05 DE JULHO DE 2018
ARTIGO
RAÍZES DO BRASIL
A meses das eleições, lembrei-me da obra clássica Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda. E da expressão "homem cordial", por ele cunhada. Um olhar desatento nos faria interpretar essa figura de linguagem como elogiosa, ou seja, tratar-se-ia de uma alusão a um modo amável de ser.
Ledo engano. O "homem cordial" de Buarque de Holanda é produto de um tecido social no qual as relações se baseiam em exacerbações do afeto, conchavos e favorecimentos entre famílias e amigos.
Representa o que há de mais perverso na estrutura escravagista ainda viva na sociedade brasileira. Um mundo em que tudo se resolve no âmbito privado e não no institucional. O "homem cordial" é bondoso com o criado, mas deixa clara a distância que há entre os dois. Pois ele se sente superior. Como antes fazia com o corpo do escravo, apropria-se do país.
Tudo pertence a ele e ao seu clã. A república, ou res publica, sistema no qual o Estado representa o interesse geral dos cidadãos, é substituído pelo compadrio, onde o privado sobrepõe-se ao público.
No latim, cordis significa coração. Buarque de Holanda refere-se a um modo de viver no qual as regras não valem para todos, mas segundo os afetos e vontades de alguns. Neste Brasil injusto, as regras se aplicam desde que o mais fraco entregue barato o seu suor. Mas, se ele quiser renegociar, a coisa muda.
Ouse pôr em xeque o poder das grandes corporações ou os privilégios dos donos do Brasil. Tente baixar os juros abusivos do cartão. Faça isto e verá quem manda no país. Como no passado, em nosso tempo a casa- grande e a senzala convivem apenas na aparência. Desde que tudo continue como está e o "homem cordial" de Buarque de Holanda dê as ordens.
A verdade é que somos tributários desse jeito feio de ser, em que homens públicos não servem a todos, mas apenas aos seus. É isto que faz perpetuar e acentuar nossas desigualdades. Temos de mudar. As eleições vêm aí. Analise com cuidado os candidatos. Procure quem já tenha feito algo útil para a população. Escolha um ficha-limpa que aos seus olhos possa melhorar o Brasil.
GILBERTO SCHWARTSMANN
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