quarta-feira, 6 de maio de 2020


06 DE MAIO DE 2020
RBS BRASÍLIA

Moro: do escândalo ao anticlímax


O primeiro depoimento do ex-ministro da Justiça Sergio Moro no processo que investiga se o presidente Jair Bolsonaro quis interferir na Polícia Federal é o retrato do anticlímax. Pouco avança no relato que apresentou no dia em que resolveu virar a mesa e é pobre na apresentação de provas.

É, no entanto, a palavra de um ex-juiz, maior símbolo do combate à corrupção do Brasil, fazendo um alerta: toda a confusão de Bolsonaro, no fim, tinha o objetivo de trocar a superintendência do Rio de Janeiro. Por quê? O que acontece no Rio que preocupa tanto o presidente da República a ponto de levá-lo ao confronto com seu ministro mais popular?

Moro conta que as pressões para a troca no Rio e na direção-geral da PF são antigas. A insistência ocorreu pessoalmente e por mensagens. O curioso é que a primeira ação do novo diretor, Rolando Alexandre de Souza, foi exatamente a substituição no comando do Rio. Todas as atenções, portanto, para o que será engavetado ou desengavetado daqui pela frente no Estado governado por Wilson Witzel, desafeto do presidente.

Quanto a Moro, o que ele apresentou até agora é grave, mas não derruba o presidente. Quem o conhece chega a dizer que isso é tudo o que tem a revelar, que ele não é um homem do confronto e que criou um fato político.

Generais que ocupam ministérios no núcleo duro do governo terão que prestar depoimento e, disse Moro, há um vídeo revelador sobre a conversa com Boslonaro. Da tranquilidade do isolamento em seus apartamentos funcionais, senadores experientes apostam que o inquérito vai dar em nada. Mas, até lá, o centrão aproveitará para cobrar bem caro o apoio a um presidente que é especialista em cavar suas próprias crises.

Dinheiro público

Uma das principais defensoras de Bolsonaro, a deputada Caroline De Toni (PSL-SC) viajou para São Paulo para participar de manifestação pró-governo. A parlamentar ficou na cidade de 12 a 15 de março, de quinta a domingo, e pagou as diárias do hotel com dinheiro público, R$ 1.863,75. A coluna questionou se Caroline teve agendas relacionadas ao mandato em São Paulo, mas não obteve resposta da assessoria.

Humilhante

O advogado Antônio Carlos de Oliveira Castro chamou de humilhante o depoimento de Sergio Moro. Criminalista de vários investigados da Lava-Jato, Kakay, como é conhecido, afirma que Moro se portou como um coordenador do inquérito, não como investigado:

- Imagine um cliente admitindo para o delegado e para o Ministério Público, Deltans e seus asseclas, que destruiu parte das mensagens e que, sob a ótica do cliente, as mensagens não eram relevantes.

Vale lembrar que Kakay foi um crítico feroz de Moro, inclusive o acusava de cometer abusos nas investigações.

CAROLINA BAHIA

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