quinta-feira, 9 de janeiro de 2020



09 DE JANEIRO DE 2020
DAVID COIMBRA

Bolsonaro salva os jornalistas

Bolsonaro me deu um alento quando falou que os jornalistas são "uma raça em extinção". Eu também já começava a pensar assim, devido às dificuldades do mercado, mas, no momento em que ele disse isso, suspirei de alívio. Porque uma das funções do jornalismo é, exatamente, fiscalizar os governantes. Se os governantes estão incomodados com a vigilância e a cobrança a ponto de festejar a possível extinção da categoria, bem, então os jornalistas estão cumprindo o seu papel e estão muito vivos.

Todos os presidentes se queixaram da imprensa brasileira. Lula chegou a dizer, em entrevista durante sua temporada na cadeia, que seu maior erro foi não fazer leis que "regulassem" (eufemismo para censura) a mídia. Alvíssaras! Aí estão ótimos sinais para a imprensa nacional. São pontos a nosso favor. Não seremos pássaros dodô. Sobreviveremos.

Mas também cometemos erros, há de se admitir. E os mais graves são os que se originam de boas intenções, porque fica mais difícil de identificá-los e combatê-los.

Um dos tipos de jornalista mais nocivos para a categoria, para a sociedade e para ele mesmo é o competente e altruísta que sonha em salvar o mundo. Ele está cheio de qualidades e acredita que seu trabalho é mais do que um trabalho: é uma missão. Então, ele toma posição. Ele vai defender os oprimidos, ele vai combater as iniquidades, ele caça preconceitos, ele não pode ver um pobre sem se emocionar. Fica claro que ele tem um lado.

Ele está fazendo tudo errado.

Todos sabemos que há injustiças no mundo e que vítimas e agressores não podem ser tratados da mesma forma, mas, se você é jornalista, você não precisa se colocar ao lado da vítima; basta que você conte o que está acontecendo com ela. Ao se colocar ao lado da vítima, o jornalista lhe faz mal. Porque ele perde um pedaço da sua credibilidade e enfraquece sua eventual denúncia - afinal, ele é assumidamente parcial, ele é um advogado, não um repórter ou um analista. Mas se é o contrário, se ele manifesta sempre sua intenção de isenção, tudo o que ele contar será visto como? a verdade.

Eis aí a grande busca: a busca pela verdade.

Dizer que há injustiças no mundo é uma verdade?

A resposta é sim.

E, no momento em que as injustiças são relatadas publicamente, o jornalista fez o máximo que poderia para ajudar a eliminá-las. Se fizer mais, estará fazendo menos.

É estranho expor esse raciocínio, porque é algo acaciano. É uma obviedade. Quase uma platitude. Só que a sociedade mudou, tornou-se mais complexa, e o jornalismo mudou junto. A variedade dos canais de informação propiciada pela internet empurrou os jornalista à assunção de posições. Eles se acantonam atrás de trincheiras e atiram contra os inimigos. Eles acreditam que estão lutando a favor do Bem.

Jornalista não tem que lutar. Jornalista não tem de ser soldado ou herói de causa alguma. Jornalista tem que fazer bem o seu trabalho. Fazendo um bom trabalho, ele fará o Bem.

DAVID COIMBRA

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