31/12/2014
e 01/01/2015 | N° 18029
L. F.
VERISSIMO
Feliz 2014
Nós
não estávamos no avião da Malaysia Airlines que desapareceu, não estávamos no
gol do Brasil no jogo dos 7 a
1 com a Alemanha, não tivemos nada a ver com o escândalo da Petrobras, não
votamos no Aécio ou votamos mas não achamos que ele perdeu, não fomos
aprisionados e decapitados pelo Estado Islâmico nem andamos perto de qualquer
lugar bombardeado por drones.
Não
estávamos em Israel sob ameaça de foguetes palestinos nem em Gaza quando Israel
revidou, não fomos levados por nenhuma enxurrada ou soterrados por nenhum
deslize de terra nem morremos afogados tentando chegar à Itália num barco de
refugiados africanos nem fomos pegos na fronteira do México tentando entrar
clandestinamente nos Estados Unidos, não morremos de overdose ou por qualquer
outra razão, doença ou desatenção, e o ebola chegou perto de nós apenas no
noticiário.
Quer
dizer, de um ponto de vista puramente subjetivo, foi um bom ano.
Do
jantar de Natal aqui em casa sobraram boas lembranças – e peru, claro. A trilha
sonora deste ano foi o último disco da Maria Rita, de quem me declaro um devoto.
Pelo que sei da sua vida, a Maria Rita nasceu e se criou nos Estados Unidos, o
que torna sua opção preferencial pelo samba ainda mais admirável. Uma das
faixas do seu novo CD é um sambão de Arlindo Cruz, Rogé e Arlindo Neto
intitulado É Corpo, é Alma, é Religião, que começa assim: “Eu não nasci no
samba, mas o samba nasceu em mim”.
Intencional
ou não, a frase serve como uma autobiografia da cantora, que nasceu longe do
samba, mas tinha o samba na alma, ou nos genes. Hoje, pode-se dizer, sem
exagero ou idolatria, que ela faz parte de um triunvirato das nossas maiores
sambistas, com a Alcione e a Beth Carvalho. E, além de tudo, é uma bela mulher.
O nome do disco é Coração a Batucar. Compre.
Nossas
trilhas sonoras familiares são ecléticas, Charles Aznavour e Michel Legrand
fazem coro com Aldir Blanc e Moacyr Luz, Monica Salmaso faz dueto com Patricia
Barber e quando menos se espera ouve-se o Miles fazendo fundo pro Chico. E
preciso revelar um segredo que, espero, fique só entre os 17 leitores desta
coluna.
Chega
um ponto em que nada mais serve a não ser o Luis Miguel cantando Che sei tu. Preciso
dançar um bolero do Luis Miguel com as minhas filhas. É um momento que exige
uma certa solenidade, Mas as minhas filhas, não sei por que, sempre fogem na
hora do Luis Miguel. Algo sobre não pagar mico. Vá entender.
Foi
um bom ano. O Botafogo caiu, mas o Internacional chegou em terceiro no
campeonato nacional, vai disputar a Libertadores de 2015 e, no fim do ano,
poderá muito bem ser de novo campeão do mundo, se ainda houver mundo.
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