sábado, 12 de março de 2022


12 DE MARÇO DE 2022
ESPIRITUALIDADE

DE MAHAPRAJAPATI A JOEN

Mulheres de Buda, assim eram chamadas as discípulas de Sidarta Gautama, jovem príncipe que abandonou a vida palaciana, as mordomias e alegrias de um filho recém nascido e saiu em busca da verdade e do caminho. Caminhou, pesquisou, indagou, investigou e se tornou um Buda. Feliz com sua descoberta da impermanência e da relação entre tudo que existe, retornou à casa paterna (o palácio real) e relatou a todos sobre suas descobertas. Há uma lei, a da causalidade ou origem dependente: disto surge aquilo e daquilo surgem outras possibilidades.

Todos se maravilharam. Entre eles, sua mãe adotiva, Mahaprajapati. Foi tanto o seu encanto que ela pediu ao seu filho que a acolhesse em sua comunidade como monja.

Não. Isso seria impossível. Mulheres na comunidade? Seria um desastre, os lares desfeitos, as crianças abandonadas.

Mahaprajapati era a irmã da rainha Maya, mãe biológica de Buda. A rainha morreu uma semana após o parto. A irmã o criou como se fosse seu. Teve outros filhos com o rei, pai de Buda. Tornou-se rainha e auxiliava mulheres carentes. Seu nome, Mahaprajapati, significa líder de uma grande assembleia.

Naquela época, na Índia, mulheres sem maridos, sem filhos, primos, tios, ou seja, sem um homem que as protegesse, eram marginalizadas. Mahaprajapati as ajudava a encontrar ofícios simples - costuras, alimentos, serviços de limpeza e cuidados com crianças nas casas ricas. Eram mais de 500 que sobreviviam graças ao apoio da rainha.

Quando Buda voltou ao palácio e explicou os ensinamentos sagrados, Mahaprajapati sentiu que deveria seguir esse caminho de desapego. Buda negou várias vezes seu pedido e se foi para outras áreas, sempre ensinando o que aprendera. Mahaprajapati e as 500 mulheres o seguiram.

Certo dia, ao fazer uma palestra, seu auxiliar, Ananda, indagou: "Mestre, todos os seres podem despertar?".

"Sim, Ananda. Todos." "Inclusive as mulheres, Mestre?" "Certamente, Ananda." "Por que o senhor não ordena Mahaprajapati?"

Buda não soube o que responder, mas passou a refletir.

Quando os homens abandonavam as famílias para seguir a vida monástica, suas mulheres eram marginalizadas e a família se desfazia. Ora, por certo, ordenar as mulheres não seria o fim das famílias, como ele pensara. Refletiu e ordenou Mahaprajapati - a primeira monja histórica. E, por ela ter se submetido a longas e cansativas caminhadas, a desagravos e abusos, e haver a tudo resistido, tornou-se monja. Assim, a comunidade budista é composta de monges e monjas, leigos e leigas.

Joen é uma jovem praticante Zen da atualidade. Ela não pensa em ser monja, mas é uma das mulheres de Buda. Pratica zazen, estuda os ensinamentos, participa das liturgias e mantém a fala correta. Se Mahaprajapati não houvesse insistido, eu não teria me tornado monja e não poderia ter passado os Preceitos laicos a Joen. Tudo está interligado, desde o passado mais remoto ao futuro distante. O que fazemos, falamos e pensamos mexe na trama da vida.

Mulheres devem ser incluídas e respeitadas como seres humanos dignos de afeto, amor, alegria e equanimidade. Não devemos permitir nenhuma forma de abuso, preconceito, discriminação e exclusão. A mente da equidade é a mente superior, é a mente Buda, e essa mente é desenvolvida por mulheres e por homens. Não é igualdade, mas equidade: vidas humanas têm todas o mesmo valor.

Mãos em prece

ESPIRITUALIDADE

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