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terça-feira, 20 de dezembro de 2011
Janio de Freitas
Entre zero e o incalculável
O governo tem um ministro que há uma semana usa de subterfúgios até ridículos para evitar repórteres
A equação é simples. Ou o que até agora são mentiras, lançadas como se capazes de solucionar o "caso Pimentel", encontram tratamento apropriado, seja qual for; ou só uma dose de hipocrisia, que não figura no seu temperamento, permitirá a Dilma Rousseff persistir no seu louvado refrão:
"Meu governo não tem compromisso com qualquer prática inadequada de malfeito, de corrupção, dentro do governo. Nenhum. Zero, tolerância zero" -Foi a maneira como a presidente o reproduziu no populoso café da manhã com repórteres do cotidiano governamental. Ocasião em que repetiu, também, o engano que pode acomodar cuidados e desejos, mas está infiltrado de venenos perigosos:
"[O caso de] Pimentel não tem a ver com o meu governo. Nada a ver, o que estão acusando, com o meu governo, nada".
O caso Pimentel é, de fato, um caso menor. Poderia ser chinfrim mesmo. Quem o realçou foi Fernando Pimentel, levado por sua presunção a supor que dois ou três arremedos de explicação, assentados no bom tratamento sempre dado pela imprensa, eliminariam qualquer inconveniência. A evolução foi outra.
O governo Dilma Rousseff tem um ministro que há uma semana usa de subterfúgios até ridículos para evitar repórteres. A ponto de não comparecer, conforme os indícios deixados, a uma solenidade oficial para a qual viajou a Genebra.
Portas laterais e dos fundos tornam-se a sua porta principal. Sua ida ao Congresso é ideia que mobiliza o governismo parlamentar, para a resistência, como se o fizesse por uma eventualidade essencial para o país. É só para fazer da ausência um esconderijo.
Assim é esse ministro porque, na condição de ministro, e de ministro do círculo presidencial de frequência como de decisão, mentiu e mantém as mentiras, por não querer ou não poder dar as explicações esperadas. Os coadjuvantes citados nas mentiras adotaram e engrossaram a pretensa tática. Exceto o dono de empresa que, além de negar o contrato de consultoria com o então ex-prefeito de Belo Horizonte, negou disponibilidade da empresa até para o gasto citado de apenas R$ 170 mil.
O ministro, na plena condição de ministro, atribuiu a consultorias e palestras na Fiemg, Federação das Indústrias de Minas Gerais, o que se supõe ser o maior pagamento por ele recebido àquela altura de sua vida. Na Fiemg, porém, tais serviços eram desconhecidos.
O presidente da entidade e indicado contratante, Robson Andrade, criou a explicação de palestras nas regiões interioranas, e "O Globo", ao verificá-las nas regionais, não encontrou nem vestígio delas. Os comprovantes prometidos pelo ministro, logo no questionamento inicial, nunca foram por ele mostrados.
Fernando Pimentel não é um cidadão comum em momento embaraçoso da vida. Admitamos, por um instante, a tese de que os questionamentos recaem sobre fatos anteriores à entrada no governo. E que isso basta para inocentá-lo moralmente, em relação ao governo.
Trata-se, no entanto, de um ministro que mentiu e mente, como ministro, quando questionado como ministro e porque ministro (não o fosse, não seria questionado, como não o foi durante os dois anos de apenas "consultor").
Quando o ministro Fernando Pimentel poderá encarar os repórteres? E responder-lhes, se puder, às perguntas em aberto e outras cabíveis? Com as devidas comprovações e sem as mentiras de coadjuvantes.
Se não puder fazê-lo ou enquanto não o fizer, o governo Dilma Rousseff estará incluindo, contra a sua interpretação, um ministro que não justifica a confiança plena que o país deve ter nos ministros.
Para que tenha confiança na "tolerância zero" e na falta de compromisso governamental "com qualquer prática inadequada". Ministro pendurado em explicações impossíveis ou negadas requer alta tolerância.
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