quarta-feira, 25 de julho de 2018


25 DE JULHO DE 2018
DAVID COIMBRA

As delícias da monotonia


Sei bem do que nós precisamos, nós brasileiros. Precisamos de monotonia. O próximo presidente da República, o que espero dele não é a genialidade e nem mesmo a inteligência. Até prefiro que não seja muito criativo, para falar a verdade. Prefiro que ele não invente soluções ou prometa milagres. Nada de arroubos nem de grandiloquências, nada de falar grosso ou de bazófias, nada de dizer que ele é o salvador da pátria ou o defensor dos oprimidos.

Previsibilidade.

Nós precisamos, apenas, de um pouco de previsibilidade.

Estamos há muito tempo sobressaltados, pobres de nós. Faz cinco anos, pelo menos, que as pessoas terçam opiniões como se fossem floretes, no Brasil. Cinco anos de desabafos no Facebook, de rixas nos grupos de WhatsApp, de amizades rompidas. Durante esse período, o país esteve sempre na fronteira de algum grande acontecimento. Pior: várias vezes, essa fronteira foi atravessada. Houve muita excitação e muita ansiedade.

Agora chega.

Chega de manchetes explosivas, chega de notícias extraordinárias, chega de Plantão da Globo. Chega de pontos de exclamação! É chegada a hora das reticências? A hora da pasmaceira. Do remanso dos dias sempre iguais. Necessitamos de, no mínimo, quatro anos de platitude. De saber o que vai acontecer no fim do episódio. Spoiler! Nós queremos spoiler!

Neste momento, o Brasil não cresce, o Brasil não anda, o Brasil está parado justamente por sentir medo do imprevisível.

Será que o próximo presidente vai privatizar tudo? Ou vai estatizar tudo? O que está feito será desfeito? Ou o que foi desfeito será refeito?

Alguém que ouse investir, planejar ou construir em meio a tantas dúvidas não é corajoso; é temerário.

Por isso, o melhor candidato não é o da mudança. É o da mesmice. Porque não há como melhorar sem antes estabilizar.

DAVID COIMBRA

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