09
de junho de 2014 | N° 17823
PAULO
SANT'ANA
Os pombos da
paz
Estou
com quatro grandes amigos pacientes de Alzheimer ou doenças correlatas (os mesmos efeitos).
Digo
às suas mulheres ou filhos que pretendo ir visitá-los e eles me dissuadem,
dizem que vai ser muito triste o que vou sentir ao vê-los.
É
quase certo que, se for visitá-los, eles não me reconhecerão.
Que
diabo é esse de doença que faz meus
amigos penetrarem na névoa do total esquecimento?
E
que compaixão sinto pelas suas mulheres e parentes que velam por eles, que
cuidam deles, algumas os banham e
vestem. Que diabo de doença é esta?
E,
no entanto, graças a Deus, meus amigos estão vivos, posso vê-los se eu quiser,
embora seja arrasador que não me reconheçam, assim como não reconhecem ninguém
e nada que os cerca.
Eles
me esqueceram, talvez para sempre.
E eu
nunca os esquecerei.
Achei
interessante que um delegado de polícia, entrevistado por um repórter, tivesse
informado que de janeiro até agora já foram cometidos 43 assassinatos no
município do Interior em que trabalha. E estimou que até o fim do ano serão
completados, lá, ao redor de 80 homicídios. E que sua delegacia irá esclarecer
cerca de 55 dos assassinatos, ficando o restante com autores desconhecidos. É
sempre a mesma toada, ano a ano, a estatística é uma ciência que não falha.
É
espetacular que o índice de homicídios obedeça entre nós ao mesmo cálculo
anual, sabe-se quantos matarão e quantos serão assassinados no mesmo município,
com pequenas diferenças.
Desde
que Caim matou Abel, os humanos continuam a matar-se uns aos outros.
Leio
e escuto uma propaganda de uma empresa que combate os pombos e as doenças que
eles espalham.
E
chamam a essas doenças espalhadas pelos pombos de praga . Isso que o Espírito Santo, componente da
Santíssima Trindade, é representado por um pombo.
Na
minha cabeça ignorante de conhecimentos
zootécnicos, imagino que matam os pombos para que eles parem de infestar os
telhados das casas .
Mas
será que, antes de matá-los, não arranjam um modo de curá-los?
Não
sei, mas tenho uma simpatia pelos pombos que arrulham, acho-os tão carinhosos,
tão acessíveis.
E
não compreendo que possam matá-los porque estão infectados de doenças e as
passam para os homens.
Ou,
então, estou enganado e é possível reabilitar os pombos que espalham doenças.
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