VINICIUS
TORRES FREIRE
O fantasma de Dilma em 2015
País
deve evitar crise, mas quase-estagnação vai causar problema político no próximo
governo
NOS
ANOS DILMA, a economia terá crescido pouco menos de 2% ao ano, sob uma inflação
anualizada de 6%, em média, e uma taxa de desemprego decrescente, a menor em décadas.
Trata-se de uma espécie exótica de estagflação moderada.
Quanto
tempo pode durar essa discrepância entre baixa produção e baixo desemprego? Quais as consequências
políticas dessa quase-estagnação no próximo governo?
Note-se
ainda que, sob Dilma, o deficit público cresceu. O investimento do governo como
proporção do PIB quase não se moveu. A massa do consumo das famílias terá crescido
a mais do que o dobro do ritmo da alta do investimento "na produção".
O deficit externo, nosso excesso de consumo bancado pelo exterior, aumentou bem.
Como
diz o o clichê da hora, não obstante correto, é um quadro de excesso de
consumo, manifesto na inflação relativamente alta e no deficit externo
crescente e incômodo. Em outras eras, situação semelhante daria logo em crise. Agora,
o Brasil é um país de fato mais resistente.
Tem
reservas internacionais bastantes para evitar ou atenuar especulações sobre
nosso deficit externo grande, sobre nossa capacidade de pagamentos externa. Apesar
da piora das contas do governo, a dívida pública está sob controle, mesmo
levando em conta maquiagens e esqueletos fora do armário tais quais as dívidas feitas para bancar a
expansão do crédito na banca estatal. Restou certa ordem fiscal, herdada dos
anos 2000-2007.
Não é
de desprezar também o fato de termos um mercado doméstico de consumo grande e
ampliado recentemente, além de protegido da concorrência, o que atrai uma
quantidade ainda razoável, embora cadente, de investimento estrangeiro "na
produção".
No
entanto, o sonho da desrazão de tal "modelo" vai produzir monstros. Há
inflação adicional incubada: 1) Preços
represados de combustíveis, eletricidade, transportes públicos; 2) A
derivada da desvalorização do real que virá em algum momento (pela mudança dos
juros nos EUA, pelo nosso próprio excesso de deficit e inflação); 3) A derivada
dos salários ainda crescentes, dado o desemprego baixíssimo.
Mesmo
na hipótese "gradualista" do controle de tais danos (em termos de
juros e corte de gastos públicos), não é possível imaginar aceleração do
crescimento em 2015, a
não ser na hipótese de colapso ainda em 2014.
A alta do desemprego seria modesta, mas a quantidade de
empregos cresceria cada vez mais
devagar, assim como a renda, tendência desde a metade de 2013.
A
alta anêmica do PIB deixará o governo sem caixa para aumento significativo de
despesas sociais; vai conter por mais um tempo os aumentos do salário mínimo e
dos benefícios previdenciários (vinculados
à variação do PIB).
Na
ausência de tumulto no exterior (EUA), talvez seja possível administrar a quase-estagnação
por mais uns dois anos, supondo-se que não houvesse deterioração ainda pior da
confiança econômica.
Mas
como fica o humor "social", político? A redução do ritmo das
melhorias sociais e de renda já não pegou bem, vê-se, dadas as expectativas
aumentadas, dadas as melhoras da década recente. Como lidar com a frustração
dessas expectativas no novo governo? Como atenuar as dores da mudança e criar
uma conversa que a legitime?
vinit@uol.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário