quarta-feira, 6 de novembro de 2024


06 de Novembro de 2024
MOBILIZAÇÃO

Porto Alegre ganha iluminação especial no Novembro Azul

Campanha que promove conscientização sobre o câncer de próstata e a saúde masculina inclui workshops e exames em unidades de saúde

Prédios históricos e monumentos de Porto Alegre passaram a ter a cor que remete à campanha Novembro Azul. A iniciativa busca conscientizar sobre o cuidado com a saúde masculina e a detecção precoce do câncer de próstata.

Entre os pontos turísticos iluminados estão o Mercado Público, a Praça do Tambor, o Museu do Trabalho, o Chalé da Praça XV, o Museu da Brigada Militar, a Pinacoteca Ruben Berta e o Monumento ao Expedicionário. A ação é promovida pela prefeitura de Porto Alegre em parceria com a concessionária IPSul.

Além da iluminação especial, a campanha se estende pelas unidades de saúde da Capital. Nelas, são oferecidas atividades como workshops, testes rápidos para infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) e campanhas educativas.

As ações têm como objetivo reforçar a importância de cuidados preventivos e incentivar o acompanhamento médico regular, essencial para a prevenção e o diagnóstico precoce de doenças comuns entre os homens. Além do câncer de próstata, estão condições como hipertensão, diabetes, obesidade e doenças cardiovasculares.

O câncer de próstata é o segundo tipo de tumor mais comum entre homens no Brasil. O Instituto Nacional do Câncer (Inca) estima que o país registre aproximadamente 70 mil novos casos por ano até 2025.

Entre os principais fatores de risco, estão a obesidade, o histórico familiar e a idade, principalmente após os 60 anos.

- Se o paciente tem um pai que já teve câncer de próstata, por exemplo, ele tem um risco duas vezes maior de desenvolver essa doença. Além disso, também tem as questões dietéticas, como alimentos hipercalóricos e hiperproteicos, que podem aumentar esse risco - explica o chefe do Serviço de Urologia da Santa Casa de Porto Alegre, Ernani Rhoden.

Estudos também apontam que homens pretos têm maior chance de desenvolver a doença devido a uma maior sensibilidade androgênica, ou seja, um organismo mais sensível à ação da testosterona, que favorece o surgimento desse câncer.

- Portanto, é recomendável começarem procedimentos de prevenção já aos 45 anos - complementa Rhoden.

Potencial curativo maior

O diagnóstico precoce é fundamental para o tratamento eficaz. Exames como o toque retal e o teste de PSA (antígeno prostático específico) são essenciais para identificar o câncer de próstata em estágios iniciais, permitindo tratamentos mais eficazes e aumentando as chances de cura.

- Tumores de menor agressividade tendem a ter um prognóstico mais favorável, enquanto os de risco intermediário ou alto exigem tratamentos mais intensivos - destaca Rhoden.

A realização regular desses exames é crucial para a saúde masculina, especialmente entre homens a partir dos 50 anos. Assim, o diagnóstico serve para que o paciente tenha um tratamento com potencial curativo maior. Quanto mais precoce a detecção, melhor a caracterização da doença e a orientação no ponto de vista do tratamento.

Em relação aos sinais que podem indicar problemas na próstata, homens devem estar atentos a dificuldade para urinar, fluxo urinário fraco, aumento incomum da frequência urinária (especialmente à noite) e presença de sangue na urina. _

Produção: Murilo Rodrigues


06 de Novembro de 2024
MÁRIO CORSO

A visita

Bruna bateu na porta sem pensar. Se pensasse, nem ao menos viria. Não saberia dizer o que quer. Alice abriu a porta. Quando vê Bruna, sente uma emoção que não encontra palavras. O ódio que seria esperado, frente à audácia da prima, não chegou. O luto lhe drenava as outras emoções.

O automatismo da cortesia decidiu o impasse de quem não sabia o que fazer. Alice convidou Bruna para entrar.

Alice olhou para Bruna com pena. Mesmo dando-se conta que era um pensamento mesquinho, sentiu-se privilegiada. O finado lhe deixou um filho, uma pensão, uma casa. Bruna só possuía lembranças sem lastro e a corrosão de um luto mudo. Ela estava condenada ao silêncio, a família jamais a perdoaria se soubesse do caso com o falecido.

Nenhuma conseguia romper o silêncio. Perdiam a oportunidade de se perguntar por que amaram, e hoje choram, por um homem que valia menos do que elas. A morte rasgou o véu de mentiras e manipulações que ele fizera a ambas.

Alice lembrou de uma foto. A única explicação para ela não ter sido rasgada seria que o destino a requisitou para ser usada nesse momento. Era uma foto de um Natal, antes de tudo acontecer. A única foto que sobrou onde os dois aparecem juntos. Sem dizer palavra, Alice foi para o quarto e voltou com a foto na mão.

Depois de receber a foto, que segurava como um tesouro, Bruna rompeu o silêncio agradecendo. Entre lágrimas, diz mais uma palavra: desculpa.

Alice nada diz.

Bruna não esperava o perdão, mas precisava pedir. Todas as boas memórias, as festas, as confidências, dos anos em que as primas passaram o verão juntas na praia, viraram areia. Cada festa de família é um constrangimento secreto para ambas.

As duas perderiam se o segredo vazasse. Além do embaraço público, do orgulho ferido, Alice queria que o filho tivesse apenas as memórias de um pai dedicado.

Bruna levanta-se para sair. Alice a acompanha. Na porta, Bruna consegue dizer o que mais lhe dói.

- A traída sou eu. Ele não me amava.

- Se ele me amasse não teria feito o que fez - responde Alice.

A eletricidade da proximidade dos corpos pedia um abraço. Seria a solidariedade entre duas vítimas de um armadilha amorosa que as transcende. Mas ainda é cedo para este gesto. _

MÁRIO CORSO

06 de Novembro de 2024
DIRETO DA REDACAO

Voto facultativo

A alta abstenção nas últimas eleições municipais reacendeu o debate sobre a eficácia do voto obrigatório no Brasil. Os críticos do sistema argumentam que a apatia dos eleitores indica a necessidade de rever a natureza jurídica do ato de votar, passando de dever a direito. Nesse contexto, o voto facultativo representaria um avanço democrático ao respeitar a liberdade individual e incentivar a participação consciente. Uma eventual redução do número de votantes poderia ser compensada por um eleitorado mais engajado, resultando na escolha de candidatos mais comprometidos com os anseios da sociedade. Além disso, a fiscalização dos eleitos seria intensificada, pois seus mandatos estariam ligados a cidadãos politicamente ativos.

Outro argumento aponta que o voto obrigatório, na prática, já é facultativo, tamanha a facilidade encontrada pelo eleitor para se ausentar. Com efeito, neste ano, a punição máxima para quem não justificou a ausência é uma irrisória multa de R$ 3,51. É óbvio que toda essa argumentação ignora os perigos por trás da mudança. Um deles é o possível aumento da elitização. 

Num cenário de livre escolha, a tendência é de maior mobilização da classe dominante e de aumento na abstenção entre os menos favorecidos, que enfrentam desafios como distância das urnas, dificuldade de transporte e desconhecimento do processo eleitoral. Essa combinação pode resultar na escolha de uma representação política distorcida, que não contemple os interesses da maioria.

O voto facultativo também tem o potencial de aumentar a despolitização. Sem a obrigação de votar, muitos brasileiros simplesmente vão ignorar as eleições. Também precisam ser considerados dois pontos negativos que persistem nas eleições brasileiras: a compra de votos e o voto de cabresto. Com menos votantes, menos pessoas terão que ser compradas para garantir um mandato. 

O mesmo raciocínio vale para a pressão exercida por coronéis, fazendeiros, patrões e até facções criminosas, cada vez mais imiscuídas no meio político. Por fim, como a livre escolha deve aumentar a abstenção, quem garante que a maioria ausente não se atreverá a contestar o resultado das urnas, sob argumento de que foi determinado pela minoria? Por entender que os riscos são maiores do que as vantagens, acho que ainda não estamos preparados para a mudança. Antes, precisamos evoluir como país, para ser uma nação mais igualitária, educada e justa. Aí, sim, poderemos transformar o voto em direito. Por enquanto, é mais seguro que continue sendo um dever. Dever de todos. _

Antonio Carlos Macedo

DIRETO DA REDACAO



06 de Novembro de 2024
GPS DA ECONOMIA - Marta Sfredo

Cortes de gasto e alta no juro: causa e consequência

Salvo grande surpresa, a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de hoje será elevar o juro básico em 0,5 ponto percentual, de 10,75% para 11,25%. Ontem, o dólar fechou com nova queda de 0,63%, para R$ 5,746. A cotação chegou a abrir em alta, mas inverteu a mão depois que o mercado soube da antecipação de uma nova reunião, desta vez com os ministros da Previdência e do Desenvolvimento Social - dois candidatos a ter cortes estruturais.

Em quase todas as manifestações antes de sua penúltima definição de juro como presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto insistiu que só um "choque fiscal positivo" permitirá redução da Selic.

Orçamento de saúde e educação foi inflado

Embora a engenharia política para a elaboração das medidas que Haddad prefere chamar de "para sustentação do arcabouço" do que de "corte de gastos" seja delicada, é essencial entender que, antes dos cortes, os orçamentos das áreas de saúde e educação foram inflados pela revinculação à receita. Como a primeira escolha foi fazer o ajuste pelo lado da arrecadação, a alta fez com que a destinação a essas duas áreas socialmente relevantes crescesse muito.

Na mais disputada eleição da história para a presidência dos Estados Unidos, todo mundo gostaria de poder votar, dadas as consequências globais da escolha, mas quem vai decidir, ao que tudo indica, é só um Estado, a Pensilvânia.

Gaúcha na COP29

Com sede em Porto Alegre, a Capacità Eventos vai estar, na próxima semana, em Baku, no Azerbaijão, para organizar o estande do Consórcio Interestadual de Desenvolvimento Sustentável da Amazônia Legal (CAL) na COP29, conferência global do clima da ONU. É a segunda vez que acompanha a delegação do CAL, que representa Estados da Amazônia. Já é a quarta conferência consecutiva de que a Capacità participa. Desde a COP26, em Glasgow, na Escócia, atende a Confederação Nacional da Indústria (CNI). _

Novos sócios de grupos bilionários

Antes conhecida como Companhia Hipotecária Piratini, a Oxy, empresa gaúcha de crédito imobiliário, muda de nome e ganha três novos sócios: CashMe, do Grupo Cyrela, HS Investimentos, do bilionário Helio Seibel, e Creditas.

As empresas aportaram R$ 16 milhões para entrar na sociedade, multiplicando por quatro o capital social da Oxy, que chega a R$ 20 milhões. Haverá novos produtos para financiar a aquisição de imóveis por pessoas físicas e crédito para pequenas e médias incorporações imobiliárias. _

Depois da cheia, outro RS Day

É só o segundo ano consecutivo do RS Day em São Paulo, mas este é "o" ano para esse evento. Depois do dilúvio de maio, a busca por investimentos ganha novo significado. A programação faz parte do RS Avança, projeto da Câmara Americana de Comércio no Rio Grande do Sul (Amcham RS) criado para impulsionar o desenvolvimento sustentável da economia gaúcha.

O evento levará executivos e representantes do governo gaúcho para apresentar possibilidades de negócio e investimentos no Estado.

Quando se fala com um "não gaúcho", é comum ouvir menções positivas à reação dos moradores no Estado diante do dilúvio. Essa percepção foi reforçada após os incidentes na região de Valência, na Espanha. Lá, houve deploráveis agressões físicas ao presidente de governo, Pedro Sanchez, e à rainha Letizia, atingida por lama no rosto. _

GPS DA ECONOMIA


06 de Novembro de 2024
ANDRESSA XAVIER

Da Filadélfia, EUA

Com os olhares voltados para a Pensilvânia

Passei três dias na Filadélfia nesta cobertura de eleição nos Estados Unidos. O ambiente e as conversas ajudam a perceber o comportamento do eleitor.

Vi muitos apoiadores de Kamala Harris e muitos cartazes e voluntários levando o nome da democrata de porta em porta. Assisti a um comício com show de Lady Gaga e Ricky Martin, e discursos de Oprah Winfrey e da própria Kamala, ovacionadas.

Também vi muita gente indecisa. Alguns que, ainda na segunda-feira, poucas horas antes de votar, não estavam 100% convencidos ou satisfeitos com a escolha. Isso representa e explica muito o porquê de a Pensilvânia ser um Estado decisivo. Donald Trump e Kamala Harris disputam especialmente os 93 votos dos sete Estados-pêndulo.

A Pensilvânia que não tem como ver daqui, a partir da maior cidade do Estado, tem diversas peculiaridades no interior e nas áreas mais afastadas desse grande centro. Nesses locais, a cor vermelha, republicana de Donald Trump, poderá definir outro rumo para os 19 votos que o Estado tem no colégio eleitoral. Por isso os olhos estão voltados para cá.

O número mágico é 270, o necessário para ser escolhido o novo presidente do país. As recentes pesquisas mostravam que essa será uma das eleições mais apertadas da história. _

ANDRESSA XAVIER


06 de Novembro de 2024
Rodrigo Lopes

Os EUA que emergem da eleição

Quando Joe Biden foi eleito presidente, em 2020, muitos disseram que, enfim, após quatro anos da era Donald Trump no poder, os Estados Unidos regressavam à "normalidade política". O que veio dois meses depois? O 6 de Janeiro, o ataque ao Capitólio, o maior teste de estresse da democracia americana. Por isso, tenho ressalvas com a expressão "normalidade política", porque ela pressupõe algo "anormal". Ora, o que seria "anormal"?

Tudo é política - do movimento de bairro à decisão de um governante de ir à guerra. Aliás, como dizia Clausewitz, "a guerra é a continuação da política por outros meios". Até um atentado contra um candidato à presidência é um ato político. Criminoso, diga-se de passagem.

Os EUA que Kamala Harris ou Donald Trump comandarão são um país cuja principal preocupação, segundo pesquisa conduzida pela Edison Research feita ontem, dia de eleição, é com a situação da democracia (35%), mais do que a economia, que ficou em segundo lugar (31%). Em seguida, aparecem aborto e imigração, com a política externa ficando por último.

A nação que um deles herdará vem de um colapso no PIB durante a crise da covid-19, com uma economia que se regenerou fortemente sob Trump - processo que continuou com Biden. O ritmo com que os preços têm subido, no entanto, é avassalador. Eles aumentaram muito nos dois primeiros anos da gestão Biden, atingindo pico de 9,1% em junho de 2022. Essa não é, entretanto, a pior inflação da história, como alega Trump. Aliás, nos últimos 12 meses caiu para cerca de 3%, embora continue mais alta do que quando o republicano deixou o cargo.

A perda do poder de compra da população, essa sim, preocupa. A renda não cresceu o suficiente para superar as perdas inflacionárias, e a falta de vagas de emprego com bons salários no setor de manufatura provoca ansiedade na classe média. Há um mal-estar econômico.

Aliás, mal-estar é uma expressão de que gosto para definir o atual estágio da política americana, mais do que normalidade. As questões ideológicas - armas, aborto e imigração também provocam mal-estar. Os EUA estão mais divididos do que nunca. Há um ambiente vicioso e polarizado. O mal-estar americano persiste, tanto que há risco de questionamentos à ordem democrática, medo de violência. E sim, isso, infelizmente, também é da política normal. _

Vilarejo indiano em oração pela vitória de Kamala Harris

R.Satish BABU / AFP

"Saudações, América, nossos votos de vitória a Kamala"

Na localidade, nasceram os ancestrais da democrata, como o seu avô materno P. V. Gopalan.

A corrente já havia sido realizada em 2020, quando eles rezaram pela vitória de Joe Biden, campanha na qual Kamala era candidata à vice. A chapa democrata ganhou.

Para este ano, a comunidade garante que, se ela vencer, haverá muita celebração. _

A terça-feira pelos olhares republicano e democrata

O dia de votação nos Estados Unidos foi recheado de apoiadores, tanto do republicano Donald Trump como da democrata Kamala Harris, estampando seus adesivos, adereços e bandeiras pelas ruas para mostrar a força de cada candidato.

A foto à esquerda mostra uma eleitora com um calçado "Crocs" com as palavras "Trump" e "MAGA", referência à frase de campanha republicana: Make America Great Again.

A imagem à direita mostra uma eleitora de Kamala na beira de uma estrada com um cartaz: "Harris para presidente". _

Resultado das eleições afeta o RS?

A eleição americana pode ter impacto nas exportações gaúchas. No ano passado, por exemplo, os Estados Unidos foram o nono destino dos produtos do RS, representando 9%.

No início deste ano, o país foi o segundo destino das exportações do Estado, representando 13,4% do total. Estamos falando de US$ 13,1 bilhões em vendas entre janeiro e agosto. O RS exporta soja em grão, farelo de soja, fumo manufaturado, óleos e minerais para os americanos.

Como já comentei em coluna anterior: tradicionalmente, os democratas, leia-se Kamala Harris, são mais protecionistas em relação à economia do país. Os republicamos, por outro lado, costumam ser mais liberais.

O problema é que Donald Trump subverte essa lógica. É extremamente protecionista ("America First"). Esse posicionamento prejudica as exportações gaúchas. Por outro lado, há uma rivalidade entre China e EUA, que se acirra com Trump no poder, o que favoreceria os gaúchos. Os americanos comprando menos da China abriria mercado para o Brasil ocupar esse espaço, especialmente em produtos agrícolas.

Casal Clinton em votação

O ex-presidente Bill e a ex- primeira-dama Hillary Clinton votaram ontem.

No X, Hillary escreveu: "Acabamos de votar em Kamala e Walz e foi incrível. Não perca a chance de ajudar a colocar essa equipe no poder para que ela possa lutar por todos nós". _

INFORME ESPECIAL

terça-feira, 5 de novembro de 2024



05 de Novembro de 2024
CARPINEJAR

Uma mulher presidente dos EUA?

Só nas séries era possível ver uma mulher presidente dos Estados Unidos.

Em Commander in Chief, de 2006, Mackenzie Allen, interpretada por Geena Davis, emerge ao poder devido à morte do presidente Teddy Bridges.

Em Veep, de 2012, Selina Meyer (Julia Louis-Dreyfus), senadora de Maryland, tenta ser indicada por seu partido para concorrer à presidência, mas não ganha a nomeação e termina sendo vice-presidente. No decorrer do mandato, o presidente renuncia repentinamente em função de problemas de saúde de sua esposa, fazendo com que Meyer assuma o comando.

Na polêmica House of Cards, Claire Underwood, encarnada por Robin Wright, sai da sombra de primeira-dama para, numa manobra do Congresso, suceder o marido, o ex-presidente e ex-congressista Frank Underwood (Kevin Spacey).

O que Kamala Harris tem pela frente não é brincadeira: transformar a ficção em realidade, pondo abaixo a última fronteira da misoginia - a Casa Branca.

Enfrenta o todo-poderoso Donald Trump, um dos homens mais ricos do mundo, intransigente, megalomaníaco, representante de um grupo de outsiders conservadores que se sentem excluídos e decepcionados com a política atual, nostálgicos de uma América forte, xenofóbica e unilateral.

Figura controvertida dos extremos (ou me ame, ou me odeie), Trump renasceu de uma condenação, de processos criminais e de acusações após sobreviver a atentado na campanha, em Butler, Pensilvânia. Com o punho em riste, desafiou a morte: "Lutem, lutem, lutem".

São duas reeleições em jogo, a do Partido Democrata, com a desistência de Joe Biden, e a de Trump, que busca reaver o segundo mandato perdido na eleição passada. Ambos almejam atingir o número mágico de 270 de um total de 538 delegados, que assegura matematicamente quem irá ocupar o cargo pelos próximos quatro anos.

Neste tradicional e ufânico dia de hoje, os dados serão lançados. Desde 1845, a votação se desenrola na primeira terça-feira depois da primeira segunda-feira de novembro. Numa disputa acirrada, em que os dois se declaram favoritos e azarões ao mesmo tempo, existe um misterioso empate técnico nas pesquisas de intenção de voto.

A igualdade é tamanha na briga voto a voto, que até se cogita algo que jamais aconteceu na história americana, um lendário placar de 269 a 269, com o voto de minerva ficando para o Congresso.

Kamala pode vingar a derrota de Hillary Clinton para Donald Trump em 2016. Apesar de a candidata democrata e ex-secretária de Estado ter recebido 65,8 milhões de votos na ocasião, quase 3 milhões a mais do que Trump, pelo sistema eleitoral indireto dos EUA, Trump derrotou Hillary com 56,5% dos delegados (276) contra 42,2% dela (218).

Filha de uma cientista indiana e de um professor universitário jamaicano, Kamala ascendeu de uma família de imigrantes para ser eleita, em 2010, a primeira procuradora-geral negra da Califórnia, sua terra natal, e a primeira senadora negra pelo mesmo Estado em 2016.

O desafio que tem agora é maior do que aquilo que já fez no controle da criminalidade em São Francisco, que resultou num aumento das condenações na cidade e num programa inédito que incentivou traficantes a abandonarem a atuação nas ruas e retornarem à sala de aula, a partir de uma reabilitação pelo ensino.

Na sua agenda presidencial, carrega a bandeira de "uma economia de oportunidade", que se concentra no fortalecimento das classes média e de baixa renda, e na redução dos custos abusivos dos medicamentos e dos alimentos.

Todos os olhos estão nos sete decisivos Estados-pêndulos: Arizona (11 delegados), Carolina do Norte (16 delegados), Geórgia (16 delegados), Michigan (15 delegados), Nevada (6 delegados), Pensilvânia (19 delegados) e Wisconsin (10 delegados).

Ninguém vai dormir, para acompanhar a apuração e maratonar a série da vida real. 


05 de Novembro de 2024
NÍLSON SOUZA

O general verde

Numa calçada do bairro Azenha, observo o movimento dos adolescentes que saem da escola e tomam o caminho do shopping. Passa lentamente um ciclista na direção da Redenção, escoltando um garotinho de seis ou sete anos, também ele na sua pequena bicicleta. Ouço o menino perguntar:

- Pai, quem é aquele homem no cavalo?

O pai olha rapidamente para o monumento no canteiro central da avenida e responde: - É o Bento, da Guerra dos Farrapos.

Penso que o menino vai perguntar algo sobre a batalha que dividiu os gaúchos, mas sua curiosidade é outra: - E por que ele é verde? Rápido no gatilho das palavras, o paizão aproveita a oportunidade para repassar uma lição de casa:

- Porque ele não toma banho!

E seguem adiante. Resolvo, então, olhar com mais atenção para um dos principais monumentos da Capital. Ele não ficou ilhado como o Laçador nem teve os pés molhados como os poetas da Praça da Alfândega, mas a água das chuvas e o dióxido de carbono emitido pelos veículos que circulam no entorno deixaram o general e sua montaria mais verdes do que o incrível Hulk nos seus momentos de fúria. 

É mesmo duro ser estátua, como cantou Erasmo Carlos. Mas os atuais inimigos do militar não são os pombos da canção. Ele sobreviveu a batalhas, a duelos e ao encarceramento, mas está sendo derrotado pelo "verdete", que é como os portugueses chamam a oxidação do bronze.

Sei que outros monumentos da cidade também estão cobertos de zinabre. O próprio marechal Osório, no coração da Feira do Livro, já se confunde com a vegetação quando observado do alto. Mas a situação de Bento Gonçalves parece pior, pois seu pedestal também está degradado - não pela umidade ou pela descarga dos veículos, mas sim por vândalos e pichadores. Porém, o que mais chama a atenção mesmo é aquela ferrugem verde.

Já li que qualquer objeto de bronze recupera sua cor original, que é um marrom alaranjado puxando para o vermelho, quando devidamente lavado com água morna, suco de limão e bicarbonato. Também não ignoro que os monumentos da cidade são limpos periodicamente pelo setor especializado da prefeitura municipal. Mas o pai do garotinho da bicicleta tem razão: o general está precisando de um novo banho. _

NÍLSON SOUZA

EDITORIAL

Combate incansável e abrangente

A redução nos principais números da criminalidade no Estado desde a segunda metade da década passada não significa que a batalha contra a delinquência organizada está vencida. A alta frequência de operações policiais voltadas a dissolver esquemas e prender membros de facções mostra que o combate a esses grupos não tem trégua por parte das forças de segurança, mas ao mesmo tempo expõe a diversificação da atuação dessas quadrilhas e uma significativa capacidade de se reestruturarem. 

Apertar o cerco em várias frentes, do policiamento ostensivo ao trabalho de inteligência, passando por uma política penal efetiva, é essencial para o êxito nessa luta. É preciso acabar com a sensação de que se está enxugando gelo na repressão às facções.

Um ponto que sempre desperta indignação é o fato de lideranças condenadas e mantidas em casas prisionais continuarem recebendo informações e enviando ordens para os seus comandados nas ruas, com grande facilidade. Neste sentido, vai na direção correta a iniciativa apresentada ontem pelo governo gaúcho, em cooperação com o Judiciário e o Ministério Público (MP), para isolar lideranças criminosas na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc). Espera-se que o programa consiga ser implementado de acordo com o planejado e produza os resultados esperados, em especial a redução de homicídios que ocorrem devido à guerra entre grupos rivais.

O isolamento será feito em um módulo construído na Pasc, ao custo de R$ 30 milhões, onde funcionará um regime diferenciado de prisão. São 76 vagas, em celas individuais, com bloqueio de sinal de celular, mais revistas e visitas íntimas restringidas. A segregação no próprio Estado também evita um problema notado com o envio de lideranças para presídios federais em outras unidades da federação. Essas chefias estavam se articulando com facções de outras regiões.

Para a iniciativa ser bem-sucedida, obviamente é preciso uma colaboração institucional, a observância da legislação penal e a busca por fechar brechas legais que beneficiem os criminosos. Será fundamental a instalação da 3ª Vara de Execuções Criminais (3ª VEC), prevista para entrar em funcionamento no próximo dia 29. Passará a controlar a execução de penas dos condenados em definitivo e dos provisórios presos na Pasc. Terá ainda responsabilidade de manter uma visão mais ampla sobre a criminalidade no Estado. Outra medida relevante, prometida pela Secretaria Estadual da Saúde, é ampliar o atendimento no sistema carcerário, inclusive na média complexidade. Isso dificulta que presos busquem a prisão domiciliar alegando problemas de saúde. Há o registro de vários casos de fugas após a obtenção do benefício previsto em lei.

Além do regime diferenciado de prisão, o governo gaúcho anunciou outras medidas para sufocar as facções. Uma delas é estender um protocolo adotado na Capital para todo o Estado, com a ampliação do policiamento em áreas com assassinato vinculado à disputa entre quadrilhas e a busca por responsabilizar as lideranças. São ações complementares a outras estratégias como o estrangulamento financeiro dos grupos e a detecção de lavagem de dinheiro. O combate às facções, para ser exitoso, tem de ser incansável e abrangente.  



05 de Novembro de 2024 
SEGURANÇA PÚBLICA - Leticia Mendes

SEGURANÇA PÚBLICA

Plano contra homicídios adotado na Capital será ampliado para o Interior

Protocolo já empregado há dois anos em Porto Alegre consiste em medidas que atinjam as organizações criminosas sempre após ordenarem uma execução, tais como o reforço da presença policial na área em que houve a morte. Outra providência é o isolamento dos líderes desses grupos nos presídios

O governo do Estado vai estender a todo Rio Grande do Sul o protocolo aplicado nos últimos dois anos em Porto Alegre para a redução de homicídios. Um termo de cooperação assinado ontem no Palácio Piratini é um dos passos para marcar a adoção da estratégia. O foco é endurecer as medidas contra o crime organizado quando acontecem execuções.

A estratégia prevê uma sequência de medidas, como a saturação de áreas com policiamento sempre que houver um assassinato ligado a disputas entre facções e a responsabilização das lideranças. A medida mais severa é o isolamento dos líderes que ordenarem mortes.

- Todo grupo criminoso que determinar homicídios vai para a lista de prioridades das investigações. E vamos vir com várias ações: asfixia financeira, prisão da liderança e do segundo escalão, combate à lavagem de dinheiro. Esse grupo vai sofrer as consequências - afirma o secretário da Segurança Pública, Sandro Caron.

O governador Eduardo Leite destacou a queda nos indicadores de crimes no RS, mas reconheceu que é preciso avançar:

- Nesses últimos anos, empregamos uma estratégia de segurança pública coerente, baseada em evidências. A gente tem conseguido reduzir fortemente os indicadores. Estamos dando um passo importante num momento que não é de crise.

Mandantes incomunicáveis

Para isolar os líderes do crime será usado um módulo construído, ao custo de R$ 30 milhões, na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc).

- Na Pasc, temos um módulo, com 76 celas individuais. Com pátio individual, com investimento em bloqueadores de celular. Tudo para impossibilitar que as grandes lideranças possam, de dentro dos presídios, comandar o crime organizado - detalha o secretário de Sistemas Penal e Socioeducativo, Luiz Henrique Viana.

Um dos intuitos ao manter os presos isolados, mas dentro do Estado, é evitar que lideranças estabeleçam novas conexões com grupos criminosos de fora do RS, criando ramificações.

- Envios de presos para o sistema federal serão excepcionais e estudados caso a caso - afirma Caron.

Saúde nas prisões

A secretária de Saúde, Arita Bergmann, disse que serão ampliados os atendimentos de saúde no sistema prisional, para evitar que presos precisem deixar as unidades para receber tratamentos. Esse, muitas vezes, é um dos motivos que leva detentos a ganhar direito à prisão domiciliar.

- Hoje estamos aqui porque a saúde cuida da atenção primária, já instalada devidamente, e cuida da área hospitalar. Há um vazio que é atenção especializada de média complexidade. Criamos um ambulatório especializado, com atendimento de médicos especialistas que irão para dentro do presídio para consultas - afirma Arita. 



05 de Novembro de 2024
INFORME ESPECIAL  - Rodrigo Lopes

Fantasmas do 6 de Janeiro assombram a América

Ganhe quem ganhar hoje nos Estados Unidos, a história estará sendo escrita. Se Kamala Harris vencer, será a primeira mulher a chegar à presidência. Se o eleito for Donald Trump, será a segunda vez na longa trajetória política americana em que um presidente consegue um novo mandato após perder a primeira tentativa de reeleição - o único até agora a conseguir essa façanha foi Grover Cleveland, no distante 1892. Sem falar que, se der o republicano, os americanos terão, pela primeira vez, um presidente eleito condenado criminalmente pela Justiça.

Entretanto, não é apenas pela biografia dos contendores que essa eleição é histórica. Há uma conjunção de fatos e características que tornam essa edição única.

Kamala é negra e descendente de imigrantes asiáticos. Trump é a própria encarnação do acrônimo "Wasp" - as iniciais de "branco, anglo saxão e protestante".

Mais: se você acha que o Brasil está dividido ideologicamente, saiba que, por lá, a situação é mais grave: o país está cindido ao meio a ponto de especialistas em relações internacionais não descartarem, em um futuro, a hipótese de uma nova guerra civil.

São duas visões opostas: se Kamala vencer, os EUA viverão a continuidade do governo Joe Biden, com aposta no multilateralismo. Se Trump ganhar, a tática, a exemplo do primeiro mandato, será de maior isolamento. Ela quer o país dentro dos acordos globais do clima. Ele deseja a nação fora.

O país chega ao dia da eleição após uma campanha como poucas vezes se viu: houve a desistência de Biden, então candidato à reeleição, e um atentado que por pouco não tirou a vida de Trump. O 5 de novembro também é um teste para a própria democracia - ironicamente, a mais tradicional do mundo. Será o primeiro pleito desde a vergonha do 6 de janeiro de 2021 e da infame invasão do Capitólio por apoiadores de Trump, que não reconhecia - e nunca reconheceu - a derrota do ano anterior. Sem dúvidas, quando as urnas forem fechadas hoje à noite, fantasmas daquele dia assombrarão a América. _

Últimas pesquisas

The Hill/Emerson

Estados Trump harris

Pensilvânia 49% x 48%

Michigan 48% x 50%

Wisconsin 49% x 49%

Carolina N. 49% x 48%

Georgia 50% x 49%

Arizona 50% x 48%

Nevada 48% x 48%

NY Times/Siena*

Estados Trump harris

Pensilvânia 48% x 48%

Michigan 47% x 47%

Wisconsin 47% x 49%

Carolina N. 46% x 48%

Georgia 47% x 48%

Arizona 49% x 45%

Nevada 46% x 49%

InsiderAdvantage*

Estados Trump harris

Pensilvânia 49% x 48%

Michigan 47% x 47%

Wisconsin 47% x 49%

Carolina N. 49% x 47%

Georgia 49% x 48%

Arizona 49% x 46%

* Pesquisas divulgadas no domingo.

Dia agitado para campanhas e eleitores

Kamala Harris passou o dia na Pensilvânia, onde realizou cinco eventos. A democrata passou por cidades como Scranton, Reading, Allentown e Pittsburgh e encerrou a noite na Filadélfia, onde participou de um evento com artistas como Lady Gaga e Oprah Winfrey.

Já Donald Trump iniciou o dia na Carolina do Norte e também passou pela Pensilvânia, em eventos nas cidades de Reading e Pittsburgh. O encerramento da campanha ocorreu no Grand Rapids, Michigan.

O dia foi intenso também para os eleitores. Em Burnsville, na Carolina do Norte, placas indicavam "vote aqui" em inglês e em espanhol. _

Os horários em que terminam a votação

Já às 21h30min é a vez da Carolina do Norte, um swing state.

Às 22h em outros 17 Estados, incluindo a Pensilvânia. Michigan e Texas também se encerram neste horário. Às 22h30min é a hora do Arkansas e às 23h mais 15 Estados, incluindo Arizona, Michigan e Wisconsin.

Já amanhã, à 0h, o Arizona. Entre 2h e 3h, por fim, encerram as urnas no Havaí e Alasca. _

Lojistas com medo do que pode ocorrer após a eleição

INFORME ESPECIAL

segunda-feira, 4 de novembro de 2024

Morre o cantor Agnaldo Rayol, célebre por sua voz de barítono, aos 86 anos

Apresentador de TV e ator de novelas da Record sofreu uma queda, segundo o hospital HSanp, onde ele foi hospitalizado

4.nov.2024 às 10h08
Atualizado: 4.nov.2024 às 10h38

São Paulo

Morreu na madrugada desta segunda-feira (4) o cantor e apresentador Agnaldo Rayol, que ficou conhecido por sua voz única e participações na televisão brasileira, aos 86 anos. Ele morreu devido a uma queda. A informação foi confirmada pelo hospital HSanp, em Santana, na zona norte de São Paulo, onde ele foi hospitalizado.

Foi a voz de barítono que marcou a vida profissional de Rayol. É um tipo de extensão vocal acima do tenor, uma mescla de grave e aveludado, e menos intenso que a dos baixos. As interpretações que ele fez de canções italianas como "Mia Gioconda" e "Tormento d’Amore" estão entre seus grandes sucessos.

Além de cantor, Rayol foi apresentador de TV e ator, tendo participado de novelas da TV Record como "As Pupilas do Senhor Reitor", lançada em 1970, e "Os Deuses Estão Mortos", do ano seguinte.

Comandou ainda os programas "Corte-Rayol Show" e "Agnaldo RayoI Show", também na Record, nos anos 1960.

Esta notícia está em atualização

 

Prolongando a vida com saúde

 

comer para não envelhecer

Jaime Cimenti

Todos almejam viver mais e com saúde. Estudos internacionais, inclusive de Harvard, apontam que bom convívio consigo mesmo, com amigos e familiares e sentimento de pertencimento são ainda mais importantes que dormir bem, se alimentar adequadamente e fazer exercícios.

Comer para não envelhecer (Editora Intrínseca, 736 páginas, R$ 139,90), de Michael Greger, consagrado médico, palestrante especialista em segurança alimentar e escritor, autor do best-seller Comer para não morrer, nesta obra apresenta um guia completo de alimentação com métodos simples e acessíveis para prolongar a vida com saúde.

Inspirado no estudo dos hábitos das comunidades mais longevas do mundo, o autor aprofundou seus estudos sobre a dieta à base de vegetais (plant-based diet), que pode prevenir, controlar ou até reverter muitas das questões médicas da atualidade. Neste livro o Dr. Greger, fundador da NutritionFacts.Org,que disponibliza vídeos e artigos científicos gratuitos sobre alimentação, mostra que estilo de vida e alimentação são eficazes no combate de doenças crônicas e outros males ao longo da existência.

A primeira parte da obra fala das onze vias do envelhecimento, como autofagia, glicação, oxidação e etc. Na segunda Greger fala de antienvelhecimento ideal, com dieta, estilo de vida, exercícios, sono e vínculos sociais. Na terceira, Greger fala como preservar os ossos, os cabelos, a audição, as articulações, a visão e outras funções. A parte final trata dos oito princípios do envelhecimento, com oleaginosas, vegetais verdes, frutas vermelhas, restrições calóricas e proteicas e fermento alcoólico do suco de levedura.

Na contramão da indústria do envelhecimento, que movimento centenas de bilhões de dólares prometendo fórmulas mágicas, Greger comprova que a alimentação é a chave para a longevidade. Greger não prega imortalidade, mas, sim, envelhecimento com graça e vitalidade, ao invés de doenças e mazelas da decrepitude. 

Lançamentos

Café com aroma de pecado: porções diárias de língua portuguesa (Editora AGE, 403 páginas, R$ 98,90), do renomadíssimo professor, editor e homem de cultura Professor Paulo Ledur, traz dicas saborosas e aromáticas como um café, para todos os dias do ano, envolvendo nossa língua. Ledur ensina a escrever livre, leve e solto e, de leve, corretamente.

Entre um gole e outro 2 , o retorno (Bá Editora, 270 páginas), antologia Butantan, traz textos dos cobras Alexandre Bach, Carlos Wagner, Elton Werb, Flávio Dutra, Horst Eduardo Knak, Marcelo Villas-Boas, Márcio Pinheiro, Marco Poli, Marcos Martinelli, Mario de Santi, Luiz Reni Marques, Ricardo Chaves e Sérgio Schueler. A energética editora Mariana Bertolucci reuniu os guris da Confraria do Alemão, que segue firme e fértil.

Literatura, Memória e Identidades Plurais (Oikos Editora, 204 páginas) traz textos da consagrada professora universitária , escritora e pesquisadora Zilá Bernd, um dos maiores nomes de nossa crítica literária. Escritos entre 1975-2023, com rigor, clareza e consistência próprios da autora, os textos falam de racismo, literatura afro-brasileira, sul-riograndense , brasileira e da América Latina e temas variados. 

A fonte da eterna juventude

Ninguém gosta de morrer, com raras exceções. O ser humano sempre sonhou com a vida eterna, reencarnação, a fonte da juventude e os poderes da alquimia da pedra filosofal. Até o Harry Potter se envolveu com a pedra essa. Muitos acumulam objetos, dinheiro, imóveis, honrarias, filhos, mulheres, maridos, roupas, jornais velhos, cargos, joias, livros raros e antiguidades na esperança de que aí não vão bater as botas. Alguns entram em academias, ordens e instituições para se tornar imortais, como certos times de futebol que, de vez em quando, morrem na praia e depois ressuscitam. Antigamente diziam que os escritores brasileiros eram imortais porque não tinham onde cair mortos. Hoje nem tanto.

O Woody Allen, que vai fazer 89, diz que gostaria de ser imortal em vida e que prefere não sair de Manhattan, onde gosta de ir até a esquina comer sanduíche de pastrami. O Machado de Assis disse que matamos o tempo e que o tempo nos enterra.

Esse papo todo inicial é para falar do impactante filme A Substância, terror moderno, body horror high tech da diretora Coralie Fargeat (Vingança) em cartaz por aqui. Na história, uma atriz decadente, que ainda fazia sucesso como professora de aeróbica na TV, aos 50 anos é chamada de velha e superada e é demitida sumariamente. A gloriosa Demi Moore (Proposta Indecente, Striptease) , na vida real uma guria de 62 anos, é a protagonista. A brilhante jovem Margaret Qualley é a coadjuvante meio protagonista.

Desesperada com a demissão repentina, Elizabeth, a estrela apagada, aceita um estranho tratamento para encarnar uma nova e jovem versão de si mesma. Depois de uma replicação celular, ela vai virar duas em uma, e quantidades industriais de sangue-ketchup, vísceras e monstruosidades vão rolar. Se você tem estômago light, não vá ou leve um saco plástico que pode ser útil. O filme mereceu o prêmio de melhor roteiro no Festival de Cannes de 2024.

O filme desperta ideias sobre etarismo, ageísmo, velhofobia, feminismo polêmico, olhar masculino machista e sobre as ditaduras da forma, da magreza e da beleza, que andam por aí infernizando milhões no planeta, assim como a ideia de rejuvenescer a qualquer custo, mesmo ficando com rosto de buldogue assimétrico, bocas com lábios imensos, um olho maior do que o outro e remédios caríssimos, de uso contínuo e vitalício, para comer menos.Não conto detalhes da película, claro, para não dar spoiler aos meus queridos vinte e nove leitores. A Substância lembra a série brasileira A Fórmula, de 2017, na qual uma cientista desenvolve um elixir que a rejuvenesce em cerca de trinta anos.

Algumas pessoas não suportam as cenas fortíssimas e saem da sala, outros ficam com nojo, sentem raiva, medo, estupefação e têm reações extremas, sem tirar os olhos da telona. Ou seja: é terror do bom, de alta qualidade, que virou clássico gótico moderno. Demi Moore entende muito bem dos temas do filme, como demonstrou em sua biografia, Inside Out. Demi entregou seu livro para a editora e reivindicou o papel. Sábia decisão das duas. Demi sabe tudo de auto imagem e, aos 62, está com tudo em cima.

A propósito

A Substância mostra a luta para rejuvenescer e tornar-se, muitas vezes com exageros, um cadáver de inútil beleza. Em boa parte do mundo as pessoas, especialmente as mulheres, estão vivendo mais. Viver mais tempo é ótimo. Melhor ainda com saúde física e mental, equilíbrio e respeito à natureza. Conhecer o Ikigai japonês, a arte de viver mais com saúde e felicidade, sendo sempre ativo ao lado da família e amigos, calmo, comendo moderadamente, ficando em forma para o próximo aniversário, sorrindo, agradecendo aos antepassados, vivendo o momento e buscando sua razão de ser e o motivo maior para levantar da cama a cada nascer do sol é o caminho verdadeiramente substancial. 

(Jaime Cimenti)


04 de Novembro de 2024
CARPINEJAR

Pais intrusos

Por que os filhos adultos não gostam da visita dos pais?

Não tem nada a ver com ingratidão. Ou com falta de saudade. Ou com ausência completa do espírito de acolhimento e hospitalidade. Ou com diferenças de geração. Ou com descomprometimento na família. Ou mesmo com anseio por privacidade.

É que os pais não conseguem não mexer em tudo. São de uma natureza bisbilhoteira. Nasceram para a blitz, para a intromissão, para o controle. Vivem de um lado para o outro da residência, procurando faxina ou problema. Não sossegam se não realizam a inspeção. Conferem se as cortinas estão puídas, se o sofá se encontra manchado, se avulta algum sinal de cupins nos armários e de traças nas roupas. Vistoriam as lâmpadas queimadas, as janelas emperradas, o vencimento dos alimentos na geladeira.

Há dentro deles uma voltagem irrefreável por reforma, por revolução, por golpe de Estado.

Não compreendem ou reconhecem o seu papel de visita. Colocam o parentesco vitalício na frente de sua condição provisória. Há um desejo paterno e materno de ainda mostrar utilidade, de despertar um sentimento antigo de dependência, e não se cansam de tirar os objetos de lugar sob o pretexto de que estão arrumando e ajudando.

Os pais consideram que qualquer ordem distinta das suas métricas é bagunça. Não entendem que os filhos foram criados por eles, mas não são eles, não são suas extensões, e mantêm seus próprios hábitos.

Jamais aceitam que os filhos são independentes e livres da imitação. Continuam enxergando suas crias, já emancipadas, como suas crianças.

Eu, por exemplo, apareci no apartamento do meu filho. Passei uns dias lá. Vi uma caixa na área de serviço, pensei com os meus botões que era lixo e que Vicente estava com preguiça de levar para o subsolo do prédio. Quis fazer a cortesia de despachar.

Estranhei que tinha um baú de acrílico dentro.

- Ué, será que ele não viu que iria jogar fora uma caixa tão boa? Mas concluí que deveria apresentar algum defeito, e que ele deveria estar ciente disso. Respeitei o caráter descartável do amontoado de papelão, e botei o conjunto inteiro na lixeira. Arejei o ambiente daquela tralha.

Quando ele voltou da universidade, questionou: - Você viu a embalagem que deixei na área? Eu sorri, satisfeito com os meus préstimos. - Levei para baixo. 

Ele não pareceu nem um pouco animado com a minha gentileza. - Era um produto que veio errado, e separei para a troca. Em nenhum momento, cheguei perto dessa hipótese. Jamais cogitei que se tratava de uma devolução. Sempre partimos do óbvio e cometemos as nossas maiores mancadas. Gerei um prejuízo gratuito. Ele não tem mais o que trocar.

Antes de agir, antes de promover um favor para os filhos, respire pausadamente, contenha o ímpeto, espere o retorno deles e execute um tira-teima. Pergunte o que significa cada objeto. Ou simplesmente aprenda a existir sem interferir em nada. _

CARPINEJAR


04 de Novembro de 2024
CLAUDIA LAITANO
Dois discos

Em uma casa sem livros, fui alfabetizada pela música popular brasileira. Nas letras das canções, descobri o desejo, o êxtase amoroso, a solidão e a fossa, por exemplo, muito antes de aprender a ligar o sentimento poético às experiências reais, singulares, que viriam anos mais tarde. Fui alfabetizada no sentido literário também, percebendo, na arquitetura perfeita de um verso, o rio de significados que corre dentro de uma única palavra - e como essa correnteza me levava a sentir e a pensar de maneira mais livre e mais bonita ("Uma meta existe para ser um alvo/ Mas quando o poeta diz: Meta/ Pode estar querendo dizer o inatingível"). Alfabetizada ainda no sentido político, porque eram os anos 1970 e 1980, e naqueles dias apenas uma canção poderia dizer, para quem soubesse ouvir, que um "cálice" às vezes é também um "cale-se".

Escrevo pensando em Chico, Caetano, Gil e outros compositores que escrevem e interpretam as próprias canções. Se Chico, Caetano e Gil são como amigos de infância, é porque não consigo lembrar de algum período da minha vida sem a trilha sonora das suas vozes como acompanhamento. Os poetas que não cantam (ou não cantam tanto) nem sempre soam tão familiares. São como amigos por correspondência. Penso em Fernando Brant, Aldir Blanc, Antonio Cicero.

Cicero foi parceiro de Caetano, Gil, João Bosco, Lulu Santos, Adriana Calcanhotto e outros tantos, mas foi a voz de Marina que o colocou no rádio - e na vitrola do meu quarto - na década de 1980. Naquele momento em que tudo era estreia, a poesia de Antonio Cicero fez um país dentro de mim. Ainda hoje, e para sempre, quando ouço Fullgás, tenho 18 anos de novo e estou apaixonada. Por um disco.

Para quem acha que casos de amor à primeira audição só acontecem quando a gente tem 18 anos, proponho um desafio: coloque pra tocar na vitrola (ou na sua plataforma de streaming favorita) o novo disco do Vitor Ramil, Mantra Concreto, com poemas musicados de Paulo Leminski, e me diga se não parece que tudo em volta (e por dentro) ficou maior e mais bonito.

Amanhã, às 20h, vou estar no Sarau Elétrico, no Ocidente (Av. Osvaldo Aranha, 960), com Katia Suman, Luís Augusto Fischer e Diego Grando, falando sobre viagens e também do meu livro novo, Recado dos Dias, lançamento da editora Libretos. Apareçam! _

CLAUDIA LAITANO

Nada deve cair no esquecimento

A grandeza da tragédia climática que se abateu sobre o Rio Grande do Sul há seis meses, com uma extensão de estragos sem paralelo no país, fez os governos federal e estadual se comprometerem a não poupar recursos para o amparo aos atingidos e às empresas afetadas, para a recomposição da infraestrutura e para fortalecer os sistemas anticheia. A soma de todos os anúncios chega a R$ 114,8 bilhões, contabiliza o Painel da Reconstrução, ferramenta criada pelo Grupo RBS, instrumento referencial para acompanhar o quanto, de fato, já chegou à ponta em cada programa. Deste total, R$ 54,9 bilhões, o equivalente a 47,8%, foram efetivamente desembolsados.

Para a sociedade gaúcha cobrar que toda ajuda prometida se materialize, é determinante saber, no detalhe, o andamento individualizado das ações. Jogar luz sobre a informação pormenorizada facilita a reivindicação para destravar medidas que se mostrem sendo executadas em um ritmo inadequado à urgência atravessada pelo Estado. É uma infeliz tradição da cultura da burocracia do Brasil, a existência de uma distância significativa entre o que é anunciado com estardalhaço e o que é entregue. A passagem do tempo também costuma levar ao descompromisso e ao abrandamento das demandas.

A enormidade da catástrofe do Estado, com a previsão de anos a fio de obras, e o risco da repetição de eventos climáticos extremos impõem manter a vigilância para que nenhuma pessoa física ou jurídica fique sem o respaldo esperado, toda moradia prometida e aguardada seja recebida e cada palmo de estrada destruída reste restabelecido. Nota-se uma desaceleração no ritmo dos repasses. É algo até natural. Em um primeiro momento, logo após o dilúvio e suas consequências imediatas, a ajuda financeira a pessoas físicas e jurídicas tem de ser imediata. Em uma segunda etapa, as obras mais complexas de engenharia, como pontes e diques, exigem estudos aprofundados e projetos que levam mais tempo para serem elaborados.

Mas além das ações estruturantes, de mais longo prazo de maturação, há iniciativas que deveriam ser de pronto apoio aos atingidos e enfrentam entraves sérios. Precisam de uma solução rápida. É gritante o caso do Auxílio Reconstrução, formulado pelo Palácio do Planalto ainda em maio, mês da enchente. Iniciativa meritória, previa o pagamento de R$ 5,1 mil por família diretamente afetada, em parcela única. Trata-se de apoio fundamental em especial para as milhares de famílias de baixa renda atingidas. Até agora, 377 mil foram beneficiadas, com o desembolso de R$ 1,9 bilhão. Ainda assim, existem mais de 330 mil pedidos sem resposta, seis meses após a cheia. É possível que nem todas tenham de fato o direito, mas muitas estão enquadradas e devem ter essa pendência solucionada com a maior celeridade possível.

Reconstruir o Estado será uma tarefa longa. Diante de magnitude da destruição, o suporte do poder público é basilar. Acompanhar e cobrar periodicamente a ajuda prometida é essencial, sem deixar que nada caia no esquecimento. _

Opinião do leitor

OPINIÃO