quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025


19 de Fevereiro de 2025
CARPINEJAR

Mercado precoce

Com o borbulhar das redes sociais, vem ocorrendo uma hipervalorização do futebol mirim. Viralizam vídeos de garotos com fintas fantásticas, gols incríveis e embaixadinhas incansáveis.

O precoce mercado acabou atraindo a cobiça dos caçadores de talentos. Vejo um empresariado crecheiro como nunca existiu. Toda semana pipoca um novo Neymar, um novo Endrick, uma nova mina de ouro.

Enrico, de apenas seis anos, tem chamado a atenção de alguns dos principais clubes do Brasil. De saída do Flamengo, o menino virou alvo e foi enquadrado na mira de Palmeiras e Corinthians. Tudo tão cedo, tudo tão imaturo.

Lucas Flora é outro exemplo. Com apenas 10 anos, já possui números, acordos comerciais e tratamento de gente grande. Atua no sub-11 do Corinthians e ganha cerca de 10 a 15 mil reais mensais. Inclusive, diz a lenda que o Palmeiras teria oferecido 200 mil de luvas para levá-lo ao Allianz Parque.

Hoje o clube de formação é mera porta de entrada para o sonho de brilhar na Europa. Isso explica o desenraizamento dos atletas, o desapego de sua terra, os negócios sufocando a paixão pelo esporte.

Isso explica a falta de identificação cada vez maior da revelação com sua torcida de origem. Jamais vestirá a camiseta do time para o qual torce. Isso explica o péssimo momento da Seleção Brasileira, repleta de nomes vivendo no estrangeiro, sem ligação com a nossa realidade.

Nenhum time do interior consegue segurar suas joias. Jamais vão estrear no profissional de onde surgiram. Logo mais os craques serão prospectados no ventre. Já haverá olheiros reparando se os fetos andam chutando muito a barriga materna, e se batem com os dois pés.

Saímos da completa desolação, quando a base mal cobria as despesas e alcançava uma simbólica ajuda de custo, para assédios milionários e uma exploração infantil inescrupulosa. Temos que encontrar um meio-termo, talvez inserir artifícios protetivos na legislação, para permitir que o jovem se desenvolva longe da pobreza, mas possa seguir na equipe que o acolheu.

Desse jeito, não há como competir com os poderosos, que não formam mais seus ídolos, simplesmente os arrematam dos demais no dente de leite.

Há ainda variáveis preocupantes no processo. O investimento pode gerar frustrações e amarguras. Nem sempre uma promessa vingará. Compra-se o futuro de alguém, mas ele é incerto.

Eu fico imaginando o fardo desses meninos-prodígio, o peso esmagador da responsabilidade de sustentar a família inteira desde cedo. O dom passa a ser uma prisão perpétua, uma condenação. São reféns de suas habilidades.

Se a criança quiser mudar de ideia e parar de jogar, a culpa não deixará. Se ela se interessar por áreas distintas, por carreiras diferentes, para continuar estudando, para ingressar na universidade, não terá chance diante das imensas expectativas criadas em torno de seu sucesso.

Afora que ela jamais conhecerá o que é uma infância. 

CARPINEJAR

19 de Fevereiro de 2025
MÁRIO CORSO

Lugar de cale-se

Maria Rita Kehl, amiga e colega psicanalista, sofreu um linchamento virtual por criticar os limites das questões identitárias. Ela defende que há exageros, característicos de nichos narcísicos, em que só eles podem falar de si mesmos. Para os que têm "lugar de fala", aos outros restaria o "lugar de cale-se".

A resposta não veio com argumentos, que se espera num debate, mas com um ataque pessoal. Na falta de resposta, ataque a figura do oponente.

O avô da psicanalista foi eugenista no começo do século 20. O argumento é que ela, vindo dessa família, só poderia pensar de uma forma racista. Logo, sua crítica não procede.

Para os linchadores, Rita não é o que ela fez pela psicanálise, os livros que escreveu, a militância política que teve. Ela foi reduzida a ser neta de um eugenista.

É essa atitude que vai ajudar a combater o racismo hoje? Cessar o abuso policial contra a população negra? É isso que vai diminuir o número absurdo de mortes de mulheres e da população trans? Ou é para mandá-la ao lugar de cale-se?

Linchamentos servem para exibir-se como bacana. Seus perpetradores garantem para si o sucesso entre outros supostos beatos. Porém, para ser realmente bom, é preciso dialogar com nossas maldades, toda pureza é suspeita. Como diria Chico César, que Deus me proteja da maldade de gente boa e da bondade de pessoas ruins.

Se o sofrimento em si ensinasse algo, a psicanálise seria inútil. A dor, a opressão só geram traumas, não sabedoria. Na prática de escuta, o lugar de fala é do paciente, e assim como na sociedade, ninguém pode supor que realmente entenderá tudo sobre a dor alheia. Empatia é acolher, mesmo sabendo o que o outro está sentindo nos escapa no todo. Na clínica ou na cultura, falar de si propicia elaborações, porém, elas serão eficazes no exercício de escutar-se na presença e em interação com outros, com o diferente. Este era o ponto da Rita.

A vantagem de ficar velho é ver caírem uma sucessão de modismos intelectuais hegemônicos. Será que essa forma de pensar vai longe? Afinal, não faz laço social, faz laço de bolha. Alimenta-se de intrigas virtuais. Quem questiona é desqualificado. Quem discorda de um só ponto é impuro. _

MÁRIO CORSO

19 de Fevereiro de 2025
OPINIÃO RBS

Monumentos à incúria

O Palácio Piratini formalizou na segunda-feira a retomada das obras da barragem do Arroio Taquarembó, em Dom Pedrito, na Região da Campanha. É mais um capítulo da saga dos reservatórios das regiões da Campanha e da Fronteira Oeste anunciados na gestão Yeda Crusius (2007-2010) e até hoje inconclusos. A outra barragem é a do Arroio Jaguari, em São Gabriel, com trabalhos em andamento. Ambas tiveram o planejamento acelerado após as fortes estiagens da primeira metade da década de 2000. Foram concebidas para beneficiar com irrigação uma área de 117 mil hectares e ainda fortalecer sistemas de abastecimento urbano.

Aguarda-se que, desta vez, os prazos prometidos sejam honrados. O fato é que, desde 2009, quando as obras foram iniciadas, sucessivas projeções para a finalização das barragens foram frustradas. O rosário de imbróglios que levou a diversas paralisações inclui problemas com licenciamento ambiental, denúncias de fraude em licitações, erros e correção de projetos, falta de recursos e abandono de empresas, entre outros embaraços. À época do lançamento, foram considerados os mais arrojados empreendimentos de recursos hídricos do Estado. Mais de uma década e meia depois e após outra sequência de estiagens, tornaram-se monumentos à incúria.

O canteiro de obras da barragem do Arroio Taquarembó estava parado desde 2017, com 60% dos trabalhos concluídos. Segundo o governo gaúcho, a volta aos trabalhos foi possível a partir de um sinal verde do Tribunal de Contas do Estado (TCE), após a Corte questionar pontos do contrato em vigor com empreiteiras. Para finalizar a obra, serão aportados R$ 151 milhões, sendo R$ 88,6 milhões do Estado e R$ 62,3 milhões da União. A barragem também pega parte do território de Lavras do Sul e beneficia ainda Rosário do Sul. A nova promessa é tentar entregá-la até o final de 2026. O custo total se aproxima de R$ 250 milhões.

Na barragem do Arroio Jaguari, a execução beira os 80% e a previsão é finalizá-la em março do próximo ano. Os trabalhos foram reiniciados no ano passado, após paralisação também datada de 2017. O custo para terminá-la foi orçado em R$ 74,7 milhões - R$ 65 milhões do Estado e R$ 9,7 milhões federais. Construída no limite entre São Gabriel e Lavras do Sul, vai favorecer ainda Cacequi e Rosário do Sul.

Para que todo o potencial das barragens se torne realidade, ainda será preciso esperar pela construção de canais de irrigação. São necessários para distribuir a água dos reservatórios. Espera-se que não se tornem novas obras lendárias e, em um futuro não muito distante, auxiliem na proteção contra secas e ajudem a elevar as produtividades de lavouras de soja, milho e arroz. O modelo de gestão também espera definição, mas há boas referências no Estado, como o da Associação dos Usuários do Perímetro de Irrigação do Arroio Duro, em Camaquã.

Conhecer todos os entraves enfrentados pelos projetos das duas barragens na Metade Sul também é importante em um momento em que o Rio Grande do Sul está prestes a dar início a grandes obras de contenção de cheias, complexas e que exigirão investimentos vultosos. Além de estudar bons exemplos, é essencial saber no que se deve prestar atenção para evitar percalços. 

OPINIÃO RBS

19 de Fevereiro de 2025
TECNOLOGIA - Bruna Oliveira

Ar-condicionado com inteligência artificial promete alívio no bolso

Multinacional que tem unidade também no Rio Grande do Sul desenvolveu aparelho capaz de se adaptar a diferentes cenários de clima a partir da leitura de bancos de dados. Conexão com a internet permite, inclusive, a troca de informações entre equipamentos de todo o mundo

Num país que, conforme dados do setor, é o segundo maior mercado de ar condicionado do mundo, toda economia de energia é bem-vinda para evitar sobrecarga da rede elétrica e aliviar o bolso do consumidor. Com recursos de inteligência artificial (IA), aparelhos fabricados em solo brasileiro e gaúcho passam a contar com tecnologia capaz de melhorar a eficiência, reduzindo o consumo.

Batizado como "o inverter do inverter" (funcionalidade que já otimiza a performance energética dos aparelhos), os novos condicionadores de ar que chegam ao mercado buscam nos dados formas de melhorar o desempenho. É o caso de um lançamento da Midea Carrier, multinacional que tem unidade fabril em Canoas, na Região Metropolitana.

Uma máquina inverter pode ser 27% mais econômica. Com a IA, pode alcançar mais 30% de economia, explica o gerente de marketing de produto da empresa, Gustavo Martins.

Utilizando uma base de dados gerada sobre aparelhos de ar condicionado do mundo inteiro, a IA identifica o comportamento das máquinas ao longo do uso. Assim, é possível projetar o melhor funcionamento para determinada condição de temperatura e clima, aprimorando o desempenho.

- A tecnologia ajuda a antecipar o que vai acontecer no ambiente onde a maquina está instalada. A máquina passa a entender o que precisa ser feito a partir dos dados que ela levanta. Se não conectar à internet, o aparelho vai aprender por ele mesmo, conforme o uso. Conectado ao wi-fi, ele busca dados mundialmente conectados pela marca - diz Melo.

Menos sobrecarga

Para o consumidor, o efeito é menor quantidade de quilowatt­hora (kWh) gasta, e um alívio na conta de luz. Em tempos de temperaturas tórridas, além de elevar os custos com energia em casa, o maior uso de aparelhos refrigeradores traz sobrecarga ao sistema elétrico.

Segundo dados do setor, entre janeiro e outubro de 2024, a demanda no varejo por aparelhos de ar condicionado cresceu 37% ante igual período de 2023. De acordo com a Associação Brasileira de Refrigeração, Ar-Condicionado, Ventilação e Aquecimento (Abrava), estima-se que o Brasil atinja 100 milhões de unidades até 2050.

Trinta anos atrás, o sistema elétrico teria entrado em colapso com o mesmo consumo que se tem hoje, menciona Martins. Esta também é uma das soluções pensadas no lançamento:

- Tendo máquinas muito mais econômicas, sobrecarrega menos o sistema elétrico como um todo. Além do menor custo para o consumidor.

A fábrica gaúcha é destinada a aparelhos de aplicação comercial, como shoppings e hospitais. Já os de uso residencial, como o que traz a tecnologia da IA, são fabricados em Manaus. A Midea tem ainda uma terceira unidade no Brasil, em Pouso Alegre (MG). _

Planta localizada em Canoas atende demanda até de estádios

Em operação no mesmo local desde 1967, a planta fabril de Canoas recebeu R$ 45 milhões em investimentos nos últimos cinco anos. São 600 pessoas trabalhando na fábrica - que é climatizada. Há sete linhas de produção e 20 mil metros quadrados de área. A unidade é altamente automatizada, com tecnologias para o menor desperdício possível de materiais.

Edilson Borges, responsável pela manufatura na indústria, menciona que a IA está presente muito antes do produto final. Está na própria produção, com inteligência de dados para facilitar a automação dos processos.

A planta da Midea Carrier em Canoas é vista como a mais importante da América Latina para produção de equipamentos com aplicação comercial. É dessa fábrica que saem grandes aparelhos, destinados a shoppings, hospitais e até estádios de futebol. 


19 de Fevereiro de 2025
GPS DA ECONOMIA - Marta Sfredo

GPS da Economia - Por que o Itaú vê baixo risco de recessão

Na primeira projeção pública sobre a economia do ano, o economista-chefe do Itaú, Mário Mesquita, disse não descartar o risco de recessão técnica - dois trimestres seguidos de queda no PIB -, mas considera "difícil" que ocorra. A estimativa de Julia Gottlieb, integrante da equipe focada em Brasil, é de que a boa safra agrícola tende a levar a uma alta do PIB de 1% no primeiro trimestre. Isso significaria um "carrego" (espécie de impulso para os trimestres seguintes) no ano de 1,5%, mesmo sem avanço nos demais períodos de três meses. A coluna perguntou se isso significa que uma recessão estaria descartada, Mesquita respondeu assim:

- Projetamos para o segundo semestre um crescimento médio de 0,2% por trimestre. Como é suficientemente próximo do zero, não descarto recessão técnica, mas acho difícil ver neste ano que deve começar com carrego de 1,5%. Deve ser um ano de crescimento positivo mais uma vez, mas um ou outro trimestre de PIB um pouco abaixo de zero não dá para descartar.

Dólar em R$ 5,78 na média do ano

Na visão de Mesquita, o Banco Central (BC) terá de continuar a elevar o juro para domar a inflação: depois da próxima alta de 1 ponto percentual em 19 de março, para 14,25%, prevê novos aumentos de 0,75 ponto, ainda fortes até para padrões brasileiros.

Para voltar a ter juro de um dígito, afirmou o economista, só há um caminho: retomar a política de teto de gastos, que vigorou de 2016 a 2022 - ainda que cheia de furos no último ano.

- Achar que vai ter juro civilizado com a política fiscal que o Brasil tem tido é meio autoengano. Seria importante, se o governo quiser de fato que o BC persiga a meta de inflação, voltar ao regime de teto de gasto. Se não quiser o teto, vai ter de se resignar a juro mais alto.

Sobre o dólar, a projeção do Itaú é até benigna: deve ficar em torno de R$ 5,78 neste ano - em média, não cotação no final do ano -, mesmo que Mesquita tenha leitura negativa sobre o efeito das tarifas americanas:

- Devem provocar inflação e menos crescimento global. Não vai beneficiar o Brasil, que já tem fatia de mercado na China muito elevada. E pode ser alvo. _

Depois de virar o ano orbitando em torno de R$ 6, o dólar parece ter encontrado outra posição para oscilar na estratosfera: ontem, voltou a ficar abaixo de R$ 5,70. Fechou com baixa de 0,41%, para R$ 5,689.

Tenho notado maior interesse no Brasil até porque os preços estão tão baixos que passaram a ser pechinchas.

Mário Mesquita - Economista-chefe do Itaú

Onde são as novas áreas de prospecção

Todas as 34 áreas da Bacia de Pelotas que podem ir a leilão em junho ficam no litoral gaúcho. O 5º Ciclo da Oferta Permanente de Concessão não inclui blocos do litoral catarinense, que também faz parte da Bacia de Pelotas.

Ao todo, são cerca de 22 mil metros quadrados com possibilidade de exploração. A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), no entanto, afirma que nem todos os blocos disponíveis serão ofertados. O leilão previsto para 17 de junho só deve incluir áreas nas quais houver interesse.

As candidatas têm até 31 de março para apresentar declarações nesse sentido. A confirmação dos blocos que irão a leilão está prevista para 14 de abril. Os vencedores do de dezembro de 2023, que arremataram 44 blocos na Bacia de Pelotas, foram obrigados a aportar ao menos R$ 1,56 bilhão.

Mas diferentemente da época, quando blocos do Litoral Sul foram "estrelas", no leilão de 17 de junho a área de maior interesse deve ser a da Margem Equatorial, que envolve quatro bacias: Foz do Amazonas, Pará-Maranhão, Barreirinhas e Ceará. _

Data do contrato de Rio Grande

Em Rio Grande, a expectativa é de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteja na cidade, na próxima segunda-feira, para assinar o contrato para construção de quatro navios de 15 mil a 18 mil toneladas, chamados "handy". No entanto, a Transpetro, que é a contratante - é a estatal responsável pela logística da Petrobras -, não confirma. Na segunda, afirmou que a "data ainda não está definida", ontem reiterou que não há novidades. _

Em fase fossilizante, Brasil adere à Opep

Adiada desde as vésperas da COP28, a adesão do Brasil à Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) foi formalizada ontem pelo Conselho Nacional de Política Energética.

Para tentar compensar a associação ao cartel da matéria- prima fóssil - enfim, é essa a natureza da Opep -, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, afirmou que também foram aprovadas as entradas do Brasil na Agência Internacional de Energia (AIE) e na Agência Internacional para as Energias Renováveis (Irena).

Além da tentativa de compensar o impacto, Silveira forneceu duas desculpas. Uma é de que, uma vez dentro da Opep, o Brasil vai defender a transição energética justa. Outra é de que o país é mero observador - como já se dizia em dezembro de 2023 -, portanto não será obrigado a seguir as ordens do cartel.

A principal atividade da organização é controlar os preços do petróleo, como fazem os cartéis. Quando estão muito baixos, prejudicando a receita dos integrantes, cortam a produção para que a escassez dê conta de elevar a cotação. Quando estão muito altos, embutindo o risco de que opções mais ecológicas se viabilizem, elevam a produção para baixar o custo e barrar a concorrência. _

Milei diz que "levou bofetada" com cripto

Javier Milei, presidente da Argentina, adotou a tese de que caiu em golpe ao "difundir, não promover" - versão dele -, a criptomoeda $Libra. Na noite de segunda-feira, mais de 48 horas depois do escândalo, Milei disse que "levou uma bofetada" (me comí un cachetazo) por ser "tecnotimista". Ainda afirmou que pouquíssimos argentinos perderam dinheiro - a maioria, segundo ele, teria sido de americanos e chineses.

Para além da exploração da oposição, no primeiro dia útil depois do escândalo, que ocorreu no final da tarde de sexta passada, a bolsa de valores de Buenos Aires despencou 6%.

Na terça, os efeitos continuaram com a queda de até 6% de ADRs, papéis negociados nos Estados Unidos que representam ações emitidas na Argentina. Pode ser um ajuste em relação ao dia anterior, quando a bolsa de Nova York não operou pelo feriado do Dia do Presidente. Mas também pode indicar aumento da incerteza entre investidores, que agora olham com receio a figura de Milei. _

GPS DA ECONOMIA


19 de Fevereiro de 2025
INFORME ESPECIAL - Rodrigo Lopes

O recado de Trump a Putin é de que o crime compensa

Não há surpresa. Desde o ano passado, a coluna vinha alertando que, se Donald Trump vencesse a eleição nos Estados Unidos, a guerra na Ucrânia terminaria, com a derrota, claro, para os ucranianos. Essa é a paz nos termos de Vladimir Putin: a Ucrânia entrega os territórios já ocupados pelo exército russo e abre mão de entrar na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

O cenário foi desenhado na reunião de ontem para negociar a "paz". Basta olhar a foto de quem estava à mesa no Palácio Diriyah, em Riad: o chanceler saudita, Faisal bin Farhan al-Saud, e seu assessor de Segurança Mosaad bin Mohammad al-Aiban, a delegação americana, com o assessor de Segurança Nacional, Michael Waltz, o enviado para o Oriente Médio, Steve Witkoff, e o secretário de Estado, Marco Rubio; e a comitiva russa, encabeçada pelo chanceler Sergey Lavrov, e o experiente Yuri Ushakov, que assessora Putin desde 2012.

Se você está procurando algum representante dos ucranianos, do povo que foi invadido, não canse os olhos. Simplesmente, não há. Também não há comitiva de qualquer outro país europeu.

Existem dois recados a partir do jeito trumpiano de negociar. O primeiro é que o crime compensa. Em 2022, a Rússia invadiu a Ucrânia, uma nação soberana, rasgando o Direito Internacional. Três anos depois, sai com territórios a mais. O segundo é: Trump implode o sistema de segurança europeu ao reduzir o apoio a aliados, abrindo a porteira para uma próxima investida de Putin - na Finlândia ou nos Bálticos. Está dizendo: "Europeus, virem-se". _

Agenda para a educação

São ousadas as metas do Piratini da Agenda da Educação (2025-2035): colocar o RS entre os três melhores do país em todos os segmentos avaliados pelo Ideb e alcançar mais de 90% dos jovens com oportunidades de educação e trabalho.

Cada objetivo conta com estratégias bem planejadas que indicam o essencial para seu alcance. O problema é que o robusto conjunto de iniciativas, algumas já em ação, foi empacotado a apenas um ano e 10 meses do fim do segundo mandato.

Uma pena, poderia ter sido feito antes. Além disso, seria desejável que houvesse perenidade. Mas, como políticas educacionais são vistas como de governo e não de Estado, há risco de o plano ser engavetado à frente, a depender de quem ganhar as eleições de 2026. _

O dia em que visitei o "hospital dos papas"

Uma escada íngreme conduz ao pavilhão D, no 10º andar do Hospital Policlínico Universitário Agostino Gemelli (foto), conhecido como o "hospital dos papas". Fica no bairro Triunfale, em Roma, a 45 minutos de carro do Vaticano. É lá que Francisco está internado desde sábado devido a uma infecção respiratória.

O apartamento privado dos chefes da Igreja Católica conta com 200 metros quadrados - com quartos para acompanhantes e assistentes, equipado com móveis e uma capela.

Essa é a quarta vez que Francisco fica internado na Gemelli - 2021, devido a uma diverticulite, 2023, para tratar uma bronquite infecciosa e, depois, devido a uma obstrução intestinal, e agora, por causa da infecção.

Conheci a Gemelli em 2005, enquanto cobria pelo Grupo RBS os funerais de João Paulo II. São dois pavilhões reservados aos papas - o D, onde João Paulo II ficou na última vez, e o E, no qual se recuperou de um tiro no abdômen no atentado de 13 de maio de 1981. As alas são separadas por duas portas de vidro.

A quatro passos dos aposentos que João Paulo II frequentou em seus últimos anos de vida, uma sala ampla costumava amenizar o sofrimento do Pontífice: o setor de oncologia pediátrica. Era ali que o Papa polonês partilhava a sua dor com os pequenos pacientes.

A clínica oficial do Vaticano é referência em neurocirurgia, endoscopia cirúrgica e cardiologia. Mesmo quando recebe um Papa, opera como hospital comum.

No complexo da Università Cattolica del Sacro Cuore, 2 mil médicos trabalham para atender 700 leitos. Na entrada, um teto de vidro ilumina o saguão.

A convite dos médicos Giosue de Lorenzi e Vicenzo Giovinazzo, italianos apaixonados pelo Brasil, almocei no refeitório da Gemelli, alguns andares abaixo de onde os papas ficavam.

Criado em 1964, o nome do hospital é homenagem a Agostino Gemelli, teólogo franciscano que fundou a Universidade Católica na década de 1920. O terreno para o hospital foi doado pelo papa Pio XI no início do século 20 para a Faculdade de Medicina da Universitá Cattolica del Sacro Cuore. _

Pouco compromisso

Apenas 10 países entregaram no prazo à ONU suas novas metas de redução de gases de efeito estufa - as NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas, na sigla em inglês). Esse será o grande desafio da COP30 de Belém, em novembro. _

Países que entregaram suas NDCs

Emirados Árabes

Brasil

Estados Unidos (sob o governo Joe Biden)

Uruguai

Suíça

Reino Unido

Nova Zelândia

Andorra

Equador

Santa Lúcia

Para onde foi o dinheiro da Usaid

A Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid), encerrada pelo governo Trump, destinou US$ 22,5 milhões em ajuda ao Brasil em 2024. Veja alguns dos programas beneficiados.

Grupo Consultivo para Pesquisa Agrícola Internacional (CGIAR) US$ 6,4 milhões

Centro de Pesquisa Florestal Internacional (CIFOR-ICRAF) US$ 2,7 milhões

Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais (Adra) U$ 1,9 milhão

Departamento de Agricultura dos EUA (com relação de colaboração no setor agrícola brasileiro) US$ 1,6 milhão

Cáritas Brasileira (divisão Nordeste) US$ 1,5 milhão

World Wildlife Fund (WWF) US$ 1,3 milhão

Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB) US$ 977 mil

Fonte: Foreign Assistance (site do governo americano)

INFORME ESPECIAL

terça-feira, 18 de fevereiro de 2025

Você já aprendeu a arte de escutar bonito?

Pessoas com redes de apoio tendem a ter mais saúde que aquelas que se sentem isoladas

18.fev.2025 às 7h00
 Edição Impressa

"Não tenho com quem conversar. Ninguém tem paciência para me escutar. Eu me sinto invisível, descartável, inútil."

Essa é a frase que eu mais escuto das pessoas de mais idade que venho pesquisando nos últimos 30 anos. Poderia dar centenas de exemplos, mas vou citar apenas o de Regina, uma escritora de 93 anos.

"Minhas filhas e meus netos estão completamente hipnotizados pelo celular. Minhas melhores amigas e meu marido já morreram. Não tenho mais com quem conversar, ninguém me escuta, ninguém me enxerga, ninguém tem interesse pelas minhas histórias. Minhas filhas só me ligam para me criticar e me dar ordens, como se eu fosse uma criancinha ou uma inválida. Meus netos só aparecem quando estão precisando de dinheiro. São muito intolerantes, impacientes e egoístas, só olham para o próprio umbigo. Eu me sinto um peso, um estorvo nas vidas deles. Sou uma velha invisível, descartável e inútil."

Ela disse que seus dois cachorros e três gatos são seus únicos amigos.

"Eles são meus bebês, são os únicos que estão sempre juntos comigo nos momentos de tristeza. Eles entendem o que estou sentindo e me dão o carinho que preciso, até mesmo quando estou doente. É o maior amor do mundo."

Inúmeros estudos comprovam o que tenho encontrado na minha pesquisa sobre "Envelhecimento, Autonomia e Felicidade": pessoas com redes de apoio tendem a ter mais saúde do que aquelas que se sentem isoladas e solitárias. Existem evidências de que pessoas com fortes relações sociais apresentam menor risco de desenvolver Alzheimer e outras formas de demência. As amizades saudáveis podem exercer influência sobre o sistema imunológico e até sobre a possibilidade de evitar doenças cardíacas.

Ilustração de Claudia Liz para coluna de Mirian Goldenberg, apresenta uma ilustração colorida com uma mulher de cabelo rosa e olhos grandes, olhando para os animais. Há um gato cinza saltando, um gato branco com uma fita rosa, um gato preto com uma coleira vermelho, um cachorro marrom sentado e um cachorro amarelo em pé. O fundo é de uma cor verde suave e há linhas azuis ao redor da mulher, sugerindo que ela está falando ou chamando os animais.

Claudia Liz/Folhapress

Quanto mais as pessoas se sentem apoiadas pelas amizades, melhor é a saúde e menor a probabilidade de morrer cedo. A relação entre ter amigos e longevidade é tão forte que a Organização Mundial da Saúde criou uma Comissão sobre Conexões Sociais, consideradas uma prioridade de saúde global.

É muito difícil, especialmente na velhice, construir amizades significativas e saudáveis. Também é difícil evitar relações adoecidas e nos afastar de pessoas tóxicas, muitas vezes dentro da nossa própria casa, família e trabalho.

Desde março de 2015, converso diariamente com meus melhores amigos e amigas de mais de 90 anos. Não é à toa que minha amiga Gete, de 97 anos, me apelidou de "escutadora de velhinhos". Seu marido, Canella, de 98, concordou: "A Mirian só tem amigos velhos, só gosta de escutar e conversar com velhos. Na verdade, a Mirian tem 93 anos".

Meus melhores amigos e amigas estão partindo, e também estou tendo cada vez mais dificuldade de encontrar pessoas que queiram aprender "a arte de escutar bonito", como escreveu Rubem Alves.

"Amamos não a pessoa que fala bonito, mas a pessoa que escuta bonito. Não é possível amar uma pessoa que não sabe ouvir. Os falantes que julgam que por sua fala bonita serão amados são uns tolos. Estão condenados à solidão. Quem só fala e não sabe ouvir é um chato... Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar. Ninguém quer aprender a ouvir. Pensei em oferecer um curso de escutatória, mas acho que ninguém vai se matricular."

Você também está precisando se matricular em um "curso de escutatória"?

Mirian Goldenberg

Antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é autora de "A Invenção de uma Bela Velhice"


18 de Fevereiro de 2025
CARPINEJAR

Pequenos colecionadores

As crianças não colecionam mais como antigamente. Usam a maior parte de sua atenção para a virtualidade, para o celular, games e redes sociais. No máximo, aventuram-se a compilar objetos sobre celebridades da música ou do cinema, no culto a uma personalidade, seja ela real (um artista), seja ela fictícia (um personagem). É uma idolatria que incide sobre uma idade, e logo passa.

Existem ainda os álbuns de figurinha, existem ainda as bonecas e bonecos, geralmente derivados de desenhos, séries e animações. Mas são fases de adoração, não coleções. Não se experimentam o silêncio e a disciplina de dar sequência a um projeto, de elaborar uma paixão em segredo.

Na minha infância, o melhor passatempo era colecionar. Qualquer menina ou menino alentava a fixação por um item. Escolhia um assunto para se transformar em especialista. Poderia ser papel de carta, perfumado e colorido. Poderiam ser selos, retirados das correspondências ou adquiridos em bancas de revista e filatelia. Poderiam ser notas ou moedas, vendidas na rodoviária em cartelas de diferentes países.

O universo do guardador ia muito além. Tomava-se gosto por um material específico, neutro, sem vínculo nenhum com uma tendência, ou com uma moda, ou mesmo com alguém famoso. Deixava-se um legado desde pequeno, formava-se uma herança. Predominava uma outra noção de posteridade, de ter algo para si, de fazer sentido numa vida anônima, de juntar uma poupança com um hábito.

Você se tornava rico de uma particularidade, pesquisador de um produto. Cuidava de algo como se fosse seu filho, num exercício precoce de autonomia. O consumismo não ditava as regras. Havia coleções estranhas, que dispensavam dinheiro e dependiam apenas do ato de apanhar lixo na rua ou catar embalagens descartadas pelos demais, como carteiras de cigarro, caixinhas de fósforos, tampinhas de refrigerante, palitos de picolé, embrulhos de bala.

Tinha quem decorava suas roupas com broches e bottons. Tinha quem angariava símbolos dos adultos, como bolachas de chope e cartões de visita. Tinha quem ocupava a geladeira com ímãs de comércio. Tinha quem espiava o cotidiano pela fechadura da porta, e conservava chaveiros de todos os tipos e temas.

Tinha quem buscava o oceano em veleiros nas garrafas. Tinha quem ansiava pelos céus montando aeromodelos com cola e paciência, produzindo réplicas de caças de guerra. Tinha quem se dedicava a cobrir paredes e superfícies espelhadas, acumulando adesivos e flâmulas.

Os tesouros da existência se resumiam a latinhas, pneus, jornais. Com uma latinha cheia de água, um talo de mamona, sabão em pó e canudinho, gerávamos bolhinhas de sabão. Com um pneu, cordas e uma árvore, inventávamos um balanço. Com restos de jornais molhados, criávamos bonecos.

A alegria se mostrava um filme de baixo orçamento. Não sobrava espaço para o tédio, a procrastinação. As brincadeiras aconteciam com barquinhos de papel na chuva, que deslizavam de nossas mãos para a correnteza do meio-fio das calçadas.

Ou com aviõezinhos meticulosamente dobrados, feitos a partir de folhas dos cadernos - arremessávamos nossas efêmeras criações do alto das janelas, contando os segundos que duravam planando.

Desenvolvíamos nossos próprios presentes e atividades.

Bolitas, botões, pandorgas e bolas de plástico completavam nossos monumentos de recreação.

Ora aprofundávamos a solidão do autoconhecimento com as coleções pessoais, ora cultivávamos a solidariedade, interagindo com os colegas com pega-pega, mãe da rua, esconde-esconde, passa-anel, balança-caixão, morto-vivo, batata quente, adoleta, cobra-cega, nós quatro, pula-sela, cama de gato, polícia e ladrão.

A responsabilidade nascia do zelo. A criatividade surgia da amizade. 

CARPINEJAR


18 de Fevereiro de 2025
NÍLSON SOUZA

Pisando em ovos

Quem veio primeiro: o ovo ou a inflação? Se já havia uma controvérsia histórica entre a primazia da galinha ou do seu cobiçado produto, agora ela se transfere para a alta desenfreada dos alimentos que, somada a outros fatores, está sendo apontada como causa da baixa popularidade do governo.

Nem é preciso ser versado em economês para entender a valorização do ovo: os norte-americanos eliminaram milhões de galinhas devido à gripe aviária, a produção escasseou por lá e o preço disparou - para eles e para nós, que somos exportadores deste alimento rico em proteínas, vitaminas e minerais. Simples assim: menos ovo no mercado interno, mais caro também para os brasileiros.

E a culpa, certamente, não é da Galinha Pintadinha.

Aliás, somos exploradores pouco sensíveis desta simpática ave que passa a vida produzindo e, invariavelmente, vai para a panela quando se torna improdutiva. Sua carne é a mais consumida pela humanidade. Segundo um estudo recente publicado pela revista Royal Society Open Science, a massa total das galinhas domésticas equivale ao triplo de todas as espécies de aves selvagens reunidas. É galinha que não acaba mais.

E o ser humano submeteu de tal forma essa ave indefesa que alterou significativamente sua morfologia, gerando em algumas décadas uma nova forma de animal - transformação que a natureza leva milhões de anos para executar. A galinha doméstica é outro bicho, se comparada a seus ancestrais selvagens. De acordo com o referido estudo científico, as aves criadas em cativeiro têm corpo maior, patas deformadas e o coração enfraquecido. E ainda surripiamos seus ovos, que agora valem mais do que as criptomoedas do senhor Milei.

Antes que algum trocadilhista me acuse de estar com pena das galinhas, registro aqui as soluções que encontrei para a controvérsia milenar e para o dilema polarizado: se você é criacionista, a galinha veio primeiro; se você é evolucionista, o ovo foi deixado pelos dinossauros antes de a galinha cacarejar pela primeira vez no planeta. Se você é governista, o preço do ovo logo voltará ao normal. Se você é oposicionista, tão cedo não comeremos omeletes.

Se você é cronista, agradeça aos leitores pela paciência. _

NÍLSON SOUZA

18 de Fevereiro de 2025
OPINIÃO DA RBS

Os riscos da avaliação em queda

A brusca queda da popularidade do governo Luiz Inácio Lula da Silva, demonstrada pelo Instituto Datafolha, acende o alerta para o risco de o Planalto se tornar ainda mais disposto a medidas populistas que signifiquem elevação de gastos ou drible em limites fiscais. Conforme a pesquisa publicada na sexta-feira, a parcela dos que consideram a gestão boa ou ótima caiu de 35% em meados de dezembro para 24%. O percentual de ruim e péssimo pulou de 34% para 41%. Trata-se da pior avaliação de Lula ao longo de seus três mandatos.

O governo federal, após longa estabilidade nas avaliações, está nas cordas por fatores como a alta do dólar, a inflação dos alimentos e a inabilidade para reagir às ofensivas da oposição nas redes sociais, como a crise do Pix. A esta altura, ao menos o diagnóstico correto sobre as causas de cada um destes acontecimentos já deveria ter sido feito para adotar respostas cabíveis e descartar soluções mágicas. A moeda norte-americana chegou a R$ 6,30 em dezembro, mas ontem era negociada na casa dos R$ 5,70. As últimas semanas foram de alívio por não se confirmarem os piores temores sobre a guerra comercial do presidente dos EUA, Donald Trump.

O governo tem na manga iniciativas com potencial de amenizar o mal-estar da população com a carestia. A principal é o projeto de lei que amplia a isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil mensais. Mas deve ter a compensação bem assegurada e costurada politicamente para não gerar ainda mais solavancos que possam bater no câmbio e atrapalhar o Banco Central na tarefa de tentar trazer a inflação para dentro da meta. Outra ação que ainda gera desconfiança é a de beneficiar 22 milhões de famílias com a distribuição grátis de gás de cozinha. A dúvida é de onde tirar dinheiro no orçamento para a abrangência pretendida pelo Planalto, mais de quatro vezes maior do que a atual.


18 de Fevereiro de 2025
GPS DA ECONOMIA - Marta Sfredo

O momento doce e amargo da economia

O resultado anual do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) é a perfeita síntese do momento doce e amargo da economia brasileira. Em 2024, subiu acima das previsões, 3,8%. Em dezembro, caiu mais do que o esperado, 0,73% em relação a novembro.

O dado reforça a expectativa de desaceleração para este ano, que já havia sido acentuada no Relatório Focus do BC na semana passada. Essa perspectiva se intensificou no publicado ontem, com nova redução nas projeções de crescimento, agora de 2,03% para 2,01%.

É importante observar que essa desaceleração é o efeito desejado do choque de juro anunciado pelo BC como forma de frear a inflação. Como repetido nos vários comunicados e atas das mais recentes reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom), a taxa básica é "contracionista", ou seja, deve ser capaz de produzir essa redução na atividade econômica.

Setores e fatores

Em dezembro, houve recuos em todos os setores: 0,5% nos serviços, 0,3% na indústria e 0,1% no varejo. Na avaliação dos economistas, os fatores que levaram à expansão de 3,8% no ano passado não devem se repetir neste: desemprego em mínimas históricas, aumento de massa salarial, melhores condições de acesso a crédito e elevação de benefícios sociais.

A forte alta do dólar no final do ano passado decorreu de temores com a política comercial do novo mandato de Donald Trump na Casa Branca e de um corte de gastos considerado insuficiente para frear o endividamento do Brasil. Isso provocou aceleração da inflação que corrói a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

É por isso que se discute, na equipe econômica, concentrar bloqueios e contingenciamentos já na primeira revisão de receitas e despesas, prevista para março. Para isso, é claro, primeiro é preciso aprovar o orçamento, o que está previsto para só depois do Carnaval. Da boa transição entre o muito doce e o levemente amargo vai depender se haverá de fato apenas a desaceleração desejada ou se poderá ocorrer uma recessão, ainda que técnica. _

Dólar abaixo de R$ 5,70 teve pouca duração. Ontem, voltou a cruzar a barreira - desta vez, para cima - e fechou em R$ 5,712 resultado de oscilação positiva de 0,29%. Os juros futuros baixaram com queda do IBC-BR em dezembro.

Para Milei, melhor das hipóteses é ruim

O envolvimento do presidente da Argentina, Javier Milei, na aparente fraude que envolve a criptomoeda $Libra pode não levar ao impeachment desejado pela oposição, mas desgasta sua imagem em fase de popularidade em alta. Na melhor das hipóteses, o responsável por decisões sobre o futuro do país caiu em um golpe. Na pior, contribuiu com um esquema que fez muita gente perder dinheiro e pouca gente ganhar.

O caso ganhou manchetes em todos os jornais do país. Ontem, surgiram detalhes escabrosos. Um dos quatro envolvidos no projeto, Hayden Mark Davis, disse a um site especializado que está "em perigo". Sustentou não ter sido uma fraude ("estafa"), mas admitiu ter lucrado US$ 110 milhões, valor que agora quer devolver.

Ora, se não ganhou ilicitamente, porque restituiria?

Também defende Milei, mas diz "não saber" se outros sócios (Mauricio Novelli e Manuel Godoy, do Tech Forum Argentina) se beneficiaram por ter a informação privilegiada de que o presidente argentino chancelaria a cripto. E fez uma espécie de confissão com a maior candidez:

- A (acusação) de informação privilegiada me parece sempre uma estupidez porque em qualquer meme as pessoas que se beneficiam são os que a montam. Os que mais se beneficiam ou os que mais perdem sempre são os que estão mais perto.

Existe uma investigação aberta pela Casa Rosada, no âmbito do Escritório Anticorrupção, e uma força-tarefa foi criada para o caso. _

RS busca parcerias na Suécia

Uma comitiva gaúcha vai desembarcar em Estocolmo, na Suécia, na quinta-feira, para trocar conhecimento sobre tecnologia, inovação, sustentabilidade e soluções urbanas. A ação ocorre no contexto do Techarena, evento internacional com o qual Instituto Caldeira e a Invest RS têm parceria.

O governador Eduardo Leite participará de painel para abordar a enchente de maio de 2024 e a necessidade de soluções para lidar com os impactos da mudança climática. Pedro Valério, CEO do Instituto Caldeira, e Rafael Prikladnicki, presidente da Invest RS, também estarão no Techarena, que vai até a sexta.

Estocolmo é conhecida por ser o berço de startups como Spotify e Skype e primeira "capital verde" da Europa, conforme classificação da Comissão Europeia. A edição deste ano do Techarena terá como foco jornadas desafiadoras e lições aprendidas.

A agenda organizada por Instituto Caldeira e Invest RS inclui encontros com o grupo Ramboll, de engenharia, arquitetura e consultoria, e com a Business Sweden, agência de fomento e desenvolvimento de parcerias comerciais entre Suécia e outros países. A comitiva também deve visitar centros de inovação e outras empresas globais. _

Lula lança retomada naval sem contrato para Rio Grande

Em evento realizado no Terminal de Angra dos Reis da Petrobras, no Rio de Janeiro, foi lançado ontem o segundo edital do Programa de Renovação da Frota Naval da estatal, que prevê aquisição de oito navios gaseiros pela Transpetro.

A primeira fase teve como vencedores a Ecovix, que administra o Estaleiro Rio Grande, e o estaleiro Mac Laren, quem tem unidade em Niterói. Em parceria, vão montar quatro navios, resultado de licitação estimada em R$ 1,6 bilhão pelo câmbio atual.

São navios de 15 mil a 18 mil toneladas, chamados Handy e considerados "pequenos", exatamente com o propósito de começar com prudência.

O contrato da primeira etapa deveria ter sido assinado no mesmo momento da apresentação do novo edital, mas não foi o que ocorreu. Conforme a Transpetro, "a assinatura do contrato relativo à licitação para aquisição dos quatro navios Handy será feita em breve, mas a data do evento ainda não está definida".

A coluna também consultou a Transpetro sobre a possibilidade de os vencedores da primeira licitação disputarem a segunda, e a empresa confirmou: "Os estaleiros que venceram o primeiro certame poderão disputar a licitação dos gaseiros, individualmente ou em consórcio".

A disputa é pública e internacional, composta por dois lotes, que não podem ser vencidos pelo mesmo estaleiro ou consórcio. 

Guerra real assusta mais que a comercial

Em reunião de emergência em Paris, líderes europeus afirmaram que vão aumentar o gasto militar para se proteger da ameaça expansionista da Rússia. Discutiram um encontro previsto para hoje, na Arábia Saudita, entre representantes dos Estados Unidos e da Rússia para negociar a saída das tropas russas da Ucrânia.

O problema é que os americanos pretendem exigir que os ucranianos aceitem perda significativa de território, que os europeus veem como incentivo para que o presidente russo, Vladimir Putin, repita a estratégia de invasão e expansão, já que vem dando certo, de seu ponto de vista.

O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, reiterou ontem que não participará das conversas em Riad e que seu país não reconhecerá nenhum acordo feito sem sua participação. A essa altura, a guerra comercial de Donald Trump é o menor dos problemas dos europeus. 

GPS DA ECONOMIA

18 de Fevereiro de 2025
POLÍTICA E PODER -Rosane de Oliveira

O que o governo estadual fará para melhorar a educação

O que o governo gaúcho vai fazer nos dois anos que restam do mandato de Eduardo Leite para levantar a régua da educação? Essa pergunta, que tem sido repetida pelos deputados aliados e por interessados em melhorar a qualidade do ensino, será respondida hoje, a partir das 14h, em um evento na Casa da Ospa, com a presença de representantes de instituições que vêm ajudando o Rio Grande do Sul a se recuperar depois da enchente.

A secretária da Educação, Raquel Teixeira, confirmada por Leite no secretariado, está envolvida na organização do encontro, que terá entre os convidados especiais a presidente do Todos pela Educação, Priscila Cruz, e o superintendente executivo do Instituto Unibanco, Ricardo Henriques.

- Quando tivemos a enchente, muitas instituições se ofereceram para ajudar, não só com medidas emergenciais, mas com a construção de um projeto de futuro, que precisa de continuidade - disse Raquel à coluna.

Raquel quer mostrar que, depois de um longo período de diagnóstico, o Estado está pronto para dar o salto necessário na educação, representado pelo Ideb:

O que estamos fazendo é um convite para que a sociedade gaúcha se engaje nesse esforço e se veja representada nos programas e propostas que elaboramos para reduzir a evasão, melhorar o nível de aprendizagem e envolver o professor nesse processo de mudança.

A secretária cita programas como o Professor do Amanhã, o Todo Jovem na Escola, o processo seletivo para diretores de escolas, o Ensino Médio de tempo integral e a reforma dos colégios, entre as medidas que serão detalhadas hoje.

Voluntário de luxo

Para ajudar Raquel, que vem sendo muito cobrada pelos aliados de Leite, o ex-secretário da Fazenda Aod Cunha atuará como voluntário na tarefa de melhorar a qualidade da educação. No fim de semana, Aod se reuniu com Raquel e com diretores da Seduc para entender melhor todas as frentes, novas e antigas, abertas para garantir que os investimentos se materializem no resultado do próximo Ideb. _

Bier pede apoio a Fachin para que Sul tenha fundo constitucional

Disposto a bater em todas as portas possíveis em busca de apoio à criação de um fundo constitucional para o desenvolvimento da Região Sul, o presidente da Federação das Indústrias (Fiergs), Claudio Bier, teve audiência ontem com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin.

Bier foi ao gabinete do ministro com o presidente da Federação das Indústrias do Paraná, Edson Vasconcelos. O encontro durou uma hora e meia.

De acordo com Bier, Fachin disse que considera justo o pleito dos Estados do Sul, mas a criação de um fundo para o desenvolvimento da região não depende dele. Garantiu que apoiará naquilo que estiver ao seu alcance.

Em 2024, pelos cálculos da Fiergs, as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste receberam R$ 54 bilhões dos fundos. O Sudeste não tem, mas é a região que mais recebe royalties. _

TAP formaliza retomada do voo Porto Alegre-Lisboa

Na viagem que fará a Portugal em março, o secretário estadual do Turismo, Ronaldo Santini, representará o governo gaúcho nas comemorações dos 80 anos da TAP.

Santini, que vai a Portugal para participar da BTL, uma das maiores feiras de turismo do mundo, acompanhará o lançamento oficial da retomada do voo direto entre Porto Alegre e Lisboa. Interrompidos desde a enchente de maio, os voos recomeçam no dia 1º de abril.

O CEO da TAP, Luís Rodrigues, viajará no primeiro voo Lisboa-Porto Alegre. Oito jornalistas portugueses foram convidados a conhecer as principais regiões turísticas do Estado. _

Morre a esposa de Celso Bernardi

Morreu ontem, aos 81 anos, a professora Marlene Gressler Bernardi, esposa do presidente de honra do PP gaúcho, Celso Bernardi. Internada desde o final de 2024, mas cuidando de problemas de saúde no hospital há pelo menos um ano e meio, Marlene foi acometida por uma doença arterial obstrutiva em uma das pernas.

Natural de Ijuí, Marlene dedicou a vida às suas duas paixões: a educação e o marido. Começou a lecionar em Santo Ângelo, onde também foi coordenadora da 24ª Região de Educação.

A cerimônia de despedida será realizada entre as 9h e as 12h, no Crematório Metropolitano. Além do marido, ela deixa os filhos Fábio e Carina, os netos Vitória, Nina e Santiago, e a mãe, Íris, de 101 anos. 

Edegar Pretto diz que deseja disputar o Piratini

Pelo menos duas das vagas a candidatos majoritários devem ser preenchidas por consenso no PT - e as demais oferecidas a partidos aliados.

O presidente da Companhia Nacional de Abastecimento, Edegar Pretto, deverá ser candidato ao governo do Estado. Paulo Pimenta, que chegou a ser cotado para o Piratini, deve concorrer ao Senado, como era seu plano original. _

MIRANTE

O governador Eduardo Leite embarca hoje à noite para uma semana de agendas na Europa. Começa na quinta-feira, em feira de tecnologia na Suécia.

Na sexta, Leite começa excursão com o prefeito Sebastião Melo pela Holanda, onde ficam por uma semana para conhecer estudos e projetos relacionados à proteção contra cheias e resiliência climática.

A Assembleia Legislativa vota hoje o projeto que reajusta em 6,27% o piso do magistério.

POLÍTICA E PODER

18 de Fevereiro de 2025
INTERNACIONAL

Líderes europeus defendem elevação de gastos com defesa

Aproximação entre EUA e Rússia chamou atenção dos líderes. UE quer participar das negociações sobre a Ucrânia e teme pela própria segurança

Após encontro ontem, em Paris, líderes da União Europeia (UE) afirmaram que o continente terá de elevar o gasto militar em razão de ameaça expansionista da Rússia. A reunião de emergência foi convocada pelo presidente da França, Emmanuel Macron, na qual avaliaram a política dos EUA sobre a guerra na Ucrânia e a busca por resposta comum para a segurança da região. Há preocupação com possível acordo entre Washington e Moscou sem a participação da Ucrânia e dos países europeus.

- A Rússia representa um perigo para toda a Europa neste momento - disse a primeira-ministra da Dinamarca, Mette Frederiksen, segundo o g1.

Donald Tusk, premier da Polônia, defendeu aumento de gastos em defesa e ação de garantia de paz na Ucrânia com a chancela da Otan, principal aliança militar ocidental. O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, defendeu um compromisso de segurança dos Estados Unidos para viabilizar o envio de forças de paz à Ucrânia após um eventual fim da guerra. No entanto, ele destacou que ainda é cedo para determinar quantos soldados britânicos poderiam ser mobilizados.

Tanto a Ucrânia quanto os países europeus temem ser excluídos das negociações para encerrar o conflito. A Rússia invadiu o país no Leste Europeu em fevereiro de 2022.

Sinais

A desconfiança começou após o presidente dos EUA, Donald Trump, ter revelado que conversou por uma hora e meia com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, sobre a guerra da Ucrânia.

No mesmo dia, o secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, declarou ser improvável que Kiev consiga recuperar todos os territórios que controlava antes da anexação da Crimeia pela Rússia, em 2014. No domingo, o vice-presidente dos EUA, JD Vance, disse em conferência sobre segurança em Munique, na Alemanha, que a maior ameaça à Europa não é Moscou, mas o "afastamento dos valores democráticos", deixando boa parte da plateia incrédula.

Na quinta-feira, Trump assegurou que o governo ucraniano teria "um lugar à mesa" nas negociações para o fim do conflito. Na sexta-feira, estava prevista uma reunião entre autoridades dos Estados Unidos, da Ucrânia e da Rússia na Alemanha, mas Kiev se recusou a dialogar diretamente com os russos antes de estabelecer um plano conjunto com seus aliados europeus.

Ontem, após a reunião de emergência, o chanceler alemão, Olaf Scholz, destacou que não há possibilidade de acordo de paz sem a participação de Kiev ou de a Ucrânia "aceitar tudo o que lhe fosse apresentado sob quaisquer condições", ou uma "paz ditada" por Washington e Moscou, segundo o jornal O Globo. Ele afirmou que a União Europeia continuará a apoiar a Ucrânia.

O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, advertiu que a Ucrânia "não reconhecerá" nenhum acordo sobre seu futuro que seja negociado sem a sua participação.

Relações

As principais autoridades diplomáticas da Rússia e dos Estados Unidos se reunirão hoje na Arábia Saudita. Washington enviou seu secretário de Estado, Marco Rubio, enquanto Moscou encaminhou dois negociadores experientes: o chanceler Serguei Lavrov e o conselheiro diplomático do Kremlin, Yuri Ushakov.

Os EUA veem a reunião como continuação da conversa telefônica entre Putin e Trump, informou o Departamento de Estado dos EUA. Segundo o porta-voz da presidência russa, Dmitry Peskov, o encontro "será dedicado principalmente a restabelecer o conjunto das relações russo-americanas". 



18 de Fevereiro de 2025
INFORME ESPECIAL - Rodrigo Lopes

O que Leite e Melo conhecerão na Holanda

Muito do que o governo do Estado e a prefeitura de Porto Alegre irão conhecer na Holanda, a partir do final desta semana, foi antecipado pelas reportagens que mostramos, nos veículos do Grupo RBS, em junho do ano passado, quando viajei para o país europeu no momento em que o Rio Grande do Sul esticava o pescoço para sair de seus dias mais tenebrosos das enchentes de 2024.

O governador Eduardo Leite e o prefeito Sebastião Melo verão, de perto, projetos como o Deltariver (o sistema de proteção no delta do Reno em relação ao mar), o Room for the River (que abriu áreas para que os rios pudessem avançar sobre terras alagáveis sem provocar impactos na população) e o Zandmortor (que ampliou, de forma artificial, a faixa de areia da praia para reter o avanço das águas sobre a costa).

Algumas das iniciativas do Plano Rio Grande foram inspiradas no modelo holandês, entre elas o projeto RioS (Resiliência, Inovação e Obras para o Futuro do Rio Grande do Sul), concebido por meio de acordo de cooperação técnica entre BNDES e o Estado para uma estratégia na Região Hidrográfica do Guaíba.

Engenharia de ponta

Na Holanda, Leite e Melo irão perceber, de cara, que as obras de engenharia são o que há de mais visível em termos de proteção contra cheias: por onde se anda, há sistemas de defesa. Muitas vezes, você está em uma autoestrada e nem sabe que dirige o veículo em uma pista sobre um dique. Também perceberão que prevenção e segurança são palavras impregnadas na cultura do povo.

Mas, de tudo o que as autoridades gaúchas conhecerão, o mais importante será aquilo que não se enxerga a olho nu: o processo de gestão integrada, multiagências - por isso, é bom que Estado e prefeitura viajem juntos.

A Holanda aprendeu com tragédias a respeitar a natureza. Não a controlá-la. Os holandeses também só chegaram a tal nível de excelência porque souberam despolitizar o tema da prevenção contra cheias. Estamos falando de mudança de cultura. _

Por enquanto, é pouco provável que Milei sofra impeachment

Enfim, a oposição argentina tem um fio de novelo para puxar a fim de tentar construir uma narrativa com potencial de fustigar Javier Milei.

A rocambolesca história do post do presidente, na sexta-feira, apoiando uma até então desconhecida criptomoeda, a $LIBRA, provoca o primeiro escândalo político-financeiro-digital, com respingos sérios sobre a Casa Rosada, mas dificilmente o terremoto levará a um processo de impeachment - mesmo em um país onde os presidentes não costumam durar no Sillón de Rivadavia.

O kirchnerismo se armou para tentar emplacar os votos necessários para instaurar o processo no Congresso. Para que o impeachment seja aberto, são necessários 129 votos do total de 257 parlamentares na Câmara.

Milei não tem maioria. Mas a oposição também não. Para levar o processo adiante, os adversários precisariam se unir - o que é difícil no atual momento político argentino. Falo de uma união não apenas entre as diferentes facções peronistas, mas, principalmente, entre os demais partidos adversários do governo, como a União Cívica Radical (UCR).

Digamos que fosse instaurado, ainda assim não seria fácil desbancar o presidente.

O Senado atua como tribunal. Para afastar o presidente, são necessários dois terços dos votos - 48 do total de 72 senadores. Na Câmara Alta, o cenário é também um mosaico.

Na Argentina, no entanto, tudo pode mudar em horas. Por isso, muitos políticos estão cautelosos. O fato de o ex-presidente Mauricio Macri (PRO) ter reagido com críticas a Milei animou os kirchneristas. Ontem, no entanto, ele recuou, dando mostras de que pretende esperar o resultado da investigação interna do governo - apuração que deve isentar Milei.

Essa parece ser a estreia de uma longa série de streaming, que, nos próximos dias, ganhará novos capítulos. _

"Temos fé de que o Papa irá voltar para casa"

Intramuros no Vaticano, o clima é de preocupação a cada boletim médico lançado pela Policlínica Gemelli, onde o papa Francisco, 88 anos, está hospitalizado. A situação não é grave, mas é delicada, principalmente em se tratando da idade do Pontífice.

20 anos do Protocolo de Kyoto

Há 20 anos, em 16 de fevereiro de 2005, entrava em vigor um dos primeiros e principais tratados internacionais com metas para a redução de gases de efeito estufa: o Protocolo de Kyoto.

O texto foi assinado em 1997 durante a COP3 - a terceira conferência mundial do clima da ONU, ocorrida no Japão.

Entre os objetivos estava a determinação de que países industrializados deveriam reduzir emissões de gases de efeito estufa em uma média de 5,2% em relação aos níveis de 1990.

Na época, os EUA, um dos maiores emissores, não ratificaram o protocolo. Embora o Brasil, como nação em desenvolvimento, não fosse obrigado a reduzir emissões, o país se comprometeu em adotar medidas para limitar o desmatamento e mitigar as mudanças.

O Protocolo de Kyoto foi sucedido pelo Acordo de Paris em 2015, ampliando o compromisso para todos os países, com metas mais ambiciosas. _

Erasmo Battistella é eleito presidente da Câmara de Comércio Italiana

Em assembleia extraordinária, realizada ontem, em Porto Alegre, o empresário Erasmo Battistella foi aclamado presidente da Câmara de Comércio Italiana do Rio Grande do Sul pelos próximos três anos.

Presidente da Be8, empresa com sede em Passo Fundo e referência na produção de biodiesel, Battistella terá como vices Neco Argenta, da Rede de Postos Sim, e Gelson Castellan, da Florense Móveis.

Criada em 1959, a Câmara de Comércio estava com os trabalhos interrompidos desde janeiro de 2024. A entidade tem como objetivo incentivar as relações comerciais bilaterais, auxiliando empreendedores italianos interessados em investir no Estado e prestando consultoria a empresários gaúchos que almejam ingressar no mercado da Itália.

Nos próximos três meses, a Câmara vai realizar um trabalho de reorganização da estrutura interna da entidade para a retomada dos trabalhos, com foco na atração de novos associados.

A posse da nova diretoria está prevista para maio, durante as comemorações dos 150 anos da imigração italiana no Estado. 

INFORME ESPECIAL