terça-feira, 16 de dezembro de 2014


16 de dezembro de 2014 | N° 18015
LUÍS AUGUSTO FISCHER

UM TROVADOR

Um romance muito legal está na área: O Trovador, de Rodrigo Garcia Lopes (Record). A mistura de que se compõe é das mais raras: trata-se de um romance policial, tendo no centro um enigma cercado de mortes, tudo sendo investigado por polícia e por um outro protagonista, que de profissão é tradutor.

Tradutor culto, europeu, com histórico pessoal problemático, ligado a gente alta, esse sujeito quer entender o mistério que se esconde atrás da palavra “Noigandres”, que aparece em cartas e recados. O termo nasceu, como sabe o leitor culto, em um poema de Arnaut Daniel, o poeta provençal do século 13. E aqui o romance passa também a namorar o ensaio sofisticado.

Mas é mais que isso, ainda, porque a parte principal do enredo transcorre em Londrina, Paraná, nos anos 1930, época em que aquela cidade começou a se desenhar, fruto direto da exploração de madeira na região, por uma empresa de capital inglês, tendo como acionista ninguém menos que o rei de então, aquele Edward que depois viria a renunciar para casar com uma divorciada cheia de rolos – na vida real, mas também neste romance. E aqui estamos falando de uma dimensão nova, de romance histórico, que é bem conduzida também.

Há uma outra camada ainda, porque outra parte das ações – assassinatos e tentativas, amores e bebedeiras, como convém a um livro assim – transcorre na Inglaterra, com o tal rei, um executivo importante e seus conselheiros, entre os quais ninguém menos que Churchill, o próprio.

E aqui se desvela a nova dimensão: o centro do enredo envolve o desaparecimento de um contador da empresa, que sabia demais, inclusive sobre a grana que era enviada para financiar o nazismo alemão, em ascensão na Europa e cevado também no Brasil de então (e de agora, como aquele abominável professor e sua piscina).


Ainda que o leitor possa possa sentir certa impaciência com meandros secundários, o resultado é amplamente satisfatório.

Nenhum comentário: