segunda-feira, 20 de agosto de 2012



20 de agosto de 2012 | N° 17167
KLEDIR RAMIL

Jogos Olímpicos

Nunca participei de uma Olimpíada. Culpa da professora de piano que, quando eu era garoto, me proibiu de praticar “esportes primitivos” como basquete, vôlei e futebol. Não aguentei aquele regime de clausura, dei um cartão vermelho para ela e fui à luta. No sentido figurado, já que eu não tinha estrutura física para o judô, o boxe ou o taekwondo.

Comecei praticando ping-pong, hoje conhecido como tênis de mesa. Infelizmente, peguei um chinês pela frente e fiquei humilhado. Tentei a corrida de obstáculos, mas tropecei. Na ginástica acrobática, torci o pescoço. Experimentei o salto com vara e quebrei um braço. Para patinação eu não tinha equilíbrio. Para equitação, não tinha cavalo.

Fui parar na piscina. Foi um fiasco. Era inverno, e naquele tempo não havia piscina térmica. Fiquei congelado, o que paralisou a maioria dos meus neurônios. Segundo exames recentes, continuam inativos. Mesmo neurologicamente lesionado, tentei o salto de trampolim. No primeiro mergulho de cabeça, sofri uma concussão cerebral que terminou por liquidar os poucos neurônios que haviam sobrado. Só dois ficaram funcionando, em modo emergencial: o Laurel e o Hardy.

Continuei insistindo. Desiludido com a natação, que além da função cerebral havia aniquilado com a minha reputação, resolvi tentar arco e flecha. Acertei a perna de uma guria e quase fui linchado. Eu havia perdido a concentração, uma das sequelas da experiência aquática. Fiz um teste para o levantamento de peso e fiquei abaixo do índice feminino. O professor musculoso ficou rindo da minha cara. Tem gente que não tem psicologia mesmo. Um adolescente precisa de apoio, senão periga seguir pelo “mau caminho”. Foi o que aconteceu.

Comprei um baralho, enfiei a cara no jogo do pôquer e não parei mais. Experimentei sinuca, totó, dados, dominó e todo tipo de jogos de tabuleiro: víspora, damas... Fui parar no xadrez. No jogo, não na prisão. Como dizia Millôr Fernandes, parafraseando Bernard Shaw, “jogar xadrez desenvolve muito a capacidade de jogar xadrez”. Eu estava perdido.

Quando chegou o Natal, pedi uma bola de futebol e me deram um violão. O técnico do time da escola me incentivou dizendo que eu tinha um dom. Para a música.

Foi aí que eu me dei conta que o violão chamava a atenção das garotas. Chutei o balde e me dediquei como um atleta ao estudo do instrumento. Cheguei a ganhar disco de ouro. É o meu consolo. Disco de ouro é quase como uma medalha. Só não dá pra pendurar no pescoço.

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