quarta-feira, 21 de março de 2018



21/03/2018
Fabricio Carpinejar

Há casos em que nem Deus perdoa

Naiara de minha Caxias não retornará para casa, nunca chegará à escola. Não explicará o motivo de seu sumiço, não abraçará a mãe e os tios novamente.

O pior aconteceu. O pior sempre acontece com as nossas crianças indefesas. A Polícia Civil localizou na tarde desta quarta-feira o corpo da menina de 7 anos desaparecida desde o dia 9. Foi encontrado na região da Represa do Faxinal, nas proximidades de Ana Rech, em Caxias do Sul. Tudo indica estupro. O suspeito está preso. 

O que faz alguém raptar, abusar e assassinar uma menina vulnerável, de riso franco e com a vida inteira pela frente? Ele arrancou a pequena do trajeto da aula e da família para subjugar e torturar. Ela caminhava quatro quilômetros por dia para estudar. Quantos quilômetros de dor e sofrimento inaudíveis, de gritos de socorro, presa num carro estranho, debatendo-se, ela teve que percorrer antes de falecer? Não consigo nem imaginar. Nossa imaginação é só do medo e da tristeza. 

Caxias perdeu a sua inocência. Teve a sua inocência atacada, roubada e dilapidada. Nem Deus perdoa. Há casos em que nem Deus perdoa.

Caxias perdeu a sua inocência. Teve a sua inocência atacada, roubada e dilapidada. Nunca será mais a mesma. Nunca terá a sua tranquilidade de volta. Morreu parte de minha terra natal nos cachos de Naiara. Não há mais paz de cidade de interior dentro das pessoas. 

Nenhuma criança partirá mais para escola a pé sozinha. Os pais não mais acreditarão que atrasos possam ser meras brincadeiras entre amigos. Tragédias passarão a ser vividas mentalmente a cada demora. 

Hoje é o Dia Mundial da Falta de Poesia. Naiara morreu com os seus versos inéditos dentro de si. Ninguém vai ler.

Nenhum comentário: