sábado, 26 de março de 2022


26 DE MARÇO DE 2022
FRANCISCO MARSHALL

A AURORA DE PORTO ALEGRE

A lei municipal 3.609, de 29 de dezembro de 1971, oficializou o dia 26 de março de 1772 como data da fundação de Porto Alegre, que neste sábado celebra, portanto, 250 anos. Foi nessa data que uma Provisão Régia e uma Provisão Eclesiástica, expedidas no Rio de Janeiro, desmembraram Porto dos Casais de Viamão, capital da província desde que Rio Grande caíra nas mãos dos espanhóis, em 24 de abril 1763. Naquele ano de 1772, o vilarejo de Porto dos Casais foi elevado à condição de freguesia, termo derivado de filii ecclesiae, filhos da igreja, ou seja, os que habitavam em torno de uma capela, uma paróquia, e esta era forma elementar de circunscrição civil.

A igreja situava-se na margem do rio (Delta do Jacuí), onde hoje é a Praça da Alfândega. O nome dado à freguesia foi Porto de São Francisco dos Casais, mas em 18 de janeiro de 1773 este se alteraria para Nossa Senhora Madre de Deus de Porto Alegre, com homenagem à cidade de Portalegre, no Alto Alemtejo, Portugal. Ano que vem, portanto, à luz da documentação histórica, poderemos comemorar novamente os 250 anos de Porto Alegre.

Há, todavia, antecedentes a partir do pequeno porto situado na foz do Riacho, o atual Arroio Dilúvio, e que então desaguava no Lago do Viamão (Lago Guaíba) na região onde hoje há o aterro do Parque Harmonia. O Porto do Viamão passou a chamar-se Porto dos Dorneles a partir de 1740, em alusão ao sesmeiro Jerônimo de Ornelas Menezes e Vasconcelos, que deu origem à ocupação dessa região em 1732. Neste caso, em 2022 podemos comemorar também os 290 anos da cidade.

Em abril de 1751, o governador de Santa Catarina mandou para o Porto Dorneles casais açorianos recentemente radicados no Desterro (Florianópolis); em Rio Grande, porém, dispersaram-se e somente o casal de Francisco Antônio da Silveira (o Chico da Azenha) avançou para cá, e recebeu lote de terras junto ao Riacho; construiu sua casa no local onde depois ergueu-se o já destruído Cinema Castelo, e instalou um moinho (azenha) que resistiu até pouco tempo atrás no pátio do Hospital Ernesto Dorneles.

Ao final de 1751, nova leva de açorianos chegou ao Desterro e de lá partiu rumo ao Porto Dorneles, onde chegaram no final de janeiro de 1752, para ocupar, inicialmente, área junto ao Morro de Santana; diante da falta de água, porém, logo mudaram para as adjacências do porto. Eram 60 casais, dos quais sabemos os nomes de 59, e ocuparam os dois lados da península, dando origem à efetiva ocupação da região que um dia se tornaria o centro da cidade e logo ganharia a persistente urbanização em quarteirões. Praticaram boa agropecuária, desenvolveram-se e expandiram-se para chácaras no rumo de Viamão e para o Sul. Por essa razão, em janeiro poderíamos ter comemorado também os 270 anos desta cidade, com seu lindo nome de Porto dos Casais, e com a bela homenagem que lhes rendeu o escultor Carlos Tenius, no Monumento dos Açorianos (1974), que estiliza com corpos humanos o bojo do navio que trouxe os casais, com uma Vitória na proa e o arrojo de linhas modernas, apontando o futuro de uma cidade.

Felizes aniversários, Porto Alegre!

FRANCISCO MARSHALL

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