07
de novembro de 2013 | N° 17607
ARTIGOS
- Roberto Fissmer*
Ensino precário
Ao
final de todo o ano letivo, surgem os debates visando analisar os baixos índices
de rendimento escolar. Realmente, o nível do ensino está precário. Pior, é alarmante.
No transcorrer de um ano letivo é visível a incapacidade de grande parte dos
educandos em assimilar sequer alguns poucos conteúdos programáticos mínimos.
Há um
conjunto de fatores que se somam, contribuindo negativamente com as questões
voltadas para o ensino. É necessário ressaltar que a educação, como um todo, não
é apenas o que aprendemos em uma sala de aula, mas, também, aquelas informações
que trazemos de casa, da nossa comunidade, do nosso convívio social, enfim.
Desde
pequena, a criança vai aprendendo quais são os seus direitos – ainda que de
forma muito restrita –, e que deve lutar pela preservação do seu espaço, das
suas ideias, e da sua vontade. O difícil é fazer a criança ou o adolescente
entender os seus deveres, os seus limites, até onde vão, e onde começam os
direitos, os limites dos outros.
A
concepção de que a escola pública e os seus professores devem estar aptos para
absorver toda natureza de problemas levados pelos estudantes encontra-se
defasada. É tarefa muito complexa transmitir conhecimentos a quem está totalmente
despreparado para aprender. Embora tenhamos uma exorbitante carga tributária,
deparamos com professores recebendo minguada remuneração, escolas caindo aos
pedaços, salas de aula abarrotadas de alunos, falta de materiais, equipamentos
ultrapassados, instalações inadequadas, inadequação dos conteúdos programáticos;
tudo isso apenas tangencia o problema, que é muito maior, é social.
Podemos
enfeitar todos os aspectos tangenciadores, podemos dourar a pílula, mas seu
efeito será inexpressivo. O mal deve ser combatido em sua origem, pouco
resolvendo tratá-lo nas extremidades.
Sobram
20 horas ao dia para que o aluno evapore o que, com sacrifício, foi-lhe
repassado em quatro horas de aula. Se o meio social em que vive a criança não é
bom, dificilmente os resultados escolares serão satisfatórios – ressalvadas as
raras exceções. O desaconselhável é a instituição de ensino escamotear a realidade,
aprovando indistintamente todos os estudantes, levando em consideração aspectos
que em nada se relacionam com o nível de conhecimento esperado para a aprovação
de uma série para a outra.
Empurrados
muita vezes pelo sentimento de piedade dos professores, vão passando ano após
ano, sem o conhecimento básico necessário. E um dia chegam às portas do
vestibular, cujos resultados todos conhecemos. O computador que corrige os cartões
de respostas dos candidatos não tem sentimentos, é impiedoso. O professor
precisa recuperar sua imagem, sua dignidade, deixando de ser refém dos nefastos
projetos eleitoreiros do governo, e a escola deve abandonar o conceito de depósito
de novos cidadãos, convenientemente imposto pelas nossas autoridades.
*PROFESSOR
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