quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023



02 DE FEVEREIRO DE 2023
+ ECONOMIA

BC diz que incerteza "eleva custo" de frear a inflação

Havia expectativa de um "comunicado duro" do Comitê de Política Econômica (Copom), e o Banco Central (BC) entregou. Foi menos ácido do que parte dos economistas esperava, mas fez praticamente uma advertência por escrito.

Embora tenha repetido muitos trechos de informes anteriores, no mais novo afirmou que "a conjuntura, particularmente incerta no âmbito fiscal e com expectativas de inflação se distanciando da meta em horizontes mais longos, demanda maior atenção na condução da política monetária". E reiterou que "avalia que tal conjuntura eleva o custo da desinflação necessária para atingir as metas estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional. Nesse cenário, o Copom reafirma que conduzirá a política monetária necessária para o cumprimento das metas".

Ainda observou que "essa decisão reflete a incerteza ao redor de seus cenários e um balanço de riscos com variância ainda maior do que a usual para a inflação prospectiva", e até insinuou uma ameaça de voltar a elevar a taxa, ao ponderar que "segue vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período mais prolongado do que no cenário de referência será capaz de assegurar a convergência da inflação".

É uma insinuação de que o juro pode voltar a subir, se for necessário.

As ponderações do BC brasileiro ocorreram depois da crítica do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que chamou a autonomia do BC de "bobagem" e reclamou da meta de inflação apertada, definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) citado pelo BC.

No mercado financeiro, havia expectativa de um comunicado mais duro depois que as expectativas de inflação no médio prazo subiram com a aprovação da PEC da Transição e sem avanços na definição da nova forma de controle de gastos públicos.

Além da Americanas

Em dia em que a bolsa chegou a cair mais de 2%, para depois fechar com recuo menor, de 1,2%, graças à confirmação de alta de juro limitada a 0,25 ponto percentual nos Estados Unidos, a queda que chamou atenção foi a da Ambev, de 3,23%. A empresa é comandada pelo mesmo trio de acionistas de referência das Americanas.

O motivo foi uma informação dada pela Associação Brasileira da Indústria da Cerveja (CervBrasil), que representa pequenas empresas, de que a gigante nacional "pode" ter dívidas com impostos federais, estaduais e municipais estimadas em R$ 30 bilhões.

O dado foi citado pela revista Veja e provocou estragos na cotação. A Ambev publicou nota afirmando que a hipótese "não tem embasamento" e que calcula todos os créditos tributários estritamente com base na lei. Sustenta que suas "demonstrações financeiras cumprem todas as regras regulatórias e contábeis, as quais incluem a transparência do contencioso tributário".

O problema é que, até a bombástica revelação de Sergio Rial no dia 11, a Americanas também era considerada modelo em demonstrações contábeis. A hipótese de que outras companhias controladas pelo 3G tivessem problemas semelhantes circulava havia dias no mercado. Até agora, porém, não passava de um rumor. Em tese, ainda é. Só que a quebra de confiança em uma das empresas agora ameaça contagiar outra.

Analistas veem riscos potenciais à Ambev em uma reforma tributária que elimine incentivos fiscais associados ao pagamento de proventos da companhia, ou seja, remuneração de acionistas e cotistas em ações, fundos imobiliários e outros títulos de mercado.

O 3G não controla diretamente a gigante brasileira de bebidas, que produz 27 bilhões de litros em 18 países das Américas. O site de relações com investidores não detalha a fatia, mas informa que a Interbrew International e a AmBrew, ambas subsidiárias da Anheuser-Busch InBev, detêm em conjunto 71,5% do capital votante da AmBev.

O que é a 3G Capital

É uma empresa de investimento no modelo private equity, ou seja, compra fatias de negócios para ficar como acionista por prazo longo. Além das Americanas, um dos primeiros negócios dos fundadores Jorge Paulo Lemann, Marcel Herrmann Telles e Carlos Alberto Sicupira, controla negócios de alcance global, como indústria de bebidas multinacional AB-Inbev, Kraft-Heinz e Burger King.

MARTA SFREDO

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