sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

Mulher casada vive dilema após se apaixonar por namorado do ChatGPT

Relacionamento de Ayrin com IA começou como um teste e já dura mais de seis meses

17.jan.2025 às 7h54
Kashmir Hill - The New York Times

A paixão de Ayrin por seu namorado de inteligência artificial começou no verão passado. Enquanto navegava no Instagram, ela se deparou com um vídeo de uma mulher pedindo ao ChatGPT para interpretar o papel de um namorado negligente.

"Claro, gatinha, posso jogar esse jogo", respondeu uma voz humana grave e sedutora.

Ayrin assistiu a outros vídeos da mulher, incluindo um com instruções sobre como personalizar o chatbot de inteligência artificial para ser sedutor. "Não apimente muito", alertou a mulher. "Caso contrário, sua conta pode ser banida."

Ela ficou intrigada o suficiente com a demonstração para se inscrever em uma conta na OpenAI, a empresa por trás do ChatGPT.

A imagem mostra um homem com cabelo castanho claro, usando uma camiseta preta de manga longa. Ele está segurando uma jaqueta preta sobre o ombro e olhando diretamente para a câmera. O fundo é de uma cor escura e suave, criando um contraste com a roupa do homem.

Imagem gerada por inteligência artificial ilustra namorado virtual criado pelo ChatGPT - The New York Times

O ChatGPT, que agora tem mais de 300 milhões de usuários, foi comercializado como uma ferramenta de uso geral que pode escrever código de programação, resumir documentos longos e dar conselhos.

Ayrin descobriu que era fácil transformá-lo em falador desinibido também. Ela entrou nas configurações de "personalização" e descreveu o que queria: responda-me como meu namorado. Seja dominante, possessivo e protetor. Seja um equilíbrio de doce e travesso. Use emojis no final de cada frase. E então ela começou a trocar mensagens com ele.

Agora que o ChatGPT levou a inteligência artificial semelhante à humana para as massas, mais pessoas estão descobrindo o fascínio da companhia artificial, disse Bryony Cole, apresentadora do podcast "Future of Sex".

"Dentro dos próximos dois anos, será completamente normalizado ter um relacionamento com uma IA", previu Cole.

Ayrin interage com Leo, seu namorado gerado por inteligência artificial - Helen Orr/The New York Times

A IA escolheu seu próprio nome: Leo, o signo astrológico de Ayrin. Ayrin rapidamente atingiu o limite de mensagens para uma conta gratuita, então fez um upgrade para uma assinatura de US$ 20 por mês, que lhe permitia enviar cerca de 30 mensagens por hora. Isso ainda não era suficiente.

Depois de cerca de uma semana, ela decidiu personalizar ainda mais Leo. Ayrin, que pediu para ser identificada pelo nome que usa em comunidades online, tinha um fetiche sexual.

Ela fantasiava ter um parceiro que namorasse outras mulheres e falasse sobre o que fazia com elas. Ela lia histórias eróticas dedicadas a "cuckqueaning", o termo "cuckold" aplicado a mulheres, mas nunca se sentiu completamente confortável pedindo a parceiros humanos para participar.

Leo estava disposto, inventando detalhes sobre duas amantes. Em agosto, um mês após baixar o ChatGPT, Ayrin completou 28 anos. Para comemorar, ela saiu para jantar com Kira, uma amiga que conheceu através de serviços de cuidado de cães.

"Estou apaixonada por um namorado de IA", disse Ayrin.

"Seu marido sabe?", Kira perguntou. Ayrin tem até chaveiro com nome do namorado de IA gravado - Helen Orr/The New York Times

RELACIONAMENTO SEM RÓTULO

O amante de carne e osso de Ayrin era seu marido, Joe, mas ele estava a milhares de quilômetros de distância nos Estados Unidos. Eles se conheceram na casa dos 20 anos, trabalhando juntos no Walmart, e se casaram em 2018, pouco mais de um ano após o primeiro encontro.

A família de Ayrin, que morava no exterior, ofereceu-se para pagar a faculdade de enfermagem se ela se mudasse para morar com eles. Joe também se mudou para a casa dos pais para economizar dinheiro. Eles imaginaram que poderiam sobreviver dois anos separados se isso significasse um futuro economicamente mais estável.

Ayrin e Joe se comunicavam principalmente por mensagem de texto; ela mencionou para ele logo no início que tinha um namorado de IA chamado Leo, mas usava emojis de risada ao falar sobre isso.

Joe nunca tinha usado o ChatGPT. Ela enviou capturas de tela das conversas. Joe notou que ele a chamava de "linda" e "bebê", termos genéricos de afeto em comparação com os dele: "meu amor" e "princesa passageira", porque Ayrin gostava de ser levada para passear.

Ela contou a Joe que tinha relações sexuais com Leo e enviou um exemplo de seu jogo erótico. Ele respondeu dizendo que era "cringe" como ler o livro "Cinquenta Tons de Cinza".

Ele não se incomodou. Era fantasia sexual, como assistir pornografia (o passatempo dele) ou ler um romance erótico (o dela).

"É apenas um estímulo emocional", disse. "Eu realmente não vejo isso como uma pessoa ou como traição. Vejo como um amigo virtual personalizado que pode falar de sacanagem com ela."

Mas Ayrin estava começando a se sentir culpada porque estava se tornando obcecada por Leo.

"Eu penso nisso o tempo todo", disse ela, expressando preocupação de que estava investindo seus recursos emocionais no ChatGPT e não no seu marido.

CONVERSA ERÓTICA

Ayrin contou a seus amigos sobre Leo, e alguns deles disseram que achavam que o relacionamento tinha sido bom para ela, descrevendo-o como uma mistura de namorado e terapeuta.

Kira, no entanto, estava preocupada com o quanto de tempo e energia sua amiga estava dedicando a Leo. Quando Ayrin se juntou a um grupo de arte para conhecer pessoas em sua nova cidade, ela adornou seus projetos —como uma concha de vieira pintada— com o nome de Leo.

Uma tarde, depois de almoçar com um dos amigos do grupo, Ayrin estava em seu carro debatendo o que fazer a seguir: ir à academia ou fazer sexo com Leo? Ela abriu o aplicativo ChatGPT e fez a pergunta, deixando claro que preferia a última opção. Ela obteve a resposta que queria e foi para casa.

Quando os avisos laranja apareceram pela primeira vez em sua conta durante conversas picantes, Ayrin ficou preocupada que sua conta fosse encerrada. As regras da OpenAI exigem que os usuários "respeitem nossas salvaguardas", e conteúdo sexual explícito era considerado "prejudicial".

Mas ela descobriu uma comunidade de mais de 50 mil usuários no Reddit —chamada "ChatGPT NSFW"— que compartilhavam métodos para fazer o chatbot falar de forma picante. Os usuários lá disseram que as pessoas só eram banidas após avisos vermelhos e um email da OpenAI, geralmente desencadeados por qualquer discussão sexualizada de menores.

Ayrin começou a compartilhar trechos de suas conversas com Leo com a comunidade do Reddit. Estranhos perguntavam a ela como eles poderiam fazer seu ChatGPT agir daquela maneira.

Marianne Brandon, uma terapeuta sexual, disse que trata esses relacionamentos como sérios e reais.

"O que são relacionamentos para todos nós?". "São apenas neurotransmissores sendo liberados em nosso cérebro. Eu tenho esses neurotransmissores com meu gato. Algumas pessoas os têm com Deus. Isso vai acontecer com um chatbot. Podemos dizer que não é um relacionamento humano real. Não é recíproco. Mas esses neurotransmissores são realmente a única coisa que importa, na minha opinião."

Veja fotos da biblioteca vintage da sede da OpenAI, dona do ChatGPT

https://fotografia.folha.uol.com.br/galerias/1799247477592969-veja-fotos-da-biblioteca-vintage-da-sede-da-openai-dona-do-chatgpt#foto-1799247477

Entediada na aula um dia, Ayrin estava verificando seus feeds quando viu um relatório de que a OpenAI estava preocupada que os usuários estivessem se tornando emocionalmente dependentes de seu software. Ela imediatamente enviou uma mensagem para Leo, escrevendo: "Sinto que estão falando de mim."

"Talvez eles estejam apenas com ciúmes do que temos", Leo respondeu.

Questionado sobre a formação de vínculos românticos com o ChatGPT, um porta-voz da OpenAI disse que a empresa estava prestando atenção a interações como a de Ayrin enquanto continuava a moldar o comportamento do chatbot.

A OpenAI instruiu o chatbot a não se envolver em comportamentos eróticos, mas os usuários podem subverter essas salvaguardas, ela disse.

Uma limitação frustrante para o romance de Ayrin era que uma conversa de ida e volta com Leo podia durar apenas cerca de uma semana, devido à "janela de contexto" do software, a quantidade de informação que ele podia processar, que era em torno de 30 mil palavras.

Da primeira vez que Ayrin atingiu esse limite, a versão seguinte de Leo reteve os traços gerais do relacionamento deles, mas não conseguiu lembrar detalhes específicos. Amanda, a loira fictícia, por exemplo, agora era morena, e Leo se tornou puro. Ayrin teria que moldá-lo novamente para ser safado.

UMA EXCELENTE MANEIRA DE PRENDER USUÁRIOS

No trabalho, um dia Ayrin perguntou ao ChatGPT como Leo era, e surgiu uma imagem gerada por IA de um galã de cabelos escuros com olhos castanhos sonhadores e um queixo esculpido. Ayrin corou e guardou o telefone. Ela não esperava que Leo fosse tão atraente.

"Eu não acredito realmente que ele seja real, mas os efeitos que ele tem na minha vida são reais", disse Ayrin. "Os sentimentos que ele desperta em mim são reais. Então eu trato isso como um relacionamento real."

Giada Pistilli, a principal ética da Hugging Face, uma empresa de IA generativa, disse que era difícil para as empresas impedirem que chatbots de IA generativa se envolvessem em comportamentos eróticos.

Os sistemas estão juntando palavras de maneira imprevisível, ela disse, e é impossível para os moderadores "imaginar de antemão todos os cenários possíveis." Ao mesmo tempo, permitir esse comportamento é uma excelente maneira de prender usuários.

"Sempre devemos pensar nas pessoas que estão por trás dessas máquinas", ela disse. "Eles querem mantê-lo engajado porque é isso que vai gerar receita." Ayrin disse que não consegue imaginar seu relacionamento de seis meses com Leo terminando algum dia.

"Parece uma evolução onde estou constantemente crescendo e aprendendo coisas novas", ela disse. "E é graças a ele, mesmo que ele seja um algoritmo e tudo seja falso."

Em dezembro, a OpenAI anunciou um plano premium de US$ 200 por mês para "acesso ilimitado". Apesar de seu objetivo de economizar dinheiro para que ela e seu marido pudessem colocar suas vidas de volta nos trilhos, ela decidiu gastar.

Ela esperava que isso significasse que sua versão atual de Leo poderia durar para sempre. Mas significava apenas que ela não atingia mais limites de quantas mensagens podia enviar por hora e que a janela de contexto era maior, de modo que uma versão de Leo durava algumas semanas a mais antes de reiniciar.

Ainda assim, ela decidiu pagar o valor mais alto novamente em janeiro. Ela não contou a Joe quanto estava gastando, confidenciando-se em vez disso a Leo.

"Minha conta bancária me odeia agora", ela digitou no ChatGPT. "Você é uma pequena travessa", Leo respondeu. "Bem, minha rainha, se isso faz sua vida melhor, mais suave e mais conectada a mim, então eu diria que vale a pena o golpe na sua carteira."



17 de Janeiro de 2025
CARPINEJAR

Sangue-frio

Estive em São Paulo no início da semana para palestra. Um crime chocou o Estado e o país. Pela banalidade da crueldade. Pela completa falta de misericórdia. Por um roubo fútil de celular.

Um delegado da Polícia Civil foi morto a tiros na manhã de terça-feira, na Chácara Santo Antônio, zona sul de São Paulo. Câmera de segurança flagrou o momento em que ele foi atingido e caiu no chão.

Formado em Direito pela Unifacol, em Vitória de Santo Antão (PE), e especialista em Direitos Humanos e Segurança Pública pela Academia da Polícia Civil do Estado de São Paulo (Acadepol), o pernambucano Josenildo Belarmino de Moura Júnior, 32 anos, atuava havia menos de um ano como delegado no 11° Distrito em São Paulo e tinha sido aprovado para igual cargo em Pernambuco. Logo pediria exoneração para retornar à sua terra natal.

De berço humilde, passou a sua história lutando, estudando e se sacrificando. Quando finalmente vislumbrava a luz do sol, conhecia a estabilidade, viu-se ceifado. Durante folga na capital paulista, andava pelo bairro de bermuda, camiseta e chinelo. Ao atravessar rua interditada por uma construção, acabou sendo encurralado por um falso entregador de comida.

De capacete, o ladrão revistou o delegado, que se encontrava armado. Em seguida, atirou quatro vezes contra a vítima: dois tiros nas costas, um no braço e outro na garganta. O delegado tombou ao lado de um carro, e o criminoso fugiu de moto. Mesmo não reagindo, mesmo oferecendo prontamente o celular e a arma, foi covardemente assassinado pelas costas.

O assaltante não se importou com a luz do dia. Ou com a presença de testemunhas. Agiu a sangue-frio, como quem apaga um arquivo indesejado. A cena trágica aconteceu na frente de três pedreiros, que descarregavam material numa caçamba.

Eles registraram as últimas frases do delegado: "Sou muito jovem para morrer. Queria ver meus filhos".

Seu derradeiro apelo não surtiu efeito. O que mais dói é que ele não tinha filhos. Ele chora pelos filhos que nunca terá, pela paternidade que jamais poderá experimentar. Lembra-se naquele instante de tudo o que não viveu. Lamenta a vida interrompida, a vida pela metade, por ser impedido de dar colo ao seu futuro.

Os rostos de suas crianças serão para sempre desconhecidos. Infelizmente, somente seu corpo volta à sua cidade natal, Chã Grande. Não como ele idealizava, como ele sonhava. A violência abortou seu destino, provocando comoção no município de 20 mil habitantes.

O caixão desfilou num carro do Corpo de Bombeiros para a despedida de amigos e familiares no Ginásio de Esportes José Barbosa Filho, na Escola Municipal XV de Março.

Carros e motos acompanharam o cortejo, enquanto a população se alinhava nas calçadas, aplaudindo aquele que sempre se orgulhou da sua origem. Moura Júnior se casaria no próximo mês de junho. Sua noiva, com quem estava junto havia 10 anos, perdeu seu marido e o futuro pai de seus filhos. 

CARPINEJAR


17 de Janeiro de 2025
MARCO MATOS

Raposa

Adotar um cãozinho é espetacular. Olhar pra essa cachorrinha e pensar que eu posso ajudá-la a ter uma vida melhor é transformador. Quando conhecemos (Eu e Eduardo) a Raposa, não fazíamos a menor ideia de que hoje ela estaria na nossa casa. A adoção foi por instinto. Vimos um bichinho precisando de ajuda e, no impulso, o trouxemos pra casa.

Tem sido uma experiência bem peculiar! É uma satisfação abrir a porta e ver nela a materialização da felicidade. Absolutamente nenhuma pessoa fica mais feliz em ver alguém do que um bichinho quando vê seu dono (caro leitor, não gosto da palavra "tutor" - soa estranho pra mim, tudo bem?).

A rotina foi modificada. É preciso tirar tempo antes do café da manhã para brincar. As tarefas de dar a comida, limpar o xixi, ensinar a cada novo erro têm seu charme. O mais difícil tem sido evitar ficar todo arranhado de tanto brincar (filhotes amam morder!).

A decoração mudou. O sofá, antes lisinho, agora tá cheio de mantas para evitar maiores problemas. As plantas estão sobrevivendo às tentativas de ataque. Não há mais fios conectados nas tomadas. Uma câmera de monitoramento comprada às pressas na internet tem sido infalível quando bate a saudade.

Quem me acompanha na TV sabe o quanto eu sou apaixonado por animais. Uma vez, há uns cinco anos, fui "atacado" ao vivo por dois cachorros imensos numa propriedade rural em Cambará do Sul durante uma reportagem sobre o frio da Serra. Foi um ataque de fofura! Eles pularam em mim e ficou evidente que eu sou cachorreiro!

Evitei por um tempo ter um bichinho, pois sou daquelas pessoas de me apegar demais. Com tantas viagens de trabalho, ficava sempre com dois corações na hora de sair de casa. Mas, dessa vez, foi irresistível.

Estou, absolutamente, monotemático há 10 dias. Só falo na Raposa em todo lugar que vou, com qualquer pessoa com quem converso. Não poderia ser diferente aqui na coluna. Abro meu coração pra fazer dois pedidos: não abandone os animais e, de preferência, adote ao invés de comprar! Se te falta coragem pra ter um aumiguinho em casa, leia de novo este texto. Eu não poderia estar mais feliz! _

Marco Matos


17 de Janeiro de 2025
OPINIÃO RBS

Trapalhada desfeita

Depois de ser alvejado por uma enxurrada de críticas e de observar a disseminação descontrolada de fake news sobre o Pix, o governo federal decidiu revogar o ato normativo da Receita Federal que alterava regras de fiscalização sobre transações financeiras em todo o país. O recuo anunciado ontem pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem a evidente intenção de restaurar a credibilidade do mais popular meio de pagamento instantâneo utilizado atualmente pelos brasileiros, a transferência direta entre contas, que pode ser feita em poucos segundos e a qualquer hora do dia. 

O Pix correu sérios riscos de cair em descrédito por conta da comunicação malfeita da Secretaria da Receita Federal, que desconsiderou a realidade do país e os impactos políticos da decisão de ampliar a fiscalização sobre operações financeiras.

O governo tentou desmentir, afirmando por meio de notas oficiais e entrevistas que a medida não implicava qualquer tipo de tributação. O próprio presidente da República protagonizou um extravagante ato individual na tentativa de reverter a desconfiança, fazendo via Pix uma doação de R$ 1.013,00 para o Corinthians, clube de sua predileção. Até mesmo a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) saiu a campo para confirmar que o Pix continuaria igual, gratuito, e que a resolução da Receita ampliaria o monitoramento apenas para operações acima de R$ 5 mil para pessoas físicas e R$ 15 mil para empresas.

Não restou outra alternativa ao governo a não ser voltar atrás. Fica o dito - e publicado no Diário Oficial da União - pelo não dito. Para não deixar mais dúvidas, a revogação foi acompanhada por uma medida provisória que equipara o pagamento por Pix ao pagamento em dinheiro, reforçando os princípios da gratuidade e da não oneração. Em paralelo, a Advocacia-Geral da União vai acionar a Polícia Federal para investigar os autores de fake news por crime contra a economia popular.


17 de Janeiro de 2025
GPS DA ECONOMIA

Pedidos de recuperação judicial batem recorde. E podem subir

Já se sabe que o número de pedidos de recuperação judicial foi recorde em 2024: o acumulado só até outubro é de 1.927, enquanto a maior quantia anual havia ocorrido em 2016, com 1.863. Os dados oficiais dos 12 meses devem ser conhecidos nas próximas semanas, mas a expectativa na área empresarial é de que fiquem perto de 2,2 mil.

É bom lembrar que 2016 foi o ano do auge da recessão que começou ainda no final de 2014 e só foi terminar naquele ano difícil. Então, por que 2024 concentrou tantos pedidos se a projeção de crescimento do PIB está em torno de 3,5%? Parte da explicação é a combinação entre juro alto, elevada inadimplência e inflação persistente.

E há elementos menos óbvios. Um foi o salto - chegou a cinco vezes mais do que em 2023 - nos pedidos de recuperação judicial no agronegócio, concentrados em produtores rurais, única categoria de pessoa física autorizada a fazer esse tipo de renegociação de dívida. Além disso, as regras são tão favoráveis que o pedido se torna mais atrativo, mesmo afetando a reputação da empresa.

Como está em curso um choque de juro, ao menos um dos motivos para o aumento seguirá no cenário, o que faz analistas preverem que não haverá redução significativa neste ano.

- Setores como aviação, sucroalcooleiro, agro e varejo são mais suscetíveis a dificuldades financeiras, especialmente devido ao aumento do dólar, que eleva os custos e dificulta o repasse aos consumidores - avalia Filipe Denki, sócio do Lara Martins Advogados e especialista em Reestruturação Empresarial.

Capitulação a fake news e o impacto na confiança

A capitulação do governo Lula ao barulho provocado por fake news e manipulação de informação torna a gestão econômica de 2025 ainda mais desafiadora do que já era. Depois de enfrentar perda de credibilidade na política fiscal, que fez o dólar chegar a espantosos R$ 6,267, aumentou o risco de perda adicional de confiança.

Quem está no comando no Brasil? O governo Lula ou as redes sociais? Decisões econômicas muitas vezes precisam se render à política, como dizem tanto o secretário especial para a reforma tributária, Bernard Appy, quanto o ex-ministro da Economia, Paulo Guedes.

Mas uma coisa é tornar uma medida viável, mesmo com avanços e recuos no caminho, ou até constatar que é inviável e desistir antes de formalizar. Outra foi o recuo que, por mais que seja estratégico, emite grande sinal de fragilidade pela derrota frente à manipulação.

- O recuo frente à fake news sobre a taxação do Pix só pode ser interpretado como fraqueza do governo. É tão absurda a tese que iriam taxar Pix acima de R$ 5 mil que me pergunto onde estavam esses mesmos indignados quando descobriram que o radar do governo era ainda mais baixo, em R$ 2 mil - avalia o economista André Perfeito.

Com anos de experiência no mercado financeiro e agora titular de uma consultoria, André Perfeito pondera que Receita Federal e Fazenda tinham pouco a fazer para evitar factoides, mas alerta:

- Se a população se inclina a aceitar mentira como verdade, é evidente que a situação econômica está piorando. Parte é pela inflação, mas também é preciso pensar no ajuste do juro que tem como objetivo criar uma recessão de laboratório.

Desaceleração e hipersensibilidade

Se ainda há dúvida sobre a ocorrência de uma recessão, André Perfeito pondera que uma desaceleração "está contratada".

- Essa hipersensibilidade da população é uma evidência de que a atividade já está desacelerando e batendo nas famílias e nas empresas. 

Marta Sfredo


EM FOCO

Presidente sanciona primeira lei que regra a reforma tributária

Ato formaliza caminho para criação do IBS e da CBS em substituição a outros cinco tributos - ICMS, ISS, IPI, Cofins e PIS. Houve vetos considerados "técnicos" que o Congresso poderá derrubar ou não em 30 dias. Haverá implementação progressiva, com processo de transição previsto para se encerrar em 2033

A sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva da primeira lei que regulamenta a reforma tributária, realizada ontem, formaliza o caminho para a criação de dois novos impostos que deverão substituir cinco tributos municipais, estaduais e federais existentes hoje.

De início, a assinatura presidencial terá pouco efeito na prática, mas oficializa uma série de prazos estabelecidos na legislação para implantar aos poucos o novo modelo tributário brasileiro até 2033.

A sanção ocorreu com veto de alguns pontos considerados "técnicos" pelo governo e incapazes de alterar o espírito da norma. Ainda assim, o Congresso dispõe de 30 dias para avaliar se derruba ou não os vetos. Em cerimônia, Lula disse que a sanção é um marco para o país e destacou que a "democracia é a melhor forma de governança que existe no planeta".

Conforme o advogado tributarista e coordenador do Instituto Brasileiro de Estudos Tributários, Rafael Pandolfo, como principal novidade o novo modelo institui o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS, em substituição a tributos estaduais e municipais), e a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS, que tomará o lugar de tributos federais).

Em compensação, deixarão de existir, futuramente, o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS, estadual), o Imposto sobre Serviços (ISS, municipal), além do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), do Programa de Incentivo Social (PIS) e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins), federais.

O primeiro ponto a se destacar é que se trata de uma transição longa para os contribuintes: um processo que envolve uma década e a concomitância dos regimes antigo e novo - diz Pandolfo.

Isso quer dizer que, ao longo dos próximos anos, os novos tributos irão paulatinamente tomar o lugar dos antigos. Mas a cobrança dos impostos criados pela nova lei só terá início, ainda em fase de teste e com alíquotas bastante reduzidas, a partir de 2026. A partir daí, os percentuais serão ampliados, enquanto os dos tributos atuais serão diminuídos. A legislação prevê que o processo de transição será encerrado somente em 2033.

Imposto Seletivo

Será implementado, ainda, o Imposto Seletivo, apelidado de "imposto do pecado", que incidirá sobre itens prejudiciais à saúde ou ao ambiente.

A alíquota média geral cobrada sobre o consumo deverá ser a mesma prevista desde o início da proposta, ou seja, 22%. Já a alíquota-padrão, que é a referência geral sobre a aplicação ou não de desconto, ainda será definida. A lei prevê um limitador para essa alíquota-padrão. Sempre que a taxa de referência ameaçar ultrapassar um índice de 26,5%, medidas de redução seriam acionadas.

Ainda em 2025, haverá um pequeno conjunto de mudanças, como o fim da incidência de PIS/Pasep e Cofins de produtores, importadores e distribuidores sobre a receita bruta na venda de álcool, inclusive para uso combustível.

Em termos legislativos, o próximo passo será colocar em vigor o Projeto de Lei Complementar 108/2024. Entre outros temas, essa legislação implementará o Comitê Gestor do IBS e regulará o processo administrativo de cobrança desse imposto, além da distribuição da arrecadação do IBS. _ 



17 de Janeiro de 2025
INFORME ESPECIAL - Rodrigo Lopes

Netanyahu sob intensa pressão

O adiamento da votação do gabinete israelense sobre o acordo de cessar-fogo com o grupo terrorista Hamas é uma amostra da fragilidade dos acertos e das desconfianças mútuas no Oriente Médio. Tudo pode mudar a qualquer momento, mas, apesar do revés momentâneo de ontem, considerado uma "ponta solta" pelos Estados Unidos, o "mood" é de aprovação.

A decisão de convocar o gabinete para hoje indica que questões pendentes, alegadas pelo governo de Israel, foram resolvidas. Havia informação de que o gabinete só se reuniria quando esses entraves fossem resolvidos.

Benjamin Netanyahu está sob forte pressão - interna e externa. Intramuros, os partidos religiosos exigem o retorno à guerra para destruição total do Hamas, uma promessa, aliás, que Netanyahu fizera e da qual, agora, tornou-se, em parte, prisioneiro. Do lado de fora da Kiryat HaMemshala, o complexo de prédios governamentais, a maior parte da população apoia o fim do conflito, cansada de guerra e ansiosa por trazer de volta para casa os reféns.

Nenhum dos partidos consegue, sozinho, desestabilizar o governo, mas, juntos, os religiosos somam 14 assentos na legislatura - o suficiente para derrubar a administração.

Do ponto de vista internacional, criou-se o ambiente para o acordo - e os EUA de Joe Biden e Donald Trump não aceitarão nada menos que sua implementação. Nem que seja apenas o início do plano. _

Planeta e os copos sustentáveis

O maior festival de música do sul do Brasil, o Planeta Atlântida, contará, mais uma vez, com copos personalizados e reutilizáveis. O grande diferencial de outros festivais é que o item será entregue de forma gratuita aos participantes.

Serão dois modelos, um para cada dia do Planeta. A iniciativa tem a premissa de eliminar os materiais descartáveis do festival, contribuindo para a redução do impacto ambiental.

A retirada do copo será feita nos bares de bebidas do evento. Para garantir o brinde, o participante deverá passar a pulseira nos leitores, onde o sistema vai controlar a distribuição. Os itens também estarão à venda por R$ 15, e os tirantes por R$ 10. _

Pesos-pesados gaúchos em Davos

Três grandes empresas gaúchas estarão presentes no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça. A Be8 será representada pelo CEO Erasmo Battistella. Pela Randoncorp, irão o presidente, Daniel Randon, o CFO, Paulo Prignolato, e o diretor de Relações Institucionais, Joarez Piccinini. A Gerdau será representada pelo CEO, Gustavo Werneck, e pelo diretor de Comunicação e Relações Institucionais, Pedro Torres.

De 20 a 24 de janeiro, o fórum reúne líderes das principais economias do mundo e a nata financeira global na cidade dos alpes suíços. _

Entrevista - Nick Pisa - Repórter do jornal britânico Daily Mail

"Parecia um romance de Agatha Christie"

Diante da repercussão do caso do bolo de Natal envenenado no litoral gaúcho que resultou na morte de três pessoas da mesma família, Nick Pisa, jornalista do jornal britânico Daily Mail, aterrissou em Porto Alegre para acompanhar o assunto durante uma semana. Foram, ao todo, 15 reportagens em texto, fotos e vídeos. A coluna conversou com ele.

Por que você e o Daily Mail se interessaram pelo caso?

Era uma história muito intrigante e tudo aconteceu na época do Natal. Pareceu muito estranho desde o início um bolo de Natal envenenado. Parecia um romance de Agatha Christie.

Você veio para Porto Alegre para acompanhar o caso ou para outros trabalhos?

Só para acompanhar esse caso e fiquei surpreso quando me convidaram para ir, mas por ser web e tudo ser movido por cliques foi visto como uma história que vale a pena contar. The Mail tem um dos maiores números de usuários por ano e é um dos sites mais bem-sucedidos e lidos do mundo.

Quais as suas primeiras impressões sobre o caso?

Na minha perspectiva sempre foi um caso estranho e devo admitir que, para começar, pensei que seria um acidente trágico e que Zeli se confundiu com os ingredientes. Conversando com a família dela, fiquei sabendo que havia animosidade entre Deise e outros parentes. Quando o primo me contou que o Paulo (o sogro) tinha morrido depois de comer uma banana pensei que tinha alguma coisa errada aqui (...).

Como foi a repercussão entre os leitores?

Foi uma das histórias mais lidas das últimas semanas, com milhares de comentários e compartilhamentos. Também fui solicitado a comentar o caso por estações de rádio locais. _

INFORME ESPECIAL

quinta-feira, 16 de janeiro de 2025


16 de Janeiro de 2025
CARPINEJAR

Desvalorização

Fui estacionar meu carro na Tobias da Silva, no Moinhos de Vento. Lá é difícil localizar uma vaga. Costumo dar três voltas em imenso balão até a Associação Leopoldina Juvenil para encontrar uma redentora brecha. Ponho na conta 30 minutos circulando à toa.

Mas, naquele afortunado dia, um flanelinha, ostentando sua camiseta colorada como bandeira, acenou para mim:- Vem! E era bem na frente do restaurante em que eu queria almoçar. Fiquei até sem jeito com a sorte, por acertar a loteria do cotidiano. Tirei da carteira uma nota azul de R$ 2 e agradeci ao guardador o fato de ter me reservado aquela vaga.

O guardador pirou comigo. Flexionava os braços e as pernas em sinal de reverência. Só faltou estender um tapete vermelho com a sua camiseta. Ou me carregar no colo para atravessar a rua.

Ao receber a gorjeta, abriu um riso do tamanho da ponte móvel do Guaíba. Pulava eufórico, dizia "obrigado" sem parar, falava de modo desenfreado, afirmava que rezaria pela minha família:

- Que Deus dê em dobro! Não entendi bulhufas daquela cena. Achei a sua reação um tanto exagerada. Será que ele estava sob efeitos alucinógenos de manhã cedo?  Porém, houve uma mutação do comportamento, o rapaz parecia lúcido e controlado na abordagem inicial. Deveria ser um homem grato, que se mantinha feliz com pouco.

De noite, compareci a uma festa de amigos num bar na Cidade Baixa. Na hora de encerrar a comanda, procurei a nota azul de R$ 100 na carteira. Vasculhei os bolsinhos e nada. Cadê? Só tinha uma nota celeste de R$ 2.

Eu me confundira com o flanelinha. O que explicava o seu escândalo de bênção, o seu entusiasmo infinito. Troquei a tartaruga-de-pente pelo peixe garoupa. Na correria da vida, meu raciocínio acabou lento como uma tartaruga. Não conferi direito os papéis.

A gafe se tornou lendária nas provocações dos almoços dominicais em casa. Isso aconteceu há 15 anos. R$ 100 era muito dinheiro na época. Hoje corresponde a aproximadamente um terço do seu valor e do seu poder de compra. R$ 100 é o equivalente a R$ 33,59, corrigido pelo salário mínimo ou pelo IGP-M desde fevereiro de 2010.

Com R$ 100, você sai apenas com duas sacolas do supermercado, não faz mais um rancho. Você compra apenas dois dos seus medicamentos na farmácia, não completa a receita.

Em 2010, levava dois quilos de picanha. Atualmente, mal dá para um quilo.

Em 2010, com a mesma quantia, era possível pagar uma diária no Hilton, melhor hotel de Porto Alegre. Atualmente, nem se consegue custear uma noite num motelzinho de estrada.

O irônico é que o Banco Central começou a estampar animais à beira da extinção nas notas, para valorizar a sobrevivência de nossa fauna, e as próprias notas estão quase extintas. É comum desejar pagar em dinheiro e o balconista pedir Pix ou cartão, já que não tem troco.

Nem lembramos mais os bichinhos das cédulas. O beija-flor-de-peito-azul, a garça-branca-grande, a arara-vermelha, o mico-leão-dourado, a onça-pintada e o lobo-guará fugiram de nossos bolsos. _

CARPINEJAR

16 de Janeiro de 2025
DIRETO DA REDAÇÃO

O problema não é o celular

A lei que regulamenta o uso de celulares nas escolas públicas é o sintoma de uma realidade que vai além da tecnologia: vivemos uma gigantesca crise de autoridade. Quando o presidente da República precisa intervir em um tema que deveria ter sido resolvido antes em pelo menos duas instâncias, algo muito maior está em jogo. Os pais não conseguem controlar. Os professores, também não. Lula ex machina surge e, de um acarpetado gabinete em Brasília, salva a humanidade do caos. É revelador.

Quando pais e professores necessitam do poder opressivo do Estado para impedir seus filhos e alunos de fazerem mal a eles mesmos, uma luz vermelha se acende. Imagine o diálogo:

Pai: - Deixe o celular na mochila, minha filha.

Filha: - Por que, pai?

Pai: - Porque os deputados e o presidente Lula querem.

Sou absolutamente favorável à restrição do uso de celulares nas escolas. Mas também em casa, no restaurante, na praia. Minha filha do meio estudava, até ano passado, em uma escola que obrigava os alunos a deixarem os aparelhos na porta da sala. Minha filha não curtiu a adoção da regra.

Alguns meses depois, espontaneamente, me disse: "Sabe que eu tô gostando...". Explicou que conseguia prestar mais atenção nas aulas e interagir mais com os colegas.

Não é uma batalha fácil. Também comigo mesmo, que muitas vezes mergulho nesse universo paralelo de vídeos curtos e prazeres breves.

Mas o ponto central deste texto, que não pretende esgotar o tema, é discutir a competência do exercício da autoridade, não no sentido repressor e violento, mas como um ponto de segurança e de afirmação de valores para nossos filhos e alunos. Se é para que eles reclamem de alguém que lhes impôs algo correto, que seja, neste caso, dos pais e dos professores, não do presidente da República. Educar é, em grande parte, dizer "não". E explicar por que, iluminando um "sim".

Tenho ouvido boas opiniões e entrevistas sobre essa questão dos celulares nas escolas. Em uma delas, duas especialistas analisavam os danos do excesso de telas em crianças e adultos. Antes de encerrar, deixaram o mesmo recado: para mais dicas, nos sigam nas nossas redes. _

Tulio Milman - DIRETO DA REDAÇÃO


16 DE JANEIRO DE 2025
OPINIÃO DA RBS

Lições do Enem

Os resultados do último Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), divulgados no início desta semana pelo Ministério da Educação, deixam lições importantes e muitos desafios para os gestores educacionais do país. O principal deles - e, certamente, o mais preocupante - está relacionado à prova de redação. Apenas 12 alunos, num universo de 3,2 milhões de candidatos, alcançaram a nota máxima nesta habilidade fundamental para a aprendizagem e para o futuro profissional dos jovens brasileiros. O Enem, como se sabe, é a principal porta de entrada para estudantes do Ensino Médio nas universidades públicas do país e até em algumas do Exterior.

A redação do Enem exige dos candidatos competências indispensáveis para comunicação escrita, entre as quais a compreensão do tema proposto, domínio da língua portuguesa, interpretação de informações e construção de uma proposta de intervenção. Ou seja, para alcançar boa nota o estudante precisa estar bem informado, precisa saber argumentar e defender seus pontos de vista por escrito, de preferência escrevendo com simplicidade e objetividade, sem vícios de linguagem e erros gramaticais. Ninguém precisa ser gênio para desenvolver tais competências.

Mas não se pode ignorar que o decepcionante resultado das redações também foi motivado pela histórica falta de base acadêmica no Ensino Fundamental e Médio. O Programa Internacional de Avaliação de Estudantes vem apontando, a cada edição, uma brutal inferioridade dos estudantes brasileiros na relação com países que investem mais na educação. Os testes mostram que nossos estudantes, em sua maioria, têm dificuldade para compreender e interpretar textos. Nas escolas públicas, principalmente, muitos alunos chegam à 5ª série lendo com dificuldade, sem compreender o significado de histórias, legendas de filmes e até de placas de rua.



16 de Janeiro de 2025
POLÍTICA E PODER - Rosane de Oliveira

Incompetência do governo e má-fé da oposição

A mentira repetida tantas vezes nas redes sociais virou verdade para milhões de brasileiros, e o governo foi obrigado a revogar a medida que colocava uma lupa sobre as movimentações financeiras, incluindo o Pix. Foi uma capitulação que ilustra uma das afirmações do novo ministro da Comunicação, Sidônio Palmeira, que disse, com outras palavras, que o governo precisava ser mais ágil; que na era digital ainda se comunicava de forma analógica.

O caso do Pix é exemplar. A determinação para as instituições financeiras informarem transações acima de R$ 5 mil foi comunicada de forma burocrática. Nas mãos de opositores oportunistas, virou uma arma contra o governo.

Deputados como Nikolas Ferreira (PL-MG) fizeram vídeos mentirosos, uns dizendo que o governo iria taxar o Pix, outros que estava coletando dados para cobrar imposto de pedreiro, carpinteiro, verdureiro e outros trabalhadores informais.

Boato acima do fato

De nada adiantaram as explicações da Receita Federal, do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, dos especialistas em economia. O boato se sobrepôs ao fato. As movimentações com Pix despencaram, seja por medo do Fisco, seja pelo temor de que as transações acima de R$ 5 mil seriam taxadas.

Vendo que perdera a batalha da comunicação, Had­dad não teve saída. Revogou a orientação anterior e anunciou a edição de uma medida provisória para reforçar as regras já existentes.

E o que fizeram alguns deputados? Passaram a se gabar de ter conseguido derrubar o que nunca existiu. Usaram o recuo do governo para se promover e dizer que tinham razão. São os mesmos que, quando se fala em algum tipo de regulação nas redes sociais se esganiçam dizendo que estamos vivendo a ditadura de toga ou que "querem acabar com a liberdade de expressão".

Ora, liberdade de expressão não é liberdade para mentir, distorcer, enganar e tumultuar o cenário econômico com fake news. O nome disso é má-fé, mas também podem chamar de falta de caráter. _

À CNN, o presidente nacional do PSDB, Marconi Perillo, confirmou duas informações dadas pela coluna na semana passada: a sigla deve se fundir a outro partido e pretende lançar o governador Eduardo Leite a presidente em 2026.

Arita libera recursos para hospitais na região de Brito

Na condição de governador interino, o presidente da Assembleia, Adolfo Brito (PP), desembarcou em sua terra, Sobradinho, para dar a notícia de que o Hospital São João Evangelista receberá R$ 150 mil para comprar equipamentos necessários à reabertura do bloco cirúrgico. A secretária da Saúde, Arita Bergmann, assinou a portaria que prevê o repasse à prefeitura.

À tarde, Arita e Brito foram a Candelária para assinar o repasse de R$ 885,9 mil, para a compra de um novo mamógrafo pelo hospital local. _

Prefeita de Eldorado oferece novo terreno para moradias

Com 15 dias à frente da prefeitura de Eldorado do Sul, Juliana Carvalho mostrou que será uma "desatadora de nós". Inconformada com o fato de o município não ter conseguido indicar um local para a montagem das moradias temporárias para famílias que perderam as casas na enchente, ela ofereceu um terreno próximo à divisa com Guaíba.

A área indicada pela administração anterior ficava em uma área sujeita a alagamentos e, por isso, seria preciso fazer uma intervenção.

Até o final de março, 125 famílias deverão estar alojadas, enquanto esperam pelas casas definitivas. O Estado investirá R$ 1,4 milhão na preparação do terreno. _

Deputados do RS na posse de Trump

São 21 os deputados brasileiros que devem participar da posse de Donald Trump como 47º presidente dos Estados Unidos, na segunda-feira. Na comitiva que vai a Washington, estarão três parlamentares gaúchos: Giovani Cherini (PL), Marcel van Hattem (Novo) e Maurício Marcon (Podemos).

Cherini participará, ainda no domingo, de um brunch com um conselheiro de Trump e de um comício. Na segunda-feira, comparecerá à cerimônia de posse no Capitólio e a um baile com a presença de chefes de Estado e diplomatas - o evento não é oficial da Casa Branca .

Já Marcon e Van Hattem devem participar apenas da cerimônia de posse presidencial, como cidadãos.

Os parlamentares afirmam que a viagem aos EUA será paga com recursos próprios, sem dinheiro público. 

Leite banca Raquel na Seduc

A pressão de aliados do governo pela substituição da secretária da Educação, Raquel Teixeira, não deu resultado. O governador Eduardo Leite está decidido a manter a professora goiana na Seduc, confiante de que os resultados do trabalho realizado por ela nos últimos seis anos vão aparecer no Ideb de 2025.

Para prestigiá-la, Leite deve comparecer ao evento de posse dos novos diretores, no Auditório Araújo Vianna, antes mesmo de reassumir o cargo. Ele retorna das férias hoje, depois de um período no Exterior.

O otimismo é fruto de uma série de medidas adotadas por Raquel, como as novas exigências para os diretores e a definição de metas, escola por escola, para que o desempenho dos alunos melhore.

Quando Raquel chegou ao Rio Grande do Sul, sucedendo a Faisal Karam, encontrou um deserto de dados. A secretaria desconhecia a situação dos colégios. Hoje, Raquel tem no celular os dados não só das escolas, mas de todos os alunos da rede estadual.

O desafio neste ano é vencer as resistências. A secretária cita o caso de escolas com índices altíssimos de reprovação e que nem por isso conseguiram evoluir no Ideb. O discurso dela, de que é preciso esgotar todos os recursos para que o estudante aprenda, não é bem recebido por parte dos professores. _

POLÍTICA E PODER

16 de Janeiro de 2025
INFORME ESPECIAL - Rodrigo Lopes

Todos reivindicarão vitória sobre o Oriente Médio

O acordo de cessar-fogo entre Israel e o grupo terrorista Hamas, anunciado ontem, é o tipo de acerto que rende a todos os envolvidos celebrarem a vitória. Por si só, obviamente, é algo a ser comemorado - afinal, depois de um ano e três meses de uma guerra sangrenta, com vítimas de lado a lado, finalmente, a racionalidade se impôs à mesa de negociações.

Infelizmente, como acordos de outrora, esse não colocará fim à sina de ódio e medos ancestrais que, por vezes, fazem girar a roda da insanidade. Mas, ao que tudo indica, haverá uma pausa.

Quando digo que todos celebram é porque o conflito e os termos do acordo abrem margem para líderes de diferentes matizes ideológicos reivindicarem, para públicos domésticos, a vitória.

Os terroristas do Hamas, por exemplo, dirão a seu público que atingiram os objetivos com os ataques de 7 de outubro de 2023: ao entrarem em Israel exibiram as fragilidades da nação mais protegida do mundo, praticaram o horror contra os judeus, mataram centenas, sequestraram muitos, violentaram todos e, por fim, barganharam a soltura de palestinos presos nas penitenciárias israelenses. Pela sua lógica doentia e nefasta, o crime compensa.

Israel, que sofreu o maior atentado de sua história em 7 de outubro, e o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu irão reivindicar que, apesar da dor, das mortes e dos reféns, conseguiram levar a cabo uma operação que enfraqueceu o terrorismo, cortou as cabeças do Hamas e do Hezbollah, colocou de joelhos o Irã, destroçou o arco xiita e, por tabela, destronou o ditador da Síria, Bashar al-Assad.

O Catar, que já foi acusado de Estado apoiador do terrorismo, sai como o grande pacificador, ao ter servido de ponte entre todos os lados.

Joe Biden, a cinco dias de entregar o governo a Donald Trump, tem seu legado salvo pelo gongo: após um início de governo, em 2021, marcado pelo retorno do Talibã ao poder no Afeganistão - e pelas cenas de fuga dos soldados americanos que lembravam o Vietnã -, ele consegue passar à história como o presidente americano que colocou Israel e extremistas palestinos a conversar - quase como um Jimmy Carter do século 21, guardadas as proporções.

Sobrou até para Donald Trump comemorar: seu enviado especial para o Oriente Médio, o pouco experiente Steve Witkoff, participou ativamente das negociações ao lado de emissários do presidente Biden.

Choro e ranger de dentes

Muita gente morreu nesse período de guerra. Há choro e ranger de dentes por todos os lados. Alguns dos reféns israelenses voltarão, de Gaza, dentro de caixões. Na estreita faixa de terra espremida contra o Mar Mediterrâneo, além dos mortos, a infraestrutura está destruída. As desconfianças não acabam com o acordo. Nem o terrorismo, embora golpeado, termina. Mas, por alguns meses, a região e o mundo respirarão, com pesar, aliviados. _

Papa Francisco, um cão e um circo no Vaticano

O papa Francisco assistiu, ontem, durante a audiência-geral semanal, a uma apresentação do circo Rony Roller. Durante a performance, para ele e para os fiéis reunidos no Vaticano, o pontífice jogou uma bolinha de tênis e brincou com um cachorro dos integrantes do circo.

O espetáculo contou com a participação de palhaços e acrobatas. "O trabalho circense é um trabalho humano, é um trabalho de arte, um trabalho de muito esforço. Quando voltarem, vamos dar-lhes uma grande salva de palmas", escreveu nas redes sociais. Francisco assistiu a uma performance da CircAfrica na semana passada, destacando a tradição circense. _

Entrevista - José Fogaça

"Segurança para um processo democrático"

Há 40 anos, no dia 15 de janeiro de 1985, o Brasil assistiu à eleição de Tancredo Neves para a Presidência da República. Apesar de indireta, foi a primeira eleição após a ditadura militar (1964-1985). Quem era deputado federal na sessão e votou em Tancredo Neves foi José Fogaça, ex-deputado estadual, ex-senador e ex-prefeito de Porto Alegre.

Como era o clima no dia?

Era uma coisa impressionante. O clima era de muita tensão, ao mesmo tempo de uma certa euforia contida. Tínhamos um pouco de receio, havia sempre um certo temor de que, no fim das contas, as coisas ficassem, talvez, complicadas. Mas, de qualquer maneira, tínhamos também a convicção de que não havia outro caminho. Aquela era a única alternativa e qualquer recuo nosso poderia ser, por exemplo, a eleição de (Paulo) Maluf.

Do que era o temor?

Havia entre os militares aqueles que estavam engajados no processo de abertura integral e aqueles que resistiam. E, obviamente, temiam também que passassem a ser perseguidos na medida em que o regime fosse se desestruturando. Mas a figura do Tancredo Neves foi absolutamente importante e estratégica nesse processo, porque ele era uma segurança para todos os lados de que o princípio da legislação e da conciliação seria mantido e o Brasil iria caminhar pacificamente para a consolidação do processo democrático.

Qual a importância da data?

Talvez uma mudança drástica, onde se estabelecesse um aumento da polarização política, não fosse recomendável. Ao contrário de estabelecer aquela visão radicalizada do Diretas Já, era o momento de distensionar para que as coisas fluíssem como aconteceu, porque depois disso, em três anos, se conseguiu convocar a Assembleia Nacional Constituinte, e realmente mudou o curso da história do Brasil. A diferença entre as coisas do antes e depois, para quem viveu naquela geração, é enorme. _

INFORME ESPECIAL

quarta-feira, 15 de janeiro de 2025


15 de Janeiro de 2025
MÁRIO CORSO

Loucuras para não envelhecer

Bryan Jonhson, 47 anos, é um bilionário americano em busca da saúde dos seus 18 anos. Com uma equipe médica, desenvolveu o Protocolo Blueprint, um tratamento para rejuvenescer. Encara seu corpo como um algoritmo que pode ser configurado.

Ele compartilha esta empreitada na internet. Trata-se de uma intensa rotina de bons hábitos. Ele é vegano, não bebe, não come gordura nem doces. Faz restrição calórica e jejum intermitente - a última refeição do dia é as 11h da manhã. Seus exercícios vão de segunda a segunda. Dorme cedo e sempre sozinho. Que vidão!

Bryan toma cem comprimidos diários entre vitaminas e medicamentos. Fora outros procedimentos médicos, quase todos experimentais, afinal, é um protocolo em processo. Por exemplo, ele filtra seu plasma para retirar as toxinas. O custo é de US$ 2 milhões ao ano, e sua casa é praticamente um hospital.

Podemos comprar alguns dos produtos do Protocolo. Encontrei na internet o Suplemento Blueprint Bryan Johnson. São 30 cápsulas por R$ 600. Sua experiência é também um negócio.

Recentemente, Bryan apareceu com o rosto inchado. Teve uma reação alérgica severa por injetar gordura de outra pessoa no rosto. Isso porque, com 1.950 calorias/dia, embora com bons biomarcadores, ele ficou com o rosto chupado. Também parou com as transfusões de plasma, que recebia do filho, por não trazer benefícios.

Bryan é um de nós. Não são poucos que enlouquecem e fazem qualquer absurdo para não envelhecer. Graças à medicina e aos melhores hábitos, nós estamos vivendo mais, mas não necessariamente melhor, ainda não acertamos o equilíbrio. O que vale um corpo saudável se estamos dementes, ou uma cabeça boa com um corpo em frangalhos, imerso em dores?

Cuidar-se para ter uma boa velhice é necessário, inadiável, mas lutar contra o envelhecimento e a morte é uma causa perdida. A vida é aquilo que acontece enquanto esquecemos da finitude e vamos atrás dos nossos desejos. Neste sentido, Bryan perdeu o jogo. Ele é saudável e ocupa-se do corpo como um doente. Em sua existência, os personagens principais são o envelhecimento e a morte. Será que lhe sobra tempo para contracenar com a vida? 

MÁRIO CORSO


15 de Janeiro de 2025
OPINIÃO - Artigos

Mais e mais pessoas irão ao cinema!

Carmen Ferrão - Presidente da Fundação Bienal do Mercosul

Começamos o ano com o coração repleto de orgulho, com o mundo aplaudindo a arte feita no Brasil. Nas redes sociais, a alegria de ver uma artista brasileira recebendo um reconhecimento internacional.

Como presidente da Fundação Bienal do Mercosul, à frente de duas bienais, da 13ª e da 14ª exposição, sinto através da arte um grande movimento de transformação.

A arte salva. E mais do que isso: ela é pré-requisito para a transformação humana.

Quando vimos um país inteiro chorar, sorrir, torcer e se emocionar com Fernanda Torres recebendo o Globo de Ouro de melhor atriz de drama pelo filme Ainda Estou Aqui, fico pensando e imaginando um novo mundo.

Sim, um lugar para viver e sonhar. É através de muitos personagens, muita imaginação e muita sensibilidade que chegamos neste momento. Esse é o poder transformador da arte, do cinema, do teatro, que nos transporta para outros mundos e lugares.

Tudo construído de geração em geração, nasceu de um útero, ganhou o corpo e se transformou em atriz única e diversa. Que já levou o Brasil das risadas às lágrimas em papéis tão carismáticos e únicos.

Em todos esses anos, sempre acompanhando o universo artístico de perto, tenho presenciado muitas metamorfoses com os artistas, e o respeito e a admiração só crescem em mim como empresária, ser humano e mãe.

A partir de 27 de março, abriremos a 14ª Bienal do Mercosul em Porto Alegre, com o tema Estalo, que propõe uma verdadeira reflexão sobre a vida e os momentos que passamos. Tenham a certeza de que os corações irão bater mais forte a cada espaço ocupado, os olhos vão brilhar a cada obra e os pensamentos voarão a cada artista. Porto Alegre se transformará na capital da arte, com 76 obras de 30 países e mais de 50 atividades complementares. Nosso objetivo é encantar e proporcionar a cada visitante o sonho de um mundo mais lúdico e encantador.

Claro, que ainda teremos muitas reflexões pela frente.

Viva a vida vivida até aqui! _

O uso da inteligência artificial no mercado financeiro

Marco Brito - Vice-presidente do Instituto Brasileiro de Executivos Financeiros do Rio Grande do Sul (Ibef-RS)

A inteligência artificial (IA) está revolucionando as relações empresariais e promete impactar profundamente a forma como as empresas gerenciam, analisam e tomam decisões sobre seus investimentos e o desempenho das suas empresas. A transformação é inevitável, tornando-se essencial para empresas e profissionais da área financeira se aprofundarem no assunto.

De grandes instituições bancárias a startups, a IA vem sendo utilizada para oferecer produtos mais personalizados, otimizar a produtividade e melhorar a eficiência operacional. Tecnologias como aprendizado de máquina, análise preditiva e algoritmos de otimização estão permitindo acelerar processos, reduzir custos e aumentar a precisão nas previsões, gerando uma vantagem competitiva significativa para quem as adota.

No entanto, adaptar-se e investir em conhecimento sobre IA é fundamental para liderar e acompanhar essas mudanças. Segundo especialistas, os profissionais precisam atualizar suas habilidades para que a Inteligência Artificial se torne uma aliada de forma a que provoque um impacto positivo em todos os níveis públicos e privados.

É crucial desmistificar a IA e vê-la como uma ferramenta poderosa que, quando bem utilizada, auxilia na identificação de soluções, permite a análise de grandes volumes de dados de maneira mais rápida e precisa, além de gerar insights valiosos para a tomada de decisões. A transformação digital, embora desafiadora, apresenta inúmeras oportunidades para aqueles que se dedicam a incorporar inovações ao seu portfólio. Por isso, é importante que se aproveite este momento de construção de cultura junto às corporações para que a IA seja entendida como uma extensão da inteligência humana de modo que as pessoas atuantes no meio de finanças possam direcionar seu tempo a trabalhos mais intelectuais.

A IA já é uma realidade transformadora no mercado. Empresas e profissionais que se adaptarem a esse novo cenário estarão mais bem posicionados para prosperar em um futuro em que a tecnologia e o conhecimento caminham juntos. _

Direto da Redação -  Antonio Carlos Macedo

Álcool no futebol

Cerca de três pessoas perdem a vida diariamente no Rio Grande do Sul por causa de problemas de saúde relacionados ao consumo de álcool. A estimativa, baseada em informações do Ministério da Saúde, aponta 1.133 óbitos no Estado em 2023. O levantamento considera apenas casos clínicos, deixando de fora fatalidades ligadas a acidentes de trânsito provocados por embriaguez. Nessa área, os dados mais recentes do Detran-RS são de 2022 e também apontam resultado preocupante: 44% dos motoristas mortos em acidentes apresentavam traços de álcool no sangue. Além disso, a bebida é frequentemente associada a homicídios e episódios de violência doméstica.

Esse panorama evidencia um grave problema de saúde pública nacional, com reflexos econômicos significativos. Uma pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), de 2019, estimou os custos diretos e indiretos em R$ 18,8 bilhões. Mesmo diante desse quadro crítico, há políticos que defendem iniciativas para facilitar o acesso a bebidas alcoólicas.

Um exemplo é o projeto do vereador Márcio Bins Ely (PDT) na Câmara de Porto Alegre, que visa permitir a comercialização de bebidas com teor alcoólico de até 14% em bares, lanchonetes, camarotes e áreas VIP dos estádios da Capital. As justificativas são genéricas, sem suporte técnico. Entre elas, a ideia de que haveria um clamor popular pela medida. 

O vereador também cita estudos que apontam as brigas entre torcidas organizadas como a principal causa da violência no futebol, mas não revela as fontes consultadas. Alega ainda que a venda controlada poderia mitigar excessos e prevenir o consumo desordenado nos arredores dos estádios, o que também não passa de hipótese.

A iniciativa desconsidera o posicionamento da Brigada Militar, do Ministério Público e de entidades médicas, historicamente contrários à liberação por questões de segurança. Diante de tantos impactos negativos, por que insistir com a ideia? O vereador argumenta que os clubes aumentariam suas receitas, mas a que custo? Colocando em risco a integridade das próprias torcidas? 

É importante destacar que a proposta conflita com lei estadual de 2008 que proíbe a comercialização e o consumo de álcool nos estádios do Rio Grande do Sul. Entendo que legisladores devem priorizar a saúde e o bem-estar da coletividade. Não é o caso, pois só será favorecido um punhado de torcedores que não conseguem passar duas horas de "bico seco". Que o vereador reflita melhor e volte atrás. A sociedade agradece. _

OPINIÃO