sábado, 11 de agosto de 2018


11 DE AGOSTO DE 2018
MARTHA MEDEIROS

Na hora certa


Já se falou que um romance, para engatar, precisa acontecer entre pessoas que tenham muitas afinidades. Outros defendem que os temperamentos é que têm que combinar. Outros, ainda, dizem que não pode haver tanta diferença de idade, ou situação financeira discrepante. Amor a distância? Ele em Rondônia e você em Floripa? É dar muito crédito ao Cupido, melhor esquecer e procurar algo mais perto do seu quintal.

Falam, falam, falam. E quanto mais se fala, menos escutamos. Mergulhamos fundo em relações caóticas, o que quase todas são, pois dificilmente dois seres humanos se reconhecerão como almas gêmeas, esse troço que dizem que existe, mas que, aqui em casa, nunca tocou a campainha.

O jeito é virarmos experts no gerenciamento do caos. E lá vamos nós amar, sofrer, viver em êxtase, viver aos prantos, apaixonados e desapaixonados, tontos pelos altos e baixos dos nossos desejos, os explícitos e os secretos. É isso ou sair do jogo, resignando-se à única relação que realmente pode durar para sempre: você com sua (bendita ou maldita) solidão.

Todo esse preâmbulo não é para desanimar ninguém. Sou da turma que diz: vá! Tenta com o bonitão e com o feioso, com o surfista e com o tiozão, com o socialista e com o neoliberal (quer tentar com a bancada evangélica, sorte aí). Vá ao encontro dos seus iguais, e também diga sim para os que você pressente que, após duas semanas, nunca mais. O amor pode estar encruado onde você nunca imaginou encontrá-lo, então use as ferramentas que te deram e boa sorte na extração. Não conheço outra aventura na vida mais educadora e mais estimulante - muitas vezes, mais frustrante também, mas qual é a alternativa?

Desistir de amar não é uma alternativa, é apenas uma estratégia para se proteger de futuras decepções.

O amor dá certo até quando dá errado, pelo simples fato de ter acontecido, mas, se você pleiteia a eternidade conjugal, lembre que ficha corrida ("inteligente, bonito, divertido") não garante nada. O sucesso depende apenas de algo que em bom português se chama timing: surgir na hora certa.

Os dois se encontram quando ambos já demitiram o tal Cupido, esse impostor. Os dois se encontram quando programaram os mesmos filmes para assistir até o fim dos dias. Os dois se encontram quando têm problemas parecidos que nunca serão resolvidos e tudo bem. Os dois se encontram quando a libido continua tão valorizada quanto o cérebro. 

Os dois se encontram quando ambos já abriram mão de suas idealizações, mas ainda gostam de conversar sobre elas. Os dois se encontram com as malas feitas e os passaportes em dia, só aguardando a chamada para o embarque. Esses dois abençoados estão aptos para o amor eterno pela simples razão de terem se conhecido quando desejavam a mesma coisa da vida. Querer o mesmo é que dá match.

MARTHA MEDEIROS

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