30 DE JULHO DE 2018
GDI
Em meio aos remédios, farmácia vende fuzis em Mercedes
Na Argentina, também é proibido vender armamento a brasileiros, mas a venda persiste, de forma dissimulada. Uma equipe do GDI foi até a cidade de Mercedes. Lá, é possível localizar armas e munição, perguntando a pessoas que vão desde de donos de revendas de automóveis, de restaurantes e até proprietários de lojas de roupas. Eles indicam quem vende. Dois moradores, questionados, falaram de um ex-policial que venderia armas. A reportagem o procurou, ele não estava, mas sua mulher, sem saber que falava com jornalistas, confirmou que ele vende munição.
A repórter pergunta ao dono de um restaurante em Mercedes onde se pode comprar armas. Ele dá nova indicação:
- Tu caminhas uma quadra para frente e duas para a esquerda. Lá na farmácia há armas - fala o comerciante.
Diante da surpresa da repórter, ele confirma:
- Sim, armas. De caça. Já munição tu consegues no meu primo.
- E ele vende munição para qualquer um? Como eu? Para armas de fogo? -questiona a repórter.
- Sim, sim. Armas de fogo. Depende do calibre que queiras, ele te vende - detalha o comerciante, ao anotar num papel o endereço do fornecedor de munição, mesmo sabendo que a interlocutora é brasileira e não pode comprar armas na Argentina.
O primo tinha viajado, mas é repassado o telefone dele e confirmado que vende armas a qualquer um.
A busca culminou na farmácia San Martin, que, curiosamente, exibe na vitrine uma arma de cano longo, um fuzil, entre remédios e implementos agrícolas. Não é possível identificar se é uma arma de fogo original ou réplica.
Já no lado brasileiro, na fronteira com a Argentina, em Porto Mauá, um homem que joga bocha em um bar fala com naturalidade da possibilidade de vender munição, sem saber que conversava com repórteres:
- Que tipo de arma procuras? Alguma coisa a gente consegue, mas munição, principalmente. Não muito. Algumas caixas. Pistola? Espingarda? Carabina?
Questionado se é especializado no assunto, ri e admite ser contrabandista:
- A gente se vira, né. Compro produtos, ofereço serviços.
O contrabandista se oferece para ir até a cidade de Oberá - na Argentina, a 60 quilômetros de Porto Mauá. Questionado se a compra seria na Armería Ortiz, admite que sim. A loja exibe, na fachada, cartaz de venda de rifles Winchester norte-americanos, pistolas Bersa argentinas, fuzis CZ tchecos. Em tese, a venda é proibida para brasileiros, mas o atravessador garante que seria fácil a compra. A negociação é interrompida pelos repórteres, mas fica gravada a oferta.
Contribui para essa facilidade na aquisição de armas e munição o fato de parte da fronteira do RS com os países vizinhos estar desguarnecida. É por isso que contrabandistas se oferecem, até mesmo a estranhos, para buscar armamento em território argentino. Situada no noroeste gaúcho, a cidade de Porto Lucena, por exemplo, tem um porto - como indica o nome - na fronteira com a Argentina, sem guarnição policial ou fazendária. Basta entrar num barco e cruzar o Rio Uruguai até o país vizinho. Pescadores se oferecem para atravessar de canoa o forasteiro até território argentino, mediante pequena quantia.
EM APENAS UM CONTATO, VENDEDOR APRESENTOU CATÁLOGO DE ARMAS
Outras duas localidades gaúchas, Porto Vera Cruz e Porto Soberbo - também às margens do Rio Uruguai -, estão com as aduanas fechadas desde 2013. Não há fiscalização de fronteira. Quem vem da Argentina pode atravessar sem ser fiscalizado, o que torna o comércio de armas uma possibilidade.
Longe das lojas, é possível tentar compra de armas pela internet. Encontramos vários anúncios. Entramos em contato por e-mail com um vendedor, que prontamente enviou catálogo com quase cem armas, nenhuma delas com documentos. Ele informa, em espanhol, que fala de um país vizinho - seria o Paraguai - e que, via contatos nas aduanas, consegue fazer o envio para qualquer parte do mundo. No final da mensagem, afirma que tem mais clientes brasileiros. "Você não é o primeiro nem o último do seu país".
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