terça-feira, 19 de março de 2024



19 DE MARÇO DE 2024
CARPINEJAR

Boicote ao Inter

Eu quero realmente entender.

O Internacional é festejado pelo seu plantel, faz a melhor janela de contratações do país, ganha 10 partidas consecutivas, não leva gol há três jogos. De repente empata com Juventude no Alfredo Jaconi, numa semifinal do Gauchão, num embate possível e até previsível, numa partida truncada e picotada, em que nenhum dos dois teve gramado para atuar com gala, e passa a ser criticado, acusado por comentaristas e torcedores de não ser tudo isso?

Nem sequer perdeu na casa do adversário. Só falta dizer que representa uma ilusão, ou uma farsa, ou um truque de mágica. Só falta dizer que mostra muita grana, pouco futebol. Só falta dizer que é apenas Gauchão.

Tem muito corvo e urubu no ninho do Beira-Rio para pouco passarinho. Convenhamos, trata-se de um exagero. Existem os pessimistas de plantão, que não admitem que o Inter mudou, tão acostumados a protestar, a xingar, a viver de infelicidade.

Não sabem o que fazer com uma esperança inédita em seus dias, com uma nova senda de triunfos. Não alteraram a sua mentalidade masoquista e praguejam o pior, com medo de se decepcionar e de se magoar logo em seguida.

Inter está senhor de si. Fazia tempo que não participava de uma Copa do Brasil sem dar fiasco, fazia tempo que não tocava a bola com triangulações rápidas e letais, fazia tempo que não encantava. Não depende de um atleta: o gol pode vir de Enner, de Alan Patrick, de Mauricio, de Wanderson, de Alario, de Lucca, de Wesley, dos titulares e reservas.

Repassemos ao Colorado metade da paciência concedida ao Flamengo, que empata na semifinal do Carioca e é visto como estrategista. Inter empata e é atacado como um engano. São dois pesos e duas medidas.

Nos gloriosos anos 1970, para refrescar o passado, o Inter nem sempre jogava bonito. Havia empates horrorosos, derrotas cansadas, tropeços de tabela, apresentações nada inspiradas. Mas, saudavelmente, esquecíamo-nos da exceção para honrar a regra. Valíamo-nos da memória afetiva, apagando os momentos ruins e guardando os bons.

Acredito que prevalece agora uma memória rançosa, reprimida, seletiva, de destacar instantes isolados desfavoráveis em detrimento de um conjunto altamente positivo.

A direção colorada percebeu que a semifinal da Libertadores não foi desperdiçada pela inexplicável mira desajustada de Enner Valencia, ou pelas falhas de Renê, ou pela covardia, mas pela ausência de banco, de elenco. Não tínhamos substitutos à altura para manter o ritmo e entregamos o resultado nos 10 minutos finais.

Hoje somos 28, somos um grupo. A rota foi corrigida. Todo vencedor emerge de grandes derrotas, das lições do abismo. Então, menos vaia, mais confiança. Deixe Coudet trabalhar em paz.

CARPINEJAR

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