20 DE JULHO DE 2018
ECONOMIA
Desemprego e desilusão
Ronaldo da Silva, 48 anos, ao ser demitido da Bottero na semana passada, decidiu abandonar o ramo calçadista por insatisfação salarial. Embora estivesse há cinco anos e meio na empresa, sua experiência com sapatos vem de 1982, quando pisou pela primeira vez em uma linha de produção na vizinha Sapiranga. Recém havia deixado a roça em Santo Antônio da Patrulha em busca de melhores condições de vida nos vales do Sinos e do Paranhana. Com o desligamento, planeja permenecer na informalidade por três anos, período que ainda precisa esperar para ter direito à aposentadoria.
- Vou fazer bicos de pedreiro, umas pinturas aqui e outras ali, até me aposentar. Estou enjoado do trabalho em fábrica de calçado. As condições pioraram muito nos últimos anos - contou.
Com dois filhos - de um e 12 anos - para criar, além de dois que já se casaram, o sapateiro se surpreendeu com a decisão da empresa para qual trabalhava. Ele e os outros 250 funcionários daquela unidade, no bairro Fazenda Martins, em Parobé, foram informados da decisão no dia em que voltavam das férias de um mês. Na sexta-feira passada, muitos foram até o departamento de recursos humanos da empresa acertar os valores da rescisão.
Entre eles, estava Adriana da Silva, 43 anos, ex-colega de Ronaldo. Com 12 anos de fábrica, ela tem dúvidas sobre o futuro:
- Quero seguir nesta área, mas não sei como vai ser. Quando terminar o seguro-desemprego, todas essas pessoas demitidas agora irão entregar currículo. A concorrência vai ser muito grande, até porque há várias fábricas fechando.
Menos experiente, William Cezar Mello, 20 anos, também demitido na Bottero no retorno das férias, está disposto a trocar de profissão. O jovem entrou na empresa em 2014, como menor aprendiz. Tempos depois, foi contratado no cargo de costureiro, mas sempre esteve ciente de que poderia ser demitido:
- Imaginava, porque a Bibi está demitindo gente, a Crysalis fechou. A gente sempre ouve falar que o setor está em crise. A Bottero é uma empresa grande e, mais cedo ou mais tarde, iria sentir o efeito do enfraquecimento do mercado.
Assim como Ronaldo, William pretende mudar de ramo, por causa da remuneração que julga baixa.
- Ganhava muito pouco pelo tanto que tínhamos de produzir. O que surgir, não sendo fábrica de calçado, me interessa - diz.
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