sábado, 19 de março de 2022


18 DE MARÇO DE 2022
OPINIÃO DA RBS

ACLIVES E DECLIVES DO PIB GAÚCHO

Todo o peso da agropecuária na economia gaúcha voltou a dar o ar da graça em 2021. Turbinado pela supersafra, o PIB do Rio Grande do Sul saltou 10,4% no ano passado. Mas o que à primeira vista poderia ser um crescimento de dar inveja a chinês, sabe-se, é resultado de um verão de abundância de chuva depois da seca de 2020 e de recuperação das atividades após o período de restrições que se seguiu aos primeiros meses da pandemia. Mas, ao fim, entre o tombo de 2020 e o robusto recobrar das forças, restou um crescimento líquido de 2,9% nos últimos dois anos, um desempenho nada desprezível.

Sim, a base de comparação foi baixa, mas deve ser ressaltado, por exemplo, o resultado do último trimestre do ano passado. As altas de 3,3% em relação aos três meses imediatamente anteriores e de 5% sobre igual recorte temporal de 2020 mostram que a economia gaúcha encerrou 2021 com boa performance. Para ilustrar, basta comparar com a média nacional. De outubro a dezembro, o PIB brasileiro variou módicos 0,5% ante julho a setembro e 1,6% sobre o último trimestre do ano anterior. Ao longo de 2021, como apontou o IBGE na semana passada, a economia brasileira avançou 4,6%.

Como o esperado, o pulo de 10,4%, apurado pelo Departamento de Economia e Estatística, da Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão, foi fruto especialmente da grande recuperação da safra de grãos, que levou a agropecuária à altíssima taxa de crescimento de 67,5%. A indústria, por seu turno, viu seu desempenho subir 9,7%, mais do que o dobro da média nacional. Já o setor de serviços, que inclui o comércio, teve um desempenho de 4,1%, um pouco abaixo do registrado no país.

O resultado do campo, na última década, tem em regra potencializado o PIB do Estado ou então amortecido períodos ruins que afetam os demais segmentos. Mas, quando há estiagens fortes, a agropecuária acaba exacerbando o tombo. Foi o que ocorreu em 2020 e vai se repetir em 2022, devido a um novo verão seco, com perdas significativas e consolidadas nas lavouras de soja e milho. O segundo revés em três anos tem ao menos de servir para que o Rio Grande do Sul avance em medidas que possam destravar projetos de irrigação para mitigar prejuízos em futuros episódios de falta de chuva.

Não bastasse a dificuldade climática, a economia nacional entrou 2022 trôpega, e a Guerra na Ucrânia trouxe mais preocupações, como elevação de custos, novas interrupções de cadeia de fornecimentos, inflação e perda de fôlego da atividade mundo afora. Devido à alta dos preços, o Banco Central elevou na quarta-feira o juro básico da economia para 11,75% ao ano. É uma nova trava aos negócios. Há à frente uma série de incertezas sobre as quais os gaúchos não têm controle.

Resta esperar que o conflito no Leste Europeu se encerre o mais breve possível e, no país, governantes e postulantes à corrida presidencial não coloquem em prática ou acenem com políticas que possam agravar o quadro delicado da economia nacional. Sobra, aos trabalhadores, empresários e produtores rurais do Rio Grande do Sul a possibilidade de mostrarem-se irresignados para contornar dificuldades. O país e o mundo vivem, nos últimos tempos, sacudidos por surpresas negativas. Quem sabe daqui para a frente vire a maré dos imprevistos e a onda de más notícias possa chegar ao fim, dando lugar a novas esperanças.

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