segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

 Elena Ferrante fala de processo criativo e influências

Jaime Ciment
As margens e o ditado - Sobre os prazeres de ler e escrever é de Elena Ferrante

As margens e o ditado - Sobre os prazeres de ler e escrever é de Elena Ferrante


EDITORA INTRÍNSECA/DIVULGAÇÃO/JC
As margens e o ditado - Sobre os prazeres de ler e escrever (Editora Intrínseca, 128 páginas, R$ 39,90, tradução de Marcello Lino), da premiada e consagradíssima escritora italiana Elena Ferrante, uma das vozes mais instigantes da literatura mundial contemporânea, apresenta três palestras e um ensaio da autora, inéditos, que tratam dos detalhes de seu processo criativo e traçam paralelos entre importantes vozes femininas da literatura mundial que a influenciaram profundamente. O título do livro lembra os antigos cadernos escolares, com linhas horizontais pretas e margens vermelhas verticais, uma à esquerda e outra à direita de cada página. Logo Elena, rebelde, resolveu desrespeitar as normas que impunham escrita dentro dos limites aprisionadores das páginas.
Autora da mundialmente consagrada Tetralogia Napolitana e de romances famosos como A vida mentirosa dos adultos, Dias de abandono, Um amor incômodo e da obra de não ficção Frantumaglia, Ferrante fala sobre sua jornada como leitora e escritora e oferece um raro olhar sobre as origens de seus caminhos literários. Elena escreve sobre suas influências, lutas e formação intelectual,além de falar sobre a exclusão da voz das mulheres.
Elena parte de brilhantes reflexões sobre os trabalhos de Emily Dickinson, Virginia Woolf, Gertrude Stein, Ingeborg Bachmann e outras para embasar as três palestras apresentadas por ocasião das Umberto Eco Lectures e do ensaio apresentado para o encerramento da Conferência de Italianistas sobre Dante e outros clássicos.
Ferrante fala de seu processo criativo, da criação das emblemáticas personagens Lenù e Lila e discorre sobre a narração em primeira pessoa e do seu fascínio por observar o mundo que a cerca. Enfim, em um livro ao mesmo tempo sutil e potente, os leitores poderão conhecer os caminhos da mente de Elena Ferrante, uma das grandes autoras da atualidade, cujo sucesso internacional de público e de crítica é muito mais do que merecido. 

Lançamentos

Quarentenas apresenta crônicas do economista, executivo e conselheiro Heitor Bergamin
Quarentenas apresenta crônicas do economista, executivo e conselheiro Heitor Bergamin
LEITURA XXI/DIVULGAÇÃO/JC
Ensaios Profanos (Tachion Editora, 258 páginas, R$ 55,00), de Mônica Sydow Hummel, filósofa e professora universitária, apresenta ensaios aprofundados sobre Michelângelo de Caravaggio, O Mercador de Veneza (Shakespeare), Morte em Veneza (Thomas Mann), Macunaíma (Mário de Andrade) e Diário do Hospício (Lima Barreto).
Pequenos Favores (Editora Melhoramentos, 400 páginas, R$ 40,00), da escritora norte-americana Erin A. Craig, autora do best-seller do NY Times House of Salt and Sorrows, trata da vida pacata da isolada Amity Falls até surgirem criaturas monstruosas escondidas na floresta, que transforma o cotidiano do local.
Quarentenas (Leitura XXI, 112 páginas, R$ 35,00) apresenta dezenas de crônicas do economista, executivo e conselheiro de empresas Heitor Bergamin. Temas cotidianos e maestria na linguagem coloquial do autor são ressaltados pela elogiosa apresentação do professor da Ufrgs e escritor Sergius Gonzaga.

a propósito...

Com o novo Ministério da Cultura, ministra e equipe, vamos esperar que se utilizem critérios democráticos e plurais e atitudes que respeitem a rica diversidade de nosso mosaico étnico-cultural, e que a administração de pessoas e recursos materiais e imateriais, especialmente os de leis de incentivo, seja feita de modo a atender o maior número possível de trabalhadores da cultura, notadamente os que mais necessitam. É preciso analisar os erros e acertos do passado recente e seguir adiante com o desejo que o Ministério da Cultura exista para sempre, respeitando a todos os brasileiros, sem distinções de qualquer tipo. Cultura, acima de tudo, é democracia e pluralidade, sem partidarizações ou ideologizações sectárias e limitadoras. 

O Ministério da Cultura de 2023

Ano novo, vida nova. Este 2023 prematuro, na real, começou lá por novembro e dezembro de 2022, com a transição governamental adiantada, as "narrativas" nas redes nos enredando e as perspectivas lançadas. Nos tempos do velho disco de vinil, que, aliás, andou voltando, no Patropi o ano começava mesmo depois das festas de fim de ano, do veraneio e do carnaval. Nada de sério ou importante iniciava antes de março, a não ser os biquínis e o chicabom. Saudosismo à parte, acho que era melhor.
Velocidade de vida e de tempo aumentadas, "presentificação", pressa de fazer o presente vivar passado e futuro mais rápido, sons, imagens, palavras e notícias em tempo "real" nos estonteando, e então a gente vai levando, que é início de janeiro e o cronista precisa seguir biografando o cotidiano. O cronista fornece aos queridos leitores a melhor versão da verdade (ou da ficção) possível, no entender dele ou dos outros, com base ou não nas ciências humana e exatas.
Claro que ainda é cedo para falar do Ministério da Cultura, recém renascido pela segunda vez, e sobre as ideias e atividades da ministra Margareth Menezes, compositora, cantora e ativista cultural. Ela indicou, entre outros nomes de peso, João Jorge para a Fundação Palmares e Márcio Tavares para a secretaria executiva. Maria Marighella vai para a Funarte e Marco Lucchesi, professor, escritor, integrante e ex-presidente da Academia Brasileira de Letras, presidirá a Fundação Biblioteca Nacional.
O Ministério da Cultura foi criado em 1985 por decreto do então presidente Sarney. Antes houve a Secretaria de Cultura no âmbito do MEC, criada em 1981. De 1953 a 1985 a cultura esteve vinculada ao Ministério da Educação e Cultura. Em 2026 o presidente Temer extinguiu o MinC, brevemente, e reincorporado ao Ministério da Educação. A decisão foi revista, mas, no governo Bolsonaro, o MinC foi novamente extinto e incorporado ao Ministério da Cidadania e depois ao Ministério do Turismo.
O novo governo refundou o Ministério da Cultura, que, como se vê, é tipo uma mitológica ave Fênix que renasce das próprias cinzas. Problemas, polêmicas e crises do MinC a gente conhece e não é momento de tirar esqueletos do armário. Esse novo Ministério tem poderes, estrutura e verbas como nunca e isso nos dá esperança, num momento em que é melhor pensar em união e busca de bons caminhos para os cidadãos e para o País.
Sem educação nunca deixaremos de ser um país para tornarmo-nos uma verdadeira nação, e sem aprimoramento cultural, com desenvolvimento de nossas melhores tradições e riquezas imateriais, jamais alcançaremos o patamar que outras nações conseguiram alcançar.
A refundação no Ministério da Cultura deve ser vista como uma boa novidade para 2023. Nunca é demais lembrar que as artes e a cultura, de modo geral, especialmente a música com sua linguagem universal, foram território para realização das boas qualidades do ser humano. 

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