quarta-feira, 23 de março de 2022


23 DE MARÇO DE 2022
ARTIGOS

O AVESSO DO MÉTODO

Tracionados por uma brusca alteração de realidade, pautada na área da saúde, fomos expostos a uma fraqueza que, dificilmente, conseguimos esconder: a falta de hábitos em metodologia de obtenção de conhecimento. O desvio do uso comum das redes atuais para funções humorísticas, lazer e afins, escondeu o que a diversidade de ideias, comportamentos e opiniões pode gerar. Talvez, a real construção do entendimento.

Aprender pode significar: 1) admitir o quanto podemos avançar dentro do limite de processamento cerebral; 2) perceber que, da realidade parte a interpretação, e de dentro dela, as mais variadas divergências possíveis; 3) dessa forma, empregar o método científico, um esforço de validar verdades e de corrigir as falhas do pensamento intuitivo.

Mas a cultura geral tem entendido o método científico em uma espécie de avesso: enquanto a ciência postula hipóteses a serem testadas e, se esforçando a chegar a alguma conclusão por vias sistemáticas, o "mainstream internético" criou um modelo alternativo: escolhe uma conclusão já pronta e tenta validar com "estudos científicos" o seu viés de confirmação, irreversível. Exemplo são bandeiras levantadas por um líder, de forma precipitada, e que não volta mais atrás.

Canais digitais demoraram muito a serem conquistados e disponibilizados individualmente como possíveis ferramentas de midiatização cotidiana. Na prática, muitas vezes são usados como repetidores de opiniões prontas. Que sejam meios para inovar e balizadores de economia comportamental. Mas que sejam autênticos. Que divulguem ideias realmente entendidas pelo seu editor. E que possam capitalizar conhecimento realmente útil.

A evolução cognitiva que muitos buscamos, com o objetivo de distribuir mais qualidade de vida ao coletivo, depende da flexibilidade do pensar. De ponderação. Do voltar atrás. De perceber que os humanos precisam de tempos como décadas para analisar a complexidade.

Muitos conceitos só são assimilados pagando o preço correto: o tempo, que sempre foi a moeda mais forte que já existiu.

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