O momento doce e amargo da economia
O resultado anual do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) é a perfeita síntese do momento doce e amargo da economia brasileira. Em 2024, subiu acima das previsões, 3,8%. Em dezembro, caiu mais do que o esperado, 0,73% em relação a novembro.
O dado reforça a expectativa de desaceleração para este ano, que já havia sido acentuada no Relatório Focus do BC na semana passada. Essa perspectiva se intensificou no publicado ontem, com nova redução nas projeções de crescimento, agora de 2,03% para 2,01%.
É importante observar que essa desaceleração é o efeito desejado do choque de juro anunciado pelo BC como forma de frear a inflação. Como repetido nos vários comunicados e atas das mais recentes reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom), a taxa básica é "contracionista", ou seja, deve ser capaz de produzir essa redução na atividade econômica.
Setores e fatores
Em dezembro, houve recuos em todos os setores: 0,5% nos serviços, 0,3% na indústria e 0,1% no varejo. Na avaliação dos economistas, os fatores que levaram à expansão de 3,8% no ano passado não devem se repetir neste: desemprego em mínimas históricas, aumento de massa salarial, melhores condições de acesso a crédito e elevação de benefícios sociais.
A forte alta do dólar no final do ano passado decorreu de temores com a política comercial do novo mandato de Donald Trump na Casa Branca e de um corte de gastos considerado insuficiente para frear o endividamento do Brasil. Isso provocou aceleração da inflação que corrói a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
É por isso que se discute, na equipe econômica, concentrar bloqueios e contingenciamentos já na primeira revisão de receitas e despesas, prevista para março. Para isso, é claro, primeiro é preciso aprovar o orçamento, o que está previsto para só depois do Carnaval. Da boa transição entre o muito doce e o levemente amargo vai depender se haverá de fato apenas a desaceleração desejada ou se poderá ocorrer uma recessão, ainda que técnica. _
Dólar abaixo de R$ 5,70 teve pouca duração. Ontem, voltou a cruzar a barreira - desta vez, para cima - e fechou em R$ 5,712 resultado de oscilação positiva de 0,29%. Os juros futuros baixaram com queda do IBC-BR em dezembro.
Para Milei, melhor das hipóteses é ruim
O envolvimento do presidente da Argentina, Javier Milei, na aparente fraude que envolve a criptomoeda $Libra pode não levar ao impeachment desejado pela oposição, mas desgasta sua imagem em fase de popularidade em alta. Na melhor das hipóteses, o responsável por decisões sobre o futuro do país caiu em um golpe. Na pior, contribuiu com um esquema que fez muita gente perder dinheiro e pouca gente ganhar.
O caso ganhou manchetes em todos os jornais do país. Ontem, surgiram detalhes escabrosos. Um dos quatro envolvidos no projeto, Hayden Mark Davis, disse a um site especializado que está "em perigo". Sustentou não ter sido uma fraude ("estafa"), mas admitiu ter lucrado US$ 110 milhões, valor que agora quer devolver.
Ora, se não ganhou ilicitamente, porque restituiria?
Também defende Milei, mas diz "não saber" se outros sócios (Mauricio Novelli e Manuel Godoy, do Tech Forum Argentina) se beneficiaram por ter a informação privilegiada de que o presidente argentino chancelaria a cripto. E fez uma espécie de confissão com a maior candidez:
- A (acusação) de informação privilegiada me parece sempre uma estupidez porque em qualquer meme as pessoas que se beneficiam são os que a montam. Os que mais se beneficiam ou os que mais perdem sempre são os que estão mais perto.
Existe uma investigação aberta pela Casa Rosada, no âmbito do Escritório Anticorrupção, e uma força-tarefa foi criada para o caso. _
RS busca parcerias na Suécia
Uma comitiva gaúcha vai desembarcar em Estocolmo, na Suécia, na quinta-feira, para trocar conhecimento sobre tecnologia, inovação, sustentabilidade e soluções urbanas. A ação ocorre no contexto do Techarena, evento internacional com o qual Instituto Caldeira e a Invest RS têm parceria.
O governador Eduardo Leite participará de painel para abordar a enchente de maio de 2024 e a necessidade de soluções para lidar com os impactos da mudança climática. Pedro Valério, CEO do Instituto Caldeira, e Rafael Prikladnicki, presidente da Invest RS, também estarão no Techarena, que vai até a sexta.
Estocolmo é conhecida por ser o berço de startups como Spotify e Skype e primeira "capital verde" da Europa, conforme classificação da Comissão Europeia. A edição deste ano do Techarena terá como foco jornadas desafiadoras e lições aprendidas.
A agenda organizada por Instituto Caldeira e Invest RS inclui encontros com o grupo Ramboll, de engenharia, arquitetura e consultoria, e com a Business Sweden, agência de fomento e desenvolvimento de parcerias comerciais entre Suécia e outros países. A comitiva também deve visitar centros de inovação e outras empresas globais. _
Lula lança retomada naval sem contrato para Rio Grande
Em evento realizado no Terminal de Angra dos Reis da Petrobras, no Rio de Janeiro, foi lançado ontem o segundo edital do Programa de Renovação da Frota Naval da estatal, que prevê aquisição de oito navios gaseiros pela Transpetro.
A primeira fase teve como vencedores a Ecovix, que administra o Estaleiro Rio Grande, e o estaleiro Mac Laren, quem tem unidade em Niterói. Em parceria, vão montar quatro navios, resultado de licitação estimada em R$ 1,6 bilhão pelo câmbio atual.
São navios de 15 mil a 18 mil toneladas, chamados Handy e considerados "pequenos", exatamente com o propósito de começar com prudência.
O contrato da primeira etapa deveria ter sido assinado no mesmo momento da apresentação do novo edital, mas não foi o que ocorreu. Conforme a Transpetro, "a assinatura do contrato relativo à licitação para aquisição dos quatro navios Handy será feita em breve, mas a data do evento ainda não está definida".
A coluna também consultou a Transpetro sobre a possibilidade de os vencedores da primeira licitação disputarem a segunda, e a empresa confirmou: "Os estaleiros que venceram o primeiro certame poderão disputar a licitação dos gaseiros, individualmente ou em consórcio".
A disputa é pública e internacional, composta por dois lotes, que não podem ser vencidos pelo mesmo estaleiro ou consórcio.
Guerra real assusta mais que a comercial
Em reunião de emergência em Paris, líderes europeus afirmaram que vão aumentar o gasto militar para se proteger da ameaça expansionista da Rússia. Discutiram um encontro previsto para hoje, na Arábia Saudita, entre representantes dos Estados Unidos e da Rússia para negociar a saída das tropas russas da Ucrânia.
O problema é que os americanos pretendem exigir que os ucranianos aceitem perda significativa de território, que os europeus veem como incentivo para que o presidente russo, Vladimir Putin, repita a estratégia de invasão e expansão, já que vem dando certo, de seu ponto de vista.
O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, reiterou ontem que não participará das conversas em Riad e que seu país não reconhecerá nenhum acordo feito sem sua participação. A essa altura, a guerra comercial de Donald Trump é o menor dos problemas dos europeus.