sábado, 18 de agosto de 2012



19 de agosto de 2012 | N° 17166
VERISSIMO

Ora bolas

Antigamente as bolas tinham a cor do couro com que eram feitas. Bolas pintadas de branco só no vôlei ou em jogos de futebol noturnos. Usavam uma bola por jogo de futebol oficial, de campeonato. O que me fazia sonhar com montes de bola usadas uma só vez estocadas em algum lugar, uma visão do paraíso. A bola única só podia ser substituída, com autorização do juiz, em caso de perda de esfericidade, que era o nome científico de murchamento.

Quando a bola espirrava para fora do campo, era devolvida pelo público para que o jogo continuasse. Talvez nada na nossa história recente tenha a importância simbólica deste fato: no tempo da Número 5 cor de couro, a torcida devolvia a bola. Se a bola demorasse a voltar para o campo, havia manifestações de impaciência do resto da torcida e quem retinha a bola era hostilizado.

Não se sabe se a torcida passou a ficar com a bola quando começaram a usar várias por partida ou se foi algo no nosso caráter que mudou. Há quem atribua a uma reversão dos polos magnéticos da Terra, lá pelos anos 1940 e 1950, à deterioração do caráter do brasileiro. Não sei, mas uma das suas primeiras manifestações foi não devolverem mais a bola.

A bola era branca em jogo noturno porque ajudava a visibilidade, com a iluminação artificial. Depois se deram conta de que o branco também favoreceria a visibilidade de dia, pois seu contraste com o verde do gramado era maior do que o do marrom. Agora as bolas já não são mais brancas. Tem tantos desenhos e grafismos que mal se vê o branco.

Algumas bolas novas são marrons. Mas não o marrom das antigas bolas de couro. Um amarelo cocô-de-criança. Os goleiros estão se queixando de que ela é mais difícil de pegar, mas talvez estejam só com nojo. E o contraste com o verde decididamente piorou.

Teoria: pelo menos no Brasil, o futebol foi ficando mais feio à medida que a bola ficava mais bonita. Hoje, quem mais brilha nos gramados é a bola, e o jogador brasileiro está com ciúmes, o que explicaria a forma como a maltrata. Seria o caso de voltarmos ao branco básico ou então ao ainda mais básico, o marrom/couro. Ou então – por que não? – à bola com tento e cordeamento, para o futebol reaparecer. Ou então eu é que fiquei tão inconformado com a nossa derrota para o México nas Olimpíadas que estou delirando.

Marisa Monte cantando Villa Lobos, Sorriso, o Gari, sambando e, no fim, o Pelé aparecendo para ser ovacionado. Estava bem representado o Brasil que as pessoas esperam ver em 2016 no encerramento das Olimpíadas de 2012? Levando-se em conta que o tempo para sua apresentação era escasso, o resumo foi bem escolhido.

Já o resto da festa de encerramento foi ainda mais maluca do que a festa de inauguração, com os ingleses recorrendo a todos os clichês conhecidos a seu próprio respeito e ainda ressuscitando o John Lennon, o Fred Mercury, o Churchill e as Spice Girls.

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