sexta-feira, 10 de maio de 2013


Jaime Cimenti

Dia das Mães, dia da nonna

Dia das mães. Poderia homenagear, com toda a justiça, minha mãe, minha esposa que me deu duas filhas lindas, poderia homenagear a Virgem Maria, mãe de todos nós, ou Madre Teresa de Calcutá, que teve milhões de filhos do coração.

Poderia homenagear as mães de filhos doentes, desaparecidos políticos, presos e as que estão a milhares de distância de seus rebentos. Em nome de todas, vou lembrar um pouco de minha avó materna, Marcolina, que todo mundo sempre chamou de Ida. Exemplo de mãe e mulher, viveu quase toda a vida numa pequena propriedade rural, em Maserada Sul Piave, cidadezinha no Norte da Itália, a poucos quilômetros de Treviso e Veneza.

Nasceu em 1902 e faleceu em 1976. Perdeu a mãe cedo e auxiliou muito na criação de seus cinco irmãos homens. Casou cedo, teve sete filhos. Um deles, quando tinha 48 anos.  Em acidente automobilístico, perdeu o marido, quando ele tinha 60 e ela 52. Vestiu preto desde então. Não se casou de novo. Alguns anos depois, perdeu um filho que tinha 32 anos. Seguiu vivendo, trabalhando, tomando conta da horta, dos canteiros de flores, dos animais, do parreiral e rezando. 

Não tinha empregados fixos, só ajudantes eventuais. Nas horas de maior necessidade, ajudava os parentes e amigos próximos, e eles a auxiliavam. Três filhos emigraram para o exterior - a vida na Itália depois da Segunda Grande Guerra estava bem difícil. Nunca vi aquela mulher baixinha, determinada, de olhos claros, se queixar muito ou fazer dramas. Nunca a vi maquiada.

Costumava fazer um pequeno coque com os longos cabelos brancos e, quando era preciso, usava um lenço. Viajou poucas vezes. Em geral para cidades próximas. Ida cozinhava muito bem, geralmente com ingredientes naturais. Não costumava falar mal dos outros. Quando era o caso, sorria. Ida poderia ter inspirado Milton Nascimento a escrever Maria, Maria. Ida faleceu há quase 40 anos. Sua história, seu exemplo e sua energia estão aí, para inspiração.

Dedicação, vida simples, natureza, filhos, amor sem tamanho. Ela parece estar me dizendo que nem deveria tirá-la do anonimato, que fez a sua parte, serenamente, sem solicitar retribuições, que não precisava desta homenagem. “As pessoas não se vão, ficam encantadas”, como disse Guimarães Rosa. As pessoas só se vão mesmo quando ninguém mais lembra delas.

Ou não. Quem sabe não vivem em outras dimensões, sem depender dos desmemoriados que ainda circulam por aqui ? Quem sabe não se tornam estrelas?
Jaime Cimenti

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