quinta-feira, 23 de maio de 2013



23 de maio de 2013 | N° 17441
PAULO SANT’ANA

O meio corrompe tanto?

Melhorou ou piorou entre nós, nos últimos 60 anos, o caráter da nossa gente?

Pensei isso quando li a coluna do Ricardo Chaves da segunda-feira passada aqui em ZH, em que ele mostrou fotografias do Parque Farroupilha em 1947, e evoquei aquele passado fulgurante da nossa capital.

Li na página e reli na lembrança a Redenção de 60 anos atrás, os namorados no lago entre pedalinhos, as bicicletas de aluguel, os carrosséis, as gangorras, os macaquinhos nas jaulas amplas, o público entre pipocas, rapadurinhas e balões, usufruindo alegre do parque.

Hoje, a Redenção não é mais assim, está destruída por um motivo só: os vândalos a depredam todas as noites porque uma mentalidade retrógrada nossa não permite que o parque seja cercado para evitar de todo a depredação noturna.

Mas então nossa gente mudou para pior nos últimos 66 anos. Não bastasse que em 1947 não havia assaltos aqui em Porto Alegre, os habitantes da cidade sentavam-se às noites primaveris e veranis em cadeiras preguiçosas dispostas nas calçadas, não havia trancas nas portas e nas janelas, éramos felizes e não sabíamos.

Agora os assaltos pipocam em todos os cantos da cidade e a impressão que passa para a gente essa azáfama criminal é de que há mais ladrões na cidade do que gente honesta.

Será que a causa dessa bárbara diferença está só localizada no caráter dos indivíduos, que piorou nas últimas seis décadas?

Será que não há razões demográficas a influir nessa mudança? Afinal, nossa população subiu de 500 mil porto-alegrenses, em 1947, para 1 milhão e 500 mil em 2013.

Devem ter influído também essas razões, mas não tenho dúvida de que a geração presente é muito mau-caráter: os vândalos das praças e parques e os assaltantes das ruas estão a provar irretorquivelmente isso.

O que faz, nos dias de hoje, algumas pessoas quebrarem as lâmpadas de iluminação dos parques e se atirarem em voltagem industrial a assaltar e roubar todas as famílias?

O que faz com que não caibam mais os assaltantes e drogados nos raros presídios que a ancestral incúria governamental ainda finge que administra?

Mudou o traço de caráter da nossa população ou é apenas o meio, marcado, deve-se dizer, pelo progresso, influindo decisivamente sobre os atos humanos?

O homem é fruto do meio ou da hereditariedade? Essa é a antiga questão filosófica.

Em outras palavras, o vandalismo e a violência têm causas no ambiente social ou são passados de pai para filho?

Mas como podem ser passados de pais para filhos se nossos pais e avós faziam da Redenção um paraíso e de nossas ruas um Éden de segurança?

Como pode? O meio é que foi se corrompendo com o progresso e o crescimento populacional e mudou para pior a vocação coletiva?

Só me ocorre é que fui testemunha ocular e sensitiva desses dois tempos.

E, como não depredo parques nem assalto nas ruas, fiquei ileso como tantos outros também restaram a essas prováveis influências, graças a Deus.

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