terça-feira, 5 de setembro de 2023



05 DE SETEMBRO DE 2023
NÍLSON SOUZA

O coração de Faustão

Conheci Faustão na cobertura da Copa do Mundo de 1982. Na verdade, antes da Copa, quando a Seleção Brasileira treinava em Teresópolis, no Rio, preparando-se para o Mundial da Espanha. Repórter esportivo da Rádio Jovem Pan, ele se destacava pelo corpanzil e pela descontração.

Ainda me lembro com nitidez de uma cena em que ele foi zoado pelos jogadores quando caminhava em torno do gramado onde o grupo fazia exercícios de aquecimento sob o comando do gaúcho Gilberto Tim. Acho que a iniciativa foi de Sócrates: no momento em que o repórter se aproximava, todos começaram a assoviar a música Passo do Elefantinho, então sucesso do Trio Esperança. Faustão respondeu ao bullying com uma saraivada de palavrões.

No primeiro intervalo, porém, lá estava ele entrevistando os atletas, rindo junto com eles e aproveitando-se da camaradagem para colher e transmitir informações exclusivas ao seu público. Foi assim, misturando argúcia, trabalho e irreverência, que Fausto Silva construiu uma carreira exitosa no mundo da comunicação, tornando-se um dos principais apresentadores da TV brasileira. 

Mas, ao que parece, aquele coração alegre e sem rancores trabalhou com demasiada sobrecarga durante muito tempo, provavelmente devido ao acúmulo de gordura nas artérias, comum nas pessoas com excesso de peso. É só uma suposição, não conheço os detalhes de sua doença. A insuficiência cardíaca, dizem os médicos, também pode ter origem em outras causas, como sedentarismo, tabagismo, consumo elevado de sal e enfermidades congênitas.

O fato é que Faustão está de coração novo, graças ao SUS, à competência dos médicos e, principalmente, à generosidade da família do doador, que teve coragem para tomar a difícil decisão num momento de grande dor. O transplante despertou imediata polêmica nacional: de um lado estão as pessoas que suspeitam de favorecimento à celebridade televisiva na lista de espera das doações; de outro estão autoridades e profissionais da área da saúde afirmando que tudo transcorreu de acordo com a legislação e com a ética.

Sinceramente, não sei quem está com a verdade. Mas sei que a má vontade e a suspeição gratuita fazem mal ao coração. Prefiro acreditar que ninguém tenha sido prejudicado no episódio e que Faustão efetivamente honrará o coração que recebeu, retribuindo a dádiva da sobrevida com gratidão e usando seu dom de comunicador para defender hábitos saudáveis e a nobre causa da doação de órgãos.

NÍLSON SOUZA

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