08 DE AGOSTO DE 2018
ARTIGO
O jumento diplomado
Prestou inestimável serviço ao país aquele burrinho contratado pelo repórter Giovani Grizotti para ridicularizar prefeitos e vereadores que compram diplomas com dinheiro público e para desmascarar espertalhões que exploram a vaidade dos políticos. Recordando o episódio: no mesmo dia em que os partidos apresentaram os nomes dos candidatos às próximas eleições, um dos programas de maior audiência da televisão brasileira, o Fantástico, da Rede Globo, mostrou reportagem do jornalista gaúcho denunciando administradores que pagam taxas e gastam diárias para receber certificados e medalhas de mérito sem qualquer legitimidade. Como eles, depois de uma negociação puramente comercial, o jumento Precioso saiu da encenação com a sua medalha brilhante e o diploma de Gestor Nota 10.
- O jumento é nosso irmão! - canta a voz eterna do saudoso Gonzagão numa canção folclórica que exalta o animal como maior desenvolvimentista do sertão e lembra que ele arrastou lenha, carregou material de construção, ajudou a abrir estradas e açudes, a transportar água e a conduzir pessoas pelos recantos mais ermos da nação.
Pois o mesmo burrico, com seu jeito pacífico e servil, agora virou emblema involuntário da safadeza institucionalizada em prefeituras e Câmaras de pequenos e grandes municípios do país. Depois do programa televisivo, é bem provável que tenha havido uma correria de agraciados para retirar diplomas das paredes de seus gabinetes. Flagrado na sua farsa lucrativa, o responsável pela venda de premiações aos políticos teve uma resposta espirituosa - cabe reconhecer - quando foi questionado pelo repórter se não se sentia envergonhado por ter diplomado um asno. "Não!" - respondeu o homem, e completou:
- Ele carregou Jesus Cristo.
A campanha eleitoral está começando e logo ouviremos discursos tão habilmente elaborados como essa resposta do mercador de vaidades ao jornalista. Alguns candidatos se farão passar por salvadores da pátria, outros se dirão enviados divinos e haverá, também, aqueles que se julgam capazes de resolver todos os problemas do país com um soco na mesa. Mantenhamos, pois, o desconfiômetro ligado. Mas sem renunciar à lucidez.
Por mais que estejamos desencantados com a política, sempre haverá entre os pretendentes a cargos públicos alguém que pense como você e eu sobre determinados temas, alguém que defenda ideias semelhantes às nossas, alguém que talvez queira - tanto quanto nós - um país melhor, um Estado mais digno, uma cidade mais agradável para se viver. Políticos, afinal, não são seres de outro planeta nem nascem por geração espontânea. Nós, companheiros de aflição, é que os elegemos e os diplomamos.
Sem burrice, portanto. Se o voto parece insuficiente para selecionar os bons, a omissão certamente ajudará a eleger os maus. Se queremos um Brasil melhor, temos que ajudá-lo a se tornar melhor - com ceticismo, crítica e indignação, mas também com participação, comprometimento e o bom uso deste privilégio democrático que é o voto pessoal, consciente e intransferível.
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