quarta-feira, 6 de setembro de 2023


06 DE SETEMBRO DE 2023
MÁRIO CORSO

Sobrevivendo na era da grosseria

No futuro, quando inventarem um nome que traduza com justeza a época em que vivemos, não duvido de que seja: a era da grosseria. Decididamente, a boa educação, a delicadeza e a sensibilidade para com o outro no trato cotidiano estão em baixa. A gentileza não vive seus melhores dias.

Nunca vivemos um momento ideal de civilidade, mas regredimos desde que a política nos cindiu em polos. Como as redes sociais funcionam em um tom acima da realidade, juntamos o ruim com o pior.

Embora a grosseria seja a forma básica, existe quem queira manter as aparências. Para isso, os maus modos se disfarçam. O mais usado é a suposta sinceridade. A dita fala reta e direta, sem enrolação. A fala sem filtro virou padrão. Como não é reflexiva, sai fácil, é o não pensamento em forma de opinião. Fantasiada de sinceridade, a impulsividade verbal ganhou ares de virtude.

Outra forma é a lógica de inverter o "não levar desaforo para casa". Trata-se de uma postura que cria a situação. São pessoas com pedras na mão contra a rudeza do mundo. Vão antecipando pedradas que talvez nem viessem. Quando o revide chega, sentem-se justificadas. Apenas atirou primeiro. Sua postura "provou" que a agressividade era do outro.

Os bons modos e o respeito ao outro são o óleo da engrenagem social. São tentativas de minimizar os danos inevitáveis das diferenças humanas. Somos plurais na crença, na ancestralidade e na sexualidade, por isso, involuntariamente, ferimos suscetibilidades. A gentileza, a civilidade e a tolerância existem para reduzir os danos fortuitos da vida em sociedades complexas.

Não se trata de negar a agressividade, não somos anjos, mas só sobreviveremos evitando resolver conflitos na força bruta. A civilização começou quando alguém abriu mão da vingança.

Pense em sua vida, quando foi que a violência resolveu um problema seu? Quem já não se arrependeu de um dia de fúria?

O drama é que não existe vacina eficaz contra a estupidez. Ela tenta a qualquer um, em qualquer momento. Vem mansinha e se enrosca enquanto nos sopra no ouvido que somos vítimas, que estamos do lado certo. Já com a mão sobre o ombro, sussurra que a verdadeira liberdade é poder expor os preconceitos.

Terminada sua missão, ela já está do outro lado, encorajando e armando o oponente. Não se engane, ela é fiel apenas ao conflito. Sábios são os sóbrios que não se deixam envenenar.

MÁRIO CORSO

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