalhamos com a preocupação de reduzir os homicídios, combater o crime organizado. É o nosso dia a dia. Quando deparamos com uma situação dessas, ficamos chocados. É um caso cruel e absolutamente violento. Nunca vi nada parecido em minha carreira. Totalmente fora da curva.

Não temos todas as informações da apuração em andamento pelas autoridades. Mas percebo, desde já, uma perversidade misteriosa no episódio, como se a investigada procurasse pegar emprestada a existência da outra, simplesmente trocar de papel, substituí-la a qualquer custo. Predomina um aspecto doentio de transferência de personalidade, de clonagem psicológica.

É uma nova modalidade de crime, a gerar pesadelos e nos tirar o sono, em que o direito sagrado da maternidade é vilipendiado. Não calculo onde vamos parar. São aberrações que não podem ser admitidas. Parece bem mais do que um duplo homicídio, evidenciando uma patologia comportamental de cobiçar aquilo que o outro é, mais do que aquilo que ele tem. De arrancar à força a realidade dos sonhos. De esvaziar uma trajetória para tomar o seu lugar.

Faltava muito pouco para a gestação da vítima. Faltavam alguns dias para a mãe aninhar seu bebê no colo. Ninguém era capaz, até hoje, de conceber tal monstruosidade. _

CARPINEJAR

17 de Outubro de 2024
EDITORIAL

Reconhecimento aos professores

Dentro das limitações existentes, faz justiça com os professores da rede estadual o governo Eduardo Leite ao retomar as promoções da carreira, o que não ocorria desde 2014, na gestão Tarso Genro. Remunerar melhor não é uma medida que por si só garanta o salto na educação que o Rio Grande precisa. Mas significa maior motivação para uma categoria que, nas últimas décadas, foi uma das que mais padeceram com defasagens históricas dos salários pela crise crônica nas finanças públicas.

Conforme a Secretaria da Educação (Seduc), cerca de 23 mil professores serão beneficiados. As promoções serão em duas etapas, em 2025 e 2026, ao custo de R$ 19,1 milhões e de R$ 61,5 milhões por ano, respectivamente. Ainda não são conhecidos os detalhes das regras, mas, conforme o Piratini, serão levados em conta antiguidade e merecimento, de acordo com a legislação que rege o plano de carreira da categoria, reformado em 2020. É relevante ter o mérito como um dos pilares, premiando o esforço dos docentes.

As promoções nem de longe compensam a corrosão do poder aquisitivo da categoria ao longo dos anos, mas ao menos significam um alento para aqueles que exercem um dos mais nobres ofícios, o de ensinar e preparar crianças e jovens para os desafios do futuro. Deve-se lembrar que a razão histórica para as perdas salariais está na desorganização das contas públicas, o que levou ao acúmulo de déficits e ao aumento da dívida, tornando o Rio Grande do Sul uma das unidades da federação com a saúde financeira mais debilitada do país. Uma das consequências foi a queda da qualidade de ensino na comparação com outros Estados.

O reordenamento das finanças, de outro lado, muitas vezes com reformas impopulares, é o que permite melhor atender a áreas prioritárias como educação, saúde e segurança - e voltar a promover o avanço na carreira, mesmo que em patamar bastante distante do ideal. Esta nova perspectiva criada pode ainda começar a atrair mais pessoas vocacionadas para a profissão. Há mais medidas em curso com esse objetivo, como o programa Professor do Amanhã, que concede bolsas para a formação de docentes em cursos de licenciatura. De natureza distinta, outra iniciativa meritória é o Todo Jovem na Escola, que prevê incentivo financeiro a alunos do Ensino Médio para combater a evasão.

A qualidade da educação gaúcha, ainda assim, segue abaixo do razoável. No mais recente Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), divulgado em agosto, o RS ficou com a nona colocação entre as turmas do 1º ao 5º ano, com a 11ª posição do 6º ao 9º ano e com o 10º lugar no Ensino Médio. 

Para avançar, será necessário melhorar o desempenho em múltiplas frentes, desde a capacitação dos professores, passando pela expansão do ensino em tempo integral na rede pública, a alfabetização na idade certa, a manutenção das instalações de escolas em boas condições, até o maior apoio ao aprendizado profissionalizante. A valorização dos professores, dentro das possibilidades financeiras do Estado, é importante, mas é somente parte desta equação. O inequívoco é que a transformação demográfica do Rio Grande do Sul torna ainda mais urgente uma elevação significativa no nível da educação. 


Saída para o crédito imobiliário

O gargalo da falta de recursos para financiamentos imobiliários tem algumas saídas. Elas são discutidas há anos, mas a que mais está em voga agora é a redução do depósito compulsório da poupança, o que teria um efeito rápido para destravar os contratos. Pode até ser uma medida temporária. A decisão precisa ser tomada pelo Banco Central.

Hoje, 65% dos recursos depositados na caderneta são, por lei, direcionados ao crédito imobiliário. Esta fatia pode ser elevada se for reduzida a parte de 24,5% que vai para depósito compulsório. O mecanismo é usado para proteger o sistema financeiro, garantindo uma reserva que possa ser usada pelas instituições em caso de emergência, como a crise mundial de crédito em 2008. Pelo seu viés de segurança, há resistência do Banco Central em alterá-lo.

A liberação de mais recursos da poupança injetaria, tranquilamente, bilhões para emprestar para a compra da casa própria. Além disso, é um dos recursos "mais baratos", junto com os do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).

Aliás, poupança e o FGTS são as principais fontes de recursos para bancar o financiamento imobiliário pela Caixa Econômica Federal (CEF), que tem 68% do crédito imobiliário do país, está com contratos travados e reduzirá em novembro a cota dos empréstimos para compra de imóveis. Caderneta e FGTS enfrentam mais saques do que depósitos nos últimos anos, diminuindo o saldo "emprestável". Pela redução da poupança, o Banrisul também suspendeu novos financiamentos de imóveis temporariamente.

Há outras fontes para buscar recursos, mas são mais caras, o que também deixaria o financiamento mais caro ao comprador do imóvel. Uma delas é a Letra de Crédito Imobiliário (LCI). O título até teve regras alteradas recentemente para atrair mais investidores, mas não foi suficiente. Também tem se buscado dinheiro da própria tesouraria dos bancos, mas ele é limitado e de alto custo.

Lembrando que o Ministério do Trabalho prepara o envio ao Congresso de um projeto para acabar com o saque-aniversário do FGTS, o que evitaria a fuga de recursos do fundo usados para políticas habitacionais, mas trata-se de uma medida bem impopular. Aliás, para tomar uma decisão com tamanha rejeição, é até bom este cenário de "problemão" no setor imobiliário, que também mobiliza bastante a opinião pública. _

Gasto com comida

Gasto com alimentação no comércio do Centro superou o pré-enchente, mostra monitoramento que a Green Benefícios fez das despesas dos usuários dos seus cartões em 885 dos 1.020 estabelecimentos, como supermercados, mercearias, restaurantes e lanchonetes. Setembro movimentou R$ 1 milhão, 24,9% acima de abril de 2024. Para se ter uma ideia, maio teve um tombo de 46,1% (com menos da metade das vendas de agora), informa Roberson Silveira, analista de mercado da Green.

Apesar dos avanços, o montante tem ficado abaixo do ano passado em todos os meses. Em setembro, a venda foi 2,9% inferior ao mesmo mês de 2023. _

Anseios do Centro

As dificuldades do centro de Porto Alegre - pioradas com pandemia e inundação - têm sido apontadas pela coluna em todas as entrevistas com os candidatos à prefeitura. Tanto Maria do Rosário (PT) quanto Sebastião Melo (MDB) têm colocado a região como prioridade nas suas promessas. Rosário tem dito que pretende levar mais pessoas para morar na região, usando prédios com baixa ocupação, enquanto Melo está prometendo reduzir o IPTU. _

Novo hotel em prédio clássico de Caxias do Sul

Maior rede gaúcha de hotéis, a Laghetto fará sua estreia em Caxias do Sul com uma operação em um prédio clássico, no qual ficava o Alfred Hotel - o "Alfredinho" -, fundado há 60 anos. A edificação foi comprada em leilão em 2023 pelo empresário Almir Persico, que está revitalizando a estrutura. O investimento não é informado.

A rede vai alugar o prédio e operar o hotel com a bandeira Laghetto Stilo Caxias, com 84 apartamentos. A previsão é inaugurá-lo em dezembro de 2025, tornando-se a 25ª unidade da rede, conta o gerente de Novos Negócios da Laghetto Hotéis, Resorts & Experiências, Luís Paulo Dyundi. O "rooftop" (terraço) terá restaurante com vista para a Igreja São Pelegrino.

As arquitetas Marina Miot e Jessica De Carli fizeram o projeto de revitalização, preservando pastilhas e vidros da fachada envidraçada, criada pela histórica Casa Genta, fundada em Porto Alegre em 1906 e conhecida pelos vitrais religiosos. Inaugurado em 22 de dezembro de 1963, o "Alfredinho" foi um projeto dos irmãos Miguel e Jorge Sehbe, filhos do imigrante libanês Kalil Sehbe (1887-1973). _

Disparada do aluguel

Não para de acelerar a alta nos preços dos imóveis para alugar em Porto Alegre. O Índice FipeZap aponta um salto de 25,5% nos últimos 12 meses. Bairro não alagado em maio, o Rio Branco disparou 55,4%.

Dica para a Mercopar, de Caxias do Sul: bisbilhote o que tem de impressora 3D, equipamento que está permitindo que a indústria faça produtos customizados.

ACERTO DE CONTAS


17 de Outubro de 2024
INFORME ESPECIAL -  Rodrigo Lopes

A celebração da morte

Em 2012, estive em uma espécie de museu do Hezbollah. O título da reportagem que publiquei em ZH naquele 3 de junho era "A disneylândia da milícia". Hoje, me arrependo daquela frase: a Disney é fantasia, é sonho, é paz. O Hezbollah é guerra, morte e desolação.

Não daria esse título àquele espaço atualmente. Nos dias em que estive lá, vi deboche e provocação. O grupo terrorista libanês construiu um gigantesco museu para celebrar suas vitórias militares contra Israel. Trata-se de uma ode à morte.

O local fica no alto da montanha de Mleeta, quase na fronteira com Israel, a céu aberto. À época, o preço do ingresso custava o equivalente a R$ 1,35, com direito a um guia que se encarregava de fazer valer a versão da milícia, um poder paralelo dentro do Estado libanês, algo como os traficantes no Brasil. É um dos mais esdrúxulos museus do mundo: no terreno de 60 mil metros quadrados, esparramam-se tanques israelenses Merkava, jipes enferrujados, botas enrijecidas pela ação do tempo e capacetes de militares israelenses. O aspecto gigantesco lembra aquelas estruturas mastodônticas soviéticas ou da Alemanha oriental. Uma das imagens mais provocativas era de um tanque israelense cujo canhão estava retorcido, como se a mão de um gigante tivesse dado um nó na estrutura. O terreno fica na área chamada "abismo", composta também por uma amostra do arsenal da guerrilha: à época, foguetes Katyusha e mísseis iranianos Raad 1, todos esses, hoje, obsoletos diante do Iron Dom (o Domo de Ferro), o sistema de defesa antiaéreo israelense, e da tecnologia que posiciona os aiatolás, aliados dos terroristas, muito próximos de possuírem a bomba atômica.

Esse museu foi inaugurado em 2010, a um custo de US$ 4 milhões. Ali, é também possível conhecer como cerca de 7 mil guerrilheiros do Hezbollah se mimetizavam à floresta, cavavam trincheiras e construíam uma rede de túneis que os permitem viver durante meses nos subterâneos. Em um deles, estava preservado o bunker de Abbas Al-Musawi, fundador do grupo. Agora, em 2024, soube, lá no dedo da Galieia, no extremo norte de Israel, que algumas dessas tocas foram encontradas ao lado de populações israelenses. O objetivo, por certo, não era nobre. Era a morte.

Lembro que, à época, minha segunda incursão no sul do Líbano, não buscava apenas entender a ação da guerrilha. Queria visitar Qana, um vilarejo o qual eu havia visitado na guerra de 2006 e onde 19 mulheres e crianças haviam sido mortas em bombadeio israelense. Voltei ao local do desastre, mas ali perto encontrei o memorial. Era um museu, um parque temático.

Depois de tudo o que vi, ouvi e fotografei, com direito à loja de souvenirs com produtos duvidosos - com canecas, camisetas, cintos com a figura de Hassan Nasrallah -, saí convencido de que aquela era a celebração da morte. _

A Unifil, missão de paz da ONU no Líbano, afirmou ontem que um tanque israelense disparou contra uma torre de vigilância da organização.

Possível encontro entre Lula e Milei

Nos dias 18 e 19 do próximo mês ocorre no Rio de Janeiro a cúpula do G20 no Brasil. O evento deve reunir diversas autoridades internacionais e, entre elas, o presidente da Argentina, Javier Milei. O titular enviou uma carta à Lula confirmando a sua participação.

Ainda não há garantia de que ocorra um encontro, mas, se houver, terá tudo para ser um dos grandes holofotes do evento, isso porque será o primeiro contato entre os dois.

Há um histórico de rusgas: ainda no final do ano passado, durante a campanha presidencial argentina, Milei se referiu a Lula como "corrupto" e "comunista". O presidente brasileiro, por sua vez, não compareceu à posse do argentino.

Em junho deste ano, Lula disse que ainda não havia falado com Milei porque ele tem de pedir desculpas ao Brasil e a ele. O argentino respondeu não ser preciso e repetiu os xingamentos.

Já em julho, Milei esteve ausente da cúpula presidencial do Mercosul, bloco que reúne Argentina, Brasil, Uruguai, Paraguai e Bolívia. Entretanto, compareceu à Conferência de Ação Política Conservadora, em Santa Catarina, onde se encontrou com o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Recentemente ao falar do X, Milei disse que a Justiça brasileira é dependente do PT e que o bloqueio da rede social por Alexandre de Moraes só poderia ser apoiado por um "tirano". _.

O primeiro avião que pousará no Salgado Filho na segunda

O Airbus A320neo da Azul será a primeira aeronave a pousar no Aeroporto Internacional Salgado Filho na próxima segunda-feira, na reabertura do terminal.

O avião sairá às 6h30min do Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas (SP), com a previsão de chegar às 8h10min em Porto Alegre, com 174 passageiros e seis tripulantes. _

INFORME ESPECIAL

quarta-feira, 16 de outubro de 2024


16 de Outubro de 2024
CARPINEJAR

Em entrevista ao tradutor Eric Nepomuceno, a atriz Fernanda Montenegro define o mistério da existência. Eric pergunta: Você tem medo da morte? Fernanda responde: - Não tenho medo, tenho pena de morrer.

É uma resposta maravilhosa dada pela nossa principal diva do teatro, do cinema e da televisão, ainda mais considerando quem ela é, dona de uma biografia repleta de acontecimentos, tanto pela sua intensidade quanto pela sua extensão, que comemora exatamente 95 anos hoje.

Não há como não se despedir com pesar, não querendo ir, segurando-se nas paredes da memória, nas portas das lembranças, freando as pernas. Morrer é acordar sem poder dormir de novo. Imagine o baque que é não mais anoitecer, não mais fechar as cortinas, não mais se acomodar no escuro, não mais fraquejar de cansaço com a esperança do dia seguinte.

Até porque não sabemos o que tem do lado de lá. Mesmo para quem acredita no paraíso, não restará certeza da justiça da troca. Uma vez espíritos, não contemplaremos o mundo de igual maneira. Porque uma coisa é olhar a beleza sendo finitos, e outra bem diferente é olhá-la sendo infinitos. Uma coisa é ter um coração batendo, acelerado, apaixonado pelo porvir, outra muito distinta é não mais adoecer ou se importar com o próprio estado inerte.

A vida nos torna inesquecíveis. A morte nos torna previsíveis. Nenhuma estrela se mostrará distante. Nenhum caminho se mostrará longo. Ainda que permaneçamos lúcidos em uma segunda dimensão, sob forma de luz consciente, com o raciocínio ativo, o mar não vai nos emocionar como antes.

O mar é belo pelo risco de nos afogarmos nele. O ato de nadar é enaltecido por sobrevivermos às numerosas ondas. Entrar no mar sem nenhuma vertigem não é respeitar as águas. Serão decorativas. Meros degraus de uma escada passando pela nossa frente.

O oceano nos impõe o desejo de atravessá-lo justamente por se apresentar tão difícil e impenetrável. Não perecer é ser como ele: imponente. Não existirá enfrentamento, reverência ou suspiro. Você não sofrerá mais por não dar conta. Tomar banho de chuva tampouco surtirá efeito. Não nos preocuparemos com as roupas molhadas ou com o resfriado. Sequer temeremos as poças ou a lama escorregadia.

Tudo o que foi admirado não nos pertencerá. Não desfrutaremos da adrenalina do entorno a ponto de nos sentirmos respirando, participando do ar, economizando o fôlego, atentos ao fluxo das pessoas, reagindo à gravidade devido ao padecimento da carne.

Não haverá uma casa para voltar, um corpo para proteger, um destino a se alcançar. Seremos todos e ninguém. Não seremos mais passagem, mas a paisagem. Talvez o único sentimento que se mantenha intacto seja a saudade. A saudade é experimentada aqui e acolá, num movimento anterior e posterior à morte. A saudade não morre.

Você descobrirá a saudade de ter vivido dentro do tempo, dentro da coragem. Terá pena de ir embora. Dó de não ficar. Sempre vai parecer cedo para se desapegar de repente, para nunca mais, diante de tamanha beleza. 

Tenho pena de partir

CARPINEJAR


16 de Outubro de 2024
MARIO CORSO

Vertigem da história

Como você lida com a vertigem da história? Aquela sensação de sentir-se parte de um percurso incomensurável, de milhares de gerações que viveram antes da nossa. Olhar para aquele caminho onde povos inteiros, de humanos iguais a nós, desapareceram. Civilizações que duraram séculos, agora são apenas linhas em um livro. Milhões de vidas esquecidas, cujos sonhos e esperanças, nós no máximo podemos supor como foram.

Um dia acontecerá conosco, no futuro seremos vistos como estranhos seres, com estranhos hábitos, que se acreditavam grande coisa, e viraram pó como todos os outros. Perante a história somos uma janela que se abre por um tempo e se fecha para sempre.

Muitos deuses não tiveram melhor destino. Milhares deles perderam o rebanho. Ninguém mais os lembra e faz oferendas. Ninguém mais lhes pede saúde e paz. Seus templos e altares não comovem nenhuma alma. Os mistérios de seu culto e os labirintos de sua mitologia fazem um débil eco que trama nossas novas crenças.

Olhar para o passado, sentir-se um entre bilhões de outros que caminharam sobre o planeta, sem nada de especial, paradoxalmente, me produz um efeito calmante. O efeito é de uma destruição benigna do ego, me mostra como sou: uma pecinha irrelevante da trajetória de uma espécie confusa e problemática, ora genial e generosa, ora estúpida e brutal.

Esta vertigem no tempo da história humana me faz tão bem que a uso como antidepressivo. Sempre que posso leio sobre povos antigos ou obras literárias clássicas da antiguidade. Elas renovam a experiência da minha insignificância. Eu me percebo, não como indivíduo, mas como um elo da aventura humana.

De um modo geral, o modo de pensar do Ocidente vai na direção da difícil tarefa de construir e polir um ego, para confrontá-lo com outros, em uma competição de brilho, como se isso fosse a meta da vida. O Oriente está contaminado por essa doença, mas já teve melhores momentos, quando dizia que o ego é uma ilusão, uma enorme perda de tempo, e que existem formas mais sábias de levar a existência.

Para mim esse mergulho na sensação coletiva é como ir ao Beira-Rio. Dar férias para o ego e sentir-se parte de um todo maior. 

MARIO CORSO

O episódio em curso na Grande São Paulo, de dificuldade da concessionária de restabelecer a energia em um prazo aceitável após um temporal intenso, se assemelha com o que aconteceu no Rio Grande do Sul em janeiro. Uma das principais diferenças é a reverberação. O caso paulista, na maior e mais rica região metropolitana do país, ecoa nacionalmente e gera reações iradas inclusive de altas autoridades federais, com ameaças até à concessão da italiana Enel.

Com a perspectiva de eventos climáticos extremos mais recorrentes e potentes, são crises que se repetirão. O aconselhável seria aproveitar a grande repercussão do apagão em São Paulo para deflagrar uma discussão ampla e séria sobre medidas que as concessionárias, o setor de distribuição como um todo, as agências reguladoras e o poder público poderiam implantar visando a uma melhor preparação para as futuras intempéries. Tanto na prevenção como na resposta. A politização excessiva, no caso de São Paulo, por enquanto atrapalha um debate mais racional.

Não há dúvida de que a Enel, que sequer cumpriu o seu plano de contingência, estava despreparada para atender às demandas geradas pelo temporal. Mais de 2,1 milhões de clientes ficaram às escuras, com todos os transtornos e prejuízos que isso causa aos cidadãos e à economia. Assim como a CEEE Equatorial, no caso do Estado, exasperou consumidores e autoridades em janeiro pela lentidão em religar a energia e pela falta de informações básicas aos clientes. Ambas repetiram o mau desempenho de tempestades anteriores.

As concessionárias de energia, prestadoras de um serviço público essencial, têm de ser cobradas para se adaptarem à nova realidade. Para isso, é necessário que as agências reguladoras sejam fortalecidas e possam atuar de forma independente, fiscalizando de forma adequada as companhias e punindo rigorosamente, quando necessário, conforme a legislação em vigor. Ao poder público local cabe fazer o que lhe compete, como uma gestão adequada das árvores urbanas, com podas preventivas, preservando o verde e ao mesmo tempo minimizando o risco do choque de galhos com a rede aérea.

Permanecer dias a fio no breu e sem perspectiva segura de retorno da energia é motivo de justificada irritação. Ainda mais quando a prestadora do serviço se mostra incapaz de um atendimento minimamente adequado. De outro lado, deve-se ponderar que manter sempre a postos equipes em número suficiente para consertar estragos de grandes proporções devido a temporais violentos pode ser financeiramente inviável.

Uma alternativa seria institucionalizar a cooperação entre as empresas do setor, para que possam se socorrer mutuamente com rapidez em caso de tempestades. Permitiria mais agilidade no religamento da luz. Em janeiro, com atraso, a CEEE Equatorial chamou técnicos de outros Estados. Agora, em São Paulo, a Enel passou a ter o auxílio de outras distribuidoras. Assim como em maio o Rio Grande do Sul recebeu a ajuda de todo o país para atuar em resgates na enchente e, nas últimas semanas, corporações deslocaram aeronaves e recursos humanos para as regiões que sofriam com queimadas. A violência dos eventos extremos vai requerer cada vez mais coordenação e colaboração. 


16 de Outubro de 2024
GPS DA ECONOMIA - Marta Sfredo

"Pacote de maldades" virá depois da eleição?

Toda vez que o dólar sobe muito, a equipe econômica acena com medida de aperto nos gastos. A escalada de junho levou o câmbio de R$ 5,30 a R$ 5,60 e antecipou o anúncio de corte de R$ 15 bilhões, que viraram R$ 13,3 bilhões no bimestre seguinte.

Agora, com a moeda americana outra vez rondando os R$ 5,60, a informação extraoficial é de que estaria em preparação um "pacote de maldades" - apelido usual para medidas de corte de gasto - a ser anunciado depois das eleições. O objetivo seria permitir o retorno do Brasil ao "clube dos bons pagadores", depois da polêmica provocada no mercado pela melhora do rating (nota de crédito) feita pela Moody?s.

Estaria em preparação um "pacote relevante" de revisão de gastos que seria apresentado como "política de Estado", ou seja, que possa ser aplicado por qualquer governo de turno, discurso preparado também para vencer resistências da oposição no Congresso.

Revisão de benefícios sociais

O conteúdo envolveria mudança em regras de verbas sociais como abono salarial, seguro-desemprego e Benefício de Prestação Continuada (BPC), que já passa por pente-fino depois de ter disparada nas despesas.

No caso do BPC, a mudança envolveria a desindexação do salário mínimo, que no governo Lula voltou a ter reajuste real (acima da inflação), ou aumento na idade mínima de acesso. Hoje, é pago a pessoas de baixa renda acima de 65 anos e com deficiência, mesmo sem contribuição à previdência.

No caso do abono salarial, pago a quem tem carteira assinada e ganha até dois salários mínimos (R$ 2.824), o critério passaria a ser a renda familiar. A mudança no seguro-desemprego eliminaria o que é visto como "duplicidade" em relação à multa de 40% do FGTS em caso de demissão.

Uma das inspirações seria o próprio relatório da Moody?s que justificou a melhora da nota. Embora tenha avaliado melhor o Brasil, a agência ponderou que a credibilidade do arcabouço fiscal "é ainda moderada" e que permitiria "estabilizar o encargo da dívida no médio prazo, embora em níveis relativamente altos". _

Depois de se acalmar na segunda-feira, o dólar deu novo salto ontem. Fechou com alta de 1,33%, para R$ 5,657, conforme analistas devido à projeção de queda de preços de commodities que afetam países como o Brasil.

Petróleo desaba depois de promessa de Israel

Depois de disparar e se aproximar dos US$ 80 com a ampliação do conflito no Oriente Médio, ontem o petróleo despencou 4,14%, para US$ 74,25, com uma promessa feita pelo governo de Israel.

O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu se comprometeu a não atacar a infraestrutura de petróleo do Irã. Essa possibilidade estava no radar do segmento e tinha ganhado força com uma gafe do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que a confirmou de forma "distraída". Netanyahu havia afirmado, depois do ataque com mísseis do Irã em território israelense, que a retaliação ao Irã seria "precisa e dolorosa".

Agora, segundo o jornal americano Washington Post, o primeiro-ministro teria avisado o governo dos Estados Unidos que o exército israelense não atacará alvos estratégicos.

Como a relação entre Israel e Estados Unidos não está na sua melhor fase, a credibilidade dessa intenção é relativa, mas o mercado interpretou como compromisso firme. O movimento embute certo alívio, mas também projeta alguma movimentação de preços à frente, porque alguma retaliação israelense deve ocorrer. Caso se confirme, ao menos vai incidir sobre uma cotação mais baixa - claro, se a revisão de preço se mantiver até lá. _

Reforço na energia de duas regiões

Responsável pela distribuição de energia em 72 municípios gaúchos, a CEEE Equatorial vai investir R$ 25,3 milhões para ampliar o serviço nas regiões Metropolitana e Carbonífera.

Do total, R$ 21,8 milhões serão destinados à construção da subestação Viamão 4, que segundo a empresa, vai aumentar a capacidade de fornecimento de energia da cidade. Significa que Viamão poderá atender mais consumidores, gerando maior potencial de crescimento. A previsão é terminar a obra até julho de 2025.

Um outro investimento de R$ 3,5 milhões servirá para instalar nova linha de distribuição na Região Carbonífera, beneficiando Charqueadas, Eldorado do Sul, São Jerônimo, Minas do Leão, Butiá, Arroio dos Ratos e Pantano Grande. A obra deve reduzir risco de desabastecimento em casos de emergências, como eventos climáticos. _

pela educação

Unindo forças pela educação, organizações do terceiro setor e líderes do setor produtivo se reunirão em fórum do Lide, amanhã, em Porto Alegre. O foco é aproximar empresas da academia para aplicar desenvolvimento, pesquisa e tecnologia.

entidades, várias do mercado, fizeram manifesto de preocupação com o impacto de queimadas na biodiversidade, na saúde e na economia.

GPS DA ECONOMIA

16 de Outubro de 2024
POLÍTICA E PODER - Rosane de Oliveira

Pacote do magistério vai além do retorno das promoções

Um dia depois de o governador Eduardo Leite anunciar a retomada das promoções para os professores, a Secretaria da Educação lança hoje o projeto Nosso Docente, de estágio supervisionado, com foco na valorização da carreira do magistério e na formação inicial e continuada dos educadores. O lançamento ocorrerá durante o seminário de Carreira Docente, na PUCRS, com a presença das secretárias de Educação, Raquel Teixeira, e de Inovação, Ciência e Tecnologia, Simone Stülp, reitores, professores da rede estadual e graduandos de licenciaturas.

O Nosso Docente estabelecerá novas normas para o processo, incluindo a criação de um painel de vagas de estágio, um curso de formação para os professores que têm interesse em atuar como mentores dos estagiários, além de guias orientadores e etapas de acolhimento e acompanhamento dos futuros educadores.

A secretária Raquel Teixeira quer deixar como legado de sua passagem pelo Rio Grande do Sul um sistema organizado de formação de professores, já que hoje é consenso de que as universidades não estão conseguindo atender às necessidades da rede.

O entendimento é de que professor precisa aprender a ensinar. Uma parte importante desse processo é justamente o estágio, quando o futuro professor precisa do acompanhamento de um profissional mais experiente, que o ajude nos primeiros passos da relação com os alunos.

Na formação continuada, Raquel trabalha para implantar um sistema de mentoria, para que os professores possam se atualizar e conhecer experiências pedagógicas bem-sucedidas.

Diretores terão de fazer curso preparatório

O governo vem anunciando o pacote de valorização da educação a conta-gotas. Dele fazem parte também a anunciada entrega de uniformes para os alunos, a partir de 2025, e as mudanças na seleção de diretores e vice-diretores.

A partir de agora, quem quiser se candidatar no processo de eleição direta nas escolas terá de concluir um curso preparatório, que aborda questões de liderança pedagógica. Os futuros diretores também precisam ser aprovados em uma prova de conhecimentos específicos. _

Lula corteja evangélicos e sanciona lei que cria Dia da Música Gospel

Em um gesto de aproximação com os evangélicos, público que nos últimos anos está cada vez mais alinhado à direita, o presidente Lula sancionou ontem a lei que institui o Dia da Música Gospel, a ser celebrado em 9 de junho.

Poderia ter sido apenas uma assinatura eletrônica, formal, mas Lula fez questão de levar líderes evangélicos para o Palácio do Planalto e transformou o ato numa solenidade em que recebeu bênçãos e elogios.

O autor, o deputado Otoni de Paula (MDB-RJ), que integrou a base do ex-presidente Jair Bolsonaro, discursou em nome da bancada evangélica e elogiou a convivência com Lula. Disse que os evangélicos não têm "dono", escolhem pautas com base em valores e crenças e que as igrejas não são de "direita ou de esquerda":

- Não somos gado ou jumentos. Somos ovelhas do bom pastor. As paixões políticas não vão desviar o nosso papel. _

Debate em Caxias foi raso em propostas de Adiló e Scalco

Os candidatos à prefeitura de Caxias do Sul, Maurício Scalco (PL) e Adiló Didomenico (PSDB), se enfrentaram pela primeira vez neste segundo turno, ontem, em debate na Rádio Gaúcha Serra.

Mesmo quando tocaram nos assuntos que interessam ao eleitor, como obras, contas públicas ou zeladoria, não houve profundidade nas propostas.

Scalco seguiu a estratégia de criticar a atual gestão e dizer que o eleitor de Caxias quer a mudança. Adiló usou seu tempo principalmente para rebater os comentários negativos e alertar para o risco de "uma nova aventura" com o candidato do PL, referindo-se ao ex-prefeito cassado Daniel Guerra. _

Prefeita de Pelotas abre voto para Marroni

Mesmo com a decisão do PSDB de ficar neutro na eleição em Pelotas, a prefeita Paula Mascarenhas abriu seu voto no segundo turno para o candidato do PT, Fernando Marroni.

"Meu amor por Pelotas e o conhecimento que adquiri sobre a máquina pública, seus desafios e suas limitações não me permitem ficar indiferente. O que está em jogo é grande demais. Por isso, declaro que votarei neste segundo turno nos candidatos Fernando Marroni e Dani Brizolara. Escolho o campo democrático, que é o nosso, escolho o caminho mais seguro, conhecendo a complexidade da gestão municipal e já tendo sofrido as consequências dos riscos conhecidos e daqueles inesperados que ameaçam nosso planeta e nossa sociedade. Há alguns valores que nunca abandonei e dos quais jamais abrirei mão: democracia, ética, respeito ao pensamento divergente, supremacia do interesse público", escreveu no Instagram. _

PT caxiense indica voto em tucano

Com a complicada tarefa de conciliar orientações das executivas nacional e estadual, o PT decidiu pelo voto crítico ao atual prefeito Adiló Didomenico (PSDB) no segundo turno em Caxias do Sul.

A reunião do diretório, na noite de segunda-feira, confirmou a indicação aos filiados de "derrotar a extrema direita e votar 45" (número do PSDB).

"Seja qual for o resultado do segundo turno estaremos na oposição. Nossas críticas ao governo Adiló estão mantidas e não precisamos repeti-las. Por outro lado, as forças que apoiam Scalco representam a extrema direita que apoiou a tentativa de golpe em 8 de janeiro de 2023, que prega o ódio na política e o ataque às organizações democráticas da sociedade civil, com posições claramente antidemocráticas", diz um trecho da nota divulgada pelo partido. _

POLÍTICA E PODER

16 de Outubro de 2024
INFORME ESPECIAL- Rodrigo Lopes

Para repensar o sistema anticheias

A empresa Rhama Analysis, que teve a contratação aprovada na segunda-feira pelo Conselho Deliberativo do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) para realizar consultoria sobre o sistema de proteção contra enchentes em Porto Alegre, terá 18 meses para entregar os estudos para a prefeitura da Capital. A expectativa do CEO da empresa, Rafael Tucci, é de que tudo seja enviado em no máximo 15 meses.

Em conversa com o repórter Vitor Netto, o executivo explicou detalhes do projeto. Os trabalhos serão divididos em eixos: primeiro, será feito um diagnóstico sobre a situação atual da estrutura de defesa da cidade; depois, será avaliada a recuperação do sistema atual impactado pela enchente.

Também será analisado se o projeto formulado na década de 1960 foi construído conforme o planejado - ou seja, o quanto difere do ideal - e quais adequações seriam necessárias. Outro eixo é a avaliação de como as mudanças climáticas afetaram o projeto e o que precisa ser revisto em decorrência disso. Por fim, serão realizados estudos das alternativas para a zona sul de Porto Alegre, que atualmente não conta com estruturas de proteção.

Além disso, será conduzido um estudo para a construção de um pôlder, ou seja, um dique de terra próximo ao aeroporto. A empresa realiza consultorias com relatórios que serão entregues para a prefeitura, que avaliará se coloca em prática ou não as recomendações.

Temos entregas praticamente todos os meses, com uma equipe de doutores, meteorologistas, geotécnicos e outros profissionais. Um corpo técnico bem forte, liderado pelo professor Carlos Tucci - explicou o CEO da Rhama.

Conforme o professor, que é o diretor de hidrologia da empresa, a ideia é pensar no futuro da Capital:

- É uma oportunidade de ter um sistema funcionando. E ter uma cidade construída para que no futuro possa se precaver e estar pronta para próximas enchentes. _

O comício em que Trump cantou e dançou por 39 minutos

Um evento político na segunda-feira em Oaks, na Pensilvânia, onde Donald Trump respondia perguntas sobre como ajudaria pequenos negócios, foi interrompido quando duas pessoas passaram mal na plateia. Porém, não parou por aí. Nos 39 minutos seguintes, o republicano decidiu que não responderia mais perguntas e iniciou um concerto de música e de dança.

- Não vamos fazer mais perguntas. Vamos apenas ouvir música. Vamos transformar isso em música. Quem diabos quer ouvir perguntas, certo? - questionou Trump.

A playlist de nove músicas foi desde Ave Maria, de Luciano Pavarotti, até Y.M.C.A., canção de Village People. Também tocou James Brown, Elvis Presley, Aleluia e Guns N? Roses. _

Gaúchos fora da lista tríplice do STJ

Na relação a que Favreto e De Nardi concorriam pelo TRF4, foram incluídos os desembargadores federais Carlos Augusto Pires Brandão e Daniele Maranhão Costa, ambos do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1), e Marisa Ferreira dos Santos, do Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF3).

Favreto é diretor da Escola de Magistratura e ficou conhecido após determinar a soltura do presidente Lula em 2018, durante um plantão judiciário, quando ele estava preso por uma condenação na Operação Lava-Jato. Já De Nardi é presidente da 1ª Turma do TRF4. _

EM tempo

A contratação da empresa Rhama Analysis, comandada pelo professor Carlos Eduardo Tucci, foi viabilizada pelo Escritório de Reconstrução e Adaptação Climática e pelo Dmae e tem investimento de R$ 5.810.679,27, oriundos do próprio órgão. A empresa presta consultoria para empreendimentos no Brasil e no Exterior, atuando com meteorologia, hidrologia e geotecnia.

Ao redor da Antártica

Pesquisador gaúcho à frente da expedição

A expedição será coordenada pelo pesquisador gaúcho Jefferson Simões, do Centro Polar e Climático (CPC) do Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Delegado do Brasil no Comitê Científico de Pesquisa Antártica (Scar), Simões é o maior pesquisador da Antártica no Brasil. A expedição é financiada pela Swiss Fondation Albédo pour la Cryosphère.

O Programa Antártico Brasileiro (Proantar) também apoia a expedição por meio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). _

INFORME ESPECIAL

terça-feira, 15 de outubro de 2024


15 de Outubro de 2024
CARPINEJAR

Entreter não é ensinar

O professor deve ter em mente que ele não tem a função de entreter. Entreter não é ensinar.

Não tem que fazer show, espetáculo, dancinha, stand-up, coreografia. Não tem que tocar violão, cantar, encenar. Não é animador de auditório. Não tem que recorrer a efeitos especiais, a exercícios pirotécnicos, a uma didática de palco para chamar atenção e ganhar a confiança. Não tem sequer a obrigação de ser lúdico ou fingir que está brincando ou se divertindo. Senão matrículas seriam ingressos.

Exigimos demais dos professores, cobramos demais dos professores, criticamos demais os professores. Parece que eles precisam ser tudo, menos professores. Diante das distrações do mundo contemporâneo, com olhar vidrado exclusivamente no celular, estudar é um momento raro.

Diante da intoxicação das redes sociais e avatares, ter um educador se expressando na frente da classe, escrevendo lições na lousa, é uma ocasião incomum. No meio do excesso de virtualidade, sua presença é revolucionária. O aluno recebe em aula o que jamais encontrará em outro ambiente no seu dia: cinco horas de foco.

Na convivência familiar, nunca ele vai experimentar tamanha concentração. Só na escola existe ainda a vivência do silêncio, do respeito, de ouvir, de esperar a sua vez para falar, de levantar a mão para perguntar algo.

Só na escola há o contato com a caligrafia, sem digitar, sem corretor ortográfico. Só na escola se pode exercitar a memória integralmente, sem dispersão, sem consultar o Google, raciocinando a partir das próprias ideias.

Só na escola se rompe a simultaneidade para privilegiar tarefa a tarefa. Só na escola a empatia é cultivada coletivamente, num movimento de turma. Só na escola se exerce o direito de ficar off-line.

Só na escola é oferecido tempo para a inteligência natural. Pela escassez de realidade, o professor se tornou tecnologia avançada, ultramoderna, disputadíssima.

É alguém que traz um conteúdo com testemunho de vida, com a sabedoria de quem lidou com aquela matéria desde sempre. É alguém que estabelece analogias e comparações, mostrando a ciência do cotidiano. É alguém que se formou para lecionar e explicar as fórmulas com exemplos práticos.

Não peça para o professor ser um artista. Ele é um mestre em seu ofício, na simplicidade sofisticada da transmissão de conhecimento. Basta a contundência da sua voz e dos seus gestos. E já é muito.

Já é muito controlar uma turma pelas palavras e pausas. Já é muito preparar e corrigir os temas e as provas. Já é muito participar das reuniões da escola e promover a aproximação com as famílias. Já é muito identificar cada estudante pelo nome, sobrenome e necessidades. Já é muita dedicação, doação, entrega em dois turnos diários. Querem mais do que isso? Que insalubridade emocional é essa?

A escola é o único lugar em que ainda é possível desenvolver rigor, disciplina, humildade, obediência. _

CARPINEJAR


15 de Outubro de 2024
DIA DO PROFESSOR - Jhully Costa

DIA DO PROFESSOR

Educação - As alegrias e os desafios de ensinar

Na data celebrada hoje, reportagem de Zero Hora apresenta as histórias de Evelise Pereira e Jonas Camargo, que compartilham a realização de inspirar crianças e adolescentes em sala de aula, além das motivações que os levaram a escolherem a profissão.

Evelise Pereira, 53 anos, ainda estava abrigada no apartamento de familiares, na Capital, quando voltou a dar aulas de Ciências na Escola Municipal de Ensino Fundamental Prefeito Edgar Fontoura, em Canoas. Havia se passado um mês desde que a água invadira sua casa no bairro Rio Branco, no município da Região Metropolitana. A professora deixou a residência na noite de 3 de maio, após ser resgatada de barco, apenas com a roupa do corpo e uma bolsa - com objetos pessoais e o único livro que lhe restou.

- Estava preocupada com o trabalho, porque teria que dar aula na segunda-feira e precisava dos materiais. Mas só voltamos para casa 150 dias depois. A água passou da altura das portas, encheu e ficou assim umas três semanas. Sobrou pouquíssima coisa. Minha casa tinha muitos livros, quase todos se desmancharam na água. Sobrou um que estava dentro da minha bolsa e um que meu filho pegou. Foi devastador - relembra a professora.

Formada em Biologia, Evelise dá aulas há mais de três décadas e, neste mês, concluiu seu doutorado. Sem familiares formados no Ensino Superior, se inspirou na única profissão com a qual tinha contato durante a infância, por meio da escola. Após o nascimento dos filhos, decidiu tentar outra função, que lhe oferecesse um salário maior. Foi bancária por um tempo, mas logo retornou às salas de aula:

- A coisa de que mais gosto e sei fazer melhor é lecionar. É algo que me dá muita satisfação. O melhor lugar para se estar é em uma escola. Tem muitos problemas, mas ainda é o melhor lugar para trabalhar, porque trabalhamos com vida o tempo inteiro. Vemos transformação na vida dos estudantes, vemos perspectivas de mudanças.

Parte da família

Assim como Evelise, Jonas Camargo, 40 anos, sempre soube que seria professor. A diferença entre os dois é que, para ele, a maior inspiração veio da família. Nascido em Lajeado, no Vale do Taquari, Jonas é neto, filho e sobrinho de alfabetizadoras - o que significa que cresceu ouvindo histórias sobre alunos e rotinas em sala de aula.

Formado em História, ele começou a trabalhar oficialmente como professor há 16 anos, mas sua primeira experiência com alunos ocorreu ainda na adolescência, quando auxiliava a mãe em suas aulas no Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos (Mova), em Canoas. Atualmente, é docente de Ciências Humanas no Colégio Israelita, em Porto Alegre.

O professor garante que é muito feliz em sala de aula e que a docência lhe traz muitos ganhos, não apenas no âmbito profissional. Jonas destaca que os alunos são uma espécie de "fonte da juventude" e que a troca no ambiente escolar é também uma experiência de afeto, que desperta novas curiosidades:

- Ser professor oferece um sentido para a vida. E não escolhi só ensinar coisas, escolhi ensinar História. Escolhi dizer para as pessoas que o passado, a memória, a nossa experiência humana neste planeta deixam marcas e que nós somos responsáveis pelas marcas que ficam. 


15 de Outubro de 2024
EDITORIAL

A recuperação das hidrovias

O Rio Grande do Sul é um dos Estados brasileiros favorecidos pela natureza em relação ao potencial do transporte hidroviário, com diversos pontos navegáveis nos rios Gravataí, Jacuí, Taquari, Caí e Sinos, no Guaíba e nas lagoas dos Patos e Mirim. As vantagens econômicas e ambientais do modal deveriam levar a uma atenção especial para manter em condições adequadas os trechos que hoje são operacionais, elevando o seu uso ou ao menos evitando que mais extensões fiquem inviabilizadas por questões básicas como falta de dragagem.

A enchente de maio trouxe novas dificuldades, com canais de navegação afetados pelos sedimentos carregados pela água, como registrou reportagem da edição de fim de semana de Zero Hora. Dragagens foram feitas em alguns pontos e outros receberão o serviço, o que é necessário para não interromper o fluxo de embarcações comerciais ou causar contratempos, como navios encalhados e situações que impeçam barcos de atracar. Casos, aliás, que ocorreram em Canoas e em Porto Alegre.

As vias navegáveis no Estado chegaram a somar 1,2 mil quilômetros nos anos 1970. Hoje seriam somente 770 quilômetros, conforme órgãos e entidades do setor, por onde transitariam apenas 3% da carga transportada no RS. Estima-se que existiria capacidade para superar a marca dos 10%, com a movimentação de grãos, celulose, petroquímicos, fertilizantes e outros produtos. Além da manutenção inadequada da profundidade dos corpos d`água, sinalização precária e obstáculos burocráticos para a criação de terminais privados são razões sempre citadas para o abandono paulatino de trechos.

Não se pode admitir que as adversidades criadas pela cheia desestimulem ainda mais o modal. Deve-se acompanhar as promessas de realização de estudos, batimetrias, dragagens e outros procedimentos para a recuperação das hidrovias, colocando-as ao menos em um patamar semelhante ao quadro pré-enchente. Idealmente, os investimentos previstos deveriam qualificá-las. Convém lembrar que as ferrovias que ligam o Estado ao restante do país também foram interrompidas, sem previsão de retomada. O panorama atual da logística de transportes do Estado, com o aeroporto Salgado Filho reabrindo de forma apenas parcial nos próximos dias, é bastante desafiador.

A desatenção com outras alternativas para a movimentação de cargas força a necessidade de se colocar mais caminhões nas estradas já saturadas. Acrescente-se ainda o fato de que várias rodovias do Estado, da mesma forma, sofreram avarias devido à enchente e ainda não foram plenamente recuperadas. Cabe à sociedade gaúcha cobrar o restabelecimento completo da infraestrutura do RS.

Do tema das hidrovias deriva a discussão sobre o desassoreamento de rios em pontos que não são usados para a navegação. A retirada de sedimentos desses cursos d`água é reivindicada por algumas comunidades pelo temor de que o acúmulo de materiais agrave novas enchentes. Especialistas advertem que essa estratégia poderia causar mais riscos, inclusive erosão de margens e mais assoreamentos. Compreende-se a angústia das populações traumatizadas, mas a decisão de fazer ou não intervenções do gênero deve ser tomada à luz do conhecimento. 


15 de Outubro de 2024
GPS DA ECONOMIA - Marta Sfredo

GPS da Economia - Apagão rende curto-circuito na energia

Com quase meio milhão de consumidores sem luz de sexta-feira até ontem, o apagão em São Paulo provocou reação exacerbada do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. Disse que o comportamento da distribuidora Enel é "absurdo", acusou o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes - candidato à reeleição contra Guilherme Boulos, apoiado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva -, de ser "fabricante de fake news" e o diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Sandoval Feitosa, de agir com "covardia" por não estar na lavagem de roupa suja.

Silveira achou pertinente criticar o ex-presidente Jair Bolsonaro, que "agredia" diariamente gestores públicos. Se é verdade que o comportamento da Enel exaspera, também seria adequado que, para mostrar diferença em relação à administração anterior, o linguajar fosse mais republicano.

Uma das principais críticas do ministro à Enel é o fato de não haver previsão de quando o abastecimento será normalizado. Voltou a expor, ainda, o fato de a distribuidora, privatizada em 2018, ter feito demissões em número superior ao que seria razoável para ter atendimento em situações de contingência. Foi semelhante ao que ocorreu no Estado com a Equatorial.

Foi o terceiro apagão em 11 meses na Grande São Paulo. Desta vez, precisou de ajuda de outras quatro concessionárias: Neonergia, Energisa, CPFL e Light. Outra vez, voltou à discussão a possibilidade de cassação da concessão. A proposta foi feita pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, um habitual defensor de privatizações. Como a coluna insiste, a empresa pode ser privada, mas o serviço é público e essencial. Por isso, cobranças e gestão de consequências são necessários. A adjetivação, não. 

horário de verão

O apagão eleva a pressão sobre o horário de verão. A estabilidade do Sistema Interligado Nacional (SIN) está em jogo. O cenário dos próximos meses é de forte demanda por temperaturas altas e risco na oferta com redução dos reservatórios de hidrelétricas por causa da seca. Cresce a ameaça de uma intercorrência local ser replicada em ondas a várias regiões.

Confirmado aporte de R$ 1,56 bi no Litoral Sul

Com a assinatura dos últimos três dos 44 blocos de concessão na Bacia de Pelotas arrematados em dezembro passado, confirmada ontem pela Petrobras, foi consolidado o investimento de R$ 1,56 bilhão em exploração de petróleo entre a costa gaúcha e o litoral sul de Santa Catarina. Do total, nove são no litoral sul catarinense e 35, na costa do RS. A Petrobras é responsável por 29, e a americana Chevron, 15.

Nos três blocos que faltavam, a Petrobras vai operar, com participação de 50%, em parceria com a Shell (30%) e a chinesa CNOOC (20%).

Conforme a Petrobras detalhou à coluna, fará "aquisição de dados" e outros estudos antes de definir a estratégia. A Chevron, por sua vez, informou apenas que, por ter acabado de assinar os seus contratos, ainda não tem "informações adicionais para acrescentar neste momento". _

Computação, mas parece videogame

Conhecida por adotar metodologia de ensino que foge de práticas tradicionais, como aplicação de provas, a escola Lumiar, em Porto Alegre, agora oferece aulas de computação para crianças de seis a 10 anos como parte do currículo obrigatório.

A iniciativa é parte de projeto-piloto realizado em parceria com a SuperGeeks, franquia que traz à Capital plataforma de ensino com foco em desenvolvimento de jogos, programação, lógica e matemática. Segundo o CEO da unidade de Porto Alegre da SuperGeeks, Moisés Brandalise, a aprendizagem ocorre com experiência de videogame.

GPS DA ECONOMIA

15 de Outubro de 2024
ELEIÇÕES 2024

ELEIÇÕES 2024

Os procurados pela Justiça que foram eleitos como suplentes

Eleições 2024

Quatro homens, contra os quais foram expedidos mandados de prisão, conquistaram vagas como substitutos de vereadores no pleito de 6 de outubro

Em Tupanci do Sul, no Norte, Celmar Mucke, do União Brasil, elegeu-se segundo suplente com um voto. Ele tem mandado de prisão por estupro de vulnerável (vítima com menos de 14 anos), crime pelo qual foi condenado em definitivo (sem recurso possível) a nove anos e quatro meses, em regime fechado. O mandado foi expedido em 20 de agosto de 2024 pela Vara de São José do Ouro (RS). Acontece que Mucke apresentou certidão criminal negativa com data de 13 de agosto de 2024, uma semana antes da expedição do mandado por condenação que transitou em julgado. Por isso, teve o registro deferido.

"Autonomia"

O Tribunal de Justiça considera Mucke foragido, e o Tribunal Regional Eleitoral justifica ter mantido a candidatura porque a documentação para o processo de registro eleitoral foi enviada antes da condenação. _

Pensão alimentícia

Os outros três suplentes de vereador são procurados por dívidas de pensão alimentícia que não foram pagas. Apesar do risco de serem presos, podem deixar de ser procurados se saldarem os débitos. E mesmo com a sentença, eles não perdem o mandato.

Um dos casos é o de Arildo Borges, o Hyan Borges (PSDB), suplente em Alvorada, na Região Metropolitana. Ele teve mandado de prisão por dívida de pensão alimentícia expedido em 27 de junho deste ano, por 30 dias, em regime fechado. Ele já tinha registrado sua candidatura antes da ordem judicial.

Outro caso é o de José Luís (PSDB), suplente em São Martinho da Serra, na Região Central, alvo de mandado de prisão expedido em 26 de setembro de 2024, por 30 dias, também por não pagamento de pensão alimentícia.

Já Sidnei Bittencourt (PSDB), suplente de vereador em Tupanciretã, também na Região Central, teve mandado de prisão por dívida de pensão alimentícia emitido em 19 de junho de 2024. Está sujeito a detenção por 30 dias, em regime fechado, ou até a quitação da dívida.

A reportagem não localizou Hyan, José Luís e Sidnei, mas falou com a direção estadual do PSDB. Esta informa que os três estavam aptos para concorrer porque se inscreveram antes da decretação da prisão. E que a consulta a banco de mandado de prisão não está entre os requisitos para análise de candidatura, porque só é inelegível o condenado por colegiado, conforme a Lei da Ficha Limpa.

Conforme o PSDB nos três municípios, os candidatos afirmaram ter intenção de saldar os débitos. Hyan e Lírio alegaram também que já juntaram o dinheiro necessário.

Humberto Trezzi

Nós, gaúchos, sabemos bem o que os paulistas estão passando

Os gaúchos conhecem bem o drama que vem sendo enfrentado por boa parte dos paulistas desde o temporal que atingiu o Estado na sexta-feira, que deixou mais de 2,6 milhões de pessoas sem energia elétrica em São Paulo e região metropolitana.

Não se trata apenas de uma tormenta que resultou em um apagão. Há, por trás, polarização política, jogo de empurra, culpa atribuída às árvores, falta de previsão de retorno do serviço e, mais de 72 horas depois de chuva e vento, centenas de clientes ainda sem luz.

Eventos climáticos extremos, que derrubam postes, árvores e fiação, não podem mais ser tratados como algo fora da curva. Uma parte da responsabilidade recai sobre as concessionárias, como a Enel, que fornece eletricidade à capital paulista e a outras 23 cidades do Estado desde 2018, ou a CEEE Equatorial e RGE, que atendem os municípios gaúchos.

As empresas precisam ter planejamento e resposta rápida às intempéries.

A outra responsabilidade cabe aos governos. No momento em que privatizações e concessões de serviços essenciais se tornam opção de boa parte dos políticos diante da ineficiência do Estado, são necessárias agências reguladoras com mais autonomia, independência e tecnicamente robustas. Sob risco de se penalizar o consumidor - e o que já era ruim ficar pior. _

De Farroupilha, irmã Rosita Milesi recebe prêmio da ONU

A freira Rosita Milesi, natural de Farroupilha, na serra gaúcha, foi laureada com o Prêmio Nansen, principal condecoração da Agência das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) - órgão ligado à ONU - pelo seu trabalho desenvolvido no Brasil. A cerimônia ocorreu ontem, em Genebra, na Suíça.

Rosita dirige o Instituto Migrações e Direitos Humanos (IMDH), agência humanitária que criou em Brasília em 1999. A instituição realiza atendimento jurídico e social, acolhimento humanitário e de integração social e de mercado de trabalho para migrantes e refugiados em território brasileiro.

- Uma certeza tenho: o caminho se faz caminhando, e nossos passos são mais determinantes se estamos convencidos da nossa missão. Sinto-me feliz em dizer que não estou cansada de lutar por essa causa, sempre em favor dos refugiados ou deslocados - afirmou, emocionada.

- Ela é uma lenda para muitos do Acnur. Muitos dos meus colegas a seguiram. Admiramos sua coragem e liderança - disse Filippo Grandi, atual alto comissário das Nações Unidas para Refugiados. _

Prefeitura contrata empresa para estudar contenção da Capital

O Conselho Deliberativo do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) aprovou ontem a contratação da empresa Rhama, do professor Carlos Tucci, para atuar na contenção de enchentes em Porto Alegre.

A empresa atuará em duas frentes de trabalho. No sistema de proteção contra cheias já existente, que compreende desde o bairro Sarandi até o Cristal, na Zona Sul, fará um estudo hidrológico para determinar se a cota de 7 metros definida na década de 1960 pelo extinto Departamento Nacional de Obras de Saneamento (DNOS) segue suficiente para proteger a região ou necessita de adequações, compreendendo principalmente os diques e o Muro da Mauá.

Outra frente de trabalho que será realizada consiste em conceber um novo sistema de proteção contra cheias para a zona sul da Capital, que, devido à urbanização posterior à da Zona Norte, não conta atualmente com nenhuma estrutura de defesa.

O contrato será assinado no Diário Oficial e publicado ainda nesta semana. _

Brasil condena ataque de Israel contra base da ONU no Líbano

Na nota, o Itamaraty condena "veementemente" a ação israelense. Na ocasião, dois tanques destruíram o portão principal e invadiram uma base da Unifil. Houve disparos de arma de fogo, e cinco integrantes da missão de paz foram feridos.

O governo brasileiro também afirmou que os ataques são "inaceitáveis e violam o direito internacional". Por fim, se manifestou contrário à intenção de Israel, que pede a retirada da Unifil do sul do Líbano. _

O que é e qual o papel da Unifil?1397124194

Em 1978, a Força Interina das Nações Unidas no Líbano (Unifil) foi criada pelo Conselho de Segurança da ONU após a primeira invasão de Israel ao sul do Líbano, durante a Guerra Civil Libanesa (1975-1990).

O propósito era de confirmar a retirada das forças israelenses do território libanês, restaurar a paz e ajudar o governo do Líbano a recompor a autoridade local.

Em 1982, Israel invadiu o Líbano pela segunda vez e estabeleceu uma zona de segurança, que existiu até 2000.

Ainda em 2000, a Unifil estabeleceu a chamada "Blue Line" (Linha Azul), uma aérea de 120 quilômetros para garantir a retirada completa de Israel.

Atualmente, os militares da Unifil têm o objetivo de monitorar violações da fronteira e manter a área segura.

São mais de 10 mil militares de 50 países que compõem a missão, a maioria deles soldados, também conhecidos como "capacetes azuis".

Apesar do caráter de paz, o efetivo pode usar a força em determinadas ocasiões para proteger civis e autodefesa.

Anualmente, o papel da Unifil é renovado pelo Conselho de Segurança da ONU. O atual mandato está em vigência até 31 de agosto de 2025.

O Brasil conta com 11 militares atuando nas forças de paz; país liderou o braço naval da missão entre 2011 e 2021.

INFORME ESPECIAL