terça-feira, 15 de outubro de 2024


15 de Outubro de 2024
CARPINEJAR

Entreter não é ensinar

O professor deve ter em mente que ele não tem a função de entreter. Entreter não é ensinar.

Não tem que fazer show, espetáculo, dancinha, stand-up, coreografia. Não tem que tocar violão, cantar, encenar. Não é animador de auditório. Não tem que recorrer a efeitos especiais, a exercícios pirotécnicos, a uma didática de palco para chamar atenção e ganhar a confiança. Não tem sequer a obrigação de ser lúdico ou fingir que está brincando ou se divertindo. Senão matrículas seriam ingressos.

Exigimos demais dos professores, cobramos demais dos professores, criticamos demais os professores. Parece que eles precisam ser tudo, menos professores. Diante das distrações do mundo contemporâneo, com olhar vidrado exclusivamente no celular, estudar é um momento raro.

Diante da intoxicação das redes sociais e avatares, ter um educador se expressando na frente da classe, escrevendo lições na lousa, é uma ocasião incomum. No meio do excesso de virtualidade, sua presença é revolucionária. O aluno recebe em aula o que jamais encontrará em outro ambiente no seu dia: cinco horas de foco.

Na convivência familiar, nunca ele vai experimentar tamanha concentração. Só na escola existe ainda a vivência do silêncio, do respeito, de ouvir, de esperar a sua vez para falar, de levantar a mão para perguntar algo.

Só na escola há o contato com a caligrafia, sem digitar, sem corretor ortográfico. Só na escola se pode exercitar a memória integralmente, sem dispersão, sem consultar o Google, raciocinando a partir das próprias ideias.

Só na escola se rompe a simultaneidade para privilegiar tarefa a tarefa. Só na escola a empatia é cultivada coletivamente, num movimento de turma. Só na escola se exerce o direito de ficar off-line.

Só na escola é oferecido tempo para a inteligência natural. Pela escassez de realidade, o professor se tornou tecnologia avançada, ultramoderna, disputadíssima.

É alguém que traz um conteúdo com testemunho de vida, com a sabedoria de quem lidou com aquela matéria desde sempre. É alguém que estabelece analogias e comparações, mostrando a ciência do cotidiano. É alguém que se formou para lecionar e explicar as fórmulas com exemplos práticos.

Não peça para o professor ser um artista. Ele é um mestre em seu ofício, na simplicidade sofisticada da transmissão de conhecimento. Basta a contundência da sua voz e dos seus gestos. E já é muito.

Já é muito controlar uma turma pelas palavras e pausas. Já é muito preparar e corrigir os temas e as provas. Já é muito participar das reuniões da escola e promover a aproximação com as famílias. Já é muito identificar cada estudante pelo nome, sobrenome e necessidades. Já é muita dedicação, doação, entrega em dois turnos diários. Querem mais do que isso? Que insalubridade emocional é essa?

A escola é o único lugar em que ainda é possível desenvolver rigor, disciplina, humildade, obediência. _

CARPINEJAR


15 de Outubro de 2024
DIA DO PROFESSOR - Jhully Costa

DIA DO PROFESSOR

Educação - As alegrias e os desafios de ensinar

Na data celebrada hoje, reportagem de Zero Hora apresenta as histórias de Evelise Pereira e Jonas Camargo, que compartilham a realização de inspirar crianças e adolescentes em sala de aula, além das motivações que os levaram a escolherem a profissão.

Evelise Pereira, 53 anos, ainda estava abrigada no apartamento de familiares, na Capital, quando voltou a dar aulas de Ciências na Escola Municipal de Ensino Fundamental Prefeito Edgar Fontoura, em Canoas. Havia se passado um mês desde que a água invadira sua casa no bairro Rio Branco, no município da Região Metropolitana. A professora deixou a residência na noite de 3 de maio, após ser resgatada de barco, apenas com a roupa do corpo e uma bolsa - com objetos pessoais e o único livro que lhe restou.

- Estava preocupada com o trabalho, porque teria que dar aula na segunda-feira e precisava dos materiais. Mas só voltamos para casa 150 dias depois. A água passou da altura das portas, encheu e ficou assim umas três semanas. Sobrou pouquíssima coisa. Minha casa tinha muitos livros, quase todos se desmancharam na água. Sobrou um que estava dentro da minha bolsa e um que meu filho pegou. Foi devastador - relembra a professora.

Formada em Biologia, Evelise dá aulas há mais de três décadas e, neste mês, concluiu seu doutorado. Sem familiares formados no Ensino Superior, se inspirou na única profissão com a qual tinha contato durante a infância, por meio da escola. Após o nascimento dos filhos, decidiu tentar outra função, que lhe oferecesse um salário maior. Foi bancária por um tempo, mas logo retornou às salas de aula:

- A coisa de que mais gosto e sei fazer melhor é lecionar. É algo que me dá muita satisfação. O melhor lugar para se estar é em uma escola. Tem muitos problemas, mas ainda é o melhor lugar para trabalhar, porque trabalhamos com vida o tempo inteiro. Vemos transformação na vida dos estudantes, vemos perspectivas de mudanças.

Parte da família

Assim como Evelise, Jonas Camargo, 40 anos, sempre soube que seria professor. A diferença entre os dois é que, para ele, a maior inspiração veio da família. Nascido em Lajeado, no Vale do Taquari, Jonas é neto, filho e sobrinho de alfabetizadoras - o que significa que cresceu ouvindo histórias sobre alunos e rotinas em sala de aula.

Formado em História, ele começou a trabalhar oficialmente como professor há 16 anos, mas sua primeira experiência com alunos ocorreu ainda na adolescência, quando auxiliava a mãe em suas aulas no Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos (Mova), em Canoas. Atualmente, é docente de Ciências Humanas no Colégio Israelita, em Porto Alegre.

O professor garante que é muito feliz em sala de aula e que a docência lhe traz muitos ganhos, não apenas no âmbito profissional. Jonas destaca que os alunos são uma espécie de "fonte da juventude" e que a troca no ambiente escolar é também uma experiência de afeto, que desperta novas curiosidades:

- Ser professor oferece um sentido para a vida. E não escolhi só ensinar coisas, escolhi ensinar História. Escolhi dizer para as pessoas que o passado, a memória, a nossa experiência humana neste planeta deixam marcas e que nós somos responsáveis pelas marcas que ficam. 


15 de Outubro de 2024
EDITORIAL

A recuperação das hidrovias

O Rio Grande do Sul é um dos Estados brasileiros favorecidos pela natureza em relação ao potencial do transporte hidroviário, com diversos pontos navegáveis nos rios Gravataí, Jacuí, Taquari, Caí e Sinos, no Guaíba e nas lagoas dos Patos e Mirim. As vantagens econômicas e ambientais do modal deveriam levar a uma atenção especial para manter em condições adequadas os trechos que hoje são operacionais, elevando o seu uso ou ao menos evitando que mais extensões fiquem inviabilizadas por questões básicas como falta de dragagem.

A enchente de maio trouxe novas dificuldades, com canais de navegação afetados pelos sedimentos carregados pela água, como registrou reportagem da edição de fim de semana de Zero Hora. Dragagens foram feitas em alguns pontos e outros receberão o serviço, o que é necessário para não interromper o fluxo de embarcações comerciais ou causar contratempos, como navios encalhados e situações que impeçam barcos de atracar. Casos, aliás, que ocorreram em Canoas e em Porto Alegre.

As vias navegáveis no Estado chegaram a somar 1,2 mil quilômetros nos anos 1970. Hoje seriam somente 770 quilômetros, conforme órgãos e entidades do setor, por onde transitariam apenas 3% da carga transportada no RS. Estima-se que existiria capacidade para superar a marca dos 10%, com a movimentação de grãos, celulose, petroquímicos, fertilizantes e outros produtos. Além da manutenção inadequada da profundidade dos corpos d`água, sinalização precária e obstáculos burocráticos para a criação de terminais privados são razões sempre citadas para o abandono paulatino de trechos.

Não se pode admitir que as adversidades criadas pela cheia desestimulem ainda mais o modal. Deve-se acompanhar as promessas de realização de estudos, batimetrias, dragagens e outros procedimentos para a recuperação das hidrovias, colocando-as ao menos em um patamar semelhante ao quadro pré-enchente. Idealmente, os investimentos previstos deveriam qualificá-las. Convém lembrar que as ferrovias que ligam o Estado ao restante do país também foram interrompidas, sem previsão de retomada. O panorama atual da logística de transportes do Estado, com o aeroporto Salgado Filho reabrindo de forma apenas parcial nos próximos dias, é bastante desafiador.

A desatenção com outras alternativas para a movimentação de cargas força a necessidade de se colocar mais caminhões nas estradas já saturadas. Acrescente-se ainda o fato de que várias rodovias do Estado, da mesma forma, sofreram avarias devido à enchente e ainda não foram plenamente recuperadas. Cabe à sociedade gaúcha cobrar o restabelecimento completo da infraestrutura do RS.

Do tema das hidrovias deriva a discussão sobre o desassoreamento de rios em pontos que não são usados para a navegação. A retirada de sedimentos desses cursos d`água é reivindicada por algumas comunidades pelo temor de que o acúmulo de materiais agrave novas enchentes. Especialistas advertem que essa estratégia poderia causar mais riscos, inclusive erosão de margens e mais assoreamentos. Compreende-se a angústia das populações traumatizadas, mas a decisão de fazer ou não intervenções do gênero deve ser tomada à luz do conhecimento. 


15 de Outubro de 2024
GPS DA ECONOMIA - Marta Sfredo

GPS da Economia - Apagão rende curto-circuito na energia

Com quase meio milhão de consumidores sem luz de sexta-feira até ontem, o apagão em São Paulo provocou reação exacerbada do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. Disse que o comportamento da distribuidora Enel é "absurdo", acusou o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes - candidato à reeleição contra Guilherme Boulos, apoiado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva -, de ser "fabricante de fake news" e o diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Sandoval Feitosa, de agir com "covardia" por não estar na lavagem de roupa suja.

Silveira achou pertinente criticar o ex-presidente Jair Bolsonaro, que "agredia" diariamente gestores públicos. Se é verdade que o comportamento da Enel exaspera, também seria adequado que, para mostrar diferença em relação à administração anterior, o linguajar fosse mais republicano.

Uma das principais críticas do ministro à Enel é o fato de não haver previsão de quando o abastecimento será normalizado. Voltou a expor, ainda, o fato de a distribuidora, privatizada em 2018, ter feito demissões em número superior ao que seria razoável para ter atendimento em situações de contingência. Foi semelhante ao que ocorreu no Estado com a Equatorial.

Foi o terceiro apagão em 11 meses na Grande São Paulo. Desta vez, precisou de ajuda de outras quatro concessionárias: Neonergia, Energisa, CPFL e Light. Outra vez, voltou à discussão a possibilidade de cassação da concessão. A proposta foi feita pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, um habitual defensor de privatizações. Como a coluna insiste, a empresa pode ser privada, mas o serviço é público e essencial. Por isso, cobranças e gestão de consequências são necessários. A adjetivação, não. 

horário de verão

O apagão eleva a pressão sobre o horário de verão. A estabilidade do Sistema Interligado Nacional (SIN) está em jogo. O cenário dos próximos meses é de forte demanda por temperaturas altas e risco na oferta com redução dos reservatórios de hidrelétricas por causa da seca. Cresce a ameaça de uma intercorrência local ser replicada em ondas a várias regiões.

Confirmado aporte de R$ 1,56 bi no Litoral Sul

Com a assinatura dos últimos três dos 44 blocos de concessão na Bacia de Pelotas arrematados em dezembro passado, confirmada ontem pela Petrobras, foi consolidado o investimento de R$ 1,56 bilhão em exploração de petróleo entre a costa gaúcha e o litoral sul de Santa Catarina. Do total, nove são no litoral sul catarinense e 35, na costa do RS. A Petrobras é responsável por 29, e a americana Chevron, 15.

Nos três blocos que faltavam, a Petrobras vai operar, com participação de 50%, em parceria com a Shell (30%) e a chinesa CNOOC (20%).

Conforme a Petrobras detalhou à coluna, fará "aquisição de dados" e outros estudos antes de definir a estratégia. A Chevron, por sua vez, informou apenas que, por ter acabado de assinar os seus contratos, ainda não tem "informações adicionais para acrescentar neste momento". _

Computação, mas parece videogame

Conhecida por adotar metodologia de ensino que foge de práticas tradicionais, como aplicação de provas, a escola Lumiar, em Porto Alegre, agora oferece aulas de computação para crianças de seis a 10 anos como parte do currículo obrigatório.

A iniciativa é parte de projeto-piloto realizado em parceria com a SuperGeeks, franquia que traz à Capital plataforma de ensino com foco em desenvolvimento de jogos, programação, lógica e matemática. Segundo o CEO da unidade de Porto Alegre da SuperGeeks, Moisés Brandalise, a aprendizagem ocorre com experiência de videogame.

GPS DA ECONOMIA

15 de Outubro de 2024
ELEIÇÕES 2024

ELEIÇÕES 2024

Os procurados pela Justiça que foram eleitos como suplentes

Eleições 2024

Quatro homens, contra os quais foram expedidos mandados de prisão, conquistaram vagas como substitutos de vereadores no pleito de 6 de outubro

Em Tupanci do Sul, no Norte, Celmar Mucke, do União Brasil, elegeu-se segundo suplente com um voto. Ele tem mandado de prisão por estupro de vulnerável (vítima com menos de 14 anos), crime pelo qual foi condenado em definitivo (sem recurso possível) a nove anos e quatro meses, em regime fechado. O mandado foi expedido em 20 de agosto de 2024 pela Vara de São José do Ouro (RS). Acontece que Mucke apresentou certidão criminal negativa com data de 13 de agosto de 2024, uma semana antes da expedição do mandado por condenação que transitou em julgado. Por isso, teve o registro deferido.

"Autonomia"

O Tribunal de Justiça considera Mucke foragido, e o Tribunal Regional Eleitoral justifica ter mantido a candidatura porque a documentação para o processo de registro eleitoral foi enviada antes da condenação. _

Pensão alimentícia

Os outros três suplentes de vereador são procurados por dívidas de pensão alimentícia que não foram pagas. Apesar do risco de serem presos, podem deixar de ser procurados se saldarem os débitos. E mesmo com a sentença, eles não perdem o mandato.

Um dos casos é o de Arildo Borges, o Hyan Borges (PSDB), suplente em Alvorada, na Região Metropolitana. Ele teve mandado de prisão por dívida de pensão alimentícia expedido em 27 de junho deste ano, por 30 dias, em regime fechado. Ele já tinha registrado sua candidatura antes da ordem judicial.

Outro caso é o de José Luís (PSDB), suplente em São Martinho da Serra, na Região Central, alvo de mandado de prisão expedido em 26 de setembro de 2024, por 30 dias, também por não pagamento de pensão alimentícia.

Já Sidnei Bittencourt (PSDB), suplente de vereador em Tupanciretã, também na Região Central, teve mandado de prisão por dívida de pensão alimentícia emitido em 19 de junho de 2024. Está sujeito a detenção por 30 dias, em regime fechado, ou até a quitação da dívida.

A reportagem não localizou Hyan, José Luís e Sidnei, mas falou com a direção estadual do PSDB. Esta informa que os três estavam aptos para concorrer porque se inscreveram antes da decretação da prisão. E que a consulta a banco de mandado de prisão não está entre os requisitos para análise de candidatura, porque só é inelegível o condenado por colegiado, conforme a Lei da Ficha Limpa.

Conforme o PSDB nos três municípios, os candidatos afirmaram ter intenção de saldar os débitos. Hyan e Lírio alegaram também que já juntaram o dinheiro necessário.

Humberto Trezzi

Nós, gaúchos, sabemos bem o que os paulistas estão passando

Os gaúchos conhecem bem o drama que vem sendo enfrentado por boa parte dos paulistas desde o temporal que atingiu o Estado na sexta-feira, que deixou mais de 2,6 milhões de pessoas sem energia elétrica em São Paulo e região metropolitana.

Não se trata apenas de uma tormenta que resultou em um apagão. Há, por trás, polarização política, jogo de empurra, culpa atribuída às árvores, falta de previsão de retorno do serviço e, mais de 72 horas depois de chuva e vento, centenas de clientes ainda sem luz.

Eventos climáticos extremos, que derrubam postes, árvores e fiação, não podem mais ser tratados como algo fora da curva. Uma parte da responsabilidade recai sobre as concessionárias, como a Enel, que fornece eletricidade à capital paulista e a outras 23 cidades do Estado desde 2018, ou a CEEE Equatorial e RGE, que atendem os municípios gaúchos.

As empresas precisam ter planejamento e resposta rápida às intempéries.

A outra responsabilidade cabe aos governos. No momento em que privatizações e concessões de serviços essenciais se tornam opção de boa parte dos políticos diante da ineficiência do Estado, são necessárias agências reguladoras com mais autonomia, independência e tecnicamente robustas. Sob risco de se penalizar o consumidor - e o que já era ruim ficar pior. _

De Farroupilha, irmã Rosita Milesi recebe prêmio da ONU

A freira Rosita Milesi, natural de Farroupilha, na serra gaúcha, foi laureada com o Prêmio Nansen, principal condecoração da Agência das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) - órgão ligado à ONU - pelo seu trabalho desenvolvido no Brasil. A cerimônia ocorreu ontem, em Genebra, na Suíça.

Rosita dirige o Instituto Migrações e Direitos Humanos (IMDH), agência humanitária que criou em Brasília em 1999. A instituição realiza atendimento jurídico e social, acolhimento humanitário e de integração social e de mercado de trabalho para migrantes e refugiados em território brasileiro.

- Uma certeza tenho: o caminho se faz caminhando, e nossos passos são mais determinantes se estamos convencidos da nossa missão. Sinto-me feliz em dizer que não estou cansada de lutar por essa causa, sempre em favor dos refugiados ou deslocados - afirmou, emocionada.

- Ela é uma lenda para muitos do Acnur. Muitos dos meus colegas a seguiram. Admiramos sua coragem e liderança - disse Filippo Grandi, atual alto comissário das Nações Unidas para Refugiados. _

Prefeitura contrata empresa para estudar contenção da Capital

O Conselho Deliberativo do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) aprovou ontem a contratação da empresa Rhama, do professor Carlos Tucci, para atuar na contenção de enchentes em Porto Alegre.

A empresa atuará em duas frentes de trabalho. No sistema de proteção contra cheias já existente, que compreende desde o bairro Sarandi até o Cristal, na Zona Sul, fará um estudo hidrológico para determinar se a cota de 7 metros definida na década de 1960 pelo extinto Departamento Nacional de Obras de Saneamento (DNOS) segue suficiente para proteger a região ou necessita de adequações, compreendendo principalmente os diques e o Muro da Mauá.

Outra frente de trabalho que será realizada consiste em conceber um novo sistema de proteção contra cheias para a zona sul da Capital, que, devido à urbanização posterior à da Zona Norte, não conta atualmente com nenhuma estrutura de defesa.

O contrato será assinado no Diário Oficial e publicado ainda nesta semana. _

Brasil condena ataque de Israel contra base da ONU no Líbano

Na nota, o Itamaraty condena "veementemente" a ação israelense. Na ocasião, dois tanques destruíram o portão principal e invadiram uma base da Unifil. Houve disparos de arma de fogo, e cinco integrantes da missão de paz foram feridos.

O governo brasileiro também afirmou que os ataques são "inaceitáveis e violam o direito internacional". Por fim, se manifestou contrário à intenção de Israel, que pede a retirada da Unifil do sul do Líbano. _

O que é e qual o papel da Unifil?1397124194

Em 1978, a Força Interina das Nações Unidas no Líbano (Unifil) foi criada pelo Conselho de Segurança da ONU após a primeira invasão de Israel ao sul do Líbano, durante a Guerra Civil Libanesa (1975-1990).

O propósito era de confirmar a retirada das forças israelenses do território libanês, restaurar a paz e ajudar o governo do Líbano a recompor a autoridade local.

Em 1982, Israel invadiu o Líbano pela segunda vez e estabeleceu uma zona de segurança, que existiu até 2000.

Ainda em 2000, a Unifil estabeleceu a chamada "Blue Line" (Linha Azul), uma aérea de 120 quilômetros para garantir a retirada completa de Israel.

Atualmente, os militares da Unifil têm o objetivo de monitorar violações da fronteira e manter a área segura.

São mais de 10 mil militares de 50 países que compõem a missão, a maioria deles soldados, também conhecidos como "capacetes azuis".

Apesar do caráter de paz, o efetivo pode usar a força em determinadas ocasiões para proteger civis e autodefesa.

Anualmente, o papel da Unifil é renovado pelo Conselho de Segurança da ONU. O atual mandato está em vigência até 31 de agosto de 2025.

O Brasil conta com 11 militares atuando nas forças de paz; país liderou o braço naval da missão entre 2011 e 2021.

INFORME ESPECIAL 

segunda-feira, 14 de outubro de 2024


14 de Outubro de 2024
CARPINEJAR

O tradutor de desejos

Foi Washington Olivetto que fez. Você se lembra do comercial do Garoto Bombril: "Bombril tem mil e uma utilidades"?

Foi Washington Olivetto que fez. Seus bordões entravam no imaginário popular, alavancando marcas e extrapolando suas expectativas de venda. Quem não recorda: "o amaciante Bijou tem dois perfumes enquanto o outro tem um só"?

Ele transformou a propaganda brasileira. Antes dele, ela se resumia a minutos perdidos entre um programa e outro na televisão. Depois dele, houve toda uma geração que esperava o suspense e o impacto do intervalo comercial. Suas peças com breves histórias batiam em audiência a própria novela.

O publicitário paulista Washington Olivetto faleceu ontem, aos 73 anos, no Rio de Janeiro, e deixa um vácuo na cultura pop. Não há quem tenha sido mais icônico. Olivetto passou a ser sinônimo de inteligência, de refinamento, de pensamento crítico do mercado (autor de livros como Direto de Washington: W. Olivetto por Ele Mesmo).

Dois de seus comerciais brasileiros estão no panteão dos cem maiores do mundo. Um deles é o que mostra uma série de dados extraordinários de um determinado governo, como o aumento do PIB e a erradicação do desemprego, para revelar ao final que se trata de feitos de Adolf Hitler.

Ele desconstruía as aparências, mostrando o quanto podemos ser seduzidos por tiranos. Ou por enganos.

Sabendo de sua influência, jamais trabalhou em campanha política. Para não se arrepender depois, recusava de antemão qualquer vínculo eleitoral. Sem ter concluído a graduação (pela Fundação Armando Álvares Penteado - Faap), tornou-se um dos publicitários mais premiados de todos os tempos. Ganhou o Clio Lifetime Achievement Award em 2014, um dos prêmios de maior prestígio da publicidade mundial, e levou para casa mais de 50 Leões de Ouro no Festival de Cannes.

Sua antiga agência, a W/Brasil, alcançou tamanha popularidade que até virou música de sucesso de Jorge Ben.

Ele também modificou o entendimento do futebol. Na condição de vice-presidente de marketing do Corinthians, nos anos 1980, formalizou o Movimento Democracia Corinthiana, em que jogadores, liderados por Sócrates, Casagrande e Wladimir, decidiam assuntos internos com votação entre os atletas (por exemplo, onde ficariam na concentração e premiações de vitórias e títulos).

Eu me encontrei com ele em três oportunidades. Senti que o maior comunicador gráfico e textual do país era, em sua essência, um bom ouvinte. Apesar do estrelato e da sua importância histórica, não se apresentou vaidoso, cheio de si. Tinha todos os motivos para ser, e pretendia me escutar, queria conhecer a minha origem, entrar em minha alma.

Humilde, explicava que aprendia fazendo, que consertava o avião em pleno voo. Olivetto foi um sujeito tímido, que penetrava na identidade das pessoas pela apurada observação. Eu perguntei qual tinha sido a lembrança fundadora de sua sensibilidade.

Ele me contou que, na infância, ficou isolado durante um ano por ameaça de poliomielite. Trancado no quarto, longe da escola, sem contato com os amigos, começou a decifrar as expressões dos rostos dos familiares para entender o que estava acontecendo. A solidão permitiu que desenvolvesse o dom de ler desejos e antecipar tendências.

Uma doença que não existiu desencadeou a saúde criativa de um mestre. _

CARPINEJAR


14 de Outubro de 2024
CLÁUDIA LAITANO

Ainda aqui

Havia duas plateias na estreia de Ainda Estou Aqui no Festival de Nova York: a dos brasileiros e a do resto do mundo. Meu palpite é que cada um desses públicos assistiu a um filme diferente na última quarta-feira. Enquanto a plateia local acompanhava uma trama envolvente, com boas chances de faturar troféus em festivais e até uma indicação ao Oscar, os brasileiros assistiam ao filme nacional mais importante deste século. Nada menos.

Apostar que os aplausos mais entusiasmados em Veneza ou em Nova York vieram da plateia brasileira presente nos dois festivais não diminui em nada os méritos do filme de Walter Salles. Pelo contrário. Se os crimes cometidos contra Eunice Paiva e sua família nos comovem de forma especial é porque, para nós, o significado histórico da obra ultrapassa suas qualidades cinematográficas. E dizer isso não é dizer pouca coisa.

A história é menos conhecida do que deveria. O engenheiro Rubens Paiva (Selton Mello), ex-deputado cassado em 1964, mora em frente ao mar, no Leblon, com a mulher, Eunice (Fernanda Torres), e os cinco filhos. Não está mais envolvido com política, mas ajuda como pode os que estão exilados ou na clandestinidade por combaterem a ditadura. Sabe que corre algum risco, mas sente-se razoavelmente seguro por ser uma figura pública e por não ter qualquer tipo de conexão com a luta armada. 

No dia 20 de janeiro de 1971, seis homens invadem sua casa, e Rubens Paiva é levado para depor. A mulher e a filha de 15 anos, Eliana, também são presas. Eunice passa 12 dias na prisão sem saber por quê. O marido nunca mais volta. Anos depois, os militares que torturaram e mataram Rubens Paiva foram identificados, mas nunca responderam pelos crimes. Seu corpo nunca foi encontrado.

Esse não é o primeiro filme a expor os crimes da ditadura, mas é um dos primeiros a tocar no assunto depois dos pedidos de intervenção militar e da tentativa de golpe de 2023. O filme de Walter Salles também é um dos poucos a retratar o período não a partir da ação de quem combatia a ditadura, mas desde o ponto de vista de uma família estraçalhada pela truculência do regime militar.

Em um país que nunca soube ajustar as contas com o passado, a história está sempre correndo o risco de ser apagada - ou de se repetir. Ainda Estou Aqui é o filme brasileiro mais importante deste século porque chega aos cinemas em meio a um inacreditável surto de amnésia coletiva. O perigo ainda está aqui. 

CLÁUDIA LAITANO

14 de Outubro de 2024
JULIANA BUBLITZ

Atriz porto-alegrense na pele de Elis Regina

Gaúcha de Porto Alegre, a atriz Thainá Gallo se prepara para um baita desafio: interpretar Elis Regina em Tom Jobim Musical, com estreia dia 17 no Teatro Casa Grande, no Rio. A torcida é para que a peça venha ao RS.

- Viver Elis Regina nos palcos, naquele momento específico da carreira dela, é um presente desafiador. A gente vê uma Elis diferente ao lado de Tom. Ela precisou se equalizar à energia dele, à energia que a bossa nova pedia. Não é a Elis furacão, é a Elis no seu momento mais maduro. Nesse álbum, ela é precisa e econômica, sem perder a complexidade e exuberância, e o desafio está justamente aí - diz a atriz, que também é cantora e dubladora.

Experiência, Thainá tem de sobra. Ela autuou nos espetáculos Cássia Eller, O Musical e O Frenético Dancin? Days. Na TV, participou de novelas como Pantanal, A Força do Querer e Segundo Sol, na Globo, além de atuações em séries e filmes. _

Saúde (em) crônicaVila Betânia

A antiga Casa de Retiro Vila Betânia, da Arquidiocese de Porto Alegre, está se abrindo para o turismo religioso e para visitantes em busca de paz, simplicidade e contato com a natureza.

Construído nos anos 1950, o prédio deixou de ser restrito a padres e a seminaristas e, até o fim de 2024, deve receber uma nova operação gastronômica, inspirada no Café da Catedral, no Centro Histórico.

Natureza

O prédio fica ao lado da Gruta Nossa Senhora de Lourdes, revitalizada em 2022, e do Hospital Divina (antigo Divina Providência), no bairro Cascata. A área é rodeada de mata nativa e lembra um refúgio no Interior.

Estive lá e conversei com a gestora e curadora do espaço, Letícia Huff. Ela já havia sido convidada pela Arquidiocese para administrar o salão nobre da Catedral Metropolitana e abrir o famoso café. Deu tão certo que o local virou ponto turístico na Capital, do ladinho do Palácio Piratini.

Desde 2021, Letícia tem o desafio de tornar a Vila Betânia sustentável financeiramente, abrindo as portas ao público sem perder a essência:

- Decidimos atuar como pousada, mantendo os retiros, e passamos a receber eventos corporativos, sempre respeitando as características locais e em comunhão com a fé católica .

Sessenta apartamentos foram reformados e receberam nova mobília, inclusive camas de casal, opção antes inexistente. São acomodações simples (não se encaixam no perfil de quem busca luxo), com diárias na faixa dos R$ 100 aos R$ 200.

Gastronomia

Toda a comida é feita lá e esta é uma das apostas da curadora para os próximos meses.

- Está nascendo a ideia de criar algo no jardim, que é lindo, com mesas e cadeiras sob as árvores. A intenção é seguir o modelo do café, com ótima gastronomia e ambiente acolhedor. Meu sonho é que esse lugar se torne mais conhecido e visitado - diz a gestora. _

Com trajetória de 30 anos na medicina, o oncologista e pesquisador Stephen Stefani vai agora compartilhar sua experiência como escritor.

Na próxima sexta-feira, em comemoração ao Dia do Médico, ele lança o livro Saúde (em) Crônica, na Livraria Santos do Pontal Shopping, em Porto Alegre, às 19h30min.

A obra é uma coletânea de mais de 60 textos já publicados em veículos de imprensa, sobre temas presentes na rotina do médico da Oncoclínicas do Rio Grande do Sul. Com escrita fluente e acessível, Stefani aborda desde as emoções e angústias dos pacientes até a responsabilidade profissional de quem dedica a vida à área da saúde. _

Aquarela poética - Prevenção sempre

É hoje à noite a festa de 70 anos da Liga Feminina de Combate ao Câncer do RS, com o espetáculo Força Rosa, no Theatro São Pedro, em Porto Alegre.

Além de celebrar, é importante se cuidar. O ambulatório da Liga RS no Hospital Santa Rita, na Santa Casa da Capital, oferece exames preventivos gratuitos (de mama e colo de útero), de segunda a sexta-feira, das 7h às 12h e das 13h30min às 15h. Informações: (51) 3213-7311. _

Prestes a completar 25 anos de carreira, a artista gaúcha Lilian Maus vai dar um curso de aquarela. Será especial para iniciantes, com o famoso "bê-á-bá", como se dizia antigamente.

Chamada de A Poética das Águas, a oficina será entre 19 e 26 de outubro, em Porto Alegre. Inscrições no site eventbrite.com.br. _

Juliana Bublitz

14 de Outubro de 2024
EDITORIAL

Ainda em busca de fôlego

Apesar da rápida recuperação de alguns dos principais indicadores da economia gaúcha, a permanência da alta demanda por crédito das empresas do Estado afetadas pela enchente de maio demonstra de forma clara que, para este grupo, ainda haverá um longo caminho para o pleno reerguimento. São milhares de empreendedores, de todos os portes, que cinco meses após a tragédia climática seguem buscando financiamento de programas dos governos federal e estadual. Os dados do Painel da Reconstrução, desenvolvido pelo Grupo RBS, bem ilustram esta alta procura. Até a semana passada, o financiamento contratado chegava a R$ 17 bilhões, como mostrou reportagem publicada na edição de fim de semana de Zero Hora.

A linha mais demandada é a BNDES Emergencial. Alcança recursos para capital de giro, compra de maquinários e equipamentos ou investimentos estruturais. Foram firmadas 4,9 mil operações, que emprestaram R$ 10,6 bilhões. Levantamento semelhante, divulgado no dia 6 de setembro, apontava um montante de R$ 7,5 bilhões. Nota-se, portanto, que em um período pouco superior a um mês, o montante direcionado para as companhias atingidas nessa modalidade subiu 40% - ou R$ 3,1 bilhões. Ainda seria preciso compreender melhor se a demanda se acelerou nas últimas semanas ou, devido à lentidão dos processos de aprovação, mais contratos foram assinados agora.

Também resta nítido que a maior necessidade é fôlego financeiro imediato. Das três opções do BNDES Emergencial, a maior avidez é por recursos para capital de giro. Até gora, foram R$ 8,5 bilhões contratados. No início de setembro, o total chegava a R$ 6,15 bilhões. Trata-se de uma modalidade empregada especialmente para compromissos mais urgentes. É preocupante que, apesar de transcorridos mais de 150 dias da enchente, ainda existam empresas que estão à espera desta espécie de primeiros socorros financeiros. Esta linha é destinada desde a microempresas a grandes grupos.

Voltado apenas a micro e pequenos negócios, o chamado Pronampe Solidário liberou um volume menor de recursos, mas em uma quantidade bem maior de operações - 32 mil. São, até aqui, R$ 3,2 bilhões contratados. Ainda assim, é uma linha que permanece relevante, como explicou à reportagem Wilson Marsaro, sócio da transportadora Marsaro, de Canoas, na Região Metropolitana. Ele calcula um prejuízo de R$ 500 mil com os alagamentos. O empresário recebeu no dia 4 de outubro um crédito de R$ 150 mil, o teto da modalidade. Usou para pagar salários e outras contas atrasadas. É um caso ilustrativo do quanto perduram os transtornos para muita empresas afetadas pela cheia histórica. Alarma o fato de, cinco meses depois, ainda existirem negócios com compromissos de curto prazo pendentes.

São situações que voltam a chamar atenção para a importância de buscar reduzir a burocracia usual para atender em um prazo razoável os empreendedores castigados pela catástrofe climática. Ainda há pontos sem a devida solução que dificultam o acesso aos recursos, como a necessidade de apresentar garantias, uma impossibilidade para quem viu a água arruinar seus bens. O tempo para a ajuda chegar é decisivo para um negócio se recuperar ou sucumbir. 


14 de Outubro de 2024
GPS DA ECONOMIA - Marta Sfredo

O que é uma empresa de benefício público, formato das que desenvolvem IA, que deve ser adotado pela OpenAI?

É semelhante a uma empresa B. A diferença é de que as empresas B precisam se certificar para serem consideradas assim. A OpenAI foi criada como empresa sem fins lucrativos e agora está se constituindo como de benefício público. E está colocando nos estatutos que o benefício é para a humanidade.

O que significa exatamente?

Ninguém sabe. O que a Open- AI e outras companhias parecem querer dizer é que essa tecnologia é tão importante para o mundo que precisam de estrutura que permita fazer isso.

Qual é a vantagem?

Pode ter a ver com accountability (prestação de contas). Se for processada, pode argumentar que não existe apenas para maximizar o lucro dos acionistas, mas também para maximizar o ganho para a humanidade. Ninguém sabe o que significa. Mas a empresa consegue se defender de processos judiciais dizendo que age no interesse de todos. O fato de a OpenAI não ter fins lucrativos era muito estranho.

 Quais companhias já são de benefício público nos EUA?

Existem 15 empresas de capital aberto nessa categoria. Uma é a Avon, que é da Natura. Estranho é as startups tecnológicas de topo ocuparem esse espaço. É uma tendência. Ninguém sabe se há uma visão nefasta ou de duplo sentido. Podem ter boa intenção. Mas ainda precisamos ver.

E qual é a prestação de contas desse tipo de negócio?

Nos Estados Unidos, existe grande pressão por parte de acionistas e dos advogados dos requerentes, algo que não existe no Chile, na Argentina e no Brasil, por exemplo. Companhias com capital aberto como Tesla, Google e Microsoft costumam enfrentar muitas demandas judiciais. Quando a empresa é de benefício público, é fechada, fica menos exposta a isso.

Seria uma posição defensiva?

Estamos em um novo território. Precisamos entender qual é o objetivo. O que dizem é que a tecnologia pode mudar o mundo. E isso seria tão importante que não poderia privilegiar só acionistas. Há duas visões: uma é a intenção dos investidores de maximizar o lucro, outra é pessoas que querem segurança. Por isso, outras empresas de inteligência artificial, como a Anthropic, também são de benefício público. Isso permite prestar menos contas a investidores.

Não agrega falta de transparência a um tema já opaco?

Sam Altman (fundador da OpenAI) foi demitido (recontratado por pressão de investidores como a Microsoft) por falta de transparência. A OpenAI diz que está criando um fundo de benefícios a longo prazo, que vai nomear um conselho para privilegiar a humanidade. Não sabemos se é verdade. Temos de cuidar para não maximizar o interesse de poucos. Talvez não seja uma má estrutura, mas na OpenAI, não funciona.

Adianta regular?

Para privilegiar a segurança, é preciso ter regras globais. Mas é difícil de concretizar. Há uma corrida entre EUA e China em que a Europa pesa pouco. A Califórnia tentou, mas não conseguiu, houve lobby das big techs. Elon Musk sempre falou sobre regulação, por acreditar que a inteligência artificial é perigosa. Agora, ele tem a xAI. Tudo é muito geopolítico, porque, se o que dizem for verdade, se a IA pode mudar tudo, quem vencer será mais poderoso do que todos os demais. É por isso que a governança é tão importante. É perigoso que Sam Altman tome decisões para o resto do mundo.

Sam Altman assinou manifesto por regulação, não?

Sim, mas, ao assinar, a empresa se consolida e consegue matar outras que vêm atrás. Quem pode ser regulado tem recursos para seguir regras muito onerosas para outros. Sam Altman é provavelmente o mais astuto captador de recursos. Mostrou que tem a capacidade de sobreviver e fazer US$ 157 bilhões. Mas tem muitos esqueletos no guarda-roupa, não só com a OpenAI. Se o conselho decidiu tirá-lo, por algo foi.

Mesmo assim, quase todas as empresas apostam em inteligência artificial. É um risco?

É parecido com outras ondas de tecnologia. As diferenças são essa nova estrutura, de empresa de benefício público, e a valorização. Há 10 anos, era impossível um hectocorn (startup com valor acima de US$ 100 bilhões). E também que isso tudo ocorresse fora do mercado aberto. Não sabemos o que empresas multibilionárias com presença em todo o mundo fazem. _

Respostas capitais - Evan Epstein

Diretor-executivo e professor adjunto do Hastings College of the Law da Universidade da Califórnia, com 15 anos de experiência no Vale do Silício

"Se a IA pode mudar tudo, quem vencer será mais poderoso do que todos os demais"

Evan Epstein dirigiu um centro de governança corporativa ligado à Stanford Law School e, em 2017, fundou a consultoria Pacifica Global. Mesmo com esse currículo, não vacila em usar a expressão "ninguém sabe" sobre gestão das empresas de inteligência artificial. Nesta entrevista, explica os motivos.

GPS DA ECONOMIA

14 de Outubro de 2024
EM FOCO

Democratização, evasão e disfunção

Na análise de Artur Jacobus, vice-reitor da Unisinos, o aumento de alunos em cursos de EAD pode ser visto de forma negativa. Apesar de o modelo ser uma forma de democratizar o acesso ao Ensino Superior, ele aponta que existe alto índice de evasão entre os estudantes e que o desempenho em avaliações, como o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), é inferior ao de alunos de cursos presenciais.

- É preciso entender, valorizar a possibilidade de que mais pessoas possam cursar o Ensino Superior, e a modalidade a distância permite isso, é positivo, mas, na nossa visão, tem uma certa disfunção. O EAD deveria ter papel complementar, não deveria ser a principal forma de ingresso no Ensino Superior no Brasil ou em qualquer outro país - aponta Jacobus.

O Conselho Consultivo para o Aperfeiçoamento dos Processos de Regulação e Supervisão da Educação Superior (CC-Pares) avalia a qualidade do Ensino Superior e a possibilidade de nova regulamentação que exija maior qualidade do EAD. _

Percentual de alunos matriculados em educação a distância no RS chega a 58,35%, o segundo maior entre as unidades da federação. Especialista aponta correlação entre redução de oferta de financiamento e diminuição do modo presencial

Presença de universitários em cursos EAD cresce no Estado

Os dados anuais do Censo do Ensino Superior, realizado pelo Instituto de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), mostram que o RS é o Estado em que essa parcela de estudantes mais cresceu nos últimos 10 anos. De 2014 para 2023, foi registrado aumento de 39,6 pontos percentuais entre os universitários gaúchos que estudam de forma remota.

Segundo os dados apresentados, dos 9,9 milhões de estudantes no Ensino Superior, no ano passado, o Brasil registrou 49,25% (4,9 milhões) de alunos na modalidade a distância e 50,75% (5,06 milhões) no modelo presencial. A diferença entre as duas formas em 2023 era de apenas 150.220 matrículas.

O número de alunos presenciais foi superado em 2022 no RS, quando 55% (316.462) das matrículas universitárias eram em cursos EAD. Porém, o histórico mostra que a presença de universitários em cursos a distância já vinha de uma crescente desde 2016.

- Houve aceleração ainda maior a partir de 2017, quando foi bastante desregulamentada a EAD no Brasil, com menor exigência em relação aos polos. E existe uma correlação, que já foi verificada: o fato de não haver formas de financiamento ao ensino presencial faz com que os alunos busquem o ensino a distância - explica Artur Jacobus, vice-reitor da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) e representante do Consórcio das Universidades Comunitárias Gaúchas (Comung).

Em 2015, houve mudanças nas regras do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), o que teve reflexos no número de universitários matriculados em cursos de EAD. Para Jacobus, os dados mostram clara correlação entre a diminuição da oferta do Fies e o aumento de alunos em curso de EAD:

- Claramente, tem correlação entre queda, ou diminuição, ou, praticamente, suspensão da oferta de financiamento estudantil público e o crescimento da educação a distância. Porque é uma alternativa. O aluno que não tem quantidade de recursos suficiente para pagar educação presencial, que é mais cara, acaba optando pelo ensino a distância.

O maior crescimento, em comparação com os outros Estados, de universitários em cursos de EAD no RS também tem relação com o perfil da população.

Flexibilidade

A presidente do Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior (Semesp), Lúcia Teixeira, relaciona o aumento ao ciclo da educação básica.

- O que a gente vê em relação aos Estados e no Rio Grande do Sul, é que o número de concluintes do Ensino Médio continua caindo, ou seja, de jovens. Os jovens são aqueles que mais estão nos cursos presenciais, enquanto nos cursos a distância, a gente tem prevalência daqueles que têm mais de 30 anos. Então, como menos jovens se formam no Ensino Médio ou precisam trabalhar por causa da situação econômica, só depois eles vão estudar. E aí, muitas vezes, procuram o EAD, que é mais barato e tem flexibilidade de horários, podem estudar de qualquer lugar. 

Beatriz Coan


14 de Outubro de 2024
INFORME ESPECIAL Rodrigo Lopes

Israel erra ao atacar a ONU

Israel tem o direito à autodefesa após ter sofrido o maior atentado de sua história, em outubro de 2023. Tanto o Hamas quanto o Hezbollah, dois grupos terroristas, usam as populações de Gaza e do sul do Líbano, respectivamente, como escudos humanos, o que não justifica excessos nem dá direito a Israel de atacar as Nações Unidas, desrespeitar o direito internacional e infringir a inviolabilidade dos capacetes azuis.

O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu erra o cálculo ao se arvorar o condão de redesenhar as fronteiras do Oriente Médio e buscar estabelecer uma nova ordem regional. Seu governo não apenas rasga as garantias de convivência entre as nações como desqualifica o único caminho viável no dia seguinte da guerra, para o qual não há plano até agora.

A ONU falha em não garantir a paz global, é atropelada pela realpolitk, tornou-se um condomínio em que regras são facultativas para alguns, no qual António Guterrez é um síndico desprezado. Mas, quando e se um dia os canhões silenciarem no Oriente Médio, se não forem as Nações Unidas a assumir o papel de interlocutora para uma paz duradoura, veremos, rapidamente, o ressurgimento dos grupos terroristas. Não espere essa função da Autoridade Nacional Palestina ou da Liga Árabe, vozes moderadas, mas não atores independentes.

Ao violar a Unifil, a quem se socorreu em 2006, Israel caminha na direção de tantos exércitos libertadores que se transformaram em ocupantes. Em 2003, George W. Bush ordenou a invasão do Iraque como extensão da guerra iniciada após os atentados de 11 de setembro de 2001. Do Afeganistão, que abrigava Osama bin Laden, ampliou o conflito ao Iraque, à época uma ditadura sanguinária, mas que não tinha nada a ver com os aviões jogados contra os EUA.

O mundo é melhor sem Saddam Hussein, assim como seria melhor sem os aiatolás do Irã ou os terroristas do Hezbollah e do Hamas. Mas a guerra de Netanyahu, assim como a de Bush, pode se tornar um pântano. Por maior que seja a capacidade militar da única potência nuclear do Oriente Médio, sem apoio internacional Israel fica menor - e mais vulnerável. _

Os bastidores do poder gaúcho

A próxima visita especial de final de semana ao Palácio Piratini será nos próximos sábado e domingo. Na ocasião, os visitantes poderão conhecer as alas governamental e residencial da sede do governo do Estado. O agendamento prévio será aberto a partir de hoje, ao meio-dia, no site do Piratini (palaciopiratini.rs.gov.br). No sábado, a atividade será realizada em três momentos: às 9h, 10h e 11h. No domingo, o passeio ocorrerá às 10h, 11h, 14h, 15h e 16h. Em todos os horários, haverá mediação de servidores do Palácio, que contam a história da edificação e contextualizam obras do acervo e detalhes arquitetônicos. Serão disponibilizadas 35 vagas para cada grupo. O roteiro é oferecido um final de semana por mês a quem não pode visitar o palácio em dias úteis. A entrada é gratuita. _

Antissemitismo no Brasil

A Stop Hate Brasil, organização dedicada a promover a prevenção contra a radicalização online, identificou 16 mil publicações de cunho antissemita na rede social X em oito meses, desde os atentados terroristas de 7 de outubro de 2023 em Israel.

- Estudos indicam que o antissemitismo é a porta de entrada para a radicalização das pessoas. Preocupados com o risco, iniciamos a pesquisa - explica a coordenadora do estudo, Michele Prado.

Foram buscadas expressões como apologia ao nazismo, a Hitler, a terrorismo e antissemitismo, entre outras. _

Diferenciação necessária

Michele Prado, coordenadora da pesquisa, ressalta que, durante o estudo, foram verificadas quais publicações realmente se tratavam de antissemitismo e quais eram críticas consideradas legítimas ao governo de Israel. Após arquivado, o material está sendo encaminhado à Polícia Federal. 

O perfume do 4º Distrito

Está perto de o 4º Distrito, uma das regiões mais atingidas pela enchente em Porto Alegre, ter um perfume para chamar de seu. Na próxima quarta-feira, a partir das 18h, no Fuga Bar, a associação dos empresários da região escolherá, entre três opções, a fragrância exclusiva que irá marcar esse momento de superação da área. _

Diálogos sustentáveis

Gestão sustentável das empresas e impactos positivos nos negócios serão o tema de debate organizado pelo Instituto Latino Americano de Desenvolvimento Econômico Sustentável (Ilades) em 31 de outubro. O presidente da entidade, Marcino Fernandes Rodrigues Jr., receberá a diretora de Negócios Sustentáveis do banco Santander, Esther Unzueta Dominguez, e o diretor-geral da CMPC Brasil, Antonio Lacerda, a partir das 8h30min na Associação Leopoldina Juvenil, em Porto Alegre. Inscrições pelo email dialogosilades@gmail.com. 

INFORME ESPECIAL

domingo, 13 de outubro de 2024

Das Vantagens de Ser Bobo 

O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar o mundo. O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: “Estou fazendo. Estou pensando.”

Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a ideia.

O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não veem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os veem como simples pessoas humanas. O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver. O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski.

Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não funciona. Chamado um técnico, a opinião deste era de que o aparelho estava tão estragado que o conserto seria caríssimo: mais valia comprar outro. Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e portanto estar tranquilo. Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado. O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo não percebe que venceu.

Aviso: não confundir bobos com burros. Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a célebre frase: “Até tu, Brutus?”

Bobo não reclama. Em compensação, como exclama!

Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar todos no céu. Se Cristo tivesse sido esperto não teria morrido na cruz.

O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos. Ser bobo é uma criatividade e, como toda criação, é difícil. Por isso é que os espertos não conseguem passar por bobos. Os espertos ganham dos outros. Em compensação os bobos ganham a vida. Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás não se importam que saibam que eles sabem.

Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas. É quase impossível evitar excesso de amor que o bobo provoca. É que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo. 

Clarice Lispector, do livro “A descoberta do mundo” –crônicas - Rio de Janeiro: Rocco, 1984.

sábado, 12 de outubro de 2024



12 de Outubro de 2024
MARTHA

Era uma vez, duas, três

Agradeci, dei uma trelinha para compensar o tempo que ele havia perdido escrevendo aquela mensagem que mais parecia um currículo, mas não me aventurei, jantei em casa.

Lembrei desta história quando, semana passada, recebi um e-mail de outro desconhecido. Vou trocar seu nome, mas a mensagem era a seguinte: Meu nome é Giba, há muito tempo desejo conhecerla pessoalmente ou algumas palabras no celular.

Escreveu apenas isso - no cabeçalho, não no corpo do e-mail, que veio vazio. O retrato da penúria, a síntese desses tempos. Ele preferiu matar o assunto rapidinho. Se apresentar para quê? Revelou apenas o apelido e não se preocupou em explicar se o uso do estrangeirismo era erro de digitação ou resquício do idioma natal. Eu que lutasse.

É comum as pessoas reclamarem que tudo dá errado para elas, culpando as conspirações cósmicas, que nunca alinham com seus planos. O Giba ficou sem uma resposta privada, mas inspirou essa crônica de utilidade pública: não se passa no vestibular chutando as questões, não se vai bem numa entrevista de emprego sendo monossilábico. Tem que se puxar. Fazer valer o investimento.

Quem teve um poema publicado em uma revista, enviou uns 25. O turista que conseguiu uma passagem de avião barata ficou a madrugada inteira pesquisando promoções. Lembra quando dependíamos de ligações telefônicas para empresas que só davam ocupado? Quantas horas tentando, tentando, até ser atendido? Que bets, que nada: a melhor aposta é em si mesmo.

Não somos prêmios para ninguém, não estamos em promoção, mas o exemplo do Giba serve de alerta: quem almeja algo, seja o que for, não pode ser tão preguiçoso. Que se dedique um pouquinho, até para demonstrar que tem alguma noção sobre as dificuldades da vida. Eu imagino o Giba deitado numa cama às quatro da tarde, abatido, entediado, escrevendo aquelas duas linhas entre uma soneca e outra. Já o carioca que perambulou pela Patagônia voltou a me escrever mais uma, duas, três vezes, e acabamos namorando. Não durou para sempre, mas foi divertido. Quando a persistência encontra a confiança, dá match. 

MARTHA

60 MAIS

- Um absurdo. Muito tempo perdido. Tenho que voltar a estudar - constatou. Empresário aposentado, Naujorks segue atuando como assessor imobiliário e corretor de imóveis, além de ter uma ativa rotina de exercícios físicos, mas sentia que faltavam atrativos para preencher seus dias. Acompanhar o neto pré-adolescente à escolinha de futebol lhe despertou uma paixão antiga e, a poucos meses de completar 70 anos, ele decidiu realizar um sonho: está cursando a graduação em Educação Física.

Me sinto jovem ainda, motivado, encorajado, valorizado - descreve.

A idade não o impede de traçar mais planos a médio e longo prazos. Ex-jogador de futebol amador, Naujorks pretende trilhar uma nova carreira assessorando técnicos, garimpando talentos ou treinando a gurizada no futebol de campo ou no futsal.

Tenho muito para contribuir. Meu foco é viver até os 90 anos com saúde mental e física. Acredito em aliar a experiência dos mais velhos e dos mais jovens. Com respeito, podemos trabalhar juntos, nos auxiliar e somar - afirma o aluno de primeiro semestre do Centro Universitário Fadergs.

Descobrir algo novo

- Aposentar-se da carreira principal não é se aposentar da vida e de outros sonhos e desejos. É muito importante continuar com planos. Enquanto temos objetivos, estamos vivos, saudáveis, buscando - afirma Simone. - O que ele (Naujorks) está fazendo é superpositivo: realizar um sonho, descobrir algo novo - aponta.

Simone é professora e costuma testemunhar, em sala de aula, os inúmeros benefícios da convivência entre diferentes faixas etárias.

- Precisamos trabalhar mais a questão intergeracional na nossa sociedade. Isso vai gerar uma aceitação maior dos idosos. Cada vez mais, vamos precisar nos acostumar e interagir com diversas idades. O conhecimento, o histórico dos mais velhos contribui muito para os mais jovens, assim como a agilidade de pensamento, a criatividade e a inovação dos mais jovens ajuda as pessoas idosas - comenta a psicóloga.

Troca de experiências

- A troca de experiências e a socialização auxiliam na aprendizagem. O idoso que chega à faculdade terá desafios novos. Isso será saudável para o processo de envelhecimento dele e para os jovens também, que vão ouvir uma pessoa extremamente experiente, trocar ideias sobre a vida e habilidades socioemocionais - observa Eliane.

Desafios também se apresentam ao novato, ressalta a pedagoga. Se o idoso nunca fez uma graduação antes ou está há décadas longe dos bancos escolares, necessitará de um período de adaptação. A rotina de estudante inclui leituras, horas de concentração para estudar, realização de provas e atividades em grupo, apresentação de trabalhos. Aspectos tecnológicos do cotidiano também podem ter impacto, considerando-se as habilidades de cada um.

- O estudante vai precisar construir algumas habilidades que ficaram adormecidas, se organizar no tempo, fazer um cronograma. Pode ter uma dificuldade ou outra, mas, se for empoderado e ativo, vai superá-las com ajuda dos professores e dos colegas - afirma Eliane.

Hoje em dia, o ensino não é unilateral nem individual, destaca a pedagoga. Trata-se de um trabalho coletivo. A idade é apenas um detalhe.

- Não vamos olhar o aluno idoso, com 70 anos. Vamos olhar o aluno. Um sujeito de direitos, com capacidade de aprender. Não existe isso de "as pessoas não aprendem". As pessoas aprendem dentro das suas possibilidades. Quem dera tivéssemos mais idosos na sala de aula - conclui Eliane. _

60 Mais Larissa Roso