sexta-feira, 30 de dezembro de 2022


30 DE DEZEMBRO DE 2022
DIÁRIOS DO PODER

Os gestos de Lula durante o anúncio

Um bom termômetro do atual estado das coisas às vésperas do início do terceiro mandato de Lula são os gestos. Sinais que falam e, por vezes, gritam o que não é dito em discursos e entrevistas.

O clima ontem no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) era muito diferente de quando o presidente eleito fizera o anúncio dos primeiros cinco ministros, em 9 de dezembro: o rigor na segurança é muito maior. Além da credencial, para acessar o auditório, era necessário ter uma pulseira colorida e passar por detectores de metal. Segurança virou tema prioritário em Brasília.

O outro sinal, agora do enrosco de tentar acomodar todos os partidos da vitoriosa frente ampla: Lula chegou ao CCBB com uma hora e 40 minutos de atraso. Tratativas para a composição do ministério foram encerradas um pouco antes, com o presidente eleito recebendo líderes partidários em seu hotel, antes de seguir para o CCBB.

O futuro governo começa com ministros de nove partidos - além do PT, o PSB, do vice Geraldo Alckmin, Rede, PCdoB, PSOL, PDT, MDB, PSD e a União Brasil. Ficaram de fora Solidariedade, Agir, Avante e Pros. O PV integra uma federação com o PT e PCdoB, aguardava pasta exclusiva, considerando que os comunistas obtiveram a sua, Luciana Santos, na Ciência e Tecnologia, mas não ganhou.

Outro sinal: desde o início de seu discurso, lendo os nomes em uma ficha, Lula externava algo do tipo "só tem homens, quando começam as mulheres?", ironizando as críticas de pouca representatividade feminina na Esplanada. Ontem, as mais aplaudidas foram Marina Silva (Rede-SP, Meio Ambiente) e Sônia Guajajara (PSOL-SP, Povos Indígenas - foto abaixo).

O vermelho da blusa de Simone Tebet (MDB-MS), o convite a Fernando Haddad (PT-SP) para que aparecesse a seu lado na foto com Lula e a indicação para que se posicionasse à direita do presidente eleito foram gestos sutis, que buscaram passar a imagem de sintonia dos chefes de Planejamento e Fazenda.

E até as dissonâncias revelam algo. MDB e PSD foram acomodados, cada um com três ministérios. União Brasil, que terá ao menos dois representantes (Juscelino Filho, do Maranhão, nas Comunicações, e Daniela do Waguinho, do Rio, no Turismo), traz a reboque as contradições do Brasil: resultado da fusão do PSL e do DEM, o partido fez dura oposição a Lula em seus dois primeiros mandatos. Agora, será governo - e traz em suas fileiras o maior algoz da trajetória do presidente eleito, o ex-juiz Sergio Moro.

RODRIGO LOPES

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