terça-feira, 14 de maio de 2024


14 DE MAIO DE 2024
TRAGÉDIA NO RS

Terreira da Tribo é tomada pela água

Sede do Ói Nóis Aqui Traveiz, grupo de teatro da Capital com 46 anos de história, armazena cenários, figurinos e equipamentos

Com a chuva e o posterior alagamento do 4º Distrito, na zona norte de Porto Alegre, o Centro Cultural Terreira da Tribo encontra-se inundado desde a semana retrasada. Localizado desde 2009 na Rua Santos Dumont, 1.186, no bairro São Geraldo, o espaço chegou a estar com aproximadamente 1m50cm de água.

O centro cultural é administrado pela Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz, uma das grandes referências artísticas de Porto Alegre e do país, com 46 anos de trajetória. Ao longo das décadas, o grupo sempre buscou promover um teatro revolucionário e desenvolver oficinas de iniciação, pesquisa de linguagem e treinamento de atores.

Conforme Tânia Farias, atuadora do Ói Nóis Aqui Traveiz, a água fez flutuar baús, instrumentos musicais, adereços cênicos e figurinos. Ela acrescenta que máquinas de costura, máquina de lavar e secar, equipamentos de som, luz e vídeo, cenários e adereços de sete espetáculos do repertório do grupo foram afetados, além de a loja da Terreira também estar comprometida.

- Não temos como dizer como está nossa biblioteca. Há várias questões sobre as quais não conseguimos dizer a situação - lamenta Tânia. - Quando retornarmos, estaremos sem nosso material para realizar espetáculos.

Tânia relata que parte do acervo histórico estava na Terreira para ser organizado para o Museu da Cena - Ói Nóis Aqui Traveiz:

- Era um passo importante para a memória do teatro brasileiro. Tínhamos feito uma triagem de materiais de outras décadas, lá do início do grupo, nos anos 1970, que iam começar a ser registrados para um repositório digital. Iam passar por um processo de conservação. O material estava todo ali.

Reconstrução

Em comunicado divulgado nas redes sociais, o grupo destacou que, em um primeiro momento, não está pedindo Pix. "Estamos primeiro entendendo como vai ser", diz a publicação. Tânia explica que a Tribo tem como objetivo inicial integrar a corrente de solidariedade, mas também conscientizar as esferas públicas de que trabalhadores da cultura precisam ser auxiliados.

- Também estamos trabalhando como voluntários em diferentes ações. Não pedimos (Pix) ainda porque entendemos que a prioridade é salvar vidas - ressalta. - Queríamos divulgar nossa situação porque é importante que o poder público, de modo amplo, saiba que as pessoas que trabalham com arte e cultura precisarão entrar nesse plano de reconstrução. Divulgando a situação da Terreira, a gente acaba falando de outros espaços que também vão precisar de auxílio.

Alguns integrantes da Tribo tiveram que abandonar suas casas, que ou foram inundadas ou não tinham mais água e/ou luz. Porém, garante Tânia, todos estão em segurança.

Em 2022, ficou definido que a Terreira trocaria de endereço para a Travessa Carmem, 95, no bairro Floresta. Os artistas receberam o Termo de Permissão de Uso (TPU) da prefeitura. A reforma do espaço, que se encontra bastante degradado, ficou a cargo da Tribo. No entanto, o grupo tenta há mais de ano aprovar um projeto de reforma em meio a entraves burocráticos.

- Por ora, não conseguimos pensar no que vamos fazer - diz Tânia.

A presidente da Fundação Nacional de Artes (Funarte), Maria Marighella, entrou em contato com o grupo e informou que o governo está atento às necessidades do setor. Tânia destaca que artistas do Brasil e de fora do país mandaram mensagens de apoio à Tribo.

- É tudo muito triste, mas é ótimo receber esse carinho. Dá muita força - sublinha.

WILLIAM MANSQUE

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