segunda-feira, 6 de agosto de 2018


06 DE AGOSTO DE 2018
CELSO LOUREIRO CHAVES

BERNSTEIN


Este é o mês em que se encerram as celebrações do centenário de Leonard Bernstein, que no seu tempo foi mais conhecido como maestro do que compositor. Desde o início das celebrações, o mais notável foi o lançamento de três coleções com a obra do compositor Bernstein, deixando de lado o maestro celebrado que uma vez vi reger em Chicago dando pulos atléticos na frente da orquestra, quase uma Daiane dos Santos.

O Bernstein compositor é um caso quase único nos últimos cem anos - fez música dos mais diversos tipos, só que às vezes juntando tudo numa mesma obra. É algo que, no Brasil, alguém como Radamés Gnattali, o nosso Radamés de Porto Alegre, fez nas suas sinfonias. Bernstein também fez sinfonias e, nelas, às vezes há cânticos judaicos (na primeira), passagens de puro jazz (na segunda) e até momentos constrangedores (na terceira).

Pois o hibridismo tem disso: a vergonha alheia, quando a mistura é incompatível, seja pelo contexto, seja pela mistura de ingredientes que deveriam ser mantidos separados (azeite de dendê e morango...). Realmente, aquelas frases redutoras e frequentes não fazem sentido: "só tem música boa ou música ruim"; "toda música é híbrida". Não é verdade. Há muita música no mundo, mas misturar coisas diversas no mesmo panelão nem sempre dá certo.

Duas das "coleções Bernstein" não têm pudor em mostrar o compositor cruzando fronteiras, misturando coisas, mostrando que nem sempre é bom transitar aqui e ali ao mesmo tempo. Uma coleção é da gravadora alemã que criou o mito-maestro de Bernstein: ali está Songfest, um excelente ciclo de poemas musicados. A outra coleção é da gravadora americana que foi a casa dos musicais da Broadway: ali estão as sinfonias e os... musicais.

A terceira coleção é de Marin Alsop, regente titular da OSESP e aluna de Bernstein. Ela representa uma nova geração de intérpretes, com uma ótima visão para além do que Bernstein tocava e regida. Com essas três coletâneas se tem uma receita completa para ouvir Leonard Bernstein, um dos criadores mais fluidos de que se tem notícia. Era um malabarista dos estilos, esse Bernstein.

CELSO LOUREIRO CHAVES

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