sábado, 18 de maio de 2013



18 de maio de 2013 | N° 17436
CLÁUDIA LAITANO

Nós e os millennials

A revista Time publicou na semana passada uma reportagem de mais de 20 páginas sobre a geração que nasceu entre os anos 1980 e 2000 – os chamados Millennials. O texto apresenta um retrato bastante equilibrado dessa turma que ainda está na escola ou começando a trabalhar.

Sim, eles às vezes parecem narcisistas, egoístas, superficiais, mas não são a encarnação com tênis e fones de ouvido do milenarmente antecipado “fim dos tempos”. Como seus pais e avós, esses meninos apenas reagem do jeito que podem ao ambiente em que foram criados. Por nós.

Como espectadora e interlocutora de uma Millennial prestes a completar 15 anos, meus sentimentos em relação à geração que me tocou embalar não são compactos – o que talvez diga mais sobre a minha geração do que sobre a dela.

Às vezes sinto inveja da autoconfiança que torna quase todos os sonhos possíveis de serem sonhados: estudar em Harvard, mochilar na Ásia, trabalhar pouco e ganhar muito – por que não? Às vezes, me exaspero: será realmente necessário tirar uma foto de uma perna engessada antes mesmo de sair do hospital?

Quando eu era adolescente, a visão de mundo dos meus pais me parecia tão distante da minha quanto era possível – do modelo do sofá aos programas de TV, passando por todos os temas “sensíveis” sobre os quais eu nem sequer me daria ao trabalho de discutir com eles. Por conta disso, sair de casa não era apenas um sonho de liberdade, mas um imperativo de identidade. A diferença me definia – e isso, de certa forma, era confortável.

Eu e minha filha, como outras mães e filhas da nossa idade, conversamos sobre quase tudo, negociamos regras, assistimos séries de TV abraçadas no sofá e temos opiniões parecidas sobre quase todos os assuntos que interessam. Eu me orgulho muito da minha menina. Mas nossas afinidades não diminuem o enorme abismo aberto entre nós pela tecnologia.

Enquanto a Geração X (1960 – 1980) navega na rede, seus filhos moram ali. Os Millennials construíram sua vida social em torno da internet como as cidades construíram suas avenidas em torno dos automóveis. Não é uma ferramenta: é um modo de ver o mundo.

A Time diz que adolescentes trocam, em média, 88 mensagens/dia. São flertes, piadas, discussões, declarações de amor ou amizade, críticas, elogios, pedidos de aprovação... De muitas pessoas. O tempo todo. Todos os dias. Para nós, adultos, tudo isso parece cansativo e confuso, mas, para eles, é apenas o jeito como as coisas são. Um novo jeito.

Com espanto, curiosidade e alguma preocupação, acompanhamos nossos filhos enquanto eles criam, em tempo real, uma nova forma de vida em sociedade. As adaptações dos Millennials ao mundo hiperconectado que herdaram, porém, são ainda uma obra em progresso. A única coisa certa é que, muito em breve, eles próprios devem começar a reclamar que a geração seguinte, esta sim, está acabando com a civilização como eles a conheceram.

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